Os Livros Da Minha Infância

Fotografia da minha autoria


«Vamos contribuir para o desenvolvimento de hábitos de leitura e dar a conhecer o mundo do livro infantil a mais pessoas»


As palavras sempre foram uma constante no meu percurso, bem como as histórias. No entanto, talvez numa ordem inversa: primeiro, rendi-me às escritas e, só depois, às lidas. Porque os meus hábitos de leitura não eram tão prioritários como a minha relação com a criatividade que via crescer, através dos meus dedos pequenos e rechonchudos, em papéis que pareciam não ter fim. Apesar de tudo, houve livros que me marcaram e que ainda hoje faço questão de preservar, porque retêm memórias de uma época feliz: a minha infância.

O dia do livro infantil celebra-se a dois de abril. E fez-me todo o sentido aceitar o desafio lançado pela conta Leituras Descomplicadas. Não só pela pertinência e pelo caráter extraordinário, mas também porque acredito no potencial de obras destinadas a uma faixa etária mais nova. Além disso, sinto que muitas delas deveriam ser lidas, igualmente, pelos adultos, porque apresentam traços transversais e independentes da idade e, ainda, por terem uma mensagem nobre, que nos [re]aproxima de uma essência pura e dos valores que nunca deveríamos perder. Há qualquer coisa de encantador nas narrativas infantis. Nos mundos paralelos. Nas personagens sublimes, que contribuem para o desenvolvimento da nossa personalidade. E existem histórias que assumem um papel preponderante na nossa maturidade, na nossa educação e, inclusive, na gestão de certos conflitos internos. Portanto, é necessário valorizar a relevância dos livros. Sem qualquer desprimor por todos os outros, este grupo em específico ainda carece de um foco maior. Porque os livros infantis - apesar de existirem bons e maus, como em tudo na vida - são pequenas obras de arte, com um inesgotável universo de aprendizagens significativas.

Embora tenha despertado tarde para a leitura, o meu traço curioso permitiu-me mergulhar em aventuras ímpares: O Principezinho [Antoine de Saint-Exupéry] dispensa apresentações, na medida em que será sempre o meu livro favorito. Histórias de Tempo Vai Tempo Vem [Maria Alberta Menéres] resultou de um «exercício de escrita», potenciando o «sentido poético e humano (...) que a observação e o amor à vida nos oferecem». O Limpa-Palavras e Outros Poemas [Álvaro Magalhães] foi, possivelmente, o meu primeiro contacto com a poesia e com a certeza de que as palavras são especiais. Contos de Princesas [Disney] levou-me a vaguear pelas histórias encantadas que já conhecemos de cor, dando asas à fantasia. Anita no País dos Contos [Gilbert Delahaye] foi a minha primeira viagem sem sair do lugar, pois foi envolta neste texto que compreendi que a nossa imaginação é um lugar mágico. Aladdin ajudou-me a descobrir o impacto dos nossos desejos, da mesma maneira que A Dama e o Vagabundo me demonstrou a importância das ligações e das relações que criamos com os outros. A Gata Borralheira, a julgar pelo desgaste, deve ter sido a obra que mais vezes reli, sendo também aquela que mais me fez sentir o sabor amargo das injustiças. Por fim, Contos da Cidade das Pontes estreitou os meus laços com uma das cidades do meu coração, o Porto, levando-me a palmilhar os recantos dos seus lugares antigos e a transbordar de carisma.

Cresci. E a minha identidade manteve-se de mãos dadas com este género literário, uma vez que sempre tive o sonho de ser Educadora de Infância. No decorrer da minha formação académica, acabei por me cruzar com autores/livros maravilhosos, como Oliver Jeffers [Perdido e Achado, Como Apanhar Uma Estrela, O dia em que os lápis desistiram, entre outros], Maurice Sendak [Onde Vivem os Monstros], A Maior Flor do Mundo [José Saramago], O Livro da Tila [Matilde Rosa Araújo], Cinderela [João Paulo Seara Cardoso], A que sabe a lua? [Michael Grejniec]. Como é simples entender, a oferta é inesgotável. E há uma editora que me faz apaixonar, constantemente, pelos seus exemplares, a Kalandraka. Pela originalidade. Pelas ilustrações belíssimas. Por nos transportar num ambiente misterioso, reconfortante e vibrante. E é com enorme satisfação que verifico a existência deste compromisso e desta aposta. Porque a leitura é um investimento que deve fazer-se desde cedo. E é impossível resistir-lhe quando nos deparamos com volumes tão ricos, que nos desconstroem e que apelam ao nosso imaginário.

