D' Alva | Maus Êxitos

Fotografia da minha autoria

«Cada vez que falas sobre mim vejo um pouco mais de ti»

Os D'Alva ocupam um lugar cativo no meu coração, porque têm um talento enorme e porque, em consequência disso, têm vindo a construir um percurso musical original, consistente e assertivo. E é por casos como o deles que tenho a certeza de que sou uma privilegiada por estar tão atenta ao panorama nacional. É que canta-se muito bem em português. E em Portugal!

#Batequebate, lançado há quatro anos, já tem sucessor: Maus Êxitos. A fusão de Alex D'Alva Teixeira e Ben Monteiro voltou a ganhar forma, redescobrindo-se e vincando a sua essência interventiva. Se o primeiro álbum foi «efervescente», o segundo define-se como um prolongamento, «sem medo de interferências». Aquilo que mais aprecio neste duo é que é extremamente consciente do mundo que o rodeia e não se coíbe de dar voz aos seus ideais e às causas que defende. Há tanta verdade na sua mensagem, que nos convida a percorrer o mesmo caminho introspetivo do processo de criação. Além disso, é muito transparente em relação às suas falhas e às inseguranças que marcaram o seu crescimento - pessoal e artístico. Os D'Alva têm um lado leve, fresco, animado, dançável e descomplicado, mas com este disco provam que são mais do que estas características: são dotados de versatilidade. Em cada nova faixa, entramos numa dimensão mais visceral, reflexiva e densa. Talvez, um pouco melancólica e negra, mas sem ser excessivamente dramática. Existe, sobretudo, um equilíbrio constante e inteligente, que lhes permite explorar vários recantos das suas personalidades, das suas bagagens e das suas almas.

Maus Êxitos marca uma posição. E uma transição. Com uma linguagem musical em crescendo, bastante madura e focada, nota-se uma produção e uma escrita muito mais cuidadas e com maior coesão melódica. A necessidade de se encontrarem, de se aceitarem e de se afirmarem permitiu-lhes diversificar e tornar o álbum plural, com groove, apresentando «refrões colossais» e produzindo um verdadeiro «manifesto sonoro». Outra particularidade fascinante é que é «um disco de relações, de exploração de problemas e de perguntas». Mais do que afirmar, levanta questões que nos obrigam a parar e a pensar. E é esta diversidade que constitui a essência do trabalho mais recente de Alex e Ben, cuja qualidade, para mim, é inegável. Merecem todo o reconhecimento e sucesso!

Sincronizados e seguros de quem são, passam essa mensagem tão fundamental de autodescoberta. Além disso, criam música que não se prende a um género em particular, estabelecendo uma certa atualidade e intemporalidade nas suas canções. Porque é «Pop, mas ao mesmo tempo experimental e não obedece a regras e cânones». E nesta liberdade de produzirem o que lhes faz sentido, conseguiram reaproveitar experiências menos positivas, lançando um álbum pessoal e «extremamente honesto». Percam-se nestes Maus Êxitos, que são um espelho da sociedade. E de autenticidade.

Já conheciam? O que acharam?