As minhas viagens de metro #65

Fotografia da minha autoria

«Ninguém sustenta duas caras por muito tempo»

Eu não sou quem tu pensas. Porém, insistes que me conheces, que me desvendas, que sabes que isto é só uma fachada de proteção. Por isso, permaneces perto. E segues um caminho tortuoso e sem retorno.

Ouve-me, por favor. Afasta-te enquanto podes; enquanto ainda tens possibilidade de recuar. Imploro-te - em silêncio, com olhares e expressões corporais vincadas e claras. Acredita, vou iludir-te. Manipular-te. Desconstruir-te. E deixar-te no chão, envolto num mar de lágrimas e de mágoas. Serei pesadelo com cara de anjo. Portanto, foge. Não sou digna do teu amor. Apenas irei usar-te. Destruir-te. E alimentar-me desse sofrimento. Porque não sei ser luz, só trevas.

Não sou quem imaginas. As minhas máscaras estão bem colocadas sobre o meu rosto. E por já serem uma extensão de mim, enganam. A continuares nesta ilusão, irás compreendê-lo tarde. E da pior maneira. Porque nessa altura, estarás preso na minha rede; na palma da minha mão. Procuro demover-te, mas tu continuas a dar passos em frente. Mas não percebes que só estás a assinar a tua sentença. Tentei libertar-te da escuridão, mas recusaste-te a entender os meus sinais. E não quiseste ir embora. 

Pus as cartas sobre a mesa. Quando fores um pequeno pedaço de nada, aniquilado por essa obstinação de me ter, não digas que não te avisei.

M, 09.03.2015