2019 | 12 MESES, 12 ÁLBUNS
![]() |
Fotografia da minha autoria |
«Tem dias que eu não preciso de palavras, só de música»
A minha identidade é revestida por palavras. Escritas e cantadas. Por isso, preservo este vínculo tão umbilical com a música. E não há um único dia em que não abrace sonoridades de artistas que me descrevem ou, então, que começam a conquistar um lugar maior dentro do meu peito. Porque a sua arte - tão distinta e proximal - consegue ler-nos.
Esta expressão artística é, inúmeras vezes, o nosso dialeto. O impulso certo para explorarmos os sentimentos mais profundos que nos inquietam, provocando uma espécie de catarse. De entendimento. De liberdade. E é uma ponte. Uma janela aberta para outras partes do mundo, envolvendo-nos numa partilha universal. No entanto, é a música portuguesa que mais define a minha personalidade, porque há uma sinergia quase visceral. Não só pela compreensão da língua, mas também pela honestidade, pelo talento e pela versatilidade. Porque, em Portugal, há nomes que preenchem todas as medidas da minha admiração.
Portanto, 2019 ficou marcado por diversas melodias. Músicos. E mensagens especiais, revolucionárias, aconchegantes. Foi pleno. Plural. E revelou-se como parte indispensável da força com que vivi cada momento. Neste processo intimista, emocional e inspirador, houve 12 álbuns a alcançar o lugar mais alto das minhas preferências.
// JANEIRO //
Uma Noite na Philharmonie Luxembourg: Miguel Araújo tem uma sensibilidade diferente. Uma perceção da realidade que comove. Porque, no seu aparente jeito simples, fala-nos ao coração, evidenciando temáticas transversais à sociedade. Este disco foi uma prenda de Natal [2018] atrasada, mas convida-nos a escutar um concerto único, onde se apresentou em palco sozinho, «entre ukeleles, guitarras, voz e um piano». E atribuiu o mote para a digressão Casca de Noz.
// FEVEREIRO //
Solitaire: Mishlawi traçou temas que alternam entre o seu lado mais melódico e o rap mais acelerado. Ademais, construiu «um álbum conciso, coerente, melódico, que flirta com o trap e o R&B, misturando-os». E apresenta «rimas percetíveis, algumas das quais engenhosas, e melodias cantadas com precisão, por cima de camadas sonoras difíceis de tirar da cabeça». Cada faixa é um mundo com várias desconstruções e mensagens subliminares. Há, ainda, muita verdade. Vulnerabilidade. Cicatrizes. E é tão pessoal, que quase nos sentimos expostos.
// MARÇO //
Pray For The Wicked: Um dos grupos que mais marcou a minha adolescência foi Panic! At The Disco. E o seu mais recente trabalho é grandioso. É frenético. É teatral. É espiritual. E contém uma mensagem profunda, plural, com experiências pessoais, que nos desarma e que nos torna parte de um conceito maior. Além disso, transparece uma honestidade cativante, alternando entre a agitação, a urgência e a melancolia. E se, por um lado, aparenta uma musicalidade mais caótica - no ritmo -, o certo é que, por outro, apropriou-se de uma coerência sublime. Em simultâneo, acredito, revela a metamorfose que abraçaram, sem perderem a essência que tanto os caracteriza.
// ABRIL //
OFF: Zé Manel já se tinha aventurado a solo. No entanto, este álbum é o primeiro totalmente cantado em português. E representa um ponto de viragem. No seu interior, transitando entre canções, ouço o medo, as angustias, a fragilidade, a delicadeza, a despedida, a aceitação, as feridas, as aprendizagens e a transparência que envolvem o sentimento mais nobre que nos reveste o lado esquerdo do peito. E é este sentir intenso, praticamente visceral, que nos emociona. Porque neste disco não há filtro. Há uma janela aberta para uma alma apaixonada, que se entrega sem medida. Numa metamorfose bela e plena.
