UMA DÚZIA DE LIVROS // SETEMBRO

Fotografia da minha autoria


Tema: Um livro sobre recomeços


O mês de setembro, mais do que janeiro, soou-me sempre a recomeço. A renovar de energias. Ao doce retomar de uma rotina escolar - com toda a magia que isso implicava. Por consequência, significava o reencontro com as minhas pessoas-coração. E isso só podia ser um excelente presságio. Portanto, por mais que as mudanças não fossem substanciais, havia um lado imprevisível e de desafio, que me permitia reiniciar. Inspirada pelo nono tema de Uma Dúzia de Livros, optei por recomeçar a minha saga favorita - Millennium -, idealizada por Stieg Larsson.

Os Homens que Odeiam as Mulheres é o primeiro volume. E abre-nos a porta a uma premissa original, intrigante e complexa, que ultrapassa a componente policial, privilegiando o jogo psicológico constante. Percebemos, de imediato, que há um ritual que se repete ano após ano. E que isso levanta suspeitas, pois é impossível que o seu remetente corresponda ao indicado. No entanto, se há algo que fica claro durante toda a narrativa é que nem tudo é o que aparenta ser. E, embora tenha feito uma releitura, dei por mim a mergulhar nesta história com a mesma urgência da primeira vez. Determinados sinais tornaram-se mais evidentes, sobretudo, porque tenho outra maturidade e perceção dos factos, porém, continua a não ser óbvio se existe um assassino e, se houver, quem poderá integrar a lista de suspeitos. Muito menos detetamos as contrariedades que nos esperam.

Este livro agita-nos por dentro. Pelas passagens tão visuais. Pela brutalidade dos acontecimentos. Pelos segredos que se parecem multiplicar. E por transmitir a sensação de que corremos para um beco sem saída. É neste ritmo frenético, de quem procura respostas, mas quase só encontra perguntas, que somos envolvidos num «enigma a portas fechadas». Sob um falso pretexto, que culmina numa investigação densa e bastante reveladora, ficamos a conhecer a família Vanger [numerosa, algo disfuncional e com uma convivência particular], bem como Mikael Blomkvist [jornalista de renome, a lutar contra um processo de difamação que coloca em causa a sua carreira e a sua revista] e Lisbeth Salander [tão deslocada socialmente, tão ciente dos seus atributos]. E quando estes três mundos se cruzam, é tudo muito mais intenso, quer nas emoções, quer na perspicácia de raciocínio. E comprova-se, uma vez mais, o peso que as interações assumem.

Nota-se, portanto, o cuidado na elaboração das personagens, apresentando protagonistas marcantes, que quebram estereótipos, principalmente Salander, cuja história de vida tem diversas camadas. Há uma bagagem bastante credível. Há um contexto e um propósito. E a alternância entre elas torna o enredo muito mais dinâmico. Além disso, o autor tem uma escrita fluída, viciante, que nos faz transitar entre vários planos de ação, para percebermos tudo o que está a acontecer em simultâneo, mas sem nos confundir. E a genialidade desta obra passa muito por este seu traço distinto, que nos deixa sempre em movimento e a tentar desvendar o grande mistério da família Vanger, ao mesmo tempo que a Millennium debate-se para sobreviver. Na tentativa de aprender a gerir egos, feitios, métodos de trabalho, sentimentos e problemas pessoais, existe um crescimento abismal em cada interveniente. E há uma parte humana muitíssimo bem representada, para fazer sobressair o melhor de cada um e para expor o seu lado sombrio e, inclusive, sádico. Depois do caos, há uma necessidade imprescindível de recomeçar. E este livro permite-nos isso mesmo - e a vários níveis.

