Uma Dúzia de Livros // Março
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Fotografia da minha autoria
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Tema: Um Clássico
A magia das grandes histórias esconde-se na capacidade de se manterem alicerçadas à nossa memória: para lá do tempo e dos enredos que abracemos à posteriori. Porque a sua mensagem permanece atual. Pertinente. E é já uma parte daquilo que somos, moldando e maturando o nosso caráter. Por isso é que existem clássicos incontornáveis - e cada pessoa tem os seus [aqui]: porque tecem uma ligação transversal e camaleónica, adaptando-se à modernidade e desencadeando uma identificação automática.
O terceiro tema de Uma Dúzia de Livros foi, possivelmente, o que me provocou maior hesitação. Se, por um lado, pretendia enveredar por uma obra desconhecida, por outro, também senti o doce chamamento para regressar a um dos livros da minha vida. Por muito que me entusiasme a novidade, considero que existem narrativas a merecer uma releitura: pela qualidade da escrita, pelas sensações que despoletam e pelas inesgotáveis aprendizagens, pois há sempre aspetos que aprofundamos com mais clareza, dependendo do momento em que nos dedicamos à história. Portanto, seguindo a voz do meu coração, avancei pela segunda estrada. E reencontrei-me com Jane Austen.
Orgulho e Preconceito é uma porta aberta para o mundo, na medida em que se sustenta numa descrição exímia da época a que se remonta - sem se restringir à mesma -, focando os costumes, os valores e as relações antagónicas da sociedade. Neste ambiente de pequena burguesia, compreendemos o quanto a mesquinhez e a cobiça adquirem força. Há uma grande importância atribuída à fortuna, à imagem e ao impacto das primeiras impressões - nem sempre fiéis à verdadeira essência do visado. Além disso, é quase palpável a presunção, a maledicência, o desprezo, a futilidade e a sensação de superioridade. E, depois, é curiosa a forma como os intervenientes coabitam e interagem, gerindo egos e proporcionando momentos tensos e dramáticos, mas também cómicos e com um certo exagero. A personalidade imputada a cada personagem cria uma dinâmica muito própria - e fluída -, representando identidades dos diferentes estratos sociais. E é fascinante tentar desmistificá-los, mesmo que nos pareçam óbvios os seus contornos. Assim, o enredo torna-se mais significativo: pela premissa e por todas as divergências e situações de conflito - inter e intrapessoais.
A pluralidade da obra é outra particularidade a destacar, pois tão depressa somos envolvidos numa história de amor, como, logo de seguida, refletimos acerca de questões políticas e territoriais [presentes nas entrelinhas]; e transitamos para um registo mais introspetivo, no qual desconstruímos o orgulho e o preconceito cegos e onde, em simultâneo, constatamos que os juízos de valor não são exclusivos de um determinado grupo social. Independentemente da riqueza, todos temos ocasiões em que cedemos à tentação de julgar o outro, pelos mais diversos motivos. Ainda que, mais tarde, esta apreciação se revele desajustada e injusta, não deixa de ser interessante verificar que tudo naquela pessoa é, à partida, desprezível, ao ponto de questionarmos as suas ações. Dentro desta perspetiva, inconscientemente, é mais simples acreditar nas conjeturas de terceiros do que dar o benefício da dúvida. Por vezes, a nossa ingenuidade e, até, a má vontade não têm limites.
A relação de Elizabeth e Darcy é, para mim, um elemento central, porque são duas personalidades sólidas, com opiniões vincadas e uma visão singular da realidade - já para não falar do quanto se completam e influenciam sem terem uma clara noção disso. No entanto, agrada-me imenso o facto de, neste livro, encontrarmos um equilíbrio constante entre todos os envolvidos. Naturalmente, existem figuras principais, mas as secundárias não perdem protagonismo. E esta gestão não me parece simples, o que só revela a mestria da autora, pois são estes detalhes que concedem mais encanto à história. Particularizando, rendo-me sempre a Lizzy e a Darcy [que ligação especial esta], a Jane [quer pelo temperamento, quer pela cumplicidade com a irmã] e com o Sr. Bennet, cujo sarcasmo é precioso. É tão fácil empatizarmos com cada um deles, mesmo que possamos não compreender ou concordar com todas as suas motivações, porque há honestidade na maneira como se apresentam e como crescem no decorrer da narrativa, comprovando que existe tempo para mudarmos a nossa postura.
