Este é o meu rótulo

Fotografia pessoal


«Rótulos foram feitos para produtos, não para pessoas»



A força das redes sociais está intimamente dependente das pessoas que as sustentam. Ainda que estas plataformas não devam perder o seu cunho de lazer e o seu lado descontraído, é reconfortante perceber que há quem consiga perpetuar essa vertente leve, sem deixar de a utilizar para partilhar mensagens de extrema importância. Numa altura em que existe uma enorme tentativa de se ser influenciador, aconchega-me ver que há quem o seja - e o faça - sem grande esforço e pelas razões certas.

Recentemente, a Cátia Rodrigues [The Pink Elephant Shoe] abordou uma temática que eu tinha guardada num dos compartimentos das Inconfidências: os rótulos. Mas fê-lo na primeira pessoa. E isso despertou o meu sentido crítico, reflexivo e de autoanálise - e incitou-me a não adiar mais a minha escrita sobre o assunto. Consciente ou inconscientemente, todos rotulamos e todos somos rotulados. Se é correto? De todo. Porém, ainda há batalhas que necessitam de um caminho longo, atendendo que esta dinâmica já é inerente à sociedade. Todavia, acredito que estes muros, mais cedo ou mais tarde, acabarão por ruir. Se cada um de nós fizer a sua parte.

Estas etiquetagens, por muito que algumas sejam bem intencionadas, nunca serão saudáveis. Porque nos limitam e porque nos acondicionam num espaço único, como se fossemos, somente, aquela característica; como se a nossa vida se resumisse a uma palavra, a um momento, a um traço de personalidade e/ou de aparência - o ser humano é demasiado complexo e, além disso, está em constante mutação. A nossa essência tem que ser inalterável, mas são somos as mesmas pessoas que éramos, há uns anos. E ainda bem. Portanto, reduzirem-nos a um conceito - que, muitas vezes, nem corresponde à verdade - tem tanto de desleal, como de incompreensível. E para percecionarmos essa questão com nitidez, basta pensarmos que nenhum de nós rejubila por sentir que o menorizam, sobretudo, quando sabemos que não é correto - e justo. Porquê, então, fazer o mesmo em relação aos outros?

Os rótulos que os nossos pares nos atribuem agridem-nos. Mas não são os únicos! Quando alguém nos qualifica com determinada conotação - principalmente, negativa -, magoa. E não tão pouco assim. No entanto, quanto mais amor-próprio sentimos, quanto mais resolvidos estamos, essa designação enfraquece e deixa de nos incomodar. Será sempre uma parte da nossa história, mas perde o impacto cruel que teve na nossa autoestima. O problema é quando somos nós a etiquetarmo-nos. E a sentirmos que não somos mais do que aquele[s] termo[s]. Aí, o processo de valorização pessoal é bastante moroso. Porque acreditamos, cegamente, que todos nos veem daquela maneira. E anulamo-nos.

A Gorda. Este sempre foi o meu rótulo. O que me impus, muito antes de suportar represálias de terceiros. Durante muito tempo, achei que era o meu peso que me definia e que esse pormenor - no meio de tantos outros - seria o meu principal entrave. Consequentemente, quando deveria ser a pessoa mais importante da minha vida, tornei-me na minha maior inimiga. O mais curioso é que nunca sofri qualquer tipo de intimidação pelo meu aspeto exterior. Ouvi alguns insultos, sim, mas apenas pontuais e nada que abalasse ou marcasse, profundamente, o meu bem-estar. E, nesse sentido, sei que fui uma afortunada, até porque não sou capaz de me distanciar dos testemunhos angustiantes, que revelam casos revoltantes de maus-tratos físicos e psicológicos. Felizmente, nunca passei por uma experiência tão traumática quanto essa, mesmo assim, tinha a sensação de que só me viam pelo meu peso. Na maioria das vezes, não passava de uma insegurança minha. Completamente, infundada.

Nesta fase do meu crescimento, ainda não tinha percebido que estava em mim o poder da mudança e que é a imagem que tenho da pessoa que sou que influencia o modo como os outros me observam. Quando o aprendi, retirei o rótulo que tantas vezes fiz sobressair no meu coração. Se foi fácil? Não. E tenho plena consciência de que a meta nunca será ultrapassada em definitivo, pois o caminho reserva-nos sempre recaídas. Mas tenho trabalhado, regularmente, para que estes fantasmas não me ultrapassem. Em mim coabitam inúmeras designações. E nunca poderei ser rotulada só por uma. E não o voltarei a permitir - nem aos outros, nem a mim. Porque sou muito mais do que mostro. Sou muito mais do que uma etiqueta. Aliás, somos!



