O nosso amor é como o vento #13
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Fotografia da minha autoria
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Entrei em casa - no nosso eterno refúgio -, pousei a carteira no alpendre e fui sentar-me no baloiço que construímos no jardim. Lembro-me tão bem desse momento. Aliás, quase que ouço a tua gargalhada. E podia jurar que consigo observar o teu ar confuso, a analisar a minha fraca competência para a bricolage. Definitivamente, os trabalhos manuais não eram o meu forte, mas tu insististe que este momento teria que ser feito a dois. Nem que demorasse um ano. Porque, no final, teria um significado muito mais especial e intimo - como sempre, tinhas razão!
Tenho quase a certeza que foi a porção generosa de terreno que nos fez apaixonar por esta casa. Mais do que a localização central, a conservação da habitação e o preço, foi a idealização romantizada das suas potencialidades e da maneira como as poderíamos aproveitar. Os nossos olhares falaram mais rápido que a nossa voz, como se, em silêncio e telepaticamente, tivéssemos concordado na decisão. Há sensações inexplicáveis e, naquele instante, ambos sentimos que este seria o local perfeito para constituir família. Enquanto não chegássemos a essa fase das nossas vidas, desfrutaríamos do espaço exterior para realizar almoços e jantares em família, para maratonas de leitura ou, então, para contemplar o nascer e o pôr do sol. Ali, quando esta tela ainda não passava de um sonho, pincelado com relva e algumas árvores, pareceu-me tudo certo. Alinhado. E mágico.
Assim que nos mudamos, em definitivo, o baloiço foi a primeira exigência e o primeiro projeto a ganhar forma, mesmo antes de pensarmos na mobília, nos cortinados, nas cores das paredes. Porque tudo isso parecia secundário. E foi assim que, durante algumas tardes, nos dedicamos à execução deste brinquedo que marcou a nossa infância, que tanto nos acompanhou nos nossos jogos de faz-de-conta e nas inúmeras viagens até ao céu, para tocar nas estrelas. Que saudades desses dias descomplicados. Eu sei que, disfarçadamente, tentavas corrigir os meus erros de carpintaria. E eu fingia não reparar. No fundo, acho que sempre soubeste, mas isso divertia-te e dava-te motivação extra. Éramos tão felizes, porque é que iríamos estragar a ocasião? Queríamos um baloiço grande, estável, capaz de suportar o peso dos quatro: eu, tu e os nossos dois filhos - um rapaz e uma rapariga. Apesar de não termos planeado esse acontecimento para um futuro próximo, sentíamos que era uma consequência inevitável do nosso amor. E era algo que ambos desejávamos. Curiosamente, ou não, tu sempre quiseste uma Leonor e eu um Rodrigo e, abertamente, íamos conversando sobre este assunto. Sem pressas e sem pressões. Ao nosso ritmo. Foi por esse motivo que acabamos por realizar um trabalho mais demorado. E quando o concluímos, ficamos radiantes com o resultado. Nessa noite, fizemos questão de jantar a balancear.
Passou a ser o nosso lugar encantado. A nossa bolha de proteção. O abraço apertado depois de um dia mau. Sem pensar muito, foi a escolha óbvia assim que saí do Almada Minha, com a tua carta na mão. Desde que me sentei aqui, há uma meia hora, não fiz mais do que recordar algumas peripécias. Porque faltava-me coragem para abrir o envelope. Não queria chorar, nem queria perpetuar a certeza de que não voltarias a sentar-te junto a mim. Por outro lado, o meu coração pedia-me para me perder na tua mensagem; dizia-me para deixar de ter receio, até porque só me poderiam esperar palavras forradas a sentimentos puros. Mas, inocentemente, uma ínfima parte de mim continuava à espera que tudo isto não passasse de um pesadelo, portanto, ler o manuscrito significava destruir, por completo, essa esperança. A minha racionalidade obriga-me a colocar os pés no chão, porque sabe que isso não é possível, mas a minha emotividade leva-me a acalentar uma utopia.
