Identidade Cruzada #4
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Fotografia da minha autoria |
«O arrependimento não vai mudar o seu passado, mas pode transformar o seu futuro»
Vou contar-te uma história sem final feliz. Certo dia, teria eu os meus 17 anos, perdi-me de amores por um tipo sem escrúpulos. Como deves imaginar, o desfecho foi aquele típico cliché que vemos nos filmes: ele usava-me e eu, por ser doida por ele, permitia. Engravidei por descuido e ele deixou-me sem hesitar, acusando-me de o tentar prender. Entrei em demência. Negligenciei esta gravidez, intencionalmente. E culpei-te sempre de tudo. O que é curioso é que, em momento algum, ponderei fazer um aborto. Tive-te, mesmo vendo em ti a minha desgraça, e cuidei de ti durante cinco anos. E, aí, não aguentei mais. Saí cedo de casa, deixei-te no Jardim das Camélias, prometendo voltar, e pude respirar. É revoltante ver isto num ecrã, não é? Imagina, agora, saber que não se trata de ficção!
Provavelmente, não tenho perdão. Nem existe qualquer justificação para o meu comportamento desumano. No entanto, na altura, fiz o que senti ser o melhor... para mim. Porque, abrindo o jogo e sendo honesta, não te queria. Era demasiado nova - e inconsequente - para ter outra pessoa ao meu cuidado, ainda para mais quando nunca ambicionei ser mãe. E tinha sonhos. Sonhos muito grandes para a minha pouca responsabilidade. A tua chegada deitou-os por terra. Aprisionou-me. Acorrentou-me a uma vida da qual queria fugir. Então, sem desculpas, sem demoras e sem pensar em possíveis arrependimentos, foi o que fiz: fugi. Tu não eras uma extensão da minha realidade, por isso, não manifestei qualquer tipo de remorsos e fui à procura da minha felicidade. É cruel, bem sei, mas senti o meu corpo a ficar mais leve. E parti, sem olhar para trás. E sem pensar no quanto o teu crescimento ficaria comprometido. Mas eu estava em paz. E era só isso que me importava.
Durante todo este tempo, não te escrevi, nem procurei saber como estavas. Desliguei-me, completamente, da tua imagem, da tua tentativa de conquistares o meu amor e das nossas raízes. Fazes, hoje, 18 anos - a mesma idade que eu tinha quando nasceste. E, pela primeira vez, senti a dor dilacerante do arrependimento. Voltei a casa, de vez, e tenho olhares que me censuram. Não os condeno - como poderia? -, mas custa-me. Faça o que fizer, nada me livrará deste rótulo, que eu própria tatuei em mim, no exato momento em que abandonei uma criança indefesa, quebrando a única promessa que lhe tinha feito. Sinto-me um monstro, mas de nada me adianta esta sensação, porque não apaga o passado. Achei que ficaria melhor sem te ter comigo. Agora tenho quase a certeza que o universo arranja sempre forma de aplicar a sua justiça divina, que nos ataca como um castigo. Fosse para onde fosse, cruzava-me com imensas mães e filhas. Os laços que partilhavam eram inspiradores, belos, reconfortantes. Não fosse a minha estupidez e poderíamos ter sido nós...
Mudei. Aprendi a olhar o mundo com maior consciência. E percebi o que perdi. Será que, algum dia, terei notícias tuas? Será que me conseguirás perdoar? Guardei o teu nome no peito, porque chamar-te de filha parece distante. E eu sou pouco merecedora desse vínculo afetivo, porque não soube ser mãe, nem nos primeiros cinco anos da tua vida. Desculpa! Tinha nas minhas mãos a possibilidade fazer tudo de maneira diferente; de construir, contigo, uma ligação sólida e duradoura. A culpa foi só minha, nunca tua. Como poderia sê-lo? A única coisa que fizeste foi amar-me sem cobrança, mesmo quando eu te afastava. Oh, minha doce Margarida, perdoa-me por ter percebido isto tão tarde. Sei que não te mereço. E sei, sobretudo, que fui eu que quebrei as pontes entre nós. Como é que posso esperar que estejas disposta a reergue-las? Naquela manhã, nem sequer me despedi. Será que, algum dia, terei a sorte de te voltar a encontrar? Posso ter demorado a compreender, mas não voltarei a fugir. Nem a desistir. Nem que, para isso, leve o resto da minha vida a tentar recompensar-te à distância!
[Sónia, 36 anos, mãe de Margarida]
Uma história triste, mas deve existir por aí várias.
ResponderEliminarCoragem para quem viveu tal situação, força de espírito pois não deve ser nada fácil lidar com esse turbilhão de sentimentos....
Beijinhos
Sandra C.
bluestrass.blogspot.com
A mãe da Margarida é uma personagem fictícia, não é verdade, Andreia?
