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FAVORITOS DE 2023:
AS PUBLICAÇÕES FAVORITAS

by - dezembro 28, 2023

Fotografia da minha autoria



«Escrever é a forma de mudar o meu mundo»


As palavras pesam e eu gosto de sentir o peso da caneta enquanto estruturo os meus pensamentos e as minhas ideias para textos novos. Nem sempre termino onde idealizei, quase sempre acabo a explorar novas perspetivas, mas creio que essa é, também, a magia de criar conteúdo, de fazer nascer um conto, um poema, uma história. Perco-me nas folhas em branco, mas encontro-me sempre nestas margens. No Entre Margens.

No tema O Lugar, Tiago Bettencourt canta «aqui tudo é tão novo, tudo pode ser meu» e é isso que eu sinto, não só em relação à escrita, mas também em relação ao blogue, que é a minha plataforma principal. Porque este é o meu lugar e quero que ele me acolha, que me transforme. O resto vai-se edificando. Palavra a palavra.

Este ano, descobri-me um pouco mais, mesmo tendo abrandado as publicações, porque fez-me sentido tirar tempo ao fim de semana para outras paixões. Ao passar em revista os artigos que partilhei, tenho a perceção que refleti menos sobre assuntos em específico. Por outro lado, escrevi mais poesia, mais sobre livros e aventurei-me nos contos. Trouxe um pouco mais de cultura, em consequência dos espetáculos que assisti, e fui largando a mão de rubricas que já não são bem aquilo que procuro. Nem sempre tive consciência disso, mas 2023 foi desafiante, porque duvidei da minha voz e da minha inspiração. Ainda assim, compensou.

O próximo ano será preparado com calma, sem pressão, pelos motivos certos, respeitando sempre a parte estimulante do processo criativo. Para já, deixo-vos com as publicações que mais gostei de escrever em 2023.


 o silêncio das andorinhas


A primavera começa a instalar-se no horizonte. Do terraço de onde avisto o mundo, ecoa o estilhaço do meu trauma. Intermitente, a transbordar de mágoa e de raiva, mas sempre presente. Presa nesta bolha, balanço no parapeito, enquanto, na estrada lá em baixo, um embate ativa gatilhos na minha memória. E, então, eu cedo.


 registar os momentos impede que os aproveitemos?


Resumindo, para mim, fotografar é a certeza de querer aquele instante na minha vida para sempre. É o meu passaporte para redescobrir tantas versões da minha essência. E é uma extensão do quanto aproveitei. Porque não capto para mostrar ao mundo (embora também o possa fazer), capto para imortalizar. E porque, algures no tempo, uma menina de cabelo encaracolado descobriu a magia de ver infinitos horizontes através de uma lente, sem que isso a condicionasse, sem que isso lhe retirasse o encanto de os viver em pleno.


 poesia sugerida por leitores


Os «poemas não se ouvem entre os gritos» é um verso da Carolina Deslandes. Embora o considere extremamente alinhado com o género literário que eleva, não partilho dessa imagem, porque acredito que se há algo que se faça ouvir no meio do caos é a poesia, fazendo do seu traço lírico a margem que nos ampara.


 cuidados ao escrever opiniões literárias


É evidente que não sou crítica literária, mas isso nunca excluiu um certo receio e intimidação: pelo desafio e pela responsabilidade, pois estamos a avaliar o trabalho e o sonho materializado de alguém. E acho que, acima de qualquer conhecimento técnico (que fica para os entendidos), tem de existir empatia e sensibilidade suficientes para sermos corretos na apreciação, independentemente de o autor ter, ou não, acesso à mesma.


 semana temática: dia mundial do livro e dos direitos de autor



 ler autores portugueses: sem preconceitos e condescendências


A reserva em ler autores portugueses não é recente, mas permanece atual, porque tendemos a ser pouco curiosos com os nossos, porque parece que assumimos, à partida, que o seu talento é diminuto, que não enche as medidas, que não compensará o tempo disponibilizado. E como o leitor português fica sempre de pé atrás, sobretudo se nos concentrarmos em vozes novas, existem nomes que se perdem nas entrelinhas.


 d'zrt: o que me faz querer voltar


A letra pede para voltarmos «a uns tempos atrás». E eu voltei. E voltarei sempre que eles quiserem, porque o elo desta tribo não se perde. Creio que a pequena Andreia, de dois mil e pouco, vibraria ao saber que, depois de um concerto cancelado, estaria naquela mesma sala a assistir a uma viagem no tempo indescritível.


 livros, circo & futebol


Fiquei solidária com a revolta dos envolvidos - em trabalho, em primeiro lugar, e em lazer -, porque, de facto, é inegável o prejuízo. Mesmo não visitando a Feira, também não gostaria de sentir a minha experiência condicionada e, inclusive, no discord do Livra-te, mencionei que achava tudo isto triste, porque a cultura é sempre posta de lado, porque é lamentável que as coisas não sejam organizadas de um modo mais consciente e porque, enquanto sociedade, não conseguimos evitar descontrolos num momento que deveria ser de festa. Depois, como ser pensante que sou, que adora livros e futebol, pus-me a debater uma série de questões.


