Sete // Faces do Humor

Fotografia da minha autoria

«A vida é feita de três quartos de comédia»

É no meio de gargalhadas que descomprimo das inquietações próprias da nossa jornada. Por essa razão, o humor sempre foi uma presença na minha vida: não só pelo claro poder de entretenimento, mas também pelo caráter interventivo e humanitário. Porque, expondo fragilidades da sociedade, coloca temas pertinentes no centro da discussão, quebrando preconceitos e alargando horizontes. A comédia pode não ter a pretensão de consciencializar civicamente, mas tem-se revelado um vínculo valioso nesse sentido.

Quando escrevi sobre Erro Crasso, mencionei o quanto cresci com referências que estreitaram o meu laço a esta arte. Fernando Rocha - que se soube reinventar, sem perder a sua identidade - e Bruno Nogueira - tão talentoso e camaleónico - serão sempre as duas personalidades principais nesta minha relação próxima com o humor. Mas fui acrescentando outros nomes à lista, até porque senti essa necessidade de conhecer mais. E, quase todos os dias, em formato de vídeo, de podcast ou, inclusive, de texto, contacto com extensões desta realidade. Porque priorizo a sua manifestação artística. Nas minhas pesquisas no youtube, por exemplo, há uma preferência clara no conteúdo. Por isso, também sou fiel seguidora de Roda Bota Fora, Os Barbixas, os Castro Brothers, Diogo Batáguas ou Môce dum Cabréste. E há espaço constante para novidades.

A minha maturidade, em permanente consolidação, nem sempre me permitiu compreender o tom e a identidade abraçada por alguns profissionais. No entanto, de mente aberta, fui procurando desconstruir a mensagem. E, atendendo a que me familiarizei com a ironia e o sarcasmo, muitas outras componentes começaram a ser mais claras. Além disso, deixei de olhar para o sentido literal de tudo e mergulhei nas entrelinhas da piada. E rendi-me a Rui Sinel de Cordes, que é, muito provavelmente, o caso mais explicativo desta minha mudança de perceção. Reforço a certeza de que nem sempre há um significado social no material que constroem. Por vezes, o objetivo é apenas provocar o riso na plateia. Mas isso, por si só, já seria admirável. Porém, confesso, aprecio este acréscimo de provocação que nos faz pensar para lá do nosso ego.

Tenho plena consciência de que há nomes que me acompanharão para sempre. Que há outros que permanecerão durante uma fase específica. E que existem alguns que, mesmo sem figurarem num topo de preferências, não deixam de ser presença assídua, como é o caso de Guilherme Duarte, António Raminhos e Joana Marques. Nesta dança cómica, que eu tanto admiro, há sete faces humorísticas que não dispenso.

Luís Franco-Bastos: O homem das mil vozes, consciente e visionário. É, sem qualquer dúvida, o profissional que me enche mais as medidas. E nunca será demasiado recordar a sua Voz da Razão.

Diogo Faro: Altamente sarcástico, fascina-me a sua luta ativa pela igualdade - e pela humanidade. E acho maravilhoso que recorra à sua arte para desmascarar problemáticas fraturantes da nossa sociedade.

Bumba na Fofinha: A Mariana Cabral é muito natural na sua forma de abordar os mais diversos assuntos. E esse lado genuíno cativa.

Salvador Martinha: É talento nato. E eu sou uma apreciadora assumida do seu humor e dos trabalhos que tem apresentado. E se há ideias que a nós, comuns mortais, nos parecem completamente descabidas, com o seu cunho ficam perfeitamente exequíveis e hilariantes.

Hugo Sousa: Foi, até à data, dos poucos humoristas que vi em palco. E fiquei conquistada. Porque o seu sentido de oportunidade é crucial e a sua entrega envolve-nos de imediato na piada. Há uma descontração no seu registo que me parece essencial.

Guilherme Fonseca: Na minha opinião, merecia muito mais reconhecimento, não só pela graça genuína, mas também por partir sempre de uma base proximal. Há muita inteligência nas suas piadas.

Pedro Teixeira da Mota/Carlos Coutinho Vilhena/ Guilherme Geirinhas: Têm estilos similares, mas uma identidade muito própria. E só os incluí no mesmo patamar por tê-los conhecido graças a um projeto comum - Bumerangue. As carreiras têm seguido caminhos separados, mas o futuro só poderá ser promissor para os três.

Quais os vossos humoristas favoritos?