Qual é o vosso rótulo?

Comentários

  1. Detesto rótulos! Desde sempre! Assim como também não gosto de modas. Acho que as pessoas dão demasiado valor a coisas insignificantes, se vivessem mais a vida talvez não falas tanto sobre essas coisas. Sou como sou, sou eu mesma, quem gosta, gosta e agradeço quem não gosta, paciência. Só um aparte tu não és esse rótulo, és a Andreia ;)
    Bjinhosss e boa semana*
    https://matildeferreira.co.uk/

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  2. Infelizmente, vivemos numa sociedade onde tudo se rotula e onde não se respeita a diferença o que acho extremamente negativo.

    O meu rótulo acho que sempre foi: bicho-do-mato. Sempre fui uma miúda tímida, talvez por ter uma infância complicada em termos de saúde: com muitos internamentos e idas ao hospital que fez de mim uma pessoa fechada e frágil. Um alvo fácil para quem pratica bullying. Sofri de bullying em vários anos escolares, incluindo na faculdade por parte de colegas e de uma professora. Isso, de certa forma, marcou-me negativamente, fez com que eu tivesse receio em me dar às pessoas por medo da sua reacção. Sempre fui pouco sociável por causa disso; felizmente, a escrita veio dar uma ajuda no contacto com as pessoas. Ao início custa, mas depois percebo que é bom quando as pessoas são as certas :)

    Um beijinho e boa semana!

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    1. R:Esqueci-me de dizer que a dita professora era coordenadora do curso e que exerce uma profissão na área da saúde. Infelizmente, não conhece o significado de responsabilidade social.

      Tinha acabado uma aula, eu estava a arrumar as minhas coisas; entretanto alguém se queixou que eu não saía à noite com a turma e ela:"Ana Dias ou sais com a turma ou marco-te falta". Até pode ter dito aquilo em jeito de brincadeira, mas de muito mau gosto. Foi uma humilhação... Nunca mais esqueci as palavras. Não sei o que leva uma universidade a escolher uma professora assim... :(

      Beijinhos!

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  3. Eu (Pedro) trabalho todos os dias para que a Telma perca este mesmo rótulo. A culpa é da sociedade que impõe uma certa ditadura da beleza. Eu também tenho rótulo. Sou o magricela. E então? Tenho a mulher da minha vida ao meu lado, sou feliz exactamente como sou!

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  4. Olá
    Como te compreendo, eu há mais ou menos 1 ano e meio atrás tinha mais 25kg, e também sofri com isso, eu aceitava o peso e sabia que isso era resultante da medicação que tomava, mas ouvi coisas desagradáveis, até já contei no blog que me chegaram a dizer que não arranjava emprego porque era gorda!! A sério as pessoas podem ser muito más!! Agora estou magra e falam que a minha mãe não dá comida, o que é mentira eu é que não posso comer o que quero porque me faz mal. Portanto as pessoas vão sempre falar mal quer estejas gorda ou magra. O pior mesmo é sermos nós a rotularmo-nos. Sei que é um processo díficil, mas nós somos muito mais que uma imagem no espelho.
    Bom dia

    marisasclosetblog.com

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  5. Os rótulos, esses criminosos, ou será que quem o é, é quem rocctula? Não importa, importa sim é que eles podem influenciar as nossas vidas negativa e por vezes positivamente.
    Eu tive vários ao longo da minha vida, fui rotulada por causa do meu último nome de solteira e vivi momentos terríveis com isso. Fui rotulada de lingrinhas, de chorona, hoje talvez de stressada ... Enfim, somos como somos e temos de aprender a viver com isso.

    Beijinhos
    Sandra C.
    bluestrass.blogspot.com

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  6. Infelizmente é assim. Existem pessoas que não têm espelho em casa, antes de se lembrarem rotular. Enfim, muita força e deixa falar quem fala.

    Hoje; Num silêncio da escuridão iluminada {POETIZANDO}

    Bjos
    Votos de uma óptima Segunda - Feira

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  7. Infelizmente há muitas gente, sempre, a pronta a rotularem......e acabam por marcar profundamente as pessoas com menos força...

    Isabel Sá
    http://brilhos-da-moda.blogspot.pt/

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  8. Nunca esperei que o teu rótulo fosse este. A sério. Fui chamada disso muitas vezes. Mais vezes até, quando pesava os meus “tão queridos” 48kg, que para a minha altura, era o ideal. O equilíbrio. Mas eu levava-me pelas coisas que as pessoas diziam. As estrias, os braços assim, as pernas assado. E ainda hoje quando me chamam retraio-me. Ainda hoje quando alguém começa a falar sobre estes assuntos comigo fico ainda intimidada, reticente. Definitivamente, o meu rótulo é insensível. Há anos. Mas tem um motivo. As pessoas é que se esquecem dele. Talvez até seja, mas sinto. Continuo a sentir, por mais que não queira. Beijinhos querida. 💛

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  9. Sempre achei que os rótulos são dados por pessoas que não têm vocabulário!!! E podemos enumerar mais uma série de coisas que essas pessoas não tem, mas interessa?

