Podcasts | As minhas escolhas

Fotografia da minha autoria

«A criatividade não tem preço»

O silêncio é um traço que valorizo e que me conforta: seja quando estou sozinha, na minha bolha de pensamentos, seja quando estou acompanhada pelas minhas pessoas-luz, cuja ligação é tão sólida, que nos possibilita não ter que conversar em todos os segundos, só para evitar que o ambiente fique confrangedor. No entanto, num plano oposto, também aprecio a alma do som e a sensação de aconchego que potencia. Por isso, vou jogando com o equilíbrio. E vou permitindo que a minha casa se encha: com vozes em surdina, no máximo ou sem a representação de qualquer sonoridade.

O meu processo de escrita é sempre marcado por música, pois ampara-me em situações de bloqueio criativo. Mais recentemente, foram os podcasts a invadir a minha rotina, proporcionando-me momentos introspetivos e de descontração. Quando necessito de abrir a porta da minha imaginação, a melodia das canções faz-me viajar e mantém-me a mente enérgica. Porém, reconforta-me a certeza de pausa. E há algo de encantador em poder estar sentada na minha secretária - a escolher fotografias, a editá-las ou a organizar a semana - a escutar uma conversa descomplicada ou um monólogo sobre um conjunto vasto de temáticas. Esta dinâmica é mesmo gratificante e envolvente.

A diversidade é inesgotável. E o caráter lúdico leva-me a observar o mundo de perspetivas novas, para além de abraçar uma forma de entretenimento distinta. Nesta caminhada que se tem revelado perfeita, há cinco podcasts que já não dispenso.

Ar Livre | Salvador Martinha é um dos humoristas que mais me enche as medidas, mas comecei a acompanhar este seu projeto numa fase bastante adiantada. Portanto, sempre que me é possível, embarco nos episódios que tenho em atraso e deixo-me cativar pela sua liberdade. Pela multiplicidade de temas. E pela visão que partilha sobre os mesmos. Num registo muito próprio, revela o lado camaleónico do humorista. E provoca-nos uma vontade imensa de estar ao seu lado a debater determinados assuntos. Porque a sua partilha é sempre perspicaz.

Traz Cerveja | Diogo Faro e Pedro Durão criaram um podcast «de conclusões pouco sóbrias sobre o que [lhes] apetecer», analisando «acontecimentos marcantes, globais, pessoais ou animais». E, tendo em conta que «nenhuma conversa se faz com sede», os convidados têm a responsabilidade de, tal como o nome permite antever, levar cerveja. O ambiente informal, que oscila entre o humor e aspetos mais sérios - ainda que descambem com facilidade -, faz-nos sentir próximos, como se estivéssemos a participar numa conversa entre amigos. Porque não há filtros. Aprecio, particularmente, a diversidade de convidados, abrangendo várias áreas [e artes]. Além disso, sinto que foi o projeto em que mais notei evolução. Aguardo, ansiosamente, novos episódios.

Ask.tm | Pedro Teixeira da Mota é um dos novos rostos da comédia. Para além de ser fã do seu humor, divirto-me com a aleatoriedade de temas e com as desconstruções que nos apresenta. O seu pensamento é muito vincado. E o seu traço sarcástico não passa despercebido. Já a sua criatividade não tem limites, uma vez que tem a sublime capacidade de criar teorias e conceitos novos. Aqui há espaço para tudo e o mais curioso é constatar as sucessivas pontes que tornam as transições entre assuntos naturais. Respondendo a perguntas de ouvintes - deixadas no twitter e, agora também, no patreon - divaga por esta rede de originalidade. Temos encontro marcado todos os domingos.

Brainstorm | Daniel Carapeto aventurou-se no podcast. E, apesar de só estarem disponíveis três episódios, atendendo que é um programa recente, gosto da dinâmica que criou. A duração de cada um deles é mais longa, ultrapassando uma hora, mas a presença de convidados acaba por fluir o momento e por dar asas a reflexões que, à partida, poderiam não acontecer a solo. Os temas são uma espécie de manta de retalhos, com graça e com pertinência. E têm surgido discussões mesmo interessantes. Estou a adorar descobrir esta sua faceta.

Sozinho em Casa | Guilherme Geirinhas tem sido uma companhia fabulosa, até porque tem explorado assuntos de máxima relevância, sem máscaras e com muita verdade. Além do mais, mesmo que possam existir segmentos humorísticos, não há uma tentativa de satirizar cada fragmento. E conversando sobre algo que o afeta diretamente, proporciona um registo mais intimista, envolvendo-nos em constantes reflexões.

O formato em si não sofre metamorfoses. Contudo, nenhum episódio é igual. E esse lado imprevisível, que aumenta a curiosidade, transmite-nos uma sensação de novidade singular. Existem, ainda, três podcasts que não acompanho com frequência, mas que pretendo adicionar à minha lista: Tudo o Resto [conduzido pela Filipa Galrão e onde descobri camadas inspiradoras de alguns entrevistados], Cada um Sabe de Si [dinamizado pela dupla Joana Azevedo e Diogo Beja] e Segundo [da autoria de Dário Guerreiro, mais conhecido por Môce dum Cabréste]. Porque acredito que crescemos nesta partilha. E nesta maneira dicotómica, plural e livre de observar o que nos rodeia, desde o detalhe mais insignificante ao problema mais profundo, uma vez que tudo faz parte deste mundo que nos acolhe no seu regaço.

Costumam ouvir podcasts? Quais?