THE BIBLIOPHILE CLUB // SETEMBRO
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Fotografia da minha autoria |
Tema: Livros Banidos
A literatura deveria ser uma arte livre, porque representa distintas realidades e identidades. Além disso, em muitos exemplares, é a nossa voz, quer nos sonhos, quer nas denúncias. No entanto, a censura - evidente ou camuflada - continua a existir. Hoje, talvez menos, mas não foi totalmente erradicada - atentem, por exemplo, no que aconteceu na Bienal do Livro, no Brasil. Porque os livros têm poder. A começar pelo facto de nos predisporem à argumentação e ao pensamento próprio. E isso pode ser assustador para entidades que não nos pretendem tão cultos. Assim, idealizando um desafio diferente, o tema deste mês para o The Bibliophile Club privilegia os livros banidos, independentemente do motivo e da altura em que sofreram essa condenação.
Hesitei na minha escolha, até porque não estava plena de todas as possibilidades. Contudo, depois de alguma pesquisa e de observar a minha estante, compreendi que era a ocasião perfeita para me estrear no encantado universo de Harry Potter. A saga de J. K. Rowling, que marcou tantos leitores, causou algum desconforto «em diversas religiões, chegando a ser banida das escolas privadas nos Emirados Árabes Unidos, sob a justificação de que incentivaria à bruxaria». Tenho um profundo respeito pelas crenças de terceiros, mesmo que possa não as compreender, mas acredito que existem circunstâncias em que as nossas convicções nos cegam, implicando, inclusive, uma distorção da mensagem. Portanto, é crucial separar a realidade da ficção, para que não se perca a inocência - e a beleza - de certas narrativas.
Harry Potter e a Pedra Filosofal abre-nos a porta para um mundo mágico. Deslumbrante. E rico em contrastes. Tinha receio de não me identificar com o enredo, por se iniciar numa fase da vida das personagens que já não é a minha, mas descobri que era uma preocupação infundada, sentido-me mesmo a crescer com o seu desenvolvimento, pois há uma carga emocional e de aprendizagem que se cola à nossa pele. E foi maravilhoso abraçar todo o imaginário criado pela autora, uma vez que nos faz ter uma breve ilusão de estarmos no centro de cada ação. Com uma escrita simples, fluída e que aposta nos detalhes e nas descrições certas, várias foram as vezes em que me julguei em suspenso e a desejar estar em Hogwarts e, até, na Floresta Negra, porque arranca-nos da nossa zona de conforto e lança-nos, quase sem rede, para a resolução de problemas e conflitos [internos e externos]. E é possível sobreviver no meio do caos, como tão bem nos ensina Harry.
Há sempre quem nos atrase. Mas também há sempre quem nos guie e nos impulsione a avançar. E, neste livro, percebemos o verdadeiro significado de amizade. Compreendemos o impacto que o amor tem em nós. E desconstruímos a ideia de que é o sangue que marca o nosso sentido de pertença, porque a família podemos ser nós a escolher, sobretudo, quando a que nos resta nos falha. O medo de não se ser aceite é palpável, mas a audácia da personalidade leva-nos a encontrar o nosso lugar, as nossas pessoas, o nosso refúgio. A caminhada tem inúmeros contratempos, no entanto, permite que se lide com a frustração, a rejeição, a maldade, a novidade e com a própria história de vida. Transpondo valores do mundo real para o mágico, quebra-se a imagem estereotipada do Herói, ao mesmo tempo que se luta contra questões como o bullying, o não saber quem somos e o legado sombrio, que nos deixa em estado de alerta. Porque o perigo está sempre por perto.
Harry Potter e a Pedra Filosofal não é um livro infantil. É um manifesto sobre condicionantes do quotidiano, tendo em conta que J. K. Rowling explora temas como os abusos e os maus tratos de crianças, os preconceitos, a discriminação, a divisão de classes, a inveja, o egoísmo, a procura pela perfeição, a competição - nem sempre saudável. Só que a camada que os eleva traz um brilho diferente, sem os romantizar. Rica em pormenores, humor, criaturas fantásticas e personalidades vincadas, esta obra também nos sensibiliza para o sentido de comunidade e para a possível falácia das primeiras impressões, pois «há certas coisas que [só] depois de partilhadas nos obrigam a gostar uns dos outros». O tempo não para. Há feridas que saram. Mas algumas cicatrizes nunca chegam a desaparecer.