Os Homens que Odeiam as Mulheres é, ainda, um apelo, uma acusação, um grito de revolta contra o poder, a corrupção, a conspiração, o assédio sexual, a violência doméstica/familiar e o papel minoritário da mulher, denunciando a forma como milhares são desrespeitadas, violentadas e mortas numa sociedade misógina. Esta narrativa surgiu de uma luta pessoal, não só porque, em adolescente, Stieg Larsson assistiu à violação de uma mulher [por parte de um grupo de jovens], mas também por ter sido sempre um acérrimo defensor dos direitos humanos. Infelizmente, faleceu sem saber do impacto que a sua obra teve em todo o mundo. No entanto, é uma história que permanecerá presente eternamente, porque a mensagem cola-se no nosso peito.


Deixo-vos, agora, com algumas citações:

«- Mas tem alguns segredos? - interrompeu-a Frode.
- Toda a gente tem segredos - respondeu ela, num tom neutro. - É apenas uma questão de descobrir quais são» [p:49];

«Atravessaram a ponte e dirigiram-se à igreja. Mikael experimentou a porta, mas estava fechada. Deambularam de um lado para o outro durante algum tempo, a examinar as lápides, até que chegaram à capela que ficava a curta distância, perto da água. De repente, Mikael abriu muito os olhos» [p:402];

«Precisava de uma desculpa para lhe ir bater à porta» [p:551]


// Disponibilidade //
Bertrand: Livro | Livro de bolso | eBook

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Comentários

  1. Gostei muito da análise. Parece-me uma boa escolha, pelo tema abordado, pela escrita, com vista a tudo o que, ainda, tem de evoluir ao nível da nossa sociedade.

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    1. O livro é fabuloso, tanto pela escrita, como pela história e pelos temas que retrata. Vale mesmo a pena.
      Muito obrigada!

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  2. Já vi o filme e gostei. Vou ter que ler o livro =)

    Beijinhos!

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    1. Embora os filmes, no meu entender, estejam fantásticos, os livros superam sempre, porque te colocam em contacto com a escrita fabulosa do autor *-*

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  3. Deve ser bastante bom para ler, não conhecia
    Beijinhos
    Novo post
    Tem post novos todos os dias

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  4. Parece-me bem interessante...
    Setembro é efectivamente um mês de recomeços...

    Beijinhos.
    Sandra C.
    bluestrass.blogspot.com

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  5. Fico com a ideia de ser um bom livro.
    Vou registar a sugestão.
    Andreia, um bom resto de semana.
    Beijo.

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  6. Já várias pessoas me falaram desse livro, e tenho mesmo muita curiosidade em ler, mas ainda não fiz...

    Bjxxx
    Ontem é só Memória | Facebook | Instagram

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    1. Se tiveres oportunidade, recomendo mesmo a leitura. É um livro incrível e viciante *-*

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  7. Interessante, no mínimo.
    Beijinho linda :)

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  8. Tenho curiosidade em ler os livros, mas até agora fiquei-me apenas pelos três filmes suecos, que gosto bastante!

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    1. Também já tive oportunidade de ver os três primeiros filmes e adorei! No entanto, os livros têm uma alma especial. Recomendo imenso *-*

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  9. Não lemos o livro, mas o filme já é tão intenso...

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    1. O filme está espetacular, mas o livro supera com grande margem :)

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  10. Li esta trilogia há uns 6/7 anos atrás e adorei completamente. Foram os livros que despertaram o meu gosto pela leitura. Tenho mesmo de os reler (:

    http://arrblogs.blogspot.com

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    1. Também já tive a oportunidade de ler a trilogia e fiquei completamente rendida, porque a história e a escrita estão geniais *-*

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  11. Que belo livro! Deste-me vontade de o reler! :D
    Um beijinho!*

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    1. Andava desejosa de o reler. E, quando vi que o tema da Rita da Nova para setembro era um livro sobre recomeços, nem hesitei *-*

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  12. É um bom livro, confesso que me custou o "começar" mas depois devorei.
    Tenho os outros mas ainda não li, a minha mãe adora estes livros.

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    1. No meu caso, conquistou-me logo, mas compreendo que o início possa ser mais demorado, porque há muitos aspetos a reter.
      Recomendo imenso, a qualidade vai aumentando de volume para volume *.*

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