O nosso amor é como o vento - Final

Fotografia da minha autoria


[Prólogo | #1 | #2 | #3 | #4 | #5 | #6 | #7 | #8 | #9 | #10 | #11 | #12 | #13
#14 | #15 | #16 | #17]




Apertei a tua carta contra o peito. E uma sensação de paz aconchegou-me. Com todas as emoções à flor da pele, sobretudo, nos últimos meses, esqueci-me do que era estar serena. Não que o esteja em pleno, mas sei que estou um pouco mais perto dessa conquista. Se houve algo que nunca forcei foi o meu luto. Vivi-o ao meu ritmo, abrindo e fechando feridas, até alcançar um estado próximo de catarse. Acho que, finalmente, o atingi. E, claro, só poderia tê-lo feito graças a ti, que sempre foste a minha melhor definição de harmonia. E de liberdade.

Perdida em divagações, que me assaltaram o pensamento depois das tuas palavras, não deixa de ser irónico que o nosso filme seja «A Walk to Remember», porque o nosso amor será exatamente assim: para recordar. Preservo a certeza de que não serei capaz de o rever tão cedo, mas há tanto de nós naquela história que voltarei a trazê-la para o meu quotidiano. Num dado momento da minha vida, sozinha, perder-me-ei no seu argumento, ciente de que também é uma maneira de te manter presente na minha memória. Lembro-me de me teres escrito um cartão com a frase que aparece na cena final: «o nosso amor é como o vento. Não o posso ver, mas posso sentir». E eu percebi que aquele discurso seria eternamente nosso. Por isso, guardo esse pedaço de papel com o mesmo cuidado com que zelei pela tua vida. É teu. É nosso. E sê-lo-a indefinidamente.

Amar é, também, deixar partir. E eu acho que tu, de uma maneira ou de outra, nesse lugar onde espero que estejas protegido, ajudaste-me a libertar do passado, pois sabias que eu seria incapaz de te esquecer. Aquilo que vivemos foi demasiado intenso, demasiado verdadeiro para desaparecer. Mas por ti e por mim, prometo que não deixarei de viver. Ao fim de todo este tempo de dor, que passou por várias fases, compreendi que, enfim, posso descansar, porque o lugar que tu ocupas nunca será preenchido por outra pessoa. Compreendi, em boa hora, que avançar não implica anular o percurso traçado, é apenas a ordem natural dos acontecimentos.

Ler a tua carta era o que precisava. Era o que me faltava para conseguir despedir-me, mas sem dizer adeus. Por isso, meu amor, vou pegar numa mochila, colocar lá dentro meia dúzia de peças de roupa, a tua máquina fotográfica e o teu manuscrito. Vou despedir-me dos meus pais e dos teus, da Leonor, dos teus irmãos e das tuas irmãs. Vou ligar para o jornal e arranjar uma solução para a minha ausência. Assim que sentir que já nada me prende aqui, parto para o aeroporto para comprar o próximo bilhete de avião, independentemente do destino. Talvez ligue ao Lourenço, até porque grande parte de mim sabe que ele nunca teve intenções de me magoar. Estamos ambos a precisar de um novo começo, mas preciso de alinhar as ideias até voltar a contactá-lo. Vou dar a volta ao mundo. Tirar milhares de fotografias, arquivar tudo em álbuns e, quem sabe, escrever o livro que sempre quis. É impressionante como, mesmo estando longe, tens o dom de me mostrar o caminho. De me chamar à razão. Esta vontade de desbravar caminhos desconhecidos sempre foi partilhada e estimada. Faltou-nos apenas tempo para lhe dar forma. Mas já não faltará mais. Sei que nos devo isso. E esta é a melhor altura para parar de adiar o nosso sonho.

Riamo-nos sempre quando, no grande ecrã, alguém tinha uma epifania - geralmente, um pouco cliché. Curioso como a vida dá inúmeras voltas e, hoje, sou eu a viver a minha. Não te estejas a rir de mim, afinal, isto é mesmo possível! Tenho tantas saudades da tua gargalhada. Já te tinha dito, não já? Desculpa tornar-me repetitiva, mas há particularidades que me fazem imensa falta. E já nem falo de ti por inteiro, porque aí não saberia quantificá-las. Prometo, ainda assim, não deixar de sorrir. Vou ser forte. Vou realizar um dos nossos grandes objetivos e tu vais comigo, como sempre. E, em todas as vezes que me sentir a fraquejar, conversarei contigo, mesmo que me rotulem de maluca por falar sozinha a olhar para o céu. E à noite, quando o peso do vazio for mais consistente, voltarei a ler as tuas palavras, para ganhar coragem para continuar - e garanto que não me anularei nelas, como se fossem o meu único sustento. Contigo aprendi que a minha casa é onde tu estiveres, portanto, deixarei um girassol em todos os locais que visitar. E como tu vais alojado no meu coração, o meu lar será em qualquer parte do mundo.