Deixo-vos, agora, com algumas citações:
«Mr. Dursley ficou pregado ao chão. Tinha sido abraçado por um indivíduo que lhe era totalmente estranho e que lhe tinha chamado "Muggle", fosse lá isso o que fosse. Estava confuso» [p:12];
«Harry tinha a sensação de que acabara de descobrir onde se encontrava naquele momento o pacotezinho de aspeto sujo do cofre setecentos e treze» [p:137];
«Usa sempre o verdadeiro nome das coisas. Recear um nome aumenta o medo que se tem dele» [p:245]
// Disponilibidade //
Wook: Livro | Edição Ilustrada | Edições 20 anos
Bertrand: Livro | Edição Ilustrada | Edições 20 anos
Nunca li nenhum livro desta escritora apesar de conhecer as histórias dos seus livros, aproveito para desejar a continuação de uma boa semana.
ResponderEliminarAndarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
É uma história que, mesmo que não a tínhamos lido, nos acompanha por ser tão conhecida.
EliminarObrigada e igualmente*
Confesso que nunca li nenhum livro do Harry Potter.
ResponderEliminarIsabel Sá
Brilhos da Moda
Vais sempre a tempo :)
EliminarLembro-me tão bem quando li este livro pela primeira vez, estava no 9º ou 10º ano e só se falava no Harry Potter. Era um fenómeno. Já não me lembro bem do livro, tenho o filme mais presente, mas li os livros rapidamente. Devia ser obrigatório na escola para incentivar as crianças e jovens a ler. Estimula a imaginação.
ResponderEliminarBeijinho grande!
Sinto que é mesmo um ótimo incentivo para a leitura, até pela proximidade dos protagonistas. Além disso, todo o contexto é maravilhoso!
EliminarNão conheço (os livros) mas, se fomentam a leitura entre os jovens... são claramente bem-vindos
ResponderEliminarQuanto à censura, o problema nem está (está) nos países ditos de terceiro mundo... Com alguns dos lideres que estão a surgir no dito mundo civilizado... dá medo
Concordo :)
EliminarInfelizmente, é um problema global, sobretudo, porque há muita censura camuflada!
Adorei os livros, trabalhei numa livraria em muitos adultos iam comprar para eles próprios, contavam que lhes ajudava imenso a descansar da rotina, para mim funcionam assim os policiais!
ResponderEliminarSinto que um dos lados mágicos de Harry Potter é mesmo ter essa narrativa que conquista tanto miúdos, como graúdos. Porque é envolvente e inquietante. Além de que nos permite sonhar, imaginar e experienciar realidades muito distintas.
EliminarAdoro policiais!
Já li essa colecção 3 vezes e nunca me canso, Já vi os filmes igualmente 3 vezes e nunca me canso. E, mais recentemente, tenho coleccionado os sets e BrickHeadz de LEGo da colecção Harry Potter. Esse mundo é mesmo encantando e transporta-nos para uma outra dimensão. Se fosse a ti começava já a ler os outros livros, porque vais adorar ;)
ResponderEliminarBeijinhos,
Ricardo, www.opinguimsemasas.pt
Acredito que seja uma viagem sem retorno, porque, a partir do momento em que a abraças, só queres descobrir mais particularidades. Ainda agora comecei e já sinto isso :)
EliminarJá tenho os três seguintes na estante, mas não são para já, porque estou com a Saga Millennium em mãos
Olá querida! Eu sou da "altura" dos livros e até mesmo dos filmes do Harry Potter e realmente confirmo que até nos dias de hoje, crianças de 10 anos são viciadas no mundo fantástico do Harry Potter. O mundo fantástico não tem idades <3
ResponderEliminarpimentamaisdoce.blogspot.pt
É daquelas histórias que nos marcam para sempre, até porque acompanham o nosso crescimento. Naturalmente, eu já não passarei essa fase, mas será igualmente especial :)
EliminarLi o primeiro volume de Harry Potter (presente de um familiar portuênse). Compreendi logo, que não é o meu género de literatura.
