O nosso amor é como o vento #14

Fotografia da minha autoria

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«Minha amada Constança,

Ainda te lembras do dia em que nos conhecemos? Nunca acreditei nas coincidências do destino, confesso, mas aquele momento à filme, em que os nossos olhares se cruzaram e se fixaram, mudou-me para sempre. E mesmo sem saber a tua resposta, senti que estávamos em sintonia. A probabilidade de termos amigos em comum não era assim tão irrisória, mas reunirmo-nos todos, por acaso, no mesmo espaço, já tinha a sua quota parte de improvável, sobretudo, por temo-lo feito num local distante. Em qualquer rua do Porto seria aceitável. Em Salamanca, dava para colocar as situações em perspetiva.

Cumprimentamo-nos cordialmente, mas estivemos afastados a maior parte do tempo. Por hesitações, por inseguranças e por desvios notórios. Havia algo, tenho a certeza. Porém, um certo ceticismo de parte a parte - talvez, nem sempre intencional - levava-nos a recuar. Mas à noite, com o coração no sítio certo, avancei. Lembras-te do que te disse? Recordo-me como se estivesse prestes a repeti-lo. E é impossível não soltar uma gargalhada, porque soou tanto a lugar comum, que só me apetecia desaparecer com a vergonha. Mas sabes? Apesar de tudo, ainda bem que tive tanta coragem; ainda bem que guardei os meus medos, respirei fundo e disse-te que eras a rapariga mais bonita e deslumbrante que tinha visto em toda a minha [curta] existência. A partir daí, soube que teria que ser amor. E eu nem acreditava em amor à primeira vista. 

Simultaneamente, relembro-me da tua reação: coraste e o relógio parou. Uns segundos mais tarde, saiu-te um obrigado tão humilde e genuíno que fez toda a diferença. Em mim. Soube, desde então, que não te iria largar, que iria lutar por ti, independentemente dos sentimentos que pudessem despoletar. Porque toda tu eras [e és] feita de traços puros. E eu compreendi que abençoados são aqueles que têm pessoas assim na sua vida. Cresci tanto contigo. Acredita quando te digo que o meu amor por ti é inquebrável - mesmo que as circunstâncias tenham virado o nosso futuro do avesso. Sei que, por vezes, tendes a duvidar do teu valor, por isso, nunca te esqueças das minhas palavras: tenho um orgulho desmedido em ti. A tua luz e a tua força foram a minha motivação. E não sei como agradecer toda a paciência e dedicação. Parte-se do princípio que numa relação este nível de compromisso é inato, mas nem sempre é assim. No entanto, tu estiveste sempre ao meu lado. Lutaste por nós quando eu já não tinha forma de lutar por mim. E fizeste-o sem duvidar. E houve alturas em que estive tão fraco, que sinto que acabaste a amar pelos dois. Sem cobranças. Fizeste o possível e o impensável, porque me amavas verdadeiramente. Desculpa se não fui capaz de cuidar de ti como merecias, durante mais tempo»

Tive que parar. A vida ensinou-me a desfrutar das palavras e a transportá-las para as situações que reproduzem. Tinha o coração acelerado, como no dia em que me abordaste, pela primeira vez. Se calhar, foi a magia daquela parede colorida e cheia de ritmo que nos provocou uma atração tão grande e que nos levou a entrar numa espécie de jogo de escondidas. Permanecerá a incerteza do motivo, mas ainda bem que aconteceu. Cheguei a questionar a veracidade das tuas palavras, mas o teu olhar terno incitou-me a confiar. Nelas e em ti. Meu amor, cuidaste tão bem de mim! Claro que preferia que o continuasses a fazer; quem me dera que isto não passasse de um pesadelo, pois era sinal que estarias em casa para me acolher no teu abraço ou para partilharmos uma cerveja preta, enquanto observávamos as estrelas no jardim. Por mais chateada que possa estar com a vida, nunca poderia estar contigo. Cuidaste de mim melhor do que ninguém. Amaste-me com essa alma bonita. E sei que, de uma maneira ou de outra, estaremos ligados até ao fim.

«Continuo apaixonado por ti. Aliás, estou cada vez mais! É curiosa a quantidade de voltas que a nossa vida consegue dar. Sei que, naquele dia, me apaixonei um pouco, mas não tenho memória do momento exato em que os nossos sentimentos se tornaram sérios e partilhados. Por receio, sinto que tentei ocultar a mensagem que vinha do lado esquerdo do meu peito. Mas desconstruías-me com o teu sorriso inocente e radioso. E a noção de que te queria, de que queria proteger-te e ser teu também foi ficando mais evidente. Não podia esconde-lo mais. Nem queria. Seguramente, não escolhi apaixonar-me por ti, até porque não tenho esse poder. Contudo, se o tivesse, era a ti que escolheria. Mil vezes. Mil vezes mais. Todos os dias. Para sempre»

Eu também. Sem hesitar.