// MAIO //
Cinema Paraíso: Os Alice entraram na minha vida por um belo acaso. E surpreenderam-me pela qualidade das melodias e das letras. Pela voz. E pela alma tão segura e vincada. E este disco, com uma mensagem plural, sólida e eletrizante, veio para quebrar barreiras. Senti na pele o amor, a angustia, o grito de revolta e a esperança. Porque é feito de camadas, sentimentos, conjeturas, verdade e vulnerabilidade, revelando um traço humano inspirador. É uma autêntica caixinha de surpresas.
// JUNHO //
A Arte das Musas: Os Expensive Soul, independentemente do tempo que passar entre nós, serão sempre um dos meus grupos de referência. Porque se reinventam, sem perderem a sua identidade. Por isso, não podia ter ficado mais feliz quando lançaram este extraordinário álbum, com uma energia muito identitária, mas mais intimista. Em 2019, comemoram 20 anos de carreira e fizeram uma viagem ao passado, ao lado mais maduro da sua alma e da sua personalidade musical. E criaram esta «peça de museu», que é para ser tocada muitas vezes.
// JULHO //
Only: Trace Nova tem 21 anos e transborda talento. Passo a passo, de forma ponderada e inteligente, tem construído um percurso sólido, que nos fica no ouvido. Só o conheci graças a uma colaboração com Mishlawi, porém, desde então, tenho acompanhado mais de perto a sua arte. E este trabalho conquistou-me de imediato, porque tem alma.
// AGOSTO //
O Sol Voltou: Luís Severo entrou na minha vida por acaso, mas não voltou a sair. Porque tem uma musicalidade distinta. Neste disco mais sereno, sente-se um toque familiar, que ondula no peito, levando-nos numa viagem emocional, que nos ilumina. As canções apresentam «mais amor e menos paixão, mais família e menos multidão, mais vida, mas também mais morte». Além disso, há uma alternância entre o acústico e o eletrónico, numa simbiose perfeita, que nos acalma a alma. Apesar de este álbum ter saído em maio, foi no mês das férias que mais me acompanhou. Pela sua leveza. Pelos estados de espírito. E pela pluralidade que nos faz reconhecer que nunca somos uma só coisa.
// SETEMBRO //
You Are Forgiven: Marca uma viagem introspetiva e de auto-descoberta. Tem uma história intensa, profunda e, inclusive, catártica, onde se canta o sonho, o perdão e o labirinto que é a nossa vida. Slow J. convidou-nos a embarcar na sua jornada mais íntima, na qual procura ser feliz e não se desviar da sua essência. Por isso, nesta narrativa discográfica - e poética -, alternamos entre a culpa e o perdão. Entre o ruído e o silêncio. Entre a fama, a aceitação e as suas raízes. Inspirado nas suas experiências, a carga emocional negativa sofre uma metamorfose. E o artista renasce, chegando ao topo.
// OUTUBRO //
Sotavento: O novo EP de Dino D'Santiago transborda globalidade. Com um ritmo contagiante, arrojado, algo vertiginoso, fundindo o pop com techno, o funaná e o afro-punk também assumem protagonismo, «convidando-nos a imaginar o futuro da música crioula». Nas palavras do próprio artista, Sotavento «é uma agulha a apontar para outros rumos; uma construção polirrítmica com apetite pela turbulência. São cinco temas de alta tensão e energia sísmica, que devolvem ao mundo a electricidade musical de Cabo Verde nos anos 80 e 90».
// NOVEMBRO //
South Side Boy: É o terceiro álbum de Diogo Piçarra e simboliza «os nossos medos, as nossas falhas, as nossas inseguranças» e todas as dúvidas que marcam o nosso percurso. Assim, tem uma energia mais introspetiva, menos polida e «mais escura», até pelas temáticas que coloca em evidência. Simultaneamente, é uma homenagem às suas origens, à sua casa. E, sem descurar um traço romântico, espelha a fase que atravessa e algo que considero louvável: o seu perfil camaleónico.
// DEZEMBRO //
Amanhã: Héber Marques é figura nos HMB, mas, desta vez, brilhou a solo. O seu EP tem um estilo diferente, privilegiando a melodia da guitarra acústica. E representa os recomeços; o fechar de um capítulo para abraçar novos. Além disso, com temas «de desabafo, mais íntimos e soturnos», exalta a esperança. E toda a complexidade do verbo sentir.