Olhei para o manto azul mosqueado por algodão branco sobre a minha cabeça. E sorri, porque «o nosso amor é como o vento. Não o posso ver, mas posso sentir». Amo-te. Para sempre!

Comentários

  1. Fim sem aviso prévio? Como nos podes fazer isto???? Acho que nos próximos dias quando sentir o vento a chegar vou me lembrar sempre deste amor...

    Beijinhos
    ( Preciso de mais )

    ResponderEliminar
  2. Amei esta historia pois identifico-me muito com esta mensagem, tambem eu acredito que meu amor pelo meu companheiro é como o vento e isso faz-me sentir bem, aconchega-me a alma. Nao estou de todo preparada para o perder por esse motivo quero fazer tudo por ele e mima-lo muito. Lembrei-me agora de uma frase que a personagem Bones disse um dia ao seu Booths: "you're not allowed to die" e eu ja disse isso ao meu Rui... eu sei que faz parte mas quero morrer junto dele bem velhinha.
    Beijnhosss minha querida e continua a escrever para nos*
    https://matildeferreira.co.uk/

    ResponderEliminar
  3. Um final a meu gosto, distante do tal Lourenço Botelho 😍

    ResponderEliminar
  4. "Ao fim de todo este tempo de dor, que passou por várias fases, compreendi que, enfim, posso descansar, porque o lugar que tu ocupas nunca será preenchido por outra pessoa." meu deuuuuus!! que bonito, porra!

    r: eu passo dias e dias sem fazer a cama. só faço quando a minha mãe aparece com os papéis para me deserdar por não fazer a cama :p

    ResponderEliminar
  5. Gostei muito, tenho de ler o que ficou para trás com mais atenção! =)
    Um grande beijinho,
    https://chicana.blogs.sapo.pt/

    ResponderEliminar
  6. Lindo!
    Vou sentir falta de ler mais um bocadinho todas as semanas...
    Em algumas partes deste texto, revejo-te mesmo sem te conhecer pessoalmente.
    Fico a ansiosamente a aguardar pela próxima surpresa literária.

    Beijinhos
    Sandra C.
    bluestrass.blogspot.com

    ResponderEliminar
  7. Adorei o final e adorei toda a história, vou ter saudades. Acho que tens aqui um bom mote para o teu primeiro livro. Fiquei curiosa para saber se a Constança e o Lourenço se apaixonariam.

    Um beijinho grande e nunca pares de escrever. :*

    ResponderEliminar
  8. Não esperava que acaba-se já. 😦 Estou ainda em choque. Pensava que havia mais, muito mais. Ainda assim, não posso deixar de dizer que adorei a história. Das mais bonitas que já li e não sou nada fã de romances (acho que já me fartei de dizer isto ahah). Espero que estejas escrevendo outra porque tens um talento incrível! Beijinhos e obrigada por esta maravilhosa história 💛

    ResponderEliminar
  9. Tão bonito!
    Quero ler mais! Escreves mesmo bem! :D

    www.amarcadamarta.pt

    ResponderEliminar
  10. Oh meu deus! Que lindo! Tens tanto jeito minha querida, adoro!
    Beijinho, Ana Rita*
    BLOG: https://hannamargherita.blogspot.com/ || INSTAGRAM: https://www.instagram.com/rititipi/ || FACEBOOK: https://www.facebook.com/margheritablog/

    ResponderEliminar
  11. Uma história linda cheia de amor e de sentimentos, maravilhosa a escrita bjs.

    ResponderEliminar
  12. Adorei 😍
    Pena ter chegado ao fim. 🙁
    Mas muitos parabéns, linda história.
    Beijinhos

    ResponderEliminar
  13. Querida Andreia,

    que adoro cartas já tu sabes, mas estás cartas que fui lendo são as. melhores que já li!
    Agora a Constança vai viajar, meditar, conhecer o Mundo, curar o coração e quando voltar e estiver pronta, quero saber o que vai acontecer, quero saber se vai ligar ou escrever uma carta ao Lourenço, quem sabe até envie um postal para ele, de outro país qualquer!
    Seja como for, quero que a Constança tenha uma segunda oportunidade de se apaixonar e ser Feliz Para Sempre :)
    Não pares!
    É que já estou a imaginar a história toda na minha cabeça, mas quero que sejas tu a contá-la :)
    Não demores!! :D
    Beijinho

    ResponderEliminar
  14. Que belo final, perfeito para todo o enredo que foste criando. Só provaste mais uma vez que és uma escritora enorme e que tens imenso talento! Agora é avançar para o livro 😊❤️

    ResponderEliminar
  15. Oh pá, que lindoooooo! Não esperava o fim já, no entanto, deste-lhe um fim perfeito. Que talento Andreia, já te disse e repito as vezes que forem necessárias :)
    E, tal como, a Quase Cinderela, fico a torcer para que quando ela voltar da viagem haja uma continuação :p

    ResponderEliminar

Enviar um comentário