Abril. O meu mês. O mês de pessoas que me são tanto. Trouxe no regaço dias de muita chuva. Mas também de mistério. De comemorações. De reencontros. De realização de sonhos. Este quarto capítulo tinha vários argumentos para ser especial. E não me falhou. Por isso, sei que me deixará cheia de saudades, porque me revestiu de memórias e abraços inesquecíveis. Estou pronta para receber maio! Abril deu-me alento suficiente para seguir viagem, de coração pleno.
Fotografia da minha autoria
«Os binóculos são os melhores para ver pássaros, de longe»
A passagem do tempo, por mais que soe a lugar comum, é fascinante e curiosa. Porque sentimo-la de uma maneira muito particular, dependendo sempre do que ansiamos. E do quanto desejamos que chegue determinado acontecimento. Quando escrevi sobre Roda Bota Fora, partilhei a esperança de realizarem uma tour que incluísse o Porto. Concretizou-se. E eu adquiri bilhetes com mais de um mês de antecedência. No entanto, a data tardava a chegar. E, depois, passou num sopro. E eu só queria ter o dom de eternizar esta noite épica.
«Se eu pudesse regressar àquele dia
E não seguir em frente como queria
Talvez vivesse sem esta vontade
Se eu tivesse tido forças para ficar
E deixasse um vazio no teu lugar
Eu talvez vivesse sem esta saudade
Fotografia da minha autoria
... Setas Autocolantes!
[Os meus livros, sem terem o proprietário registado nas primeiras páginas, são facilmente identificáveis, porque associei-lhes uma imagem própria: as setas autocolantes coloridas. Isto porque há sempre passagens que me marcam. No entanto, como não gosto de sublinhar o texto, nem de vincar as folhas, senti necessidade de encontrar uma alternativa. E este artigo de papelaria - outra das minhas perdições - pareceu-me a melhor solução. Quando chego à minha estante e pego em algum exemplar, sei que há vida no seu interior. Porque já o li e fiz por destacar aquelas citações onde quererei sempre regressar]
«As crianças sabem tudo, excepto como é maravilhoso ser criança. Eu própria não sabia, mas essa é a vantagem de não sermos adultos, não pensamos no futuro, aproveitamos apenas o presente. Se há coisa em que a internet é boa, é em dar-nos mais facilidade para chegar ao outro. Por isso, a vocês jovens que estão a ler isto: aproveitem muito esta fase incrível, vai passar tudo muito rápido e quando se aperceberem disso a vossa adolescência será apenas uma lembrança, por isso criem as melhores memórias que conseguirem. Aos meus amigos de infância: Obrigada por todas as gargalhadas, brigas, amores e desamores que me proporcionaram, graças a elas a criança que fui orgulha-se da adulta em que me tornei».
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Tema: Thrillers e Mistério
O início do mês de abril foi um pouco antagónico no que diz respeito a leituras. Se, por um lado, comecei por me aventurar num autor desconhecido. Por outro, logo de seguida, regressei a um porto seguro. E tudo porque o tema quatro do The Bibliophile Club privilegiou os thrillers e o mistério, que assumem um lugar de destaque nas minhas preferências, uma vez que têm um registo que me entusiasma. Portanto, sentindo-me em casa, a minha escolha só podia ser feita no feminino, porque nunca recuso a companhia da Rainha do Crime.
Fotografia da minha autoria
«São linhas que percorro»
O mês de abril trouxe no seu regaço belas novidades musicais. Nomeadamente, em relação a um artista nacional que eu admiro. Cresci a ouvi-lo nos Fingertips. E, anos mais tarde, acompanhei o seu renascer enquanto Darko. Independentemente da identidade que assuma, o talento é inegável e absolutamente identificável. E, agora, em nome próprio, Zé Manel volta a demonstrar o músico brilhante que é, inspirando-nos através de um disco que é uma autêntica história de amor.
