TBC | As Mulheres da Minha Vida

Fotografia da minha autoria

«Mulher poderosa incomoda meio mundo, mas fascina o mundo inteiro»

Mulher. Botão de camélia a florescer. Jardim em flor. Com o futuro em ascensão. Não me recordo de, algum dia, ter tido desejo de não ser mulher, por muito que, por vezes, parecesse mais facilitado ser homem - mas, neste contexto social, nunca o será, porque o preconceito não está só no género. Vem de dentro, de um lugar escuro de uma personalidade frágil e sem amor próprio. Porém, mesmo em menina, sempre senti um orgulho visceral - e inexplicável - de ser mulher. Num bem-estar pleno com a minha essência, com a minha feminilidade - nesta vaidade que nunca me retirou o doce traço de consciência e humildade.

Acredito, com todo o meu coração, que lutar pela igualdade passa por reformular a perceção que temos dos nossos semelhantes. Não é correto tratá-los com condescendência, mas fomentar a empatia é crucial. Por isso, sinto que a valorização é uma medida indispensável, que procuro fazer prevalecer, sobretudo, quando diz respeito a pessoas: quer aos profissionais que admiro, quer - e principalmente -, àqueles que me são próximos. Portanto, quando a Sofia [A Sofia World], a Sónia [By The Library] e a Lyne [Imperium], ao revelarem o tema do The Bibliophile Club para março, lançaram o desafio de falarmos sobre as mulheres da nossa vida, fez-me todo o sentido abraçar esta odisseia.

Sem qualquer desprimor pelos homens da minha fortaleza, porque são um exemplo máximo, a verdade é que cresci - e continuo a crescer - no meio de mulheres excecionais, que me ensinaram a ser sem restrições, a olhar os outros como iguais e a preservar apenas o essencial - em casa e na alma. Com a minha avó materna aprendi o que é amar por inteiro, mesmo quando o nosso porto seguro parte. E eu sempre sonhei com um amor assim: pleno, genuíno, que sobreviva a tudo. E nem ter vivido os últimos três meses e meio da sua vida numa cama de hospital a fez perder o sorriso. Tinha um dos melhores colos e um coração como nunca vi igual! A minha mãe, que herdou o melhor da minha avó [menos os olhos azuis], é a minha confidente. É o meu foco de luz e quem me permite voar sem deixar de ter os pés bem assentes na terra. A minha comadre e a minha prima S. são a minha maior referência quando penso em resiliência. A minha madrinha, que sempre me fez sentir em casa, continua a ser uma figura guerreira e um ombro que não quero perder. A minha avó paterna enfrentou um cancro de frente. Perdeu a guerra, mas deu-lhe luta por várias batalhas. A minha tia J. mantém a energia de saber aproveitar a vida. E a minha melhor amiga tem um sentido de missão inspirador, que me motiva sempre a fazer mais e a ser melhor ser humano. Num plano não menos importante, a minha afilhada, a minha sobrinha, a L. e a J. não só me trazem uma elevada dose de loucura, como também alimentam a conversa descomplicada e o sentido de pertença. Cada uma destas mulheres é um laço vincado no meu caráter. E, ocupando um lugar distinto no lado esquerdo do meu peito, tenho-lhes um profundo respeito. E um amor incondicional.

O meu crescimento, ainda assim, não é isento no impacto de personagens femininas das mais diversas áreas: rendi-me ao espírito lutador e determinado de Mulan. Percebi com a Bela que a beleza interior não se compara e que é muito mais especial. Encontrei em Eunice Muñoz a alavanca para a noção de compromisso. Foi com Torey Hayen, que desenvolve um trabalho fabuloso na educação, que compreendi a minha paixão pela leitura. E com Elizabeth Bennet descobri que o papel da mulher é muito mais poderoso que possíveis estereótipos. Porque nós somos o que quisermos ser. Por essa razão, sou muito grata a todas aquelas que se cruzaram no meu caminho - real, literário, cinematográfico, televisivo. Sei que me tornaram melhor. E mais consciente de causas pertinentes e do poder que posso ter enquanto pessoa, no geral, e enquanto mulher, em particular. Porque também tenho uma voz que pode fazer a diferença.

Por mais que soe a lugar comum, também eu sou a mulher da minha vida. Porque não desisto de quem sou. Porque sou chão, mas também sei ser ponte. Porque defendo os meus ideais. Porque o amanhã é incerto, com um caminho longo por conquistar, mas não fecho a porta. Abro o portão e improviso a partida, como um dia escreveu Ary dos Santos. Porque recomeço, todos os dias, quando me olho ao espelho e amo cada pedaço meu. Porque «estou de pé». «E o [meu] nome é liberdade». Ser mulher é um privilégio. Principalmente, quando observo o que me rodeia e divido palco com personalidades tão distintas e inigualáveis: de dentro para fora. Prontas para conquistar o mundo!