2019 | 12 MESES, 12 LIVROS

Fotografia da minha autoria


«Ler é sonhar pela mão de outrem»


A minha meta literária, como mencionei na publicação Goodreads | Reading Challenge 2019, estava definida nos 50 livros. No entanto, por ter sido capaz de manter um ritmo consistente, ultrapassei-a, atingindo os 81. Foi, sem qualquer dúvida, o ano em que li mais. Além disso, cruzei-me com registos arrebatadores. E estreitei laços com autores que me falam ao coração. Nesta caminhada a transbordar de palavras, fiquei com inúmeras histórias coladas à minha identidade.

Os Clubes de Leitura - Uma Dúzia de Livros e The Bibliophile Club - foram, também, parte responsável deste desafio, marcando os meus momentos de leitura com outro encanto e permitindo-me enveredar por escolhas que, talvez, não fossem prioritárias, uma vez que me levaram a observar as minhas estantes com nova propriedade e sensibilidade. Em paralelo, inspirada pelos temas propostos, abracei outros tópicos, tornando alguns meses ainda mais temáticos. Porque a literatura proporciona esta liberdade, esta criatividade, este envolvimento intencional. E, curiosamente, abriram-me a porta a mundos fascinantes.

Estreei-me, aos 27 anos, na Saga Harry Potter. E despedi-me, de peito pesado, da Saga Millennium. Acolhi escritores novos. E desiludi-me muito pouco. Por essa razão, foi um ano tão especial. E fico emocionada por, no meio deste número de livros, a maioria ter excedido as minhas expectativas. E isso, sim, é extraordinário - não a quantidade em si. Embora seja complicado - e até injusto - reduzir a lista a 12 lugares, selecionei títulos que contribuíram para o meu crescimento intelectual [tentando não repetir nomes, para ser um conjunto mais diversificado], embarcando numa viagem memorável.

// JANEIRO //
Os Livros que Devoraram o Meu Pai [Afonso Cruz]: É uma caminhada bastante emocional. É um estreitar de laços. E um misto de sensações. Nesta narrativa, terna e maravilhosa, há uma passagem de testemunho, de memórias, de património literário. Além disso, os planos de ação fundem-se no mesmo nível de existência, revelando uma simbiose entre a realidade e a ficção, o que não só funciona como um refúgio para os problemas do quotidiano, como também nos permite compreender que, conectados a algo, é sempre complicado delinear a fronteira que nos ajuda a separar a razão dos sentimentos [Entrelinhas].

// FEVEREIRO //
Crónica de Uma Morte Anunciada [Gabriel García Márquez]: Fica marcada por uma série de coincidências sinistras - o grito não é ouvido, o aviso é desvalorizado, o recado não é lido. E opõe o estilo jornalístico - objetivo, sem divagações - ao realismo mágico, no qual as premonições e os elementos fantásticos adquirem importância. Com uma escrita acessível e com um toque de humor e ironia, vamos desvendar os passos até ao momento fatal. Vamos descobrir as motivações e as crenças. Vamos constatar as incoerências e a bizarria. E vamos, invariavelmente, analisar a forma como a mulher é vista e as obrigações que lhe estão inerentes antes do casamento [Entrelinhas].

// MARÇO //
O Diário de Anne Frank: Este livro é agridoce, pois evidência o pior e o melhor do ser humano - perante toda a tragédia, reconforta compreender que o espírito de entreajuda não se perdeu por completo, atendendo a que existia sempre alguém disposto a ajudar e a correr esse risco. Pela voz de Anne, viajamos por pensamentos, memórias, receios, ações, transformações comuns e individuais e desabafos que permitiam salvaguardar a sua sanidade mental. É uma realidade triste, que nos marca profundamente. Porque é um ponto sem retorno. No mês que se exalta o género feminino, mergulhei na história de uma menina que não pode tornar-se adulta [The Bibliophile Club // Março].