ResponderEliminarEstou contente com o sucesso da inglesa, que sofreu tanto no Porto com o marido português‼‼
Há géneros literários que não nos fascinam tanto, faz parte da jornada :)
EliminarTornou-se muito bem sucedida
Acreditas que nunca me aventurei nestes livros, apesar de admirar bastante a autora :) Acredito que o Lu vai adorar ler estas obras :) :) :)
ResponderEliminarTenho curiosidade de ler A Criança Amaldiçoada :)
Beijinhos
Também só agora é que me estreei na história :) também sinto que sim!
EliminarAcho que nunca tinha ouvido falar, mas parece ser bem interessante
ResponderEliminarBeijinhos
Novo post
Tem post novos todos os dias
A sério? Que curioso
EliminarComecei a ler mas a dada altura não consegui continuar.
ResponderEliminarDecididamente, não gostei (mas gostos não se discutem...).
Andreia, tenha um bom resto de semana.
Beijo.
Eu acho que se discutem, no sentido de serem uma troca de opiniões e não uma imposição :)
EliminarObrigada e igualmente
Sou preguiçosa para livros, mas tb não conheço a escritora :))
ResponderEliminarBjos
Votos de uma óptima Quinta - Feira
É uma autora bastante falada, precisamente, por causa de Harry Potter :)
EliminarO Harry só vi o filme, não sabia que era um livro banido!!
ResponderEliminarxoxo
marisasclosetblog.com
Também só tive plena consciência disso com o tema deste mês :)
EliminarHá filmes para todos os gostos,
ResponderEliminarlivros há para todas as idades
mas, são na vida os desgostos
que não nos deixam saudades!
Gostei de ler. Tenha uma boa tarde de Quinta-feira. Andreia.
Isso não deixam, de facto
EliminarObrigada e continuação de boa noite*
Acreditas que nunca li nenhum Harry Potter?
ResponderEliminarBjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram
Acredito, até porque eu também só comecei agora a aventurar-me nesta saga :p
EliminarAndréia, a literatura
ResponderEliminarÉ livre só por ser arte
E é arte por fazer parte
Da alma da criatura
Que produz com a mais pura
Verve sua, e que a reparte.
Repartindo assim, destarte
Sua obra se transfigura
Em artes diversas, sim,
E livres porque assim
Cada um sente diverso
No universo que é afim!
Não sei, mas tiro por mim,
Sou livre nesse universo!
Grande abraço! Laerte.
Infelizmente, a literatura só será verdadeiramente livre quando deixarem de tentar calar a voz de todos aqueles que, aparentemente, fogem do que é considerado "normal"
EliminarObrigada pela partilha
Vi os filmes todos e gostei.
ResponderEliminarJá ler, ainda não esteve nos planos, quem sabe um dia!
Mas acho que devem ser bastante interessantes, melhor que os filmes!
Só vi os dois primeiros filmes, mas há muito tempo que queria aventurar-me na obra literária. Para já, já me conquistou :)
EliminarA este, li-o graças a ti!
ResponderEliminarO que tenho cá em casa era teu ^^
Fico de coração cheio por saber que foi acolhido num bom lar <3
EliminarAchei muito interessante teres escolhido "Harry Potter e a Pedra Filosofal" para este tema do TBC, precisamente porque não é uma escolha óbvia, mas é uma escolha muito válida e que permite pensar num nível mais abrangente sobre este assunto dos livros banidos.
ResponderEliminarFico contente por te teres iniciado na saga e, ainda mais, por teres gostado do primeiro livro!
A Sofia World
De facto, não foi uma escolha óbvia, nem imediata. Olhei várias vezes para o livro, mas nem pensei que correspondesse, até abrir os links que vocês disponibilizaram e perceber que se adequava. Claro que, depois, nem hesitei :D
EliminarFiquei mesmo encantada com todo o enredo. E só lamento ter demorado tanto tempo a dedicar-me a este mundo fantástico que é Harry Potter!