O nosso amor é como o vento #11

Fotografia da minha autoria

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Durante o caminho, invadiu-me uma espécie de paz, quase como se tivesse tido uma epifania: o meu amor por ti não tinha diminuído. E, neste momento, sei não há espaço para mais alguém na minha vida. Não fecharei essa porta, mas também não procuro preencher o vazio que, inocentemente, me deixaste. Preciso deste tempo só comigo. Foram anos de uma relação bonita e intensa, na medida certa. E isso não esmorece ao fim de três meses de luto. Eu estou segura do que sinto. E, agora, entendo que todas estas inseguranças por um simples café não poderiam ser mais infundadas.

Quando entrei no Almada Minha, o Lourenço já lá estava. Olhei, disfarçadamente, para o relógio, para ter a certeza de que não estava atrasada - era mais uma das coisas que tínhamos em comum, pois custava-nos imenso deixar as pessoas à nossa espera. Preferíamos chegar cinco [ou mais] minutos antes e sermos nós a aguardar, do que chegar depois da hora e interferir com a gestão temporal do outro. Aparentemente, o Lourenço pensava da mesma forma.

- Olá - sorri - espero não o ter feito esperar.

- Não, de todo, acabei de me sentar - sorriu de volta. - Chegamos praticamente ao mesmo tempo, passou por mim à procura de um lugar para estacionar.

- Ótimo, assim fico mais descansada.

- Café?

- Sim, por favor - assenti. - Lourenço?

- Sim? - fitou-me, algo curioso. 

- Podemos tratar-nos por tu? Nunca gostei de tratar as pessoas com tanta formalidade, principalmente, quando o contexto não o exige e quando as nossas idades são semelhantes ou próximas.

- Claro que sim! Por instantes, pensei que me fosses dizer que querias ir embora - devolveu-me uma gargalhada aliviada.

- Não, nada disso - respondi, olhando-o com um misto de timidez e vergonha, por ter pensado em nem sequer aparecer.

Notei que estava nervoso. A sua expressão corporal dava a entender que queria dizer-me ou perguntar-me alguma coisa, mas parecia não saber como. No entanto, não tinha intenções de o deixar confrangido, por isso, não fiz qualquer observação a esse respeito. Podia ser impressão minha.

Assim que prosseguimos a conversa, excluí pequenas dúvidas que pudessem restar, porque estávamos em sintonia quanto ao significado deste encontro. Ambos passamos por um processo de perda - o Lourenço há mais tempo - e sabemos que ainda há feridas por sarar e muito a recuperar, portanto, tentei transmitir-lhe alguma segurança, para garantir - a ele e a mim - que não existiam propósitos camuflados. Se houve algo que aprendi, é que a vida tem que continuar, mas que os nossos amores-maiores permanecem inquebráveis. E tendo em conta que as pessoas só vão até onde as permitimos ir, o meu coração foi ficando, cada vez mais, sossegado.

Conversamos acerca de trivialidades, das nossas formações académicas e dos empregos que abraçamos com tanta dedicação. Houve lugar para saltar entre vários temas, ajustando o lado sério ao lado mais descontraído. O nosso diálogo fluía com naturalidade, mas não estava preparada para ouvir o que o Lourenço tinha para me contar. Afinal, o seu nervosismo tinha fundamento.

- Constança, preciso de te contar uma coisa... - disse-o a medo, como se pesasse as suas palavras.

- O que quiseres - incentivei-o, mas reticente.

- Não fui totalmente honesto contigo - confidenciou.

- Como assim? - questionei-o, sem compreender onde queria chegar.

- Vou partilhar algo delicado, mas preciso que me ouças com atenção, por favor. Quero que tudo fique bem claro entre nós. No final, podes perguntar o que quiseres; podes, até, virar costas e ir embora... Seja qual for a tua decisão, eu vou compreender. Só te peço é que, em primeiro lugar, me dês oportunidade de explicar tudo até ao fim - a sua voz perdeu firmeza.

- Estás a deixar-me preocupada! Por favor, conta-me o que se passa. Prometo que não te interrompo - a dúvida começou a consumir-me. E questionei-me se, de facto, iria querer ouvir.