// ABRIL //
Somos Todos Idiotas [Diogo Faro]: É uma obra inteligente, com liberdade linguística e de pensamento. Além do mais, não nos confronta apenas com uma acérrima crítica social, também reserva espaço para temas mais sentimentais, que nos desarmam pela sua energia. A leitura é célere, quer pelo tamanho dos textos, quer pela fluidez do discurso, mas não perde sentido, porque o lado objetivo do autor não fomenta pontas suspensas e desconexas. Muito pelo contrário. Neste retrato contundente, é identificável a eloquência de Diogo Faro. Fossem[os] todos tão idiotas como ele! [Uma Dúzia de Livros // Abril]

// MAIO //
As Flores Perdidas de Alice Hart [Holly Ringland]: Esta narrativa revelou-se um desabrochar intenso e inspirador, pois ficamos a conhecer um testemunho doloroso e belo na mesma medida. Além disso, é tão humano que é praticamente impossível não nos envolvermos no seu desenrolar, sobretudo, quando nos consente acompanhar o crescimento da sua personagem principal - Alice -, desde que era uma criança de nove anos, até se tornar adulta [Uma Dúzia de Livros // Maio].

// JUNHO //
O Homem de Giz [C. J. Tudor]: A minha curiosidade em relação a esta obra não parava de crescer. Não só pela premissa intrigante, mas também porque aprecio um bom thriller. Após concluir a leitura, fiquei sem palavras elogiosas que lhe façam total justiça. Porque é inquietante, angustiante e complexa. E porque tem uma energia viciante, relembrando-nos que há sempre segredos. O preciosismo do final é sublime. A autora conquistou-me com a sua escrita!

// JULHO //
Terra Sonâmbula [Mia Couto]: Esta narrativa, que corresponde ao primeiro romance do escritor, é envolta num cenário de guerra, retratando um período de sucessivos conflitos armados contra o domínio português e pela independência do país. Portanto, tem um peso histórico impossível de negar, até porque, em simultâneo, mantém o leitor em contacto com as tradições, as crenças, a linguagem e a própria identidade de uma sociedade fechada e, por vezes, preconceituosa. Deambulando entre os destroços, as memórias, o passado e o presente, compreendemos o quanto é ténue a linha que separa a realidade da ficção [Uma Dúzia de Livros // Julho].

// AGOSTO //
Debaixo de Algum Céu [Nuno Camarneiro]: Um prédio à beira mar, uma linha temporal de oito dias e a vida dos inquilinos. Resumidamente, esta é a base que sustenta a história, mas a escrita poética do autor tem a capacidade de transformar a banalidade do quotidiano em reflexões mais profundas. É impressionante o mundo que existe dentro de um espaço fechado e o quanto se pode viver num curto espaço de tempo. A nossa jornada avança sempre, por maiores que sejam os nossos dilemas. E percebemos o quanto as relações podem quebrar e estreitar em momentos de crise. Numa travessia entre medos e desejos, este livro é feito de pessoas. E podia estar a descrever a nossa realidade.

// SETEMBRO //
Os Homens que Odeiam as Mulheres [Stieg Larsson]: É o primeiro volume da Saga Millennium. E abre-nos a porta a uma premissa original, intrigante e complexa, que ultrapassa a componente policial, privilegiando o jogo psicológico constante. Percebemos, de imediato, que há um ritual que se repete ano após ano. E que isso levanta suspeitas, pois é impossível que o seu remetente corresponda ao indicado. No entanto, se há algo que fica claro durante toda a narrativa é que nem tudo é o que aparenta ser. É um livro que nos agita por dentro [Uma Dúzia de Livros // Setembro].

// OUTUBRO //
Demência [Célia Correia Loureiro]: É uma leitura forte, que nos inquieta e que nos revolta. E alguns capítulos chegam mesmo a magoar, pois é um retrato cru da doença e da violência que marcam mais vidas do que aquelas que seriam expectáveis. Além disso, o contexto em que se desenvolve tem um peso muito significativo na abordagem e na mentalidade perante certos acontecimentos. «Numa pequena aldeia beirã, duas mulheres de gerações diferentes leem o seu destino nas mãos de um mesmo homem», sendo fascinante - mas, igualmente, assustador - perceber como é que as pessoas são tão diferentes consoante aqueles com quem interagem [The Bibliophile Club // Outubro].

// NOVEMBRO //
Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban [J. K. Rowling]: Era precoce definir este volume como o meu favorito, atendendo a que ainda me faltavam alguns para concluir a saga. Mas a verdade é que, até agora, foi o que me emocionou mais. A ligação entre Potter, Ron e Hermione está cada vez mais bonita. E a própria intensidade dos acontecimentos é mais profunda e desarmante. Além disso, posso ou não ter chorado com a carta de Sirius [é óbvio que chorei], tão terna. Continuo a ser surpreendida por todo este universo. E não quero parar.