Que álbuns marcaram o vosso ano?
o Piçarra é incrível! Nunca desilude.
ResponderEliminarAssino por baixo!
EliminarA musica também faz parte da minha vida sem musica era uma vida a preto e branco, aproveito para desejar um Excelente Ano de 2020 cheio de coisas boas.
ResponderEliminarAndarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados
Sinto que tudo flui melhor quando nos permitimos ser acompanhados pela música!
EliminarObrigada e igualmente, Francisco
A banda sonora do filme "A Star is born". Adoro. Tem músicas fantásticas.
ResponderEliminarBeijinho grande e bom domingo!
Tenho que ir ouvir. Confesso que ainda não explorei a banda sonora
EliminarBeijinho grande*
Confesso que não ouvi assim muita música este ano, mas tens aí alguns que conheço
ResponderEliminarBeijinhos
Novo post
Tem post novos todos os dias
Pode ser que 2020 te surpreenda nesse sentido :)
EliminarTenho andado um pouco afastada da música.
ResponderEliminarIsabel Sá
Brilhos da Moda
É sinal que priorizou outras formas de arte :)
EliminarHá uns anos eu adorava ouvir os Panic! At The Disco, mas ultimamente tenho andado muito desligada da Música e ainda nem ouvi este novo álbum deles. É uma pequena falha minha, pois tenho uma certa curiosidade em ouvir, para entender a evolução da banda!
ResponderEliminarSurpreendeu-me bastante! Acho que é um álbum incrível e cheio de energia. Sinto que vais gostar :)
EliminarAndreia, aproveito para te agradecer o facto de continuares a visitar a Companhia Cinéfila, mesmo estando eu um pouco ausente aqui do teu cantinho. Tenho andado com tão pouco tempo livre, que agora venho lançar as publicações mas não tenho conseguido visitar outros blogues. Sabe sempre bem ver que continuas a visitar o meu! 😋
ResponderEliminarNada que agradecer, faço-o com o maior gosto. Sempre que me seja possível, lá estarei a acompanhar e a comentar :)
EliminarNem sempre é fácil conciliar tudo
Boas escolhas :) Adoro Miguel Araújo, Expensive Soul e Diogo Piçarra :) Palavras para quê, a Música cura tudo e devia reinar o mundo :)
ResponderEliminarBeijinhos*
O poder da música é mesmo inesgotável *-*
EliminarAs maiores surpresas acabam por ser os felizes "acasos". Gosto também do Miguel Araújo. Tem uma capacidade de cantar histórias sem grandes falsetes ou vozeirão. Por vezes os cantores são muito avaliados pelas notas altas, mas o Miguel Araújo é um bom exemplo de que não é preciso gritar para cantar bem :)
ResponderEliminarÉ um verdadeiro contador de histórias. Fico sempre fascinada a ouvi-lo :)
EliminarBoa escolha musical. Desejo um excelente 2020, todos seus desejos se concretizem.
ResponderEliminarBeijinhos
Muito obrigada :)
EliminarUm excelente 2020 para si, Amélia
txiiii, tu vais do 8 ao 80. e é tão bom <3
ResponderEliminarÉ o que dá ouvir um pouco de quase tudo :D
EliminarSem tempo para mais nada :(, no entanto não quero acabar o ano sem desejar para ti e quem mais amas um excelente 2020, com muita saúde alegria na tua vida, Andreia <3
ResponderEliminarBeijinho
Muito obrigada pela atenção, minha querida! Espero que 2020 seja bastante generoso contigo e com os teus <3
EliminarGreat collection!!
ResponderEliminarNew post on My Blog | Instagram | Bloglovin
Thanks :)
EliminarGosto de muitas das músicas que tu nos trazes sempre, mas se tivesse de escolher apenas um destes álbuns já sabes : Slow J! Está maravilhoso <3
ResponderEliminarÉ mesmo um dos álbuns do ano, sem dúvida *-*
Eliminar