Entrelinhas #66

Fotografia da minha autoria


«As aventuras de uma mulher à procura de tudo em Itália, na Índia e na Indonésia»



O mediatismo de determinadas obras, potenciado pela multiplicidade de críticas e/ou por uma produção cinematográfica, pode despoletar um de dois caminhos: uma vontade automática de as ler ou, então, um certo afastamento inconsciente e, por vezes, momentâneo. Pessoalmente, localizo-me num ponto intermédio, porque dependerá sempre do género e da[s] temática[s]. E porque acredito que devemos respeitar o nosso ritmo e a nossa predisposição. Há momentos. E nem sempre estamos em sintonia. Por essa razão, fez-me sentido esperar, deixar acalmar a atenção constante e abraçar um dos livros de Elizabeth Gilbert mais recentemente.

Comer, Orar, Amar é uma viagem de auto descoberta. E por muito que possamos não compreender algumas escolhas, faz-nos sentir na pele a ansiedade, a necessidade de partir. De conhecer. De equilibrar o alvoroço que vai dentro da nossa alma e do nosso peito. É por isso que a experiência retratada é tão emocional e sensorial, porque nos desperta para o som, para o cheiro, para o toque, quase como se tudo tivesse redobrado de intensidade. E vamos passando por diversas fases de identificação, ao mesmo tempo que conhecemos todas as batalhas - internas e externas - que a protagonista tem que travar, sem haver qualquer ocultação das dificuldades. É tudo explanado, não com o sentido de vitimização, mas porque, efetivamente, aconteceram e não tem que existir qualquer vergonha de o assumir. A crise existencial e, mais tarde, a ascensão pessoal demonstram-nos a impossibilidade de avançar quando estamos presos a algo do passado. Precisamos de ouvir a nossa voz interior e de encerrar o ciclo. Caso contrário, deixaremos de viver em plenitude, permitindo que acontecimentos significativos se tornem triviais na nossa existência.

O processo doloroso do divórcio, a mágoa, os amores substitutos que não resultaram e o desejo de fechar feridas são o ponto de partida para uma caminhada de celibato, força interior e paz de espírito. Através de uma escrita leve, descomplicada, descomplexada e cheia de humor, que torna a narrativa bastante fluída e natural, entendemos que existe uma reorganização e uma redescoberta de sentimentos e prioridades. E a dualidade entre a felicidade e o sensação de culpa começa a ser cada vez menor, precisamente por haver uma mudança de dentro para fora. Achei mesmo interessante a relação entre a estrutura do livro e as japa malas [fios de contas], pois ajuda a fortalecer o contexto da obra, na medida em que se consideram todos os detalhes. Além disso, a escolha dos locais consegue ser tão antagónica, como próxima. Porque, mais do que conhecer os costumes individuais, conhecemos aquilo que, em cada um deles, tem um impacto consequente na vida da protagonista. E somos confrontados, assim como ela, com aquilo que a transforma e atribui sentido à sua jornada. Com o avançar da ação, constatamos que são mais as pontes do que os muros entre eles.

Para mim, uma das grandes vantagens deste livro é que não tenta vender-nos uma ideia, um estilo de vida, como se só existisse um percurso correto. Por ser baseado em facto reais, transmite-nos uma visão muito mais intimista das circunstâncias. Mas em nenhum momento senti que se procurasse impor uma verdade unilateral. E isso torna as descrições menos tendenciosas. Porém, e esse é, provavelmente, o único aspeto menos positivo que destaco, fiquei com a sensação de que tudo ocorreu como era suposto, nas alturas em que deveria acontecer. Apesar disso, é um pormenor que em nada afeta a qualidade da narrativa, até porque a mensagem é bem mais importante que tudo o resto. E é nessa particularidade que me foco. Porque este texto alerta-nos para a importância de estarmos sozinhos e de apreciarmos a nossa companhia. Partilha diversas culturas. Mostra-nos o poder da generosidade e do amor-próprio. E valida a certeza de que todos nós precisamos de ter algo/alguém em que[m] acreditar.

A espiritualidade pode, todavia, criar uma espécie de barreira, uma vez que não conseguimos sentir aquilo que não compreendemos. Por mais reveladora que seja esta leitura, podem existir aspetos mais distantes da nossa realidade, já que não estamos verdadeiramente conectados com esta energia. No entanto, em jeito de equilíbrio, desperta-nos uma vontade de aprofundar essa simbiose. Posto isto, nesta viagem real e metafísica, encontra-se um conjunto de conjeturas que se alinham, potenciando um crescimento e uma metamorfose inesquecíveis.


Deixo-vos, agora, com algumas citações:

«O meu coração saltou, depois tropeçou em si mesmo e estatelou-se ao comprido. A seguir, levantou-se, sacudiu-se, inspirou profundamente e anunciou: quero um mestre espiritual» [p:36];

«Quando nos perdemos em bosques sombrios como estes, por vezes levamos algum tempo a perceber que nos perdemos. Ficamos convencidos de que nos desviámos apenas alguns passos da nossa rota e que a qualquer momento voltaremos a encontrar o caminho certo» [p:62];

«- Talvez tu e Roma tenham apenas palavras diferentes.
- O que queres dizer com isso?
- Não sabes que o segredo para compreender uma cidade e o seu povo é saber a palavra da cidade?» [p:122];

«Fé é acreditar naquilo que não se pode ver, provar ou tocar. Fé é caminhar de cara levantada e a toda a velocidade em direcção à escuridão. Se soubéssemos antecipadamente todas as respostas relativas ao significado da vida, à natureza de Deus e ao destino das nossas almas, a nossa crença não seria um salto de fé nem um corajoso acto de humanidade, seria apenas... uma prudente apólice de seguro» [p:200];

«Penso que somos livres de procurar qualquer metáfora que nos ajude a transpor a fronteira do mundo material sempre que precisamos de ser transportados ou reconfortados» [p:236].



