Caixa Mágica | Sara
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Fotografia da minha autoria |
«A Sara só existe na pele da personagem e não tem vida pessoal»
A televisão, como qualquer outro meio de difusão de informação e entretenimento, sofre metamorfoses. Adapta-se - ao tempo e à necessidade. E esta postura tem que ser constante, porque há uma exigência - direta e indireta - por parte do público, que tem poder de escolha e a porta aberta para migrar a sua atenção para pontos de interesse distintos. Por isso, se a caixa mágica pretende perpetuar uma relação de fidelidade, deve apostar e produzir conteúdos diversificados, que respondam aos gostos e à procura.
Há, para mim, formatos que se adequam melhor a determinadas plataformas, ainda que me possa acomodar se fizer sentido. Por essa razão, continuo a ver séries na televisão, respeitando a frequência com que são transmitidas e estabelecendo, igualmente, uma rotina confortável, que me permita desligar, desconectar, do quotidiano e conectar com aquela realidade e aquele momento. E torna-se muito mais aconchegante quando nos deparamos com projetos de qualidade suprema, desenvolvidos por personalidades que admiramos. Acredito, honestamente, que Portugal tem competência para produzir programas de excelência, é preciso é selecionar os profissionais certos e ter desejo de arriscar.
Sara estreou no passado domingo e retrata a vida de uma conceituada atriz de cinema e de teatro, «cujo talento natural para o drama desaparece quando começa a fazer novelas». A premissa aparenta ser simples, principalmente, quando se destaca como grande problema a incapacidade de chorar. No entanto, facilmente, reconhecemos a complexidade dos seus contornos, o que nos levará a acompanhar a viagem trágico-cómica e introspetiva da personagem principal, que está cansada de papéis dramáticos e que tem que gerir a doença terminal do pai. Quando questiona as suas escolhas profissionais e de carreia, abraça a mudança, não sem antes cair num profundo descontrolo e sofrimento, que lhe potenciarão a revolução e a catarse que necessita. Sendo confrontada com este ponto de rutura, em consequência de uma «industria carregada de vícios», percebe-se que a história se confunde com a realidade, apresentando um tom desconcertante, sem dó nem piedade, e uma carga pura de humor negro.
A ideia original pertence a Bruno Nogueira, que partilhou o processo de escrita com Marco Martins e com Ricardo Adolfo. Esta minissérie é constituída por oito episódios [os dois primeiros foram exibidos em Maio, no Festival IndieLisboa, no Grande Auditório da Culturgest] e conta com um elenco de luxo e «uma crítica feroz ao meio audiovisual português». Se estes motivos não forem suficientes, sabe-se, ainda, que a narrativa também se apropria de canções de B Fachada e de uma parte de um romance de Valter Hugo Mãe. Nas palavras de Beatriz Batarda, que dá vida a Sara, o argumento «oferece a possibilidade de explorar campos e géneros de representação que vão do humor à tragédia. Há uma variedade de registos, um hiper-realismo, uma contenção grande e, depois, uma teatralidade mais carregada. E há um sentido de autocrítica (...) da exigência da personagem» com a própria atriz. E é esta pluralidade, de quem transporta vários mundos dentro de si, que nos atrai e nos conquista.
A obra é intensa, é crua, é vulnerável na dose certa. Manifesta a inabilidade, o vazio, a tentativa de perfeição e a constatação de que somos falíveis. Em simultâneo, sentimos a maldade, a mesquinhez, a crítica gratuita e infundada. E, de repente, tudo se resume a uma única condição: chorar. Como se tudo o resto não tivesse valor, como se o talento se desmoronasse sem esse fragmento. A caricatura é magnífica, bem como a ligação antagónica entre algumas personagens. A interpretação mordaz e ácida, de alguém sem papas na língua, abrilhanta a ação e torna-a muito mais poderosa. E é curioso como as situações - e as sensações - são levadas ao extremo, ao limite, mas sem perderem a graça e a leveza. Esse contraste está tão bem captado, que chega a atingir a genialidade. Se dois episódios são suficientes para desconstruir toda a complexidade do enredo? Naturalmente que não, até porque sinto que nos levará por caminhos imprevisíveis. Mas são elucidativos. E deixam-nos à espera de mais.
A cena final [do que foi emitido até ao momento] deixa-nos mesmo em suspenso. Que portas - sobretudo, internas - se abrirão de seguida? Isso é um mistério. E dos bons. Mal posso esperar para mergulhar mais fundo neste pedaço de amor, oferecido num poema-prosa, de camadas infinitas e intemporais. Por mais projetos desta magnitude, que nos inspiram, nos incitam a refletir e a sair da caixa e que nos arrebatam. Identifiquei-me em pleno!
Fiquei com interesse e vou tentar ver, deve ser bem interessante.
ResponderEliminarUm abraço e boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Eu tenho mesmo de ver mas perdi-me com a 3a temporada do The Man In The High Castle :) Mas esta esta na mina lista e o teu review eta excelente pois aguçou ainda mais a minha curiosidade :) Tem tudo para ser muito bom!
ResponderEliminarBjinhosss
https://matildeferreira.co.uk/
Ando mesmo muito curiosa com a premissa coração, e acho que me acabaste de convencer a avançar finalmente! Gosto tanto que apoies com tanto gosto o que é nosso <3
ResponderEliminarTHE PINK ELEPHANT SHOE
Fique curiosa!
