FAVORITOS DE 2023:
OS MOMENTOS

Fotografia da minha autoria



«Bons momentos trazem boas lembranças»


A retrospetiva de final de ano foi escrita na Miss Pavlova, enquanto me deliciava com as panquecas berries e uma fatia de pavlova Red Velvet. Senti que era a melhor maneira de me despedir, por escrito, de 2023.

Gosto muito desta dinâmica de sair para escrever, de absorver mundo enquanto organizo pensamentos. Fi-lo pouco, ao longo dos meses, mas é algo que pretendo levar para 2024. Apesar de ter escrito mais por casa, comprometi-me a ir registando pequenas coisas que tornaram o meu mês maravilhoso. Dividi esses registos por semana e tentei que fosse uma anotação diária - numa espécie de journaling, mas de um ponto de vista menos criativo. Nem sempre cumpri, devo admitir, mas consegui ir repescando traços bonitos para guardar.

Este ano não começou da forma mais animadora e houve muitas alturas em que me senti impotente, sem saber como apaziguar a ansiedade, porque nunca queremos que os nossos lidem com fragilidades e questões de saúde mais delicadas, mas está tudo a ser resolvido com cuidado, vigilância e muito amor. Além disso, acho que 2023 gritou que eu tinha de encontrar estratégias para aceitar que há coisas que fogem do meu controlo, portanto, são as outras que carecem de maior atenção. Ainda estou a aprender. Ainda a errar, porém, a tentar.

Embarquei numa montanha russa de emoções, tive algumas crises de identidade, encontrei amparo nos livros e na poesia e, finalmente, quis correr o risco de sair da minha zona de conforto. Ainda não foi este ano que fiz a primeira tatuagem, mas enviei o meu manuscrito. Marquei presença em mais eventos culturais e recebi notícias que valeram o mundo inteiro (estão no pódio dos momentos do ano, contudo, como não me implicam apenas a mim, ficam resguardadas). Foram o lembrete perfeito de que os dias sombrios não duram eternamente.

2023 deu-me muitos motivos para celebrar e estas lembranças provam-no. Sempre que precisar de repor energias e de promover o autocuidado mental, regressarei a este texto, para me relembrar que há ocasiões em que a vida tem mesmo um travo doce de uma fatia de pavlova - ou o aroma inebriante das panquecas berries.


 nem a ponta do mindinho, inês aires pereira & raquel tillo (experiência completa)


Estava convencida que iria adorar e não me enganei. Aliás, fui mesmo surpreendida com o conceito: dividido em vários formatos, cresceram em palco, partilhando a pluralidade dos seus talentos e a cumplicidade que as caracteriza. Passei o espetáculo todo a rir, não só pela surrealidade das peripécias partilhas, mas também pela forma como as contaram - sem qualquer esforço para serem cómicas, porque esse registo é-lhes natural.

 terapia de casal, rita da nova & guilherme fonseca

      

A Rita da Nova e o Guilherme Fonseca regressaram ao Hard Club, desta vez para brilharem na sala 1, com o Terapia de Casal. Claro que não podia perder a oportunidade de os rever, por isso, na companhia da Sofia, marquei presença no espetáculo e sinto que conseguiram superar todas as expectativas - quem diria que o Farmville ainda era tendência em 2023! No final, conversei um bocadinho com ambos e foi maravilhoso.

 enviar o manuscrito
Ser escritora sempre foi um propósito, mas andei muito tempo perdida naquele que pretendia que fosse o meu caminho. Encontrei-o na poesia, construí o manuscrito - desde o conceito até aos versos -, concluí-o e, depois, deixei que o medo falasse mais alto. Foi uma jornada oscilante, com imensas dúvidas e a síndrome do impostor no auge, mas defini uma data e fui trabalhando nesse sentido. Assim, no Dia Mundial da Poesia, com o coração acelerado, enviei o meu livro para três editoras. Agora é continuar a respirar fundo e aguardar.

