Entrelinhas #63
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Fotografia da minha autoria |
«O que poderá resultar de tão singular e tocante relacionamento?»
A transição para uma nova leitura nem sempre é um processo natural. Por vezes, hesitamos no sucessor, porque a mensagem do livro anterior foi tão intensa e reveladora, que temos um certo receio de descer um degrau - ou vários - na qualidade e na identificação com a obra. Mas há muitas outras razões para essa indecisão. No entanto, após concluir O Planeta Branco [Entrelinhas #62], soube logo qual seria a minha escolha. E que continuaria na companhia de Miguel Sousa Tavares.
Ismael e Chopin é, também ele, indicado para um público infanto-juvenil. Apesar disso, acredito que combina com qualquer idade, uma vez que a sua história encantadora é transversal a inúmeras gerações, podendo marcá-las pelos mais variados motivos. Mas permitam-me abrir um parênteses acerca da posição do autor sobre narrativas destinadas a crianças, pois defende que escrever para elas é «um dever cívico, é quase um serviço público», até porque temos que «começar a lutar pelos livros em pequenos e não em grandes». E é este compromisso que o torna, para mim, um contador de histórias excecional - para miúdos e graúdos -, criando, especificamente neste caso, um texto lindíssimo, brilhantemente complementado pelas ilustrações de Fernanda Fragateiro.
Neste livro, num primeiro momento, vamos acompanhar uma passagem de testemunho e uma partilha generosa de conhecimentos. Porque devemos ser capazes de transmitir aquilo que sabemos de melhor, mas sem oferecermos soluções para eventuais situações. Isso não só é uma demonstração de sabedoria, como também é um ato de amor, na medida em que fornecemos ferramentas aos nossos pares, que poderão utilizar mais tarde, com outra experiência e segurança. Contudo, é inegável que o foco central deste enredo é a amizade improvável, terna e inspiradora entre um animal e um humano; entre um coelho e um músico de renome. Estabelecendo pontes entre a realidade e a ficção, aprendemos o quanto é importante cuidar e respeitar [d]os outros. E que, mesmo com todas as diferenças, há ligações que se tornam inquebráveis e valiosas, praticamente insubstituíveis.
É uma narrativa sobre a amizade, a natureza e a vida. Sobre a incoerência do Homem. Sobre desejos, sonhos e conquistas. Sobre o quanto é imprescindível investir na Educação e na Saúde - pessoal e enquanto áreas essenciais à nossa existência e sobrevivência em sociedade. Simultaneamente, enaltece os encantos da música, ensina-nos que tudo tem o seu tempo e alerta-nos para o lado enriquecedor de termos os valores certos, de fazermos algo de forma genuína, sem segundas intenções. Porque é esta componente que define a nossa integridade. Não menos importante são os detalhes, e esta história está recheada deles, as sensações e a vontade imensa de que os capítulos não se esgotem, pois é dos contos mais bonitos e especiais com que me cruzei. Como seria bom desfrutar de mais episódios e peripécias de dois seres que estreitaram laços e que pincelaram a vida um do outro com mais significado e magia.
Inspirado no quotidiano do autor, Ismael e Chopin soa a casa. A aconchego. A emoção. O final é mesmo desconcertante, pela despedida, pela proximidade e por priorizar o sentir. Que obra!
Deixo-vos, agora, com algumas citações:
«- Os homens são estranhos, Ismael. Nem sempre escolhem o que mais gostam, aquilo que os faz ser felizes» [p:19];
«E, quando chegámos junto à casa, vi que o meu pai fechou os olhos ao ouvir aquilo e sorriu, como se há muito estivesse preparado para uma coisa assim» [p:25];
«- Sabem tudo, então?
- Não, não sabemos: porque, ao contrário dos animais, nós nunca saímos do mesmo lugar. Só sabemos do que está próximo, até onde a nossa vista alcança» [p:34];
«Mais ainda do que a vontade de continuar a ouvi-lo tocar, o que me fazia regressar à noite era a vontade de não o deixar ali sozinho, abandonado ao frio e à sua solidão» [p:48];
«Olhei para ele sem dizer nada. Senti que uma lágrima me escorria dos olhos, mas não fiz nenhum gesto, nem sequer para disfarçar» [p:52].
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Costuma-se dizer que filho de peixe sabe nadar e o Miguel Sousa Tavares é um grande escritor.
ResponderEliminarUm abraço e continuação de uma boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Realmente, eu não diria melhor :) estes livros do MST fazem lembrar os da mãe, Sophia :)
EliminarFaço das palavras do Francisco as minhas :))
ResponderEliminarBjos
Votos de uma óptima Quinta - Feira
Não conhecia o autor, mas vou tomar nota.
ResponderEliminarIsabel Sá
Brilhos da Moda
A Andreia tem falado muito no filho da Sophia de Mello Breyner, aqui no cantinho dela...
EliminarSó sugestões boas e interessantes que nos trazem:) mais um para a juntar a wishlist da biblioteca do Lu :)
ResponderEliminarBjinhos
https://matildeferreira.co.uk
Olá Andréia querida
ResponderEliminarAdorei a sugestão, deu uma curiosidade boa de ler...
Beijos
Ani
Não li esse livro, mas o MST tem uma escrita agradável.
ResponderEliminarAndreia, continuação de boa semana.
Beijo.
Deve ser uma leitura fantástica, fiquei mesmo curiosa. Tenho que ler.
ResponderEliminarBeijinhos! :*
Confesso que esse livro nunca o tinha ouvido falar, mas parece ser bastante interessante
ResponderEliminarBeijinhos
Novo post //Intagram
Tem post novos todos os dias
Gostei da sugestão! Tenho alguns livros de MST,esse ainda não li.
ResponderEliminarR:não acha melhor mandar por Messenger?
Beijinhos
Fiquei tentada a ler!
ResponderEliminarBjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram
Às vezes custa-me mesmo imenso transitar de um livro para outro :s Fiquei super curiosa com o livro, babe *.*
ResponderEliminarBeijinhos,
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Boa dica de livro a história é bastante interesse bem fluida, gostei muito do livro bjs.
ResponderEliminarNão sou grande leitor,
ResponderEliminarainda não li esse livro
mas sei bem o que digo
escrito por grande autor!
Tenha uma boa noite Andreia.
Ahhhhhhhhhhhhh este livro é tão lindo! Deste-me vontade de o reler hoje à noite. É mesmo importante apostar na nossa educação! Acredito que é necessário para nos formarmos e não sermos influenciados pela negativa, como tantas vezes acontece em países com pouca educação :(
ResponderEliminarCom tanta sugestão boa e que me deixa sempre curiosa, é uma pena que eu ainda não tenha conseguido mudar os meus hábitos de leitura. Sou uma vergonha e tenho mesmo de perder esta preguiça que me tem afastado dos livros.
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