Cinco anos a abrir gavetas

Fotografia da minha autoria

«Foi o tempo que dedicaste à tua rosa que tornou a tua rosa tão importante»

Um sonho pequenino, com vontade de crescer. E uma paixão imensa - e intensa - por escrever. Há desejos que adquirem propósitos e que não mais nos saem do pensamento. E com a ânsia de lhes atribuir forma, acrescenta-se uma nova rota no caminho, que nunca está completo. Foi assim que nasceram As gavetas da minha casa encantada: desse querer ser mais, expandir e explorar novos temas e novos registos; desse querer dar voz ao extenso mundo que habita em mim. Há cinco anos, estava longe de imaginar que esta morada pontual - quase como se fosse uma habitação de férias ou de fins de semana prolongados - se tornaria no meu lar.

Casa. Aconchego. Desafio. Versatilidade. Essência. Eram estas características que pretendia para o meu novo projeto. Cinco anos depois, sinto-me orgulhosa por saber que o descrevem na perfeição, transmitindo-me a garantia de que terá sempre margem para progredir, pois continuarei a evoluir - de dentro para fora - e a levá-lo na viagem. Neste reavivar de memórias, é notório o quanto mudei, não só na maneira como me expresso, mas também na segurança com que o faço. Em nenhum momento senti-me condicionada por a minha família e os meus amigos terem conhecimento do blogue. Muito pelo contrário, uma vez que são uma base de apoio excecional. Sinto, sim, que essa mudança é resultado da minha convicção e da própria estruturação das minhas ideias. Compreendi que as minhas opiniões são válidas e que não tenho que ter qualquer receio de as partilhar, desde que sejam devidamente fundamentadas. Além disso, ajuda imenso quando criamos um espaço à nossa imagem, que nos proporcione uma sensação de fortaleza. Virtualmente, construí um refúgio que me permite ser quem sou.

Fui revisitar algumas publicações e, naturalmente, há aspetos com os quais já não me identifico. A Morais de há cinco anos tinha a sua forma de interpretar determinadas situações. Hoje, muitas dessas conceções mantêm-se, mas outras tantas transformaram-se, porque aprendi a olhá-las e a valorizá-las com outra maturidade. Apesar de tudo, há algo transversal: a verdade com que trabalhei cada um dos textos. Por essa razão, não sou capaz de enumerar apenas cinco publicações que marcaram o blogue [ainda que as mais vistas tenham sido Mais uma estrela no céu, Sem Ti, Os Aurora, Bumba na Fofinha e Grita], nem consigo selecionar o texto que mais gostei de publicar. Há uma regra obrigatória nesta casa: aqui só entra o que me faz sentido. O que me move. O que me inquieta. O que me inspira. Por isso, tenho um carinho especial por cada fragmento que consta do arquivo - e da história - d' As gavetas. Porém, tem sido gratificante falar sobre as minhas viagens - de metro e à boleia - e sobre as leituras que me acompanham; tem sido gratificante aventurar-me na poesia e criar personagens que estão longe da minha realidade. Da mesma maneira que cresço ao abraçar desafios como o 1+3 ou, então, quando deixo de lado o medo e exponho as minhas inseguranças e o meu rótulo. Nunca tive a pretensão de tornar o blogue num diário, mas existe sempre muito de mim em cada partilha.

