ENTRELINHAS | O SOL E AS SUAS FLORES
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Fotografia da minha autoria |
«Coletânea de poesia [e muito mais]»
A leveza das palavras escritas por alma de poeta pode ser só a ilusão que esconde a angustia de uma realidade muito mais profunda. E é este toque delicado que nos embala, como se os problemas fossem uma brisa, para depois nos colocar no centro das questões, desconstruindo conceitos, valores, dores e convicções. Permitindo-me absorver a luz que nos transmite a poesia, sei que deambulei por camadas densas e inesgotáveis, que me deixaram no limbo da interpretação, mas sempre com a certeza de que o mundo cresce para lá daquelas linhas. Foi a minha estreia na obra de Rupi Kaur, porém, conquistou-me por inteiro.
O Sol e as Suas Flores evolui por um ciclo original, que contrasta com a sensação de finitude e o ato de renascer. Porque, tal como as flores que plantamos no jardim, «as pessoas têm de murchar, cair, criar raízes, para poderem florir». Além disso, implica-nos. Torna-nos parte de um percurso. E transmite-nos uma segurança [quase] inabalável: nem todas as nossas lutas serão isentas de falhas, nem todos os nossos dias transbordarão claridade. No entanto, há sempre uma maneira de florescermos. As agruras da vida podem, em certo ponto, enfraquecer-nos, mas, se as soubermos superar, serão o nosso escudo. Só não podemos perder o nosso foco. E a nossa voz. E nunca estaremos sós.
Sinto que, em determinadas passagens, a autora nos puxa o tapete, provocando um desconforto intencional, porque tem um discurso objetivo e cru, que nos abala por dentro. E é dessa maneira que nos leva a refletir acerca de traições, inseguranças, perdas, dependência relacional, emocional, e o quanto é errado reduzirmos o nosso amor por alguém; acerca de recaídas e da perceção de sermos insuficientes. Num patamar mais intenso, conversa sobre violação, violência, desrespeito pelo corpo e pelos sentimentos do outro. E alerta para as consequências de se ser mulher, como se o género em si potenciasse certas reações e fosse necessário escondermo-nos. Assim, há duas questões imediatas e prioritárias: quem travará os avanços do agressor? Quando é que se passará a erradicar os comportamentos agressivos, em vez de se pedir às mulheres para se precaverem? Enquanto não se inverter o protagonista, atuando diretamente na origem do problema, os verdadeiros culpados permanecerão livres.
Este livro, pela sua cadência, transportou-me para perto do mar: ora revolto - expondo o racismo, a discriminação, a guerra [que, tantas vezes, é interna], o infanticídio feminino, o auto-abandono -, ora calmo - pelo desembaraço, pelo derrubar de preconceitos, pelo progresso, pela capacidade de seguir em frente. Rupi Kaur exalta a emancipação, as raízes que estão em nós [e não nos demais], o falar sem tabus, porque a dor existe, assim como a alegria. São partes da mesma moeda que precisamos de aprender a gerir. Em simultâneo, graças à linguagem próxima, viajamos, também, pela crença, pela religião, pela emigração, pela perspetiva de casa e pela gratidão. Numa constante antítese entre amor próprio e a falta dele, entre ódio e aceitação, fazemos uma travessia que nos leva do caos até à paz.
O Sol e as Suas Flores estabelece uma ligação atenciosa entre palavras, mensagem e ilustrações, enquanto marca uma epifania, uma rutura e, posteriormente, uma mudança. Por consequência, parecem existir diversas vozes, de todas as componentes que habitam em nós. E há um grito: de revolta, de resistência, de resiliência. Esta obra lê-nos a alma, ensina-nos a perdoar e a valorizar a empatia. Através de poemas plurais e, acredito, intemporais, compreendemos que há sempre luz, colo e um porto de abrigo. Há amor. E é nesta caminhada vulnerável que perdemos vigor para depois brotarmos em flor.
Deixo-vos, agora, com algumas citações:
«foste embora
e eu ainda te queria
mas merecia alguém
que tivesse vontade de ficar» [p:17];
«foi como se me tivesses atirado
para tão longe de mim
tenho tentado encontrar o caminho de volta desde então» [p:77];
«quando tudo desaba à tua volta
não faz mal deixares que os outros
te ajudem a apanhar os cacos
se podemos fazer parte da tua felicidade
quanto tudo te corre bem
somos perfeitamente capazes
de estar a teu lado na tua dor» [p:97].