Fotografia da minha autoria
«A vida é feita de muitos dilemas»
O caminho da generalização é inglório, perigoso e, maioritariamente, desnecessário. Não só porque nos reduz a um padrão único, mas também pela inutilidade, porque nunca teremos dados suficientes que nos permitam alcançar uma verdade irrefutável. Ainda assim, acredito que um dos maiores dramas de um leitor se relacione com uma pergunta muito particular: comprar ou requisitar livros?
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«Eu até entro no seu jogo, mas já vou avisando
que não gosto de perder»
A minha personalidade aparenta uma energia dócil. Inocente. E, por vezes, frágil. Mas há um recanto que apenas eu sei de cor, porque o meu olhar oculta uma certa malícia na minha postura. Aprendi a provocar-te. E a tirar o máximo de prazer dessa experiência. É que, inconscientemente, por mais que tentes fugir, cais sempre na minha armadilha. É-te impossível não responder aos meus avanços. E isso só faz com que te ame mais. A tua alma cheia de certezas, mas camuflada de uma ingenuidade ímpar, torna-te irresistível.
«São saudades o que eu te tenho
Nem sempre sei de onde venho
Vamos tentar outro espaço
Vamos dar aquele abraço
E voar para longe daqui
Fotografia da minha autoria
... Bolo Red Velvet!
[O meu bolo de aniversário tem sido o mesmo nos últimos três anos. Não dispenso massa folhada - que torna qualquer doce numa maravilha - e rendi-me à conjugação de sabores, onde as framboesas assumem o protagonismo. Visualmente, é de uma elegância que quase me deixa com pena de o cortar. No entanto, o sabor não me permite não ceder à tentação, porque é uma autêntica preciosidade. E, para melhorar, não se torna enjoativo caso pretendamos repetir de imediato. O equilíbrio foi bem alcançado. E não podia estar mais satisfeita com a consistência: fofa, desfazendo-se praticamente ao provarmos. Suave talvez seja a melhor palavra para caracterizar a receita. Este pequeno pedaço de veludo é já uma presença requerida por todos. E o Boca Doce de Avintes nunca me desilude na sua confeção]
Fotografia da minha autoria
«As pessoas ligam a televisão quando querem desligar o cérebro»
A minha rotina só fica plena quando organizo a agenda com programas que permitam quebrá-la. E isso não tem que implicar uma saída - ainda que a possa incluir. Pode, simplesmente, assumir a forma de cinco minutos de leitura. De uma folha de papel branca, onde dê asas aos meus pensamentos. De brincadeiras com os meus gatos. De conversas mais demoradas em família. E, ainda, de episódios das minhas séries de eleição. E como sou quase um livro aberto, é certo que esta última componente ocupa um lugar prioritário durante a seleção.
Fotografia da minha autoria
Tema: Um livro de um autor que nunca leste
A literatura é um mundo inesgotável. Familiar. E de encantos redobrados. Mas não deixa de ser curiosa a nossa predisposição para regressarmos aos mesmos nomes. E eu tenho plena consciência de que não me desvio desta rota por muito tempo. Apesar de procurar diversificar, cedo à saudade - e à tentação - de me fazer acompanhar daqueles que me aquecem o coração, como é o caso de Miguel Esteves Cardoso, Torey Hayden, Miguel Sousa Tavares e Agatha Christie. E embarco neste colo que conheço quase como a palma da minha mão.
Fotografia da minha autoria
«Não encostei meus lábios em sua boca»
Os teus lábios fel
Cor de veneno salgado
Roxo como o sangue que me corrói
Fotografia pessoal
«Eu sou do tamanho daquilo que sinto»
A profunda descoberta de quem somos é o nosso maior desafio. Porque nos implica por inteiro. Porque nos leva a olhar para dentro. E porque requer que nos desembaracemos da sensação de egocentricicidade, com a qual não concordo, uma vez que acredito que só estamos plenos quando nos sabemos de cor. E isso exige compromisso, cedência e dedicação. Mas é dos abraços mais especiais da nossa jornada.