// DEZEMBRO //
Quantas Madrugadas Tem a Noite [Ondjaki]: A lírica desta narrativa é surpreendente, não só pela história em si, mas pela proximidade que estabelecemos com os protagonistas. Porque, ainda que não corresponda à realidade, quase que podia jurar que estava sentada num café a escutar cada pormenor. Envolta numa onda de imaginação, esta obra espelha humor, farsa, tragédia e mistério, sem diminuir o impacto de cada sentimento. Além disso, num misto de saudade e gratidão, somos obrigados a olhar para dentro. De nós. E do que nos rodeia.


Que livros marcaram o vosso ano?

Comentários

  1. Respostas
    1. E houve outros tantos maravilhosos que ficaram de fora, como o caso d' O Pinto Debaixo do Lava-Loiças ou, então, d' A Educação de Eleanor
      Obrigada e igualmente, Francisco

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  2. Inevitavelmente tenho que escolher o novo do José Luís Peixoto, foi sem dúvida o melhor de 2019.

    Beijinho grande!

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  3. Foi um ano incrivelmente bom... que boas obras! :D

    www.amarcadamarta.pt

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    1. Foi mesmo, Marta! Fiquei de coração cheio por ter tido a oportunidade de ler tantas obras incríveis *-*

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  4. Para já, parabéns por teres lido 81 livros e teres excedido a tua meta para 2019!! É de louvar.
    Confesso que fiquei interessada nalguns livros que aqui apresentas e gostei muito porque dois que planeio ler em 2020 estão na tua lista de favoritos!! Por isso fiquei bem feliz!! São esses o "Diário de Anne Frank" e "Harry Potter: Prisioneiro de Askaban".

    Desejo uma continuação de excelentes leituras para 2019!

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    1. Confesso que esse número ainda me parece um pouco surreal, até porque nunca tinha lido tanto, nem mesmo quando tinha o tempo mais livre. Mas sinto que foi uma bela maneira de me demonstrar que também consigo :)
      O Diário de Anne Frank inquieta-nos e revolta-nos, porque nos mostra o pior lado do ser humano. Mas, por outro lado, também nos faz acreditar que há pessoas com um coração gigante. Quando ao Prisionei de Azkaban, foi uma bela surpresa. Não só pela história em si, mas também pelo próprio Sirius!

      Obrigada e igualmente, Catarina*

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  5. Que ano tão bom :) Adorei O Diário de Anne Frank e quero muito ler Cem Anos de Solidão :)
    Acho que tenho de fazer a lista dos livros de Lu hehe pois agora só leio livros infantis :)
    Beijinhos

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    1. É daqueles livros que nos ficam guardados na memória para sempre! Também quero muito ler Cem Anos de Solidão *-*
      Adoro literatura infantil, ensina-nos imenso. E, por acaso, quero investir em mais livros deste género

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  6. Ler num ano 81 livros é qualquer coisa de extraordinário. É preciso ter muita vontade e bons olhos, mais para sem os cansar ler aqueles livros com letra miudinha. Você Andreia, contribui para que a industria livreira continue a progredir.

    Bom fim de semana Andreia.

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    1. Foi uma conquista, para mim, completamente surpreendente. Nunca pensei conseguir ler tanto. Espero contribuir para as pessoas certas :)

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  7. Este ano, tenho dificuldade de escolher o livro de que mais gostei de ler. Embora tenha lido livros interessantes, nenhum deles marcou presença especial.

    Dos livros que AQUI mencionas, também li alguns, mas nenhum deles me marcou especialmente, nem mesmo o Diário de Anne Frank 📚 embora seja o meu preferido dos livros da tua lista, que eu também li 📚

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    1. Certamente que, lá no fundo, algum deles teve mais impacto :)
      Embora represente uma realidade que gostasse que nunca tivesse existido, a verdade é que a leitura prende e desarma. Foi, sem dúvida, um dos melhores do meu ano

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  8. É tão bom quando conseguimos fazer o que mais gostamos, mas confesso que não li assim algum livro que me chamou muito atenção
    Beijinhos
    Novo post
    Tem post novos todos os dias

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  9. Bom diaaa, á um bom tempo parei de lê mais esse ano de 2020 irei fazer diferente! Ótimos livros! Bjuxx

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  10. Alguns já tinha ouvido falar, outros nem por isso :)

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  11. Uma bela concretização sem dúvida, porque ler é um prazer que nos enche de conhecimento :)

    https://checkinonline.blogspot.com/

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    1. Não estava à espera, mas 2019 foi uma amor neste sentido :)

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