Orgulho e Preconceito tem uma crítica social clara. Através da ironia e da sátira, expõem-se a ganância, a ociosidade, a conveniência, o jogo de interesses, a hipocrisia. Num plano oposto, partilha também o peso dos sentimentos, a fragilidade humana e o papel da mulher - e os parâmetros a que tem que corresponder. Nesta dicotomia de status, é incrível como tendemos a ser arrogantes com o que nos deixa desconfortáveis social e sentimentalmente. Sinto que amadurecemos com as personagens. E que os nossos horizontes se expandem com a quebra de estereótipos - tão vincados no início. Além disso, não posso ignorar o momento em que Darcy revela os seus sentimentos por Elizabeth. Este ponto de viragem é crucial para todos. Afinal, nem sempre uma ligação que tinha tudo para correr mal significa desastre. E ainda bem. Porque potenciou uma obra de arte que nos apaixonará eternamente.
Deixo-vos, agora, com algumas citações:
«- Oh! Sabes? O que tu tens é uma capacidade ampla de mais para gostares das pessoas em geral. Nunca vês mal em ninguém. Todo o mundo é bom e agradável aos teus olhares. Nunca na minha vida te ouvi criticar um ser humano.
- É que procuro sempre não me precipitar no juízo que faço das outras pessoas; mas digo sempre o que penso» [p:13];
«- Oferece-te uma difícil alternativa, Elizabeth. A partir de hoje não passarás de uma estranha aos olhos de um de nós. Se não casas com o Sr. Collins, tua mãe nunca mais te quererá ver; se casas, serei eu que te repudiarei» [p:85];
«- Em vão tenho lutado, mas de nada serve. Os meus sentimentos não podem ser reprimidos e permita-me dizer-lhe que a admiro e a amo ardentemente» [p:139].
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Ainda não o li mas fica a sugestão, aproveito para desejar a continuação de uma boa semana.
ResponderEliminarAndarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Se tiver oportunidade, aconselho imenso esta leitura *-*
EliminarObrigada e igualmente!
Já ouvi falar do filme, mas nunca li o livro. Obrigada pela sugestão.
ResponderEliminarBeijinhos *.*
Recomendo ambos, minha querida *-*
EliminarBeijinho grande
Não li o livro mas adoro o filme!!!
ResponderEliminarTambém adoro o filme! Mas o livro tem um traço ainda mais especial *-*
EliminarUltimamente os romances de Jane Austen têm sido filmados sem dó nem piada, coisa que decerto modo me irrita, porque muita boa gente vê os filmes e não lê os livros. Um filme NUNCA expressa a beleza das palavras e a ironia da escritora britânica.
ResponderEliminarO único filme que vi foi, precisamente, Orgulho e Preconceito. E, do que me recordo, sinto que até está fiel à obra escrita. Apesar de tudo, é claro que o livro tem outro encanto!
EliminarGostei da publicação :))
ResponderEliminarHoje:- Brincando com as Palavras.
Bjos
Votos de uma óptima Quinta - Feira.
Muito obrigada!
EliminarExcelente escolha :) Vi o filme na minha adolescência e gostei bastante :)
ResponderEliminarBeijinhos
https://matildeferreira.co.uk
Tenho que rever, também, o filme :)
EliminarBeijinho grande, minha querida*
É um livro tão giro :) Beijinhos*
ResponderEliminarA história é mesmo maravilhosa!
EliminarAcho que nunca li nada dela mas tenho muita curiosidade devido às criticas fantásticas que vou lendo.
ResponderEliminarhttps://www.sonhamasrealiza.pt
Se tiveres curiosidade, recomendo muito a leitura! Ainda só li este e Sensibilidade e Bom Senso, do qual também gostei bastante, mas sinto que é daquelas autoras que valem sempre a pena ter por perto :)
EliminarOlá Andreia
ResponderEliminarEu já li esse livro 2 vezes, vi a série e o filme. Adoro.
XOXO
marisasclosetblog.com
Agora tenho que rever o filme *-*
EliminarComo te compreendo!
Confesso que não é coisa que faça é ler livros, mas vou falar desse a quem ler por cá em casa
ResponderEliminarBeijinhos
Novo post
Tem post novos todos os dias
Despertei tarde para a leitura, mas, desde então, tem sido uma verdade aliada. Experienciamos tanto com um livro *-*
EliminarNunca li, mas fica a dica.