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Muito interessante vou tentar lê-lo e aproveito para desejar a continuação de uma boa semana.
ResponderEliminarAndarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Depois diga-me o que achou :)
EliminarObrigada e igualmente
Gosto muito da foto e o livro parece ser interessante...
ResponderEliminarMuito obrigada! Fiquei completamente rendida *-*
EliminarO titulo ja por si so é inspirador, e o teu review deixou-me bastante curiosa em ler o livro :)
ResponderEliminarBeijinhos*
É, não é? Se tiveres oportunidade de ler, vale mesmo a pena, minha querida!
EliminarNão conhecia :)
ResponderEliminarBlog: The Choice | Instagram
É um livro fabuloso!
EliminarPelas palavras que li, escritas, nesse texto. Esse livro deve ser interessante?
ResponderEliminarTenha um bom dia de Quinta-feira Andreia.
Pessoalmente, achei-o fantástico!
Eliminareu tenho o primeiro livro de poemas dessa autora e adoro! com certeza esse tbm vale a pena a leitura
ResponderEliminarwww.tofucolorido.com.br
www.facebook.com/blogtofucolorido
Vale imenso! Agora quero muito ler Leite e Mel
EliminarSimplesmente fantástico!
ResponderEliminarCompletamente! É daqueles livros que nos revolucionam por dentro
EliminarSempre que passo por cá conheço novos livros, mais um que não conhecia
ResponderEliminarBeijinhos
Novo post
Tem post novos todos os dias
Fico contente por proporcionar esse contacto :)
EliminarNão conhecia, é sempre interessante conhecer livros de poesia, que não são a essência da poesia/versos, que transmitem e fazem mexer com o nosso âmago.
ResponderEliminarBeijinhos.
Sandra C.
bluestrass.blogspot.com
A autora tem uma sensibilidade - e intensidade - na escrita que mexe mesmo connosco!
EliminarParece ser um livro bem profundo.
ResponderEliminarGostei da dica!
Sem dúvida!
EliminarSei que muita gente adora este livro, mas não sei porquê, mas não consigo entender poesia :(
ResponderEliminarHonestamente, também não me sinto a pessoa mais capaz de entender poesia, mas a escrita da autora quebra essa espécie de barreira
EliminarGosto dessa analogia com a vida das flores, muito interessante e, logo eu que adoro flores!!
ResponderEliminarxoxo
marisasclosetblog.com
Também achei o mesmo, está mesmo encantadora!
Eliminarjá andava de olho na rupi kaur há algum tempo, agora só me deste ainda mais vontade de ler! as coisas dela parecem tão próximas, é incrível :)
ResponderEliminarr: obrigadaaa :) <3
Awww, que bom *-* essa capacidade é fantástica!
EliminarEssa autora é incrível, já li o primeiro dela e amei!
ResponderEliminarhttps://www.submersaempalavras.com/
Tenho que ler esse também :)
EliminarNão conheço a autora, mas achei o livro muito interessante. Tenho que ler! :)
ResponderEliminarBeijinho grande!
Recomendo imenso, minha querida *-*
EliminarNão conhecia mas fiquei curiosa!
ResponderEliminarBjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram
Vale a pena :)
EliminarPoesia não é muito o meu gosto :)
ResponderEliminarMas para quem gosta será uma boa poção.
Beijinho linda.
Sim, para quem gostar de poesia, vale mesmo a pena :)
EliminarAinda assim, talvez este livro te fizesse repensar essa questão, porque o discurso da autora faz toda a diferença
Tenho me ligado pouco com a poesia... mas as citações partilhadas faz tanto sentido na vida de um grande amigo, que já partilhei com ele também!
ResponderEliminarSão fragmentos que tocam sempre em alguém!
EliminarQuero imenso ler os livros da autora, já ouvi imenso falar deles.
ResponderEliminarE confesso que já li alguns dos seus poemas em inglês na internet e adorei (:
http://arrblogs.blogspot.com/
Ainda só li este, mas fiquei encanta *-*
EliminarAh que lindeza de livro, já quero ler.
ResponderEliminarAdorei todos os quotes, bjus e um ótimo começo de semana.
Acho que vais gostar! Vale mesmo a pena :)
EliminarObrigada e igualmente