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Comentários

  1. Muito obrigado, meu bem :) De facto é mesmo... só precisamos de um pouco de inspiração e uma pitada de organização :D

    Conheço o livro e creio que já peguei nele em alguma altura, pelo Continente. Fiquei curioso precisamente por ter que ver com a espiritualidade e com toda essa de ver as energias! Sabes que sou um perfeito entusiasta com livros de auto-ajuda e auto-conhecimento, portanto terei de arranjar forma de o ler :D

    NEW FASHION POST | HOW TO BE SUPER FASHION IN THE FALL.
    InstagramFacebook Official PageMiguel Gouveia / Blog Pieces Of Me :D

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  2. Pelo que li é capaz de ser um livro interessante.
    Continuação de uma boa semana minha amiga.

    Andarilhar
    Dedais de Francisco e Idalisa
    O prazer dos livros

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  3. Eu não cheguei a ler o livro, mas adorei o filme e a escolha da actriz!!

    Beijinhos

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  4. Fiquei curiosa:))

    Bjos
    Votos de uma excelente Quinta - Feira.

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  5. Vi o filme e gostei bastante, então a actriz ajudou ainda mais. :)
    O livro ainda não li, mas fiquei curiosa. :)

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  6. Adorei o filme e tive mesmo de ler o livro de seguida e novamente, acho que o li acrescenta tanto. É dos meus favoritos e mudou-me imenso algumas perspectivas amor <3

    THE PINK ELEPHANT SHOE

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  7. Nem de proposito, como te disse no instagram, este livro foi-me recomendado pela minha querida amiga Noelia dos Açores e estee teu review vem de encontro a tudo o que ela disse :) Sintonia da boa :)
    Beijinhosss
    https://matildeferreira.co.uk/

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  8. Posso dizer que não conheço esse livro, mas parece ser bastante interessante sim
    Beijinhos
    Novo post //Intagram
    Tem post novos todos os dias

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  9. Não li o livro, nem vi o filme.
    Não é o meu género, penso eu.

    Saudações de um DÜSSELDORF muitíssimo quente para Outubro 😘

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  10. Já ouvi falar muito bem quer do livro, quer do filme mas nunca li nem vi. Tenho que mudar isso.

    Beijinho muito grande :*

    R: Nada que agradecer :*

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  11. Não li mas ja ouvi falar muito bem dele na verdade :)

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  12. Já estive com esse livro na mão, e fiquei tentada a traze-lo para casa, mas acabei por desistir e nem me lembro o motivo, até porque é um livro que quero ler!

    Bjxxx
    Ontem é só Memória | Facebook | Instagram

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  13. Primeiramente adoro as fotos de tua autoria de verdade, todo um mood envolvente. :)

    Nunca li o livro, mas irei fazê-lo tenho-o na biblioteca pessoal da minha mãe.
    Contudo o filme já vi e é um dos meus favoritos de todo o sempre. :)

    Ps: Parabéns pela parceria!
    beijinhos

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  14. Oi Andreia, o livro foi um sucesso no mundo todo, né? Imagino que a mensagem seja muito inspiradora e bonita. Eu assisti o filme e achei interessante ~ mas o livro é sempre melhor, né? Qual é a sua opinião? Beijo, beijo :*

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  15. Obrigado pela sugestão de leitura. Pelo que li parece ser um livro interessante.
    Andreia, continuação de boa semana.
    Beijo.

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  16. Não posso dizer que é um dos livros da minha vida, mas foi uma boa leitura.

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  17. Gosto de livros com histórias verídicas e essa história, tão real eu iria com certeza gostar. Obrigada pela partilha.
    Beijinhos linda.

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  18. Estou amando usar aquele perfume! ;)

    Esse livro é bem famoso, porém nunca despertei a vontade de ler. Mas com os seus comentários indicaria essa leitura para a minha sogra! Acredito que faria bem pra ela.

    Ótima quinta!

    Beijo! ^^

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  19. Adorei esse livro e o filme.
    O filme com toda a música e cenários envolve-nos, inspira-nos.
    É uma história triste mas inspiradora, é real, é transmite esperança. Trata-se de nos encontrarmos a nós próprios, de descobrirmos quem somos, o que precisamos para curar as feridas que nos impedem de seguir, o que procuramos e o que encontramos sem procurar. É fantástico.
    Beijinho

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  20. Vi o filme mas nunca li o livro, ofereci-o a uma amiga numa fase de recuperação após uma operação que lhe mudou a vida https://www.facebook.com/sleevedamonica/.
    Um dia destes quem sabe se o vou ler.

    **Obrigado pelas tuas palavras**

    Beijinhos.
    Sandra C.
    bluestrass.blogspot.com

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  21. Acho que é mais um dos livros que estou a precisar de ler nesta altura da minha vida. Já vi o filme, mas preciso de ler o livro, por causa das palavras, das emoções e dos sentimentos expressos nelas! Obrigada pelo teu feedback, colocá-lo-ei certamente no topo da lista «A ler»!
    Estou a precisar de ar fresco nestes pulmões de leitura e este parece-me ser um dos mais indicados para estes meses que se me aproximam :)
    Um grande beijinho, minha querida!

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  22. Já ouvi falar bem deste livro e penso que há um filme, certo?
    Ainda não vi nem li, mas parece-me uma ótima sugestão.
    Apontado :)

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