ResponderEliminarIsabel Sá
Brilhos da Moda
Vale muito a pena :)
EliminarAcho que é uma boa sugestão de leitura.
ResponderEliminarGostei da tua foto, muito boa.
Andreia, bom resto de semana.
Beijo.
É um dos meus livros favoritos de e para sempre *-*
EliminarMuito obrigada!
Igualmente*
Até tenho vergonha de dizer, mas apesar da curiosidade nunca li esse livro!
ResponderEliminarBjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram
Não tens que ter vergonha, acaba por ser algo natural: há sempre tantas histórias a chamar-nos à atenção, que alguma tem que ficar para segundo plano.
EliminarSe tiveres oportunidade, aconselho :)
Nunca li, mas ando há imenso tempo com vontade de ler este livro!
ResponderEliminarTenho de ver se o compro :)
Apoio essa vontade :D
EliminarVale mesmo muito a pena, ainda que eu seja suspeita
É um clássico, de fato, uma grande obra, sem dúvida. Mas eu discordo do conteúdo da primeira citação que fizeste aí, eu vejo o bem e também o mal em qualquer pessoa, hehe! Afinal, ninguém é unilateral. Ninguém é uma coisa só. Somos todos um pouco de tudo. Freud, se não me engano, foi quem disse que os russos e os irlandeses, por exemplo, não tinham receio de mostrar suas sombras, e nesse ponto eu me identifico com eles, apesar de ser tão diferente em outros aspectos. O que torna Orgulho e Preconceito interessante é, na minha opinião, justamente o fato de haver nele tantas críticas sociais através da ironia. Um abraço, Andreia.
ResponderEliminarSinto que a generalidade das pessoas - eu incluída - também, porque, ainda que procuremos ver o melhor de cada um, acabamos sempre por detetar pormenores que não nos caem tão bem.
EliminarSim, sem dúvida, somos várias coisas. O que nos distingue é a nossa capacidade de fazer sobressair coisas diferentes.
Jane Austen conseguiu construir uma narrativa maravilhosa, onde cada crítica aparece no momento e no contexto certo. Genial *-*
Andreia gostei da sua sugestão de livro o livro é bastante fluído, ainda não tive a oportunidade de ler, mais guardo a sua dica bjs.
ResponderEliminarRecomendo :) muito obrigada!
EliminarLovely Mr. Darcy!
ResponderEliminarCríticas sociais, infelizmente, tão actuais.
Beijinho
É impossível ignorá-lo *-*
EliminarPois é, infelizmente, é bem verdade
Nem eu :o Não consigo mesmo gostar ahahah
ResponderEliminarFinalmente voltei às leitura *yeeeeey*!
Não conhecia este mas fiquei com ele fisgado até porque sou muito dado a cenários de época!! além disso o tema é interessantíssimo! :D
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Instagram ∫ Facebook Official Page ∫ Miguel Gouveia / Blog Pieces Of Me :D
Aquela sensação, como referiste, de a roupa ter ido lavar toda junta não me convence ahahah
EliminarYeeeah, que bom, meu anjo *-*
Tens que ler, vale mesmo muito a pena!
Vi o filme, mas fiquei sempre com a curiosidade do livro.
ResponderEliminarTenho mesmo de ponderar comprar :)
O filme também está incrível! Mas o livro tem outro encanto *-*
EliminarAdoro que marcas os livros como eu <3 <3
ResponderEliminarNunca li orgulho e preconceito, acho que tenho 'preconceito' com a história xD
Que coincidência boa ♥
EliminarNão tenhas, vale muito a pena a história!
Jane Austen é mencionada em muitos filmes e situações, pelo que, por si só desperta-me muito interesse. Além disso, já vi o filme sobre a história que falas - acredito que não seja a mesma coisa, mas adorei a história :)
ResponderEliminarAté tenho a ideia de que o vi por aconselhamento teu eheh
O filme também é um dos meus favoritos. E, apesar de já o ter visto há vários anos, sinto que representa bem o livro!
EliminarOh, que bom ♥
Já vi o filme que adorei... e já o li, há algum tempo... sei que gostei imenso... e se calhar talvez repita a leitura, no próximo Verão, nas férias... pois é na minha casa onde passo o Verão, que o livro lá está!... Excelente sugestão, que me deste!...
ResponderEliminarBeijinhos!
Ana
Também adorei o filme e tenho que o rever *-*
EliminarO livro tem uma alma tão encantadora, que me apaixono sempre que o releio