O nosso amor é como o vento #17

Fotografia da minha autoria


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«É incrível o quanto vivemos lado a lado. Em total sintonia. Por mais que soe a lugar comum, nunca pensei que alguém tivesse a capacidade de me complementar como tu. Completar não, porque sempre concordamos que só podemos amar alguém quando nos sentimos inteiros. No entanto, coabitávamos em perfeita simbiose, respeitando as diferenças e o espaço pessoal. Crescemos muito - dentro e fora da nossa relação. E sei que era este apreço, aliado a um amor imenso, que nos tornava tão nós.

Outro episódio caricato - connosco, qual não era? -, foi o dia em que combinamos ir com a Leonor, o Vasco, o David, a Mónica e a Luísa ver o jogo do Porto ao café. Sinto que foi mais um teste à nossa cumplicidade, porque o futebol desperta um dos nossos lados mais intensos e genuínos. Assim que chegamos, nós, os rapazes, pedimos caracóis e três cervejas. E senti o teu olhar fulminante, como se me fosses repreender por beber. Em vez disso, ouvi-te dizer que eram sete cervejas e não três. Naquele instante, aprendi que preferes a preta e que um prato de tremoços é a tua perdição; que estavas no teu território e que na intimidade do teu grupo não havia lugar para vergonhas. Mas só para que eu não ficasse com dúvidas, avisaste-me que não eras propriamente delicada a assistir às partidas da tua equipa de coração, que também te exaltavas e dizias palavrões. Estavas em família e eu senti o peso da tua segurança. Além disso, percebi o teu ar de desafio e a pergunta que me lançavas em silêncio: «ainda me achas a rapariga mais bonita e deslumbrante?». Recordo-me que não te cheguei a responder, mas sim, é claro que sim! Porque aquilo que tu mostravas às pessoas não era uma imagem de quem querias ser. Eras tu, sem qualquer filtro.

Tenho plena consciência que, naquela altura, já estava apaixonado por ti. Mas reforcei todas as certezas que preservava no lado esquerdo do peito. Deste-me luta - e ainda bem -, mas acho que consegui estar à altura. E quando compreendeste que eu não ia a lugar algum, isso agradou-te. E descansou-me que tenhas percebido que eu estava mesmo ali para ficar. No mesmo embalo do tempo, a nossa ligação tornou-se mais evidente - para nós, principalmente, e para os outros. Fomos estupidamente felizes, não fomos? Acredito nisso com todas as minhas forças, mesmo que estas me falhem aos poucos. Sei que não é justo, porque me deste tanto sem eu pedir, mas será que me podes fazer um último favor? Perdoa o Lourenço. Conheço-te como a palma da minha mão, por isso, posso jurar que há uma mágoa a rodear os teus pensamentos, querendo cobrir o teu coração. Não a permitas entrar, porque ele só fez o que lhe pedi. E eu sei que vais acabar por entendê-lo. Demora o que for preciso, mas não lhe feches completamente a porta. Acredita, têm mais coisas em comum do que imaginam e não duvido que poderá nascer uma bela amizade. Quebrarem a tua confiança é meio caminho andado para te desiludirem e para implicarem uma rutura - ambos estávamos conscientes disso. Mas foi por um motivo maior: para que esta despedida pudesse acontecer.

Meu bem, haveria tanto para relembrar. Tanto que gostaria de deixar escrito, porque nos define. Mas corro em contramão. E o meu tempo esgota-se. Porém, garanto-te, levo cada fragmento comigo. Magoa-me saber que ficarão muitos planos em suspenso, mas a vida é mesmo assim e nós não controlamos a ordem natural dos acontecimentos. Faltou-me ver nascer os nossos dois filhos, faltou-me conhecer o mundo ao teu lado e desfrutar da nossa velhice. Todavia, tudo aquilo que conquistamos e construímos tornou-me muito mais realizado. Nunca te esquecerei, da mesma maneira que parto convicto de que te recordarás sempre de mim e da nossa história. Quando te sentires a fraquejar, fala comigo, que eu arranjarei maneira de notares a minha presença. Não fujas do amor, nem tenhas medo de seguir com a tua vida. Tens um caminho longo, apenas não será comigo. Promete-me que serás feliz, mesmo que não seja para já. Pé ante pé, até conseguires levantar-te do chão. Porque assim poderei ir em paz.