ResponderEliminarClaro que, mesmo no século XXI, acontecem histórias deste tipo, mas são muito raras no mundo ocidental. Felizmente!
Amar loucamente é sempre muito mau, especialmente, quando não se tomam precauções...
É triste coisas assim continuarem a acontecer :/ Como sempre, escrita perfeita <3
ResponderEliminarBeijinhos,
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Gostei desta história que foge aos finais felizes.
ResponderEliminarUm abraço, vou de férias só devo voltar em Setembro.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados
O arrependimento depois do mal feito. Penso que jamais conseguirá reparar o sofrimento causado?
ResponderEliminarBem contada essa sua história. Gostei embora seja muito triste quando acontece na realidade!
Tenha um bom dia Andreia.
Das coisas que semprective receio de me acontecer em jovem, feliz ou infelizmente nunca me aconteceu... não sei se teria coragem de abandonar um filho, talvez me agarrasse a ele com todas as minhas forças para seguir em frente mas não condeno está mãe que agiu no desespero e sem pensar... fico aqui a torcer para que se reencontrem e sejam felizes, mãe e filha.
ResponderEliminarBjinhosss
https://matildeferreira.co.uk
Que palavras tão triste Andreia, mas realidade para tantos. Nem imagino uma situação destas... <3
ResponderEliminarTHE PINK ELEPHANT SHOE
Oh que historia mais triste, fogo nem quero imaginar
ResponderEliminarBeijinhos
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Tem post novos todos os dias
História muito triste, mas esta história é verdadeira para muitas pessoas, infelizmente.
ResponderEliminarBoas palavras :)
Não é justo espicaçares-nos assim a curiosidade com uma história onde a ficção e a realidade se fundem sem precedentes. Gostei imenso e vou querer saber mais sobre a Margarida.
ResponderEliminarBeijinhos!
É triste situações destas ainda existirem! :(
ResponderEliminaramarcadamarta.blogspot.pt
Faço minhas as palavras da marta Carvalho!
ResponderEliminarBjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram
Uma história triste... Espero que apesar de tudo se voltem a encontrar...
ResponderEliminarr: Que engraçado, até agora não sabia de ninguém que soubesse disto! Fico contente por saberes eheh
ResponderEliminarMuito obrigada querida :)
Algo muito triste e infelizmente continua a acontecer na nossa sociedade.
ResponderEliminarBeijinhos
http://virginiaferreira91.blogspot.com
;)
ResponderEliminarHistória que muitas mães passam... E cedo ou tarde o arrependimento vem à tona!
Ótima terça!
Beijo! ^^
E saber que esta é a realidade de MUITA gente. Triste demais. :(
ResponderEliminarQue historia!
ResponderEliminarÉ o único ponto negativo daquela loja. Se não fosse esse detalhe da entrega tudo seria perfeito! hehehe! ;)
ResponderEliminarÓtima terça!
Beijo! ^^
Obrigada! ;D
ResponderEliminarÓtima terça!
Beijo! ^^
Olá
ResponderEliminarPelo menos esta mãe arrependeu se. Há muitas que não. Também conheço um caso de abandono dos 2 pais, a criança foi criada pela avó e hoje é um homem com algumas carências, mas também não sei porque raio o pai não assumui a responsabilidade de o criar porque tinha condições para isso, voltou a casar e a ter outros filhos e com uma vida financeira estável não entendo porque é que na cabeça de certos homens u. Filho tem de educado pela mãe.
Beijinhos
marisasclosetblog.com
Sad but good story!! self respect is more important than anyone else.
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É mesmo, meu bem :D Pelo menos a coisa tem corrido bem nesse sentido eheh
ResponderEliminarHá que ver o lado positivo, por muito que ruim que possa ser ou parecer! É engraçado que não deixa de ser um triste e real facto.
O texto está maravilhoso!
NEW OUTFIT POST | BASIC BUT NOT SO MUCH. :D
Instagram ∫ Facebook Official Page ∫ Miguel Gouveia / Blog Pieces Of Me :D
Esqueci-me de te perguntar que idade tinha o "tipo sem escrúpulos"?
ResponderEliminarTão triste. O mais triste é saber que há tantas histórias parecidas, arrepender-se já é um passo, mas será que algum dia apaga o sofrimento de anos de uma criança? Tento acreditar que todos merecem uma segunda oportunidade, mas há realmente questões que nos deixam as suas dúvidas e nos fazem tentar colocar no lugar da "vítima, afinal passaram anos, será possível esquecer?
ResponderEliminarEspero que todas as mães que tomaram este caminho, procurem as suas Margaridas e logo se vê, afinal o não é sempre garantido e acho que lutar vale sempre a pena!
Mais uma vez, incrível :)
Chama-me romântica mas acredito nas segundas oportunidades. Seja em que situação for.
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