Em abril, assumo o compromisso de me aventurar nos livros infantis, até por me trazerem um aconchego redobrado e memórias inesquecíveis. Há algo no seu interior de peripécias múltiplas que transmite amor. Vamos abraçá-lo? Será uma oportunidade maravilhosa!

Comentários

  1. Hoje é o Dia Internacional do Livro Infantil. Costumo como tu escrever sobre as minhas leituras quando era criança, mas este ano não me apetece.

    A leitura era o meu refúgio quando era criança e adolescente. Li demais. Durante os meus estudos fui obrigada a ler como todos que escolhem (eu contra a minha vontade) um curso de Letras.

    Neste momento, tenho amor e ódio aos livros. Até às Páscoa tenho de me separar de pelo menos 50 livros. Já não tenho espaço de entrar no meu escritório.

    Dos livros que mencionados, conheço dois: O Principezinho e a Maior Flor do Mundo. Livros sobre princesas e fadas sempre detestei.

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    1. Verdade, por isso é que me fez todo o sentido celebrá-lo desta forma :)
      Eu apaixonei-me pela leitura tarde, mas, desde então, tem sido uma aliada incrível. E tento ler todos os dias, ainda que nem sempre consiga.
      Nunca é fácil separarmo-nos de livros - mas também o deveria fazer

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  2. Na minha altura não havia Kalandra, pena, porque é mesmo maravilhosa, o meu filhote também gosta.

    Eu metia a mão a tudo o que me aparecia, como mudei muitas vezes de casa não guardei como tu, mas guardo as historias na cabeça.

    Lembro-me melhor de " Uma Chuvada na Careca " do querido Alexandre Honrado ( que faz a tradução do A que sabe a lua? )!

    Beijinhos

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    1. Tem livros lindíssimos e super originais. Fico mesmo fascinada *-*
      Guardas no lugar mais importante: no coração. E isso é maravilhoso.
      Esse não conhecia, mas vou procurar

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  3. Infelizmente comecei a ler já muito mais tarde saltando por cima desta faze juvenil, mas em compensação agora "devoro" livros.
    Um abraço e um bom mês de Abril.

    Andarilhar
    Dedais de Francisco e Idalisa
    O prazer dos livros


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    1. Compreendo, também despertei tarde para a leitura. Atualmente, também devoro livros. Acho que, lá no fundo, acabamos por querer compensar o tempo perdido.

      Obrigada e igualmente

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  4. É bom recordar os tempos de infância com esses livros!

    Isabel Sá
    Brilhos da Moda

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  5. Aprendi a ler aos 5 anos com a ajuda da minha mae, com os livros da Anita :) Andava sempre com eles de lado lado :)
    Tao bom :)
    Beijinhos
    https://matildeferreira.co.uk/

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    1. Os livros da Anita também foram uma ótima companhia. E tinha uma coleção jeitosa, mas não sei o que lhe aconteceu :(

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  6. Oi, Andreia!

    Que postagem linda! Eu também guardo alguns livros da minha infância... Belas recordações!

    Abraços, Cris

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  7. Saudades dos tempos em que lia muitos livros infantis todos assim de seguida!! Adorava!!!
    O "Principezinho" também é um dos meus favoritos, até porque cada vez que se lê temos uma noção diferente dele!

