Penas de Pato | Miguel Araújo

Fotografia da minha autoria

«Ver a vida a passar da varanda»

O reencontro com a Feira do Livro ocorreu, somente, no último dia, ainda que tivesse anotado mais três datas pelo meio: duas para aproveitar promoções e uma para marcar presença no 4º Encontro de Bloggers e Youtubers. Nenhuma delas se realizou, infelizmente, mas a vida arranja sempre uma forma bonita de recompensar os imprevistos que saem do nosso alcance. Por isso, despedi-me da edição deste ano com um saldo extremamente positivo [consegui adquirir mais quatro livros] e em ótima companhia, assistindo a um evento inesquecível.

Miguel Araújo tem o dom da palavra. E a prova disso são, em primeira instância, as letras das suas canções. Mas um artista também se reinventa e é capaz de abraçar desafios novos, comprovando - e/ou descobrindo - que o seu talento não se limita a uma área em específico. E foi graças a essa versatilidade - e não só - que nasceu Penas de Pato: o seu primeiro livro, que reúne contos, memórias, crónicas, histórias e várias camadas de alguém a quem o atributo de génio assenta na perfeição. Da música para a literatura [que caminham, tantas vezes, lado a lado], acredito, iremos acompanhar uma viagem riquíssima e inspiradora. Estabelecendo uma ponte entre o papel e a nossa realidade.

O lançamento da obra aconteceu no Salão Independente, num dos espaços, para mim, mais bonitos, funcionais e especiais: a Biblioteca Almeida Garrett. O que conferiu uma energia mais intimista a todo o momento. A apresentação, por seu lado, ficou à responsabilidade de Clara Capitão e de Tito Couto. Num registo que aliou a entrevista e a conversa, não foi possível fugir à questão sobre o porquê do título. E a resposta teve tanto de surpreendente, como de trivial. É esta vertente ambígua - também de leveza e de agrura - que evidencia autenticidade e originalidade, demonstrando a identidade do autor. Mantendo sempre um discurso descontraído, descomplicado e próximo, a partilha resultante desta conversação foi bastante agradável - e reservou-nos uma boa dose de gargalhadas. Falou-se sobre preguiça, sobre as várias facetas de Miguel Araújo, sobre o concreto e o seu lado minucioso e sobre a própria estruturação do livro, que interliga o homem e o profissional. Ficaria, seguramente, mais tempo a escutar esta troca de impressões deliciosa.

A simplicidade e a humildade com se que expressa é fascinante. E se me rendo, constantemente, à poesia presente na sua música, tenho a certeza que acontecerá o mesmo com a sua prosa, porque existe uma base literária que nos faz levitar. E a atenção ao detalhe, aos pequenos nadas, é algo que me move, portanto, identifico-me com esta postura de observar a vida. Como uma pena, vou deixar-me levar nas suas palavras tão plurais, tão precisas, tão pessoais. Sem o «espartilho da forma», não duvido que estes textos me irão «servir». Porque nos serve sempre o talento transcendente daqueles que admiramos.