    Tenho medo dessa fase na escola pelo meu filho, espero que todos os pais estejam a educaram para ser melhor!!

    Lindo e franco post! Beijinhos

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  10. Adorei o teu post querida.
    Rótulos é tal como tu dizes é para produtos, não para pessoas. Eu também respondi a esse desafio no instagram :D
    Sê feliz querida e não ligues ao que falam :D
    Beijinho *

    https://w-m-mind.blogs.sapo.pt/

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  11. infelizmente nossa sociedade funciona dessa forma rotulando demais as pessoas, temos que tentar mais nos livrar desse tipo de rotulo, pois somos mais do que isso

    www.tofucolorido.com.br
    www.facebook.com/blogtofucolorido

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  12. Sabes que há pessoas com lata para tudo, nunca estão bem com o que tem, e adoram deitam sempre a baixo os outros, mas como sempre digo devemos aceitamos e sermos felizes
    gostei bastante da tua patilha
    Beijinhos
    Novo post // CantinhoDaSofia /Facebook /Intagram
    Tem post novos todos os dias

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  13. Os rótulos são arremessos de guerra imateriais que perpetuam a discriminação e discursos de ódio. Começam por ser uma mera brincadeira até chegar à ponta fatal do iceberg, que leva muitas pessoas a detestarem-se, a isolarem-se e até mesmo a acabar com a própria vida. É verdade que todos nós rotulamos inconscientemente, mas ter noção disso é o primeiro passo para conseguirmos romper esse costume.
    Tive vários rótulos e foi difícil descolar-me deles. Ainda hoje recordo-me dos 14 anos infernais que passei só por ter nascido num país estrangeiro e rejeitar o padrão de beleza imposto. Fico contente por não teres passado por algo parecido e que te tenhas abraçado. A auto-aceitação é uma das melhores formas de amor.

    Beijinho (e desculpa o comentário gigantesco) ❤

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  14. "No entanto, quanto mais amor-próprio sentimos, quanto mais resolvidos estamos, essa designação enfraquece e deixa de nos incomodar." isto é mesmo verdade! o nosso "rótulo" passa a ser apenas mais uma das nossas tantas caraterísticas e pronto. temos mesmo de ser nós a trabalhar nisso porque, ao mesmo tempo que muitas pessoas nos podem elogiar e dizer que "não é nada", nós vamos sempre recair naqueleeee comentário... mas claro que é muito difícil conseguir ultrapassar certos receios e alguma timidez em relação à "tal" caraterística e é um longo trabalho, - diria - para a maioria das pessoas :/

    r: aiii, obrigada! até vais ser a madrinha do casamento ahahah

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  15. Sempre detestei rótulos! Eu cá sempre fui a "alta"!
    O que temos de fazer é não ligar a esse tipo de comentários e seguir em frente! :D

    amarcadamarta.blogspot.pt

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  16. Detesto rótulos e já lidei com muitos, acho isso uma estupidez pegada!

    Bjxxx
    Ontem é só Memória | Facebook | Instagram

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  17. É mesmo isso, babe! Todos somos mais que um mero rótulo que alguém decide dar-nos, que uma sociedade decide fazer desse nosso nome. É preciso super força para fazer essa luta, mas espero que continues a conseguir fazê-la e que sejas super, super feliz, pois mereces <3
    Beijinhos,
    Blog An Aesthetic Alien | Instagram | Facebook
    Youtube

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  18. Oi, Andreia!

    Que texto interessante... Certamente, somos muito mais do que um simples rótulo... Seres muito mais complexos!

    Abraços, Cris

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  19. Adorei o texto, revi-me nas tuas palavras.