De repente, lembrei-me que não tinha avisado ninguém do jornal. Sempre respeitaram a minha dor e nunca me impuseram uma data para regressar, mas senti que, mais do que nunca, o trabalho poderia ter uma função preponderante na minha sanidade, por isso, fiz por não demorar muito a voltar. Neste momento, já devem estar todos preocupados comigo. É melhor avisar que está tudo bem, que apenas me senti indisposta e que compensaria a minha ausência. E abandonei o envelope por uns segundos, para ir enviar uma mensagem. Como estava à espera, tinha várias tentativas de contacto - e não só de companheiros de profissão -, mas cuidarei delas mais tarde. Depois de informar o meu chefe, regressei ao baloiço. Respirei fundo. E comecei, finalmente, a ler a carta. A tua carta.
Gostei da introdução na história do baloiço.
ResponderEliminarContinuação de uma boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Uma boa leitura que acabei de ter por aqui..
ResponderEliminarIsabel Sá
Brilhos da Moda
Adoro baloiços :) descreveste o que eu penso em relação a eles :) e o meu filhote também gosta muito por causa do ventinho :)
ResponderEliminarEstou a gostar muito de acompanhar esta história está ansiedade de esperar pela leitura da carta está a por-me muito curiosa... não se faz.. venha a próxima semana ou o livro hehe :D
Bjinhosss
https://matildeferreira.co.uk/
E eu que já estava sentada ao pé dela para ler a carta... tenho de esperar :-(
ResponderEliminarOh tenho de esperar para ver como essa tua historia vai acabar pois está bastante internaste
ResponderEliminarBeijinhos
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Tem post novos todos os dias
Encantei-me de novo com esta história.
ResponderEliminarNão revelares ainda o conteúdo da carta, é golpe de mestre.
Não tenho palavras para descrever a tua fotografia, ainda mais bela do que as outras. Foi tirada num jardim de Gaia?
Hasta la vista, Lourenço Botelho!!!
Mal posso esperar para ler, junto com a personagem, essa carta. Ansiosa. :)
ResponderEliminarVi-me sentada naquele baloiço, na pele da Constança. Recuei à infância. E agora como esperar mais uma semana para saber o conteúdo da carta? Vai ser difícil aguentar.
ResponderEliminarA adorar esta história a cada semana que passa :)
Beijinhos!
Aiii, agora a espera!!! Amei a forma como descreveste tão bem cada pormenor ^^
ResponderEliminarBeijinhos,
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Acabei por ir ler os outros textos :D :D
ResponderEliminarR: Sim eu sei que como eu sou Benfiquista de raiz és Portista de raiz ahahah
Visitei a tua cidade este ano e é de facto lindissima! :)
Adorei, adorei, adorei. É incrível como imaginas isto tudo e faz tanto sentido :)
ResponderEliminarOs baloiços também me trazem memórias fascinantes!
Fico à espera de mais, mais e mais <3
R: Também não me costumo interessar por ficção científica, mas esta vale mesmo a pena acredita! Tens de ver até porque preciso urgentemente de alguém com quem possa partilhar todas as conclusões e opiniões ahahah
É surpreendente, porque vai além da ficção, como referi, remete-nos a perguntas que no fundo também temos na nossa vida real. Acreditas que ao ver aquele trailer fiquei com vontade de ver de novo? :D
é tão ler estes teus textos minha querida sou tão fã de baloiços
ResponderEliminarhttp://retromaggie.blogspot.com/
Olá Andreia, tenho que te dizer que a tua escrita é linda, é poética.
ResponderEliminarCada vez gosto mais da história. Desta vez, fiquei como nos filmes de suspense, com o coração acelerado à espera da carta :)
Tens mesmo que começar a publicar as tuas histórias. Parabéns querida!
Fico à espera do próximo capítulo, ansiosamente! :D
Muitos beijinhos
É de uma leitura fluída e tão interessante, que é impossível não ficar “agarrada”.
ResponderEliminarTão bom, espero pela continuação ansiosamente ☺️
Porque tenho a ligeira impressão que irei chorar baba e ranho a ler esta carta? Bem tinha comentado que esta história iria definitivamente, fazer me chorar imenso (não que isso seja mau). Admiro tanto a história do Gonçalo e da Constança. Um amor tão puro, tão mágico. Era bom que todos fossem assim. Mas há muito poucos e nem todos temos a mesma sorte. 😔
ResponderEliminarHá locais que parecem chamar por nós. E que se tornam imediatamente especiais. Vou já ler a carta!
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