Identidade Cruzada #5

Fotografia da minha autoria


«Não há vantagem em envelhecer»



As minhas mãos despertam-me uma enorme sensação de repulsa. E já não falo sobre a minha imagem ao espelho, que me provoca náuseas. Por isso, desisti de olhar para mim. Evito, a todo o custo, tudo o que possa refletir o meu estado deprimente. Gasto. Pouco firme. Mas os meus dedos enrugados continuam a ser um tormento, porque não tenho forma de não os observar - e eu sempre detestei usar luvas.

Estou velha! Pior, sinto-me a envelhecer aceleradamente. E, por mais que tente, não consigo impedi-lo. Desde a minha juventude - que está tão longe nas minhas memórias e na minha energia -, tenho um medo pavoroso de chegar a esta faixa etária. E questiono-me, constantemente, sobre a utilidade da velhice, que só vem para nos tornar fracos e dependentes. Construí uma família linda. Hoje, estou sozinha nas minhas angustias. E nem as brincadeiras ruidosas dos meus bisnetos me arrancam deste estado letárgico, porque sei que o meu fim não tarda. Quer dizer, até pode demorar, mas eu já o sinto em mim desde o dia em que a minha pele apresentou os primeiros sinais de desgaste e flacidez. Se houvesse maneira de não passar por isto, nem pensava duas vezes. Se dependesse só da minha vontade, os quarenta teriam sido a minha idade limite.

Tenho, por esta altura, o dobro e nunca fui tão infeliz, mesmo tendo todos os motivos para agradecer a vida que levo. Lá no fundo, sei que é a tristeza a falar mais alto; sei que, se tentasse muito, estaria em paz comigo, mas odeio sentir-me velha. O rótulo de pessoa idosa não combina comigo, mas é o que sou, ainda para mais porque me permito afundar nesta depressão. Dizem-me sempre que a idade é apenas um número, porém, não acredito. Calo-me, engulo o sapo e reprimo a necessidade de insultar quem diz semelhante barbaridade. Sei que não o fazem por mal, mas arreliam-me. Porque tenho a impressão que desvalorizam a minha ansiedade de ver o tempo a passar. Estou a enlouquecer. E já nem celebro o meu aniversário. Recuso-me! Pelo menos, isso ainda posso controlar.

A minha matação foi a reforma. O deixar de me sentir útil e capaz. Agora, limito-me a esperar, a ver a vida a seguir do outro lado da janela. Encosto-me ao parapeito e fico a observar a clarabóia da casa em frente. E a gaivota que voa longo, passando por aqui sempre à mesma hora, a exibir a sua jovialidade e meninice. Mostrando-me o que fui e tudo aquilo que já não sou mais. E que jamais voltarei a ser.



[Júlia, 80 anos, reformada]

Comentários

  1. Envelhecer não é fácil...eu diria que é assustador...
    Isabel Sá
    Brilhos da Moda

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  2. Felizmente que nem todos os casos são assim de desencanto pela velhice, há que saber viver e apreciar a vida em todos os estágios da nossa existência.
    Um abraço e uma boa semana.

    Andarilhar
    Dedais de Francisco e Idalisa
    O prazer dos livros

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  4. Penso que o modo como cada povo trata os velhos também influencia bastante como estes encaram o passar da idade. Em Portugal não tratamos bem dos nossos idosos, isso é mais do que facto. Mas se formos por exemplo à Holanda ou ao Japão, onde a terceira idade é respeitada, os idosos estão saudáveis por dentro e por fora, no coração e na alma. Aqui ainda há a ideia de que ao chegar-se a determinada idade deixamos de ser úteis e viramos um fardo: fica difícil não se ficar com depressão com esta nuvem sombria a pairar por cima da nossa cabeça.

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  5. Tocante! Fiquei sem palavras.
    Quando era criança dizia "eu quero morrer aos 40/50 anos", e ninguém percebia o porquê de uma criança dizer isso, mas é simples há vários tipos de "velhice", há aquela em que a pessoa está sozinha, outras por vezes doente e têm que depender de alguém, aí sim compreendo que seja uma matação. Agora se tiver por perto as pessoas que mais ama, e ainda tiver uma saúde nem que seja só razoável mas que possa "viver" aí penso que é uma fase bonita.
    Mas lá está é uma coisa que não controlamos.

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  6. Cada um tem liberdade para pensar. Eu não me importo nada de ultrapassar a barreira dos 80. Quantos mais melhor. Quanto a rugas no rosto ou nas mãos. Não me causam má estar. Estou mentalizado de que elas rugas fazem parte da velhice, por isso não me incomodam. O que mais me incomoda é quando penso que vou morrer sem poder fugir da morte!

    Tenha um bom dia Andreia.

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  7. Confesso que a velhice me assusta... Gostei de ler.

    Bjos
    Votos de uma óptima terça-Feira

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  8. A segunda é uma delícia de som! ;D

    Pelos meus avós vejo o quanto é difícil envelhecer. Minha avó materna mesmo é uma que lamenta muito a idade! Ela sofre por não ter a saúde nem a paciência necessária para lidar com o meu avô, que agora requer cuidados de uma criança. Meu outro avô paterno também... Teve problemas de saúde e não consegue mais fazer nada (nem falar). Então, é um momento complicado da vida. Sorte de quem tem família por perto para ajudar!