Os meus pais e os teus, os meus irmãos e as minhas irmãs, o Lourenço e a Leonor estarão sempre de braços abertos para te amparar. E há um pedaço de mim em todos eles. Lembra-te: o nosso amor é como o vento. Não o posso ver, mas posso sentir. Isto nunca será um adeus, mas um até já. Prometo-te. Até ser hora de nos voltarmos a encontrar, vive. Se achares bem, tira uns dias e vai viajar, explorar cada recanto. Sempre foi um dos nossos objetivos. E tê-lo-iamos iniciado se a minha doença não me tivesse prendido a uma cama de hospital. Gostava, sinceramente, que o fizesses. Por ti. E por mim. Talvez seja a melhor forma de nos despedirmos e de eternizarmos - ainda mais - aquilo que fomos. O amor que nos une. Só não deixes é de continuar, porque o futuro tem tudo para te sorrir. Até breve, minha eterna Constança.


Amo-te. Para sempre!
O teu Gonçalo»

Comentários

  1. Amazing post, dear! A big hello from Germany!
    Hugs ♥
    LIANA LAURIE

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  2. Gostei tanto :)
    Esta carta é mesmo sentida, mesmo do fundo, tens imenso jeito.
    Por vezes as pessoas esquecem-se de dizerem o que sentem, mesmo não sendo por voz mas sim por letras, porque é sempre bom ouvir/ler palavras que vêm do coração!

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  3. Forte, muito forte!! Que fará ela agora?

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  4. Uma verdadeira escritora não há como não gostar, agora só falta sair um livro escrito por ti, continua e nunca desistas
    Beijinhos
    Novo post //Intagram
    Tem post novos todos os dias

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  5. Sem dúvida que tem mesmo jeito para a escrita. Belo texto.
    Bjos

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  6. Que carta maravilhosa. Tão triste e tão linda ao mesmo tempo. De partir o coração. </3

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  7. De ficar de coração apertado e de lágrimas nos olhos, porque reflecte o melhor e mais bonito do amor. Vou repetir-me: gosto cada vez mais desta historia e dos sentimentos e reflexões que passa. Parabéns.

    Beijinho muito grande! :)

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  8. A Constança é das minhas, ou não fôssemos mulheres do norte apaixonadas pelo FCPorto! Tremoços sim, caracóis não :)
    Foi uma declaração linda e de coração l, por mais pessoas assim :) o Gonçalo vive para sempre no coração dela para protege-la
    Beijinhos
    https://matildeferreira.co.uk

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  9. E chorei! Ai Andreia, esta história anda-me a por muito chorona 😂 mas não tens culpa nenhuma. Acho que o Gonçalo disse tudo o que a Constança andava a pensar e a remoer e ainda bem que disse na carta. Não imagino a dor que é ou o ter de continuar sem a pessoa que mais amamos mas imagino que seja horrível. Só espero que ela consiga ser feliz mesmo “sem ele” (porque ele sempre estará presente). Beijinhos 😘

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  10. Sempre com as melhores histórias e a melhor escrita *.*
    Beijinhos,
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  11. R: Eu concordo! Acho que pode haver menos leitores novos, porque lá está não é tão dinâmico, mas quem gosta de ler continuará a fazê-lo.

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  12. Ao ler não tem como não ficar com o coração apertado!
    Lindo! Muitos parabéns!

    Beijinhos
    Sandra C.
    bluestrass.blogspot.com

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    Respostas
    1. *R- Sim a Lisy sabe bem onde quer chegar... está quase a chegar ao fim!! Obrigado pelas tuas palavras!!

      Beijinhos
      Sandra C.
      bluestrass.blogspot.com

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  13. Um texto maravilhoso,perfeita a escrita gostei muito de ler bjs.

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  14. E é mesmo isso que procuro nos produtos de maquilhagem!

    :o Eu esperava este desfecho mas não desta forma!!!!!
    É tão bom dizer-se o que se sente. De verdade!
    Quero maaaais :D

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    InstagramFacebook Official PageMiguel Gouveia / Blog Pieces Of Me :D

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  15. O mundo "desligou-se" à minha volta enquanto lia.
    Fiquei com o peito apertado mas acredito que o futuro lhe trará um grande amor e felicidade para a compensar um pouco dessa dor.
    Obrigada mais uma vez
    Continua
    Beijinho

    R: Adorei a ideia do diorama que me deste. Vou concretizá-la mal tenha tempo e quando o fizer poderás ver e dizer-me se é como esperavas ;)

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  16. Agora fizeste me lembrar o livro as palavras que nunca te direi. Belíssimo texto que pode ser, ou não veridico.
    Beijinhos linda.

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  17. Esta é uma carta bastante delicada e que, calculo, tenha aconchegado o coração da nossa protagonista, que tanto ansiava por respostas. Fiquei curiosa sobre como irá esta belíssima história continuar!

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  18. Esta carta deixou-me o coração mesmo pequenino, imaginei tudo e fiquei tão triste, mas ainda assim maravilhada com este amor e sinto que estas palavras só vieram na altura certa para a Constança. Ansiosa por mais, estou a ADORAR!

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