No primeiro ano - e, talvez, no segundo -, foquei-me em projetos inspiradores, com traços de cultura e/ou de intervenção social [como, por exemplo, o Hino Cancro com Humor Careca Power, A viagem sem fim de Gunther Holtorf, Adoptar rima com amar, e O que escondem os telhados do Porto]. Nos seguintes, redirecionei a minha inspiração para áreas que me implicassem mais diretamente. Por esse motivo, fui dando asas a crónicas regulares. Experimentei rubricas que, depois, perderam relevância. Cedi gavetas a outras que adquiriram consistência. Enlacei-me a determinados tópicos e libertei-me de uns quantos. E este é um dos lados fascinantes de se ser blogger: compreendemos o que resulta para nós, tendo em conta a identidade que queremos associar ao nosso espaço. Mas, para que isso seja possível, é necessário tentar, criar, inovar. E, por vezes, recomeçar. Foi o que eu fiz quando deixei de me relacionar com o meu primeiro blogue. E como desistir nunca esteve nos meus planos, optei por fazer as malas e mudar as minhas raízes para outro lugar: este que tanto estimula a minha criatividade e que é tudo aquilo que ambicionei. Já coloquei em prática alguns objetivos - como as Inconfidências, O nosso amor é como o vento e, inclusive, a semana das 7 coisas -, mas há uma gaveta que permanece fechada e que eu pretendo abrir, futuramente. Sem revelar muito, adianto que tem que ver com a minha cidade: Vila Nova de Gaia. E irei convidar-vos a aderirem a esta jornada. Tenho sido muito feliz a comunicar por aqui. E só posso perspetivar o melhor daqui para a frente.

Já faço parte da blogosfera há nove anos e, portanto, assisti e vivi muitas transformações. E isso deu-me bagagem e ferramentas para me saber adaptar - ou para demorar-me à margem - e para me descobrir. Para consolidar os meus passos e para definir, ainda mais, o meu percurso. Mudamos muito - eu e o blogue - e tem sido um prazer imenso dividir-me em vários temas e fazer parte dessas transições, mesmo quando, com muita pena minha, isso significa deixar algo para trás. Numa altura em que tanto se especula sobre o futuro desta plataforma, confesso que, para mim, este tópico é um não assunto, por uma razão bastante simples: adoro demasiado este meio para permitir que quebre. Claro que não depende, unicamente, da minha postura, mas continuarei a lutar por ele, porque estou segura da sua magia, importância e utilidade - ainda que continue a existir quem desvalorize os bloggers. Além do mais, por muito mal que soe, sinto que esta fase conturbada serve para evidenciar quem está [e chega] por vontade ou quem só procura reconhecimento, sem se identificar com o ambiente. Consequentemente, conseguiremos realizar um exercício de auto consciência. Criar um blogue exige dedicação e um forte sentido de compromisso. Há quem não o entenda e há quem o personifique - ambas as vertentes são válidas, apenas temos que perceber a qual queremos pertencer. Sem culpas. E sem cobranças.

Enche-me o coração perceber que existem pessoas que me acompanham desde o início [algumas estão ao meu lado desde o Parte do que sou] e que mantêm uma presenta assídua e ativa. Mas também sou muito grata por todos aqueles que entram por acaso e que resolvem regressar, da mesma maneira que valorizo quem só o consegue fazer esporadicamente - ou que só se quis manifestar uma vez. Nunca me deslumbrei com números, porque sempre priorizei as ligações. Contudo, é maravilhoso ver o blogue a crescer em todos os sentidos - quem diria que, um dia, chegaria aos 500 seguidores e que teria uma média de comentários/visitas tão regular? E que bom que é receber um retorno tão caloroso sempre que me aventuro em nichos novos. Entristece-me quando há quem procure tornar isto numa competição - sem dúvida, é o que menos gosto e seria algo que mudaria se tivesse esse poder -, mas não deixo que esse aspeto manche as qualidades que reconheço na blogosfera. Como poderia, se, diariamente, contacto com pessoas inspiradoras, que me ensinam tanto? Aprendo imenso a reproduzir os meus pensamentos no papel. Mas não seria tão plena sem esta base de interação, que me acrescenta.

As gavetas da minha casa encantada é uma extensão do que me vai na alma. E, daqui a cinco anos, espero que mantenha o que, hoje, a sustenta e que espelhe novos patamares, conquistas e realidades ficcionais. E, quem sabe, talvez já tenha uma representação física, figurando nas estantes de livrarias e casas - se me propusessem passá-las para livro, seria estranho, mas também seria um sonho tornado realidade. Mas não tenho pressa. Só quero é que o blogue preserve a sua autenticidade e que continue a fazer todo o sentido. Para quem me lê. E, sobretudo, para mim.

Obrigada por serem uma parte tão essencial ❣

[Um agradecimento particular a quem deixou sugestões e perguntas]