    Ótima terça!

    Beijo! ^^

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  9. Posso dizer que nunca tinha mesmo pensado nisso, mas agora da mesmo que pensar
    Beijinhos
    Novo post //Intagram
    Tem post novos todos os dias

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  10. Nao tenho medo de envelhecer nemde ficar sozinha, quero encher a minha memória de coisas boas, e mesmo que não me lembre quando for velhinha, pelo menos quero ter a certeza que levei o melhor desta vida como a minha avó q morreu com 96 anos:) é nela e na minha mãe que me inspiro no meu dia a dia :)
    Bjinhosss
    https://matildeferreira.co.uk

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  11. A idade só está no espírito, para quem ainda não chegou cá. Para quem ainda não tem um doloroso sinal alarme em cada articulação. Para quem os anos ainda têm 365 dias e os dias não passam à velocidade da luz.
    É claro que devemos combater o marasmo que torna alguns idosos autênticos mortos-vivos. Mas não é fácil conseguir reunir forças para combater a realidade. :(

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  12. Olá, A Júlia com os seus medos de assumir a idade, as rugas que a vida nos dá, não é sinonimo de velhice, revelam o dia após dia, o ano após ano vivido, em prol de uma causa, ninguém nasce porque quer, depois de nascermos começa um ciclo de vida que caminha para o fim, somos assim, com orgulho nos devemos aceitar.
    Continuação de feliz semana,
    AG

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  13. Que aperto tão grande pela tristeza e desencanto de Júlia. Impossível não tocar profundamente.

    Beijinhos!

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  14. Penso que para todos envelhecer é sempre assustador e meio incerto. Adorei a foto querida
    Rêtro Vintage Maggie | Facebook | Instagram

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  15. É exatamente isso, meu bem :) E espero que, connosco, seja igual!! <3

    Que texto, meu Deus!
    Acredito, piamente, que seja complicado. Mas o importante, a meu ver, será encarar essa fase como algo positivo.

    NEW REVIEW POST | FINALLY: I'VE TESTED THE BUBBLE MASK - SEPHORA.
    InstagramFacebook Official PageMiguel Gouveia / Blog Pieces Of Me :D

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  16. O que todas as mulheres devem ouvir, tenham elas que idade tiverem e a aparência física que tiverem, a doença mental que carreguem, independentemente de tudo: ÉS LINDA! E não deixes nunca que te digam ou te façam sentir de alguma maneira o contrário. És tu, de todas as tuas formas e maneira em tudo o que te colocas. És TU, és mulher, és giraça!

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  17. Infelizmente é uma época que não é nada fácil. Vejo de perto os meus avós que não têm ainda esta idade, mas que já se queixam com dores e quando caem é um problema gigante. A única diferença é que mesmo estando ambos na reforma, não param de trabalhar. Continuam tratando da casa, da terra e assim seguem. E, conhecendo-os como conheço, não se permitiriam ficar em casa sem fazer nada. Dizem mesmo que parar é morrer. Acho que em suma, grande parte tem medo de envelhecer, da flacidez, de “não servirem para mais nada”, de não poderem fazer com tanta facilidade o que atualmente fazem. É claro que isso é penoso.

    Ainda há uns dias, por uma má interpretação deixei o meu amigo deprimido. Vi as suas fotos antigas (com os seus 19-21 anos) e apercebi-me que ele envelheceu imenso, principalmente de rosto. Ao dizer-lhe isto mesmo, ficou a chamar-se de velhote e tudo, a dizer que já não prestava para nada. Nem sei, como dei a volta à situação 😅, mas lá lhe consegui fazer entender que esta excelente. Dependendo de cada trabalho, uns com mais desgaste psicólogo e outros físico, é normal que tenha envelhecido desta forma. Sendo que também, é o único numa empresa enorme a desempenhar a sua função, sem férias sequer. Vi claramente que ele, apenas com 24 anos, já fica em baixo se lhe dizem que envelheceu. Ou que está diferente. É incrível. Continuo achando que a idade é apenas um número e não deve impedir-nos de fazer nada. Somos sempre “úteis”, até porque não somos objetos. Ainda que a pele comece a ficar enrugada, temos de aceitar que esta é a lei da vida. Temos de continuar a gostar de tudo. Por mais que nos custe a olhar no espelho. Beijinho grande e desculpa o testamento ahaha

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  18. Este post deixou-me triste porque sei que existem casos reais como o da Júlia, em que parece que os dias apenas se vão arrastando uns atrás dos outros. E eu acredito que para muitos não seja fácil ver a vida e os anos passarem, mas é a forma natural das coisas. A partir do momento em que vimos ao mundo, sabemos que a nossa juventude não irá durar para sempre.
    E não julgo quem pense dessa forma, mas acho que a beleza da vida está nisso, em cada etapa. Os anos vão passando, de filha passamos a mãe e de mãe a avó. Embora vamos perdendo uma certa energia, acho que podemos continuar a viver da melhor forma que pudermos. Claro há muitos idosos "deixados para lá" e, por isso, também haja um certo receio, mas temos de continuar a lutar contra esse abandono.

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