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«Viagens enchem a alma»
A minha alma de viajante anseia pelo momento em que, de roteiro na mão, colocarei vistos nos locais que pretendo palmilhar. Quero abraçar o mundo, mas não sem antes percorrer Portugal de Norte a Sul, porque ainda há muito deste país que me falta explorar. E, sobretudo, porque é o que me faz mais sentido. É o que me faz sentir. E eu priorizo bastante esta sensação de estar em casa, descobrindo rotas por onde nunca segui. A magia desta realidade passa pela certeza de não termos de partir para longe. Basta manter o coração aberto.
Fotografia da minha autoria
«Somos instrumentos musicais que vibram
conforme o conteúdo da nossa mente»
O nosso coração é revestido de gavetas. E cada uma delas compartimenta o que somos e as paixões que nos movem. Dentro de mim, a música respira em liberdade. Define-me. E acompanha todos os meus passos. Porque as melodias tiveram, desde sempre, um grande impacto no meu crescimento e, até, na formação do meu caráter. Apesar de não pertencer a uma família de músicos, o que poderia justificar esta relação tão umbilical, é uma arte que me embala.
Fotografia da minha autoria
«Nos detalhes estão os encontros da vida»
A máquina fotográfica é uma companhia insubstituível. E é raro o dia em que saio de casa sem a colocar na mochila. Porque há sempre pormenores fascinantes à espreita. Além disso, proporcionam um álbum de memórias infinito, um aconchego no peito indescritível e um portal para múltiplas viagens sem sair do lugar - recordando tudo o que tem história na nossa identidade.
Fotografia da minha autoria
«A vida é feita de três quartos de comédia»
É no meio de gargalhadas que descomprimo das inquietações próprias da nossa jornada. Por essa razão, o humor sempre foi uma presença na minha vida: não só pelo claro poder de entretenimento, mas também pelo caráter interventivo e humanitário. Porque, expondo fragilidades da sociedade, coloca temas pertinentes no centro da discussão, quebrando preconceitos e alargando horizontes. A comédia pode não ter a pretensão de consciencializar civicamente, mas tem-se revelado um vínculo valioso nesse sentido.
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«Pássaros têm asas. Pessoas têm livros»
O meu compromisso com a leitura é pleno, mas sem perder o seu traço livre, porque não estabeleço metas excessivas dentro desta componente. Embora procure desafiar-me, permito, muitas vezes, que seja o meu estado de espírito a guiar a minha escolha. E, depois, vou gerindo com o tempo e com a minha disponibilidade emocional, tirando sempre o maior proveito desta experiência tão enriquecedora.
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«As melhores lembranças são feitas de boa comida»
O desfile de pratos sobre a mesa - de preferência, redonda - alimenta-nos o paladar, a gulodice e a alma. Há poucas coisas na vida que nos aproximam tanto como a comida, porque ativa memórias e fomenta a partilha. Além disso, representa uma cultura gastronómica distinta e repleta de identidade. Pode ser o meu lado emocional a falar mais alto, mas até a comida conta histórias. E é mais do que meros elementos conjugados em receitas para todos os gostos.
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«A melhor coisa da vida é conhecer novos lugares»
A possibilidade de regressar a lugares onde senti o meu coração pleno, apesar do risco que lhe associam, desperta-me sempre o lado mais emocional da minha personalidade, levando-me numa travessia única ao passado e às memórias que resistiram à passagem do tempo. No entanto, há um vínculo entusiasmante quando palmilhamos caminhos desconhecidos, principalmente, quando figuram na nossa lista de sonhos antigos. Porque esta sensação de concretizar o que ambicionamos - independentemente da sua natureza - é indescritível.
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«Home Sweet Home»
A decoração nunca foi um tema central no meu crescimento, muito por ser uma gestão assumida, durante toda esta fase, pelos meus pais. Naturalmente, houve sempre partilha de opiniões e gostos, sobretudo, quando as decisões implicavam o meu nicho. Mas, confesso, nunca perdi muito tempo a explorar esta vertente, embora me agradasse a leveza de espaços harmoniosos, minimais e identitários.
«O tempo foge de mim
Queima como sol de fim
De agosto
Se a idade é um posto
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... Mirtilos!