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    1. Que maravilha *-*
      Sinto exatamente o mesmo. Todos os anos, faço questão de reler O Principezinho e é impressionante as novas aprendizagens que me invadem

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  8. Nunca li os livros da Anita, sempre fui um pouco do contra, enquanto todos liam, eu não, eu tinha uma colecção linda que adorava chamada Lilibeth, era semelhante à Anita, tinha a coleção do Pingu, dos contos dos Irmãos Grimm, alguns da Disney, desses O Principezinho também foi uma das minhas leituras que adorei.
    Talvez dos livros que me apaixonaram em criança e me tornaram leitor foram sem dúvida os da Sophia de Mello Breyner Andresen: A Fada Oriana, O Cavaleiro da Dinamarca, A Menina do Mar, O Rapaz de Bronze, A Árvore, A Floresta... são livros que quero muito adquirir e reler, nunca os tive porque eram daqueles que requisitava na biblioteca da escola. ☺️

    MRS. MARGOT

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    1. Trouxe de Portugal, todos esses livros da Sophia de Mello Breyner Andresen, que guardo como relíquias.

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    2. Eu adorava a Anita! Divertia-me imenso com as suas histórias *-*
      Não conhecia essa coleção, confesso.
      A sério? Eu também tinha a do Pingu! Aliás, ainda preservo quatro livros, mas não sei onde se enfiaram os restantes :/
      Um dos meus objetivos é investir na obra de Sophia de Mello Breyner. Neste momento, só tenho A Fada Oriana, O Cavaleiro da Dinamarca e A Floresta

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    3. São daquelas obras que nos confortam Ematejoca. Vale sempre a pena tê-las por perto

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  9. Também li muitos destes, especialmente da Anita :)

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  10. "O Principezinho" também é dos meus livros favoritos. No entanto, a primeira vez que o li já foi durante a adolescência.

    Boa semana, Andreia! 😄

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    1. Tem uma mensagem tão preciosa *-*

      Obrigada e igualmente, Joana

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  11. Confesso que não conhecia todos, mas alguns são bastante familiar
    Beijinhos
    Novo post
    Tem post novos todos os dias

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  12. Respostas
    1. Há histórias que nos marcam para sempre *-* muito obrigada!

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  13. Livros infantis "propriamente ditos" não me lembro, sinceramente. Lia muita banda desenhada e, em criança, não tinha muito esse hábito. No entanto, depois comecei a ler os livros da colecção da "Uma Aventura" e, a partir daí, foi sempre a ler uns atrás dos outros. Lembro-me de ter lido "A Lua de Joana", que é um livro que toda a gente deveria ler uma vez na sua vida (marcou-me imenso) e outro que me marcou foi "O Diário de Anne Frank".

    Beijinhos,
    Ricardo, www.opinguimsemasas.pt

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    1. Também li alguns da coleção Uma Aventura :)
      A Lua de Joana, confesso, ainda não li. Mas irei fazê-lo ainda este ano!
      Finalmente, consegui dedicar-me a ler O Diário de Anne Frank. É, sem dúvida, um testemunho que nos desarma. Lamento ter demorado tanto tempo a adquiri-lo

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  14. Os hábitos de leitura começam, quase sempre, quando ainda temos a cabeça e o espírito liberto para aprender: quando crianças.
    Vou fazer aqui uma confissão: as poucas vezes que roubei dinheiro ao meu pai, foi para comprar livros.
    Naquela época as coisas não andavam bem lá por casa. O velhote estava "agarrado" ao álcool e a minha mãe esfalfava-se para manter o negócio da fruta e hortaliça que tinha. O meu pai tentava manter um negócio de melões, na beira da estrada, mas como passava o dia na taberna, punha-me a vender melões. Como eu entendia que o dinheiro era mais bem empregue em livros da coleção "Formiguinha", que eu vendia juntamente com os jornais e algumas revistas, "desviava" uns trocos para o meu negócio. No fim era dinheiro em caixa: roubava dos melões do velho e investia nos livros que eu próprio vendia. Além disso, cada livro que eu comprava (4 tostões), era menos um copo de vinho que ele bebia. eheheh

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    1. Esqueci-me de dizer que isto se passou nos finais do ano de 1963, quando do assassinato do presidente John F. Kennedy.
      Bons tempos e maus tempos, ao mesmo tempo. :(

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    2. Foi por uma boa causa!
      Lamento ler isso. E acredito que não tenham sido tempos nada fáceis :/
      Criaste aí um belo negócio :p

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    3. Obrigada por partilhares estas memórias comigo, fico mesmo sensibilizada!
      Tempos que marcam para sempre

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  15. Também são do meu tempo! Que saudades! :)

    www.amarcadamarta.pt

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  16. Foi graças a estes livros que me apaixonei pela leitura. Eram o meu refúgio. Ainda hoje as melhoras prendas são livros. Feliz Dia do livro infantil e que possamos ser sempre crianças.

