Q&A | Os segredos de «O nosso amor é como o vento»

Fotografia da minha autoria

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O Nosso Amor é Como o Vento chegou como um sopro, num daqueles raros momentos em que estamos de janela aberta para receber os acasos que a vida nos reserva. E eu deixei-o entrar. Sentar-se e acomodar-se em ideias desconexas, que fui polindo, revisitando e aproveitando consoante a necessidade do enredo. A narrativa teve duas fases de construção distintas, o que me proporcionou uma descoberta introspetiva, quer ao nível da minha personalidade, perceções e preferências, quer ao nível de escrita. Sem falsas modéstias, sei que maturei o meu diálogo. E isso foi fundamental neste processo criativo.

O sonho de publicar um livro é antigo, mas sentia-o ainda distante, a precisar de mais um tempo para se consolidar. No entanto, pensei que seria uma prenda original para oferecer à minha gémea de coração, que sempre soube desta minha paixão pelas palavras e que a apoia incondicionalmente. E numa versão mais em bruto, fiz-lhe chegar o primeiro original desta história. Mas, nessa altura, estava longe de imaginar que voltaria a trabalhá-la. Entre várias hesitações, decidi que este seria o ano de a retirar da gaveta, reescrevendo-a e partilhando-a publicamente. O retorno que recebi, desde maio, foi incansável. E não tenho como agradecer a aceitação tão generosa da vossa parte. Diverti-me imenso nesta viagem alucinante. E sinto-me, honestamente, orgulhosa do resultado. Tenho plena consciência que, daqui a uns anos, se a voltar a ler, encontrarei aspetos a melhorar, mudanças mais significativas a fazer. Porém, neste momento, seguiu o rumo mais certo. Não sei se algum dia assumirá um formato físico, mas fará sempre parte deste meu lar tão especial, que a guardará com o maior cuidado e carinho.

O Nosso Amor é Como o Vento é ficção, mas recupera alguns traços da minha realidade, sobretudo, no que diz respeito a determinados gostos. Para o desenrolar da ação, inspirei-me um pouco em tudo o que me rodeia, desde séries a livros, passando por conversas, atitudes e trocas de opiniões. E, claro, no filme A Walk to Remember. A minha maior preocupação era criar algo que fosse possível de acontecer. Não queria que lessem e ficassem com a sensação de que existia um grande distanciamento entre o que é imaginação e o que poderia, efetivamente, ser o testemunho de alguém próximo. Portanto, mesmo não sendo biográfico, pretendia atribuir alguma veracidade ao enredo. Porque, enquanto leitora, gosto dessa identificação, dessa simbiose que nos confunde. E fi-lo, igualmente, através de descrições mais detalhadas, que pudessem despertar as várias emoções e etapas da narrativa. O próprio desenvolvimento da história e o meu estado de espírito foram-me inspirando e dando pistas do caminho a percorrer. E com uma ideia de base, que privilegiasse o amor na sua plenitude, deixei-me ir. Sem pressões. E sem pressas. Retomar este texto, que já tinha um fio condutor delineado, foi um autêntico desafio. E tornou-se mais gratificante porque o fui redescobrindo quase ao mesmo tempo que o publicava.

Porque decidiste escrever sobre um tema tão sensível, como a morte de um ente querido?

Honestamente, acho que foi uma forma de exteriorizar toda a dor inerente à perda da minha avó materna. Apesar de, como referi anteriormente, não ser uma obra autobiográfica, sei que consegui canalizar muita energia neste enredo; consegui desconstruir alguns receios e algumas angústias. Já não sei precisar quanto tempo depois da sua morte comecei a dar forma à narrativa, mas ajudou-me no processo de luto. Além disso, acredito que há amores eternos e pessoas que permanecem connosco até ao fim, independentemente de a sua presença já não poder ser física. Portanto, pensei que seria um bom ponto de partida.

Se a história continuasse, a Constança teria perdoado o Lourenço?

Sim, sem dúvida, porque iria acabar por compreender as suas atitudes. Saber a verdade foi um choque para a Constança, sobretudo, porque se sentiu no meio de uma mentira. Quando as emoções acalmassem, quando refletisse profundamente sobre tudo o que aconteceu, iria entender que o objetivo do Lourenço nunca foi magoá-la, muito pelo contrário.

A Constança e o Lourenço poderão envolver-se?

Dificilmente. Quando criei as duas personagens, em nenhum momento tive a ideia de cruzar os seus caminhos dessa forma, até porque pretendia chegar a outro ponto: a amizade pura entre um homem e uma mulher. O estar e o olhar para o outro sem essa intenção romântica. Envolvê-los seria fácil e, até, natural, mas quis centrar-me naquela que é, para mim, a base de qualquer relação. 

Vais escrever a sequela de O Nosso Amor é Como o Vento?

Se é uma porta completamente fechada? De todo. No entanto, ainda não consigo dar uma resposta em definitivo. Por um lado, sinto que fazia sentido. Mas, por outro, não tenho uma sucessão estipulada. Reconheço que, talvez, falte essa continuação para ter coragem de avançar, finalmente, para um livro. Por isso, deixo esta possibilidade em aberto.

O que aconteceu à Constança durante e depois da viagem?

Esta questão é bastante complexa, ainda para mais porque não tenho essa passagem de tempo idealizada. Porém, imagino-a em paz, a abraçar novas culturas, a conhecer novas pessoas, a vivenciar uma experiência transcendente. Embarcar nesta viagem iria proporcionar-lhe novas aprendizagens, não só em relação ao mundo que a rodeia, mas também em relação a si. E, principalmente, iria permitir-lhe encerrar um capítulo doloroso da sua vida, regressando com mais força para encarar o presente, viver outros desafios profissionais e, quem sabe, dar espaço para surgir um novo amor.

Por fim, mas não menos importante, quero agradecer à Ana Ribeiro [EscreViver], à Matilde [Cantinho da Tily], à Larissa Santos [Brincando com as palavras], à Quase Cinderela [Deliciosa@mente... Quase Cinderela], à Mena Almeida [Entre os meus dias], à Cláudia S. Reis [Marés], à Sandra C. [Bluestrass], à Lucimar Moreira [Estrela da Manhã], à Juliana Pinto [Um Resto de Tudo] e à Patrícia Lobo [Patrícia] por todas as perguntas que deixaram. Uma vez que a maioria tinha curiosidade sobre o que me inspirou a escrever a história e se esta tinha um fundo real ou ficcional, optei por responder em texto, destacando, apenas, as questões não comuns. Obrigada ❤