[Ensinaram-me, desde cedo, que a felicidade está presente nas pequenas coisas da vida. Por isso, temos que observar sempre com atenção. E eu não me podia rever mais neste pensamento, porque os mirtilos cabem na palma da minha mão, bem aconchegados e singelos, mas deixam-me plena. E de sorriso largo. Adoro o saber e a textura. E como-os ao natural, nas panquecas ou no iogurte. Só o preço é que não é tão convidativo, na maior parte das vezes. No entanto, não lhes consigo resistir]
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«Fotografar é uma maneira de ver o passado. Fotografar é uma forma de expressão, o "congelamento" de uma situação e seu espaço físico inserido na subjetividade de um realismo virtual»
A despedida de março foi feita à boleia deste mundo tão especial que é Portugal. O despertador tocou cedo. E partimos à [re]descoberta de locais com uma identidade que nos fascina: Amarante, com vista para o Tâmega, deslumbra pelo traço natural, pelo centro histórico, pela Igreja e Convento de São Gonçalo. Atravessando ou não a ponte, as suas ruas preservam histórias. E convidam-nos a palmilhá-las devagar, absorvendo a arquitetura, os detalhes e a energia singular.
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«Três mulheres - Jenny, a avó; Camila, a mãe; Natália, a filha - cruzam destinos e as suas memórias do século neste romance»
O momento em que concluo uma leitura é sempre procedido por um vazio e alguma reflexão. Porque gosto que a história crie raízes no lado esquerdo do meu peito. Portanto, não sou capaz de abrir logo as páginas de um novo livro. Espero. Permito que a mensagem adquira o seu impacto certo. E, só depois, devolvo-a ao lugar que lhe estava destinado na estante. Porém, quando determinadas narrativas não me arrebatam, faço por agilizar o processo e avanço segura para outra. Porque, nesses casos, acredito que não devemos parar muito tempo no que não nos acrescenta, uma vez que há sempre histórias maravilhosas à espreita. E à espera que as abracemos.
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«Estava mesmo a pedi-las»
O tempo avança. Os recursos desenvolvem-se e superam-se. O acesso à informação, para além de ser menos restrito, está mais facilitado e intuitivo. Mas custa-me a acreditar que a sociedade seja evoluída em pleno. Aliás, não o pode ser, porque só essa condição justifica [ainda que não o faça na integra] a normalização da violência, do assédio, da culpabilização das vítimas, tornando os culpados impunes. No entanto, nada disto é grave. É, até, bastante normal.
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«Vamos contribuir para o desenvolvimento de hábitos de leitura e dar a conhecer o mundo do livro infantil a mais pessoas»
As palavras sempre foram uma constante no meu percurso, bem como as histórias. No entanto, talvez numa ordem inversa: primeiro, rendi-me às escritas e, só depois, às lidas. Porque os meus hábitos de leitura não eram tão prioritários como a minha relação com a criatividade que via crescer, através dos meus dedos pequenos e rechonchudos, em papéis que pareciam não ter fim. Apesar de tudo, houve livros que me marcaram e que ainda hoje faço questão de preservar, porque retêm memórias de uma época feliz: a minha infância.
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«A felicidade que trago comigo no peito todos os dias»
Abril de amor. De casa. De mil encantos. Abraço, hoje, aquele que é, para mim, o mês mais bonito do ano. Porque celebro o meu aniversário. Porque comemoro o aniversário de quem me é tanto: o meu avô materno [outra estrela no meu céu], a minha mãe, a minha sobrinha de coração. E a verdade é que, mesmo que a memória seja traiçoeira, nunca me faltaram motivos para o levar no coração. E tenho sido extremamente feliz, numa plenitude serena, que vem com a maturidade, o multiplicar de experiências e a segurança de estar confiante na minha pele. Tendo em conta a minha personalidade, abril assenta-me mesmo bem.
O meu peito pensa em verso. Escrevo a Portugalid[Arte]. E é provável que me encontrem sempre na companhia de um livro, de um caderno e de uma chávena de chá