    Beijinhos :*

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    1. «Ainda hoje as melhores prendas são livros», não poderia estar mais de acordo. São ofertas mesmo especiais *-*
      É isso mesmo, minha querida!

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  17. Anita ❤️ tive acesso à coleção enorme da minha mãe e ainda hoje me derreto com as ilustrações e com a doçura das narrativas. Li tanto em criança e leram-me tanto (adorava ouvir histórias na cama) que não consigo enumerar os livros que me marcaram. Apesar de haver duas histórias que ainda hoje mexem comigo. "Anita descobre a música" e "A menina que vendia caixas de fósforos".

    Hoje em dia posso dizer que tenho uma coleção de livros infantis maior do que de livros para mim 😂 é mais difícil resistir a um bom livro infantil! Aconselho-te o livro "O urso, o piano, o cão e o violino". Vais adorar, tenho a certeza ❤️

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    1. Eram maravilhosas! Como resistir *-*
      Ouvir histórias na cama tem um toque especial, um conforto extra. Se um dia for mãe, certamente, farei por ter este hábito tão saudável!
      Muito obrigada pela sugestão, minha querida. Vou procurar ❤️

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  18. Olha agradeço-te imenso! Fiquei com muitas ideias de livros para o Príncipe :D


    Beijinhos,
    O meu reino da noite
    facebook | instagram | bloglovin

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  19. Conheço todos os livros que referes.
    Trabalho com crianças na vertente de os incentivar para a leitura.
    Tem dado alguns frutos, mas quando chegam à adolescência perdem-se um bocado.
    Beijinho

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    1. Esse incentivo é precioso, até porque, acredito, pode minimizar essa perda durante a adolescência. Acho que, de um modo geral, acabamos todos por passar fases menos próximas da leitura, mas se tivermos alguém que puxe por nós é bem mais fácil

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  20. Os contos infantis marcam-nos sempre. O Pedro eo Lobo é um desses casos :)
    Livros da anita, li apenas um que me deram. A minha irmã tinha vários e lia os dela.

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    1. O Pedro e o Lobo é outra história fantástica, sem dúvida!
      É preciso saber aproveitar recursos :p ahah

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  21. Esses livros são maravilhoso amei a postagem obrigado pela visita.
    Blog:https://arrasandonobatomvermelho.blogspot.com/
    Canal: https://www.youtube.com/watch?v=DmO8csZDARM

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  22. A Silka é sem dúvida o meu livro de infância. Quando era pequenina não entendia a verdadeira mensagem da história, mas sempre gostei da 'melancolia' que ela transmite.

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    1. Há histórias para as quais ainda não estamos preparados, mas é quando crescemos que compreendemos o verdadeiro significado da sua mensagem. E eu acho isso maravilhoso, porque nos envolve de uma maneira muito particular *-*

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  23. Where the Wild things are e O Princepezinho são os amores da minha vida e o que me fez gostar de ler! que partilha deliciosa!


    https://fipaintsthetownread.blogspot.com/

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    1. Oh, que bom. Fico tão feliz! São livros mesmo especiais *-*
      Muito obrigada

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  24. Oh meu Deus, que nostalgia! Li alguns dos que enumeras, as aventuras da Anita estão-me mesmo no coração ❤ Bem como outros tantos.
    Lembro-me também que nessa altura era viciadíssima nos livros de "Uma aventura..." :)
    Vou ver o que encontro aqui em casa e mal tenha tempo vou sentar-me a ler e a recordar. Que maravilha!

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    1. A Anita tem um encanto muito especial, que prevalece no tempo ❤
      Também li alguns livros de Uma Aventura, que saudades!
      Oh, que bom *-*

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  25. Assim que li o título deste post tive de guardar imediatamente para ler mais tarde :P
    Não podia deixar passar :)

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  26. Adorei fazer uma viagem até à minha juventude, através de alguns títulos que mencionaste!...
    Adorei este teu post! Beijinhos
    Ana

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