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  20. Parabéns pelo texto! Inspirador! Eu também nunca gostei de rótulos, mas confesso que fui cair mais em mim com o passar dos anos. Aliás, é como você disse, rótulo é para produtos e não pessoas! Precisamos ser mais resolvidos com nós mesmo e isso bastaria para ficarmos bem. Somos muito mais que etiquetas, realmente!
    Beijos,
    https://blogluanices.blogspot.com/

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  21. Simplesmente DETESTO RÓTULOS!
    Mas gostei da temática aqui falada, gostei do post :)

    XoXo
    - Helena Primeira
    - Helena Primeira Youtube
    - Primeira Panos

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  22. A nossa sociedade é tão ridícula que doí ora sejamos o que for tenhamos o que tivermos andam sempre a pôr rótulos e afins estás coisas tiram me do sério! essas pessoas que comentam são pessoas mal intencionadas e não são felizes com elas próprias e então, e a forma que arranjam para lhes aumentar o ego delas. oh minha querida adorei as tuas palavras e o teu testemunho muita força querida qualquer coisa que precises podes contar comigo.
    http://retromaggie.blogspot.pt/

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  23. Também é o meu favorito, sem dúvida :D
    Ohn, pois :/ Este ano, por acaso, nem apanhei tanto sol como o ano passado... mas consegui ficar ainda mais moreno.

    Este género de publicações custam-me muito. Moem-me por dentro. É medonho o que as pessoas fazem connoco só por, SUPOSTAMENTE, não nos enquadrarmos na "merda" dos padrões impostos por meras pessoas na sociedade. Ora porque uma pessoa é gorda, ora porque uma pessoa é magra; ora porque tem um sinal, ora porque não tem sinal nenhum; ora porque veste uma roupa mais colorida ou porque anda de preto. CHEGA! Até quando vai ser assim?! Ninguém é mais do que ninguém por causa do exterior, bolas!
    Eu sempre fui o "paneleiro", o "gay". Alguém que sempre se mostrou interessado em moda ou beleza; alguém que sempre se fez rodear por raparigas porque sempre achou que os colegas rapazes tinham tudo menos um cérebro na cabeça!
    Havia vezes em que doía muito. Em que me martirizava... até chegar à conclusão, tal como tu, de que somos mais do que aquilo que mostramos :) <3

    NEW OUTFIT POST | WE ARE BOLD. SOLID BOLD. :D
    InstagramFacebook Official PageMiguel Gouveia / Blog Pieces Of Me :D

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  24. Estou com um pé fora de casa, ou mais precisamente de Düsseldorf, portanto só dou os parabéns à autora do blogue, que me encanta sempre que aqui entro.

    Estás tão linda na fotografia, Andreia.

    Beijocas da amiga de longe 😘😘😘😘😘 ••• cinco anos.

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  25. Onde terei jogado fora
    meu gosto e capacidade de escolher,
    minhas idiossincrasias tão pessoais,
    tão minhas que no rosto se espelhavam
    e cada gesto, cada olhar
    cada vinco da roupa
    sou gravado de forma universal,
    saio da estamparia, não de casa,
    da vitrine me tiram, recolocam,
    objeto pulsante mas objeto
    que se oferece como signo de outros
    objetos estáticos, tarifados.
    Por me ostentar assim, tão orgulhoso
    de ser não eu, mas artigo industrial,
    peço que meu nome retifiquem.
    Já não me convém o título de homem.
    Meu nome novo é coisa.
    Eu sou a coisa, coisamente.

    Carlos Drummond de Andrade ANDRADE, C. D. Obra poética, Volumes 4-6. Lisboa: Publicações Europa-América, 1989.
      Nossa sina, por mais que não queiramos. Belo texto que voltarei a comentá-lo.
    Abraços.

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  26. Mais uma vez, uma excelente publicação, com a qual eu não poderia discordar. Os famosos rótulos, os que nos impõem, os que nos impomos, os que afetam sempre mais do que imaginamos. Somos pessoas, logo não deveríamos ser rotulados, muito menos da forma como por vezes o somos. Porque rotular é fácil.
    Na cabeça de alguém somos sempre algo que na realidade nós sabemos que não somos, mas a verdade, é que, como tu referiste, inconscientemente nós também acabamos por rotular, porque somos seres humanos, nem sempre pensamos da forma mais correta e caímos no erro de rotular. É errado na mesma, mas vamos sempre a tempo de minimizar isso :)

    Acho que um dos meus rótulos talvez tenha sido aquele que nós sabemos, porque houve uma altura da minha vida em que andava quase sempre só com rapazes. Isto, visto por alguns olhos, quer logo dizer tudo menos a realidade, mas pronto. Sinceramente, sempre ignorei isso, seguindo a minha vida, porque eu sei o que era e o que sou. Mas sei, que em algumas pessoas, pode ter efeitos absolutamente negativos.

    Não tenho muito a acrescentar ao que disseste, acho que o importante é seguirmos, embora seja difícil aceitar certas coisas, pois haverão sempre olhares julgadores. Mas continuemos, cientes do que somos, do que queremos e do que temos. Somos sempre mais do que o que as pessoas pensam :)
    E fico tão feliz, que tenhas esse amor por ti <3

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