 querer aumentar as estantes, mas estar mais consciente a comprar livros


Não deixei de adorar comprar livros - nunca deixarei, na realidade -, mas embarcar nesta análise é saber que respeito muito mais os que estão por ler e que foram adquiridos para serem descobertos e não apenas para ficarem em exposição por épocas infinitas. É tentador ver as estantes a aumentar, porém, como sei que o tempo, por si só, já escasseia, prefiro garantir que aqueles que habitam cá em casa terão o seu momento.


 a maneira como demonstramos amor pelos outros


A mãe de Michelle Zauner expressava o seu amor através da comida (...) Neste sentido, dei por mim a pensar sobre o modo como demonstro amor pelos meus. E cheguei a algumas conclusões, porque não sou muito verbal em relação aos meus sentimentos e consigo ser um pouco desnaturada a ligar/enviar mensagens e, até, a combinar programas. No entanto, evidencio-o de outras formas. [publicação completa]


 estás a ir ou a voltar?


A pergunta foi construída para a narrativa, mas acertou-me em cheio. Fui avançando no livro Mary John (de Ana Pessoa), mas senti necessidade de parar no momento em que Sónia pergunta à protagonista se, quando faz a viagem até ao seu antigo bairro, sente que está a ir ou a voltar. Tal como Maria João, devolvi a resposta com uma pergunta: «Como assim?». E, de seguida, perdi-me nesse mar que é a diferença entre o ir e o voltar.


 silenciar os macaquinhos no sótão


Há uns dias, tive um ataque extremo de síndrome do impostor. Foi silencioso, porque a minha tendência é de tentar que estas reações não interfiram nas conversas em movimento, mas sei que pesou, sei que me deixou com a energia em números quase negativos. Não chegou ao ponto de querer terminar com todas as iniciativas que tenho em curso, no entanto, fez-me reconsiderar a validade de cada uma delas e a sua pertinência.


 a lista das minhas coisas maravilhosas


A peça Todas as Coisas Maravilhosas foi transformadora. Estive presente e investida no momento, para absorver cada detalhe, mas não fui capaz de não me ir questionando sobre os itens que colocaria numa lista semelhante. Na viagem de regresso a casa, ainda comovida, comecei a registar as pequenas alegrias da vida.


 caracóis na lua ◾ no céu da tua boca

no céu da minha boca
há só ausência
há só saudade


 ler djaimilia


Já não me recordo do momento exato em que quis descobrir Djaimilia Pereira de Almeida, mas sei que, ao terminar Luanda, Lisboa, Paraíso, percebi que não poderia ter sido a única experiência. Muito pelo contrário, precisava de a ler noutras histórias e noutras personagens, e compreender a extensão do seu talento.


 o cultivo dos números


Daqui a uns anos, não nos vamos lembrar se lemos cinco livros em 2023 ou se lemos 200. Daqui a uns anos, vamo-nos lembrar da história que nos comoveu, da escrita que nos deixou tentados a explorar mais obras de determinado autor, até da personagem irritante que nos fez revirar os olhos. Portanto, acima de tudo, que seja muito maior a vontade de conversar sobre os livros que se colaram à nossa pele e menos sobre números.


uma surpresa chamada ana pessoa


Foi através deste compromisso de aumentar a lista de escritoras que leio que me cruzei com Ana Pessoa. Quando vi a alusão a Mar Negro, estava longe de imaginar o impacto das suas palavras e, ainda assim, escalou rapidamente para as surpresas do meu ano. De um ponto de vista racional, sei que não sou o público-alvo das suas obras, mas acredito que a qualidade de um livro também se mede pela capacidade de nos agregar, de nos fazer sentir acolhidos, como se lhe pertencêssemos. E eu senti que pertencia às suas histórias.
[publicação completa, que inclui opinião sobre quatro livros e uma reflexão sobre ler mulheres]


Que publicações gostaram de escrever/ler por aqui?

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12 comments

  1. Parabéns pelo teu belo trabalho literário! aproveito para desejar um excelente ano de 2024.
    Isabel Sá
    Brilhos da Moda

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  2. Escolha difícil. Foram todas excelentes, mas destacaria o teu podcast de poesia.

    Adoro *.*

    Beijinho grande, minha querida!

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    1. Muito obrigada, minha querida, enche-me o coração ler isso 💛

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  3. Andreia gostei muito dos seus favoritos, um maravilhoso trabalho em 2023, Andreia passando pra te desejar um Feliz Ano Novo pra você e para sua família bjs.

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    1. Muito obrigada, Lucimar. É um gosto tê-la desse lado.
      Votos de um excelente 2024

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  4. Oh, muitos parabéns pelo excente trabalho que tens até agora
    Gostei bastante bastante de conhecer cada um desses teus favoritos
    Um Feliz Ano Novo
    Beijinhos
    Novo post
    Tem Post Novo Diariamente

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  5. O concerto dos D'zrt foi um dos meus momentos preferidos de 2023, sem dúvida!

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