ResponderEliminarSabes que na minha casa de praia não tenho TV, embora tenha um enorme ecrã para ver DVs, que também não vi. Mesmo em DÜSSELDORF vejo pouco TV.
ResponderEliminarVotos de um dia maravilhoso na cidade invicta 😘
Nem nunca tinha ouvido falar, obrigada pela dica!!
ResponderEliminarBeijinhos
Parece-me bem =)
ResponderEliminarParece ser muito interessante! Pessoalmente, é pouca a televisão que vejo, admito. A internet dá-nos acesso a tudo que a necessidade é cada vez menos, mas tenho noção que estamos num país capaz de fazer muito boa televisão, foi o que disseste, tem de se apostar nos bons profissionais!
ResponderEliminarBeijinho, Ana Rita*
BLOG: https://hannamargherita.blogspot.com/ || INSTAGRAM: https://www.instagram.com/rititipi/ || FACEBOOK: https://www.facebook.com/margheritablog/
Desconhecia. Fiquei curiosa:))
ResponderEliminarHoje: Meditação da alma
Bjos
Votos de uma óptima Terça - Feira
Fiquei super curiosa :) vou ver se arranjo para ver!
ResponderEliminarBeijinhos,
O meu reino da noite
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Já tinha ouvido falar da série pela net, mas não cheguei a ver, mas tenho que ir espreitar porque aguçaste a curiosidade.
ResponderEliminarUm beijinho, minha querida!
Olha que não tinha ouvido falar, mas quem sabe não assista
ResponderEliminarBeijinhos
Novo post //Intagram
Tem post novos todos os dias
Partilho da tua opinião expressa neste post.
ResponderEliminarConfesso que foi com alguma reserva, aliada à curiosidade, que me sentei no passado domingo a ver o episódio, e no final não dei por mal empregue o tempo. Venham mais episódios.
Continuação de boa semana.
Tudo de bom.
Não vou muito com séries:(
ResponderEliminarGosto de ver logo tudo de uma vez ahahahahah
Beijinhos
r: também me parece que aquilo não está bem contado.
Vou tentar ver essa série!
ResponderEliminarBjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram
Não estou em condições de comentar uma coisa que desconheço. A televisão, para mim, cada dia que passa vai ficando mais distante. Por vezes ainda vejo um ou outro documentário, ou episódio dos canais ditos temáticos, mas ultimamente, nem isso. Ligo 10 minutos de manhã, enquanto tomo o pequeno-almoço, outro tanto enquanto almoço e janto, para ver as notícias. à noite prefiro ficar estendido no sofá, às escuras, a ouvir música com auscultadores. Não cansa a vista e acordo mais calmo se não sujeitar a cabeça aos conflitos que vão pelo mundo.
ResponderEliminarAinda não tinha ouvido falar desta série. E a cena do vídeo que partilhaste está brutal! Fiquei cheia de vontade de continuar a ver :)
ResponderEliminarr: Concordo com tudo o que escreveste e, realmente, "nem todas as pessoas nos proporcionam as melhores experiências". Penso que isso tenha muito a ver com gostos pessoais que se tornam gostos comuns - de um modo bastante geral - ou não. Por vezes, esse choque, pode fazer com que não se aproveite tanto a viagem. O segredo é colmatar essa incompatibilidade, escolhendo a dedo quem irá partilhar esses momentos connosco.
Beijinhos
Poxa, poderia passar aqui no Brasil. Tempos tão pouco conteúdo de Portugal por aqui, não sei porque... :(
ResponderEliminarPara mim na televisão pouco mais vejo do que as notícias. Os programas que são transmitidos pelos três canais são ocupados por demasiado tempo de publicidade. Ligue porque se não ligar não ganha. Chegam a estar mais de dez minutos com a mesma lengalenga!
ResponderEliminarTenha uma boa noite Andreia.
Never heard or seen it! Would love to find more time to watch tv.
ResponderEliminarwww.fashionradi.com
Não conhecia mas fiquei curiosa :)
ResponderEliminarUooohhh.... Tenho que descobrir isto! Obrigado pela dica!!
ResponderEliminarBeijinhos
Sandra C.
bluestrass.blogspot.com
r: És igual a mim! Nas viagens, sobretudo, é sempre para acordar para aproveitar o máximo do dia. E quanto a destinos com praia... bah! Não gosto de apanhar sol mesmo, haha :)
ResponderEliminarOntem estava deitada no sofá quando li este teu post e vi o Miguel Guilherme e a Rita Blanco no trailer, fiquei tão entusiasmada que liguei logo a tv para procurar a série e ali estava ela disponível para ver. Vi e adorei. Depois nem te respondi porque já era tarde e fui dormir.
ResponderEliminarMas obrigada! Obrigada porque adoro este tipo de trabalhos e nunca encontro nada assim.
Não suporto novelas, é tudo tão artificial que me incomoda sequer ouvir. Mas teatro ou este tipo de séries ou filmes portugueses com estes grandes actores, eu adoro.
Como não vejo mesmo TV praticamente nem sabia desta série, se não fosses tu.
Obrigada!!
Beijinho
Confesso que não conheço, até porque não acompanho nenhuma série portuguesa, mas fiquei curiosa depois de ver o vídeo que partilhaste :)
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