 lançamentos de livro
Ouvir os autores a falar sobre as suas histórias e o seu processo criativo/de escrita entusiasma-me, por isso, este ano, quis colmatar a minha falha neste género de eventos e estive presente em quatro sessões.
  • Rita da Nova a apresentar As Coisas Que Faltam: Não achei que fosse possível apaixonar-me mais por esta obra, mas enganei-me. E hei-de revisitá-la, sabendo que, mesmo que nos faltem muitas coisas, as palavras da Rita nunca nos deixarão desamparados;
  • Nelson Nunes a apresentar Enquanto Vamos Sobrevivendo a Esta Doença Fatal: É estranho dizê-lo desta forma, mas, no fim do evento, senti-me leve, porque foi uma partilha muito bonita, emotiva e cómica também, que estreitou laços. Independentemente da idade, da profissão, do estado em que estamos, há perceções sobre a morte que são transversais. Não estamos sozinhos. Debater isso talvez seja a melhor maneira de nos libertarmos do lado sombrio do tema, talvez seja a melhor maneira de compreendermos que, se não há alternativa, então vamos encarar isto de frente;
  • Hugo Gonçalves a apresentar Revolução: Nesta conversa, houve espaço para se falar sobre livros (os que está a ler e o próximo que está a pensar escrever), sobre como a Revolução é vista de tantas perspetivas e, claro, sobre apontamentos históricos que contextualizaram a narrativa, mas sem que o diálogo se tornasse maçador. O Hugo Gonçalves é um comunicador nato e ouvi-lo, de uma maneira tão eloquente, a encadear os seus pensamentos, as suas visões sobre o mundo e sobre o próprio estado do país só me deixou com ainda mais vontade de continuar a acompanhar o seu percurso literário;
  • Bruno Nogueira a apresentar Aqui Dentro Faz Muito Barulho: A sessão dividiu-se em três momentos chave: a apresentação do Bruno, o debate que surgiu em resposta às perguntas da plateia e a leitura de duas crónicas. Foi um momento extraordinário, com vários pontos de vista a serem explorados. No final, ficou uma certeza: ainda bem que continua a fazer muito barulho.

 joão couto na fnac


Fui à Fnac do Gaia ouvir o João Couto e voltei a constatar o quanto é maravilhoso marcar presença nestes eventos. Por mim, teríamos um encontro anual por lá, porque adoro o ambiente intimista, já para não mencionar o talento óbvio do João. Ainda para mais, fomos presenteados com um tema novo - Quinze Minutos -, que está fabuloso (espero que esteja no próximo álbum). No fim, estivemos um bocado à conversa sobre a música, mas também sobre livros. E foi graças ao seu incentivo que comprei Lágrimas no Mercado.

 conhecer novas livrarias

      

      

No início do ano, partilhei uma lista de livrarias do Porto que pretendia conhecer. Quando comecei a alinhar ideias para celebrar o Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor, percebi que podia juntar o melhor de dois mundos, por isso, nos primeiros três sábados de abril, fiz um roteiro personalizado e abri o Passaporte Livrólico para ir descobrir a Livraria Aberta, a Livraria Térmita, a Livraria Flâneur e a Livraria Poetria. Para não me repetir, mas adiantando que adorei conhecer cada um dos espaços, podem ler sobre a viagem aqui. Por outro lado, turismo literário é algo que me fascina, por isso, estou sempre disponível para incluir livrarias no roteiro das férias (ou passeios soltos). Em agosto, tive a oportunidade de visitar a Rimas e Tabuadas, em Guimarães, sobre a qual vos falei nesta publicação, e a renovada Livraria Arquivo, em Leiria, da qual vos falei aqui.

 d'zrt encore (experiência completa)
Voltei, voltarei sempre que quiserem, porque esta tribo não se perde. Já conversei sobre isto com duas amigas, mas quero reforçar por escrito: tudo tem o seu momento e há bandas que fizeram todo o sentido numa determinada altura da nossa caminhada, mas depois amadurecemos e já não nos servem mais. Com os D'ZRT não sinto isso. Sinto, sim, que continuarão a fazer todo o sentido para quem cresceu com eles. E a prova disso foi o concerto ainda não ter começado, mas colocarem a «Querer Voltar» e ouvir todo o Super Book Arena a cantar em uníssono, com um sentimento extraordinário. Hei-de ter palavras para falar sobre este momento.

 concertos d' os quatro e meia
Corria o ano de 2014, quando me deparei com o tema P'ra Frente é Que é Lisboa, d' Os Quatro e Meia. Desde esse momento, percebi que escalariam para o topo das minhas preferências e não me enganei. Aliás, reforço essa certeza todas as vezes que os ouço e, ainda mais, quando os vejo a atuar ao vivo. Há uns tempos, fui surpreendida pela minha Gémea e pelo T., que compraram bilhetes para o concerto que dariam no Centro de Artes de Ovar. Para além da sala ser intimista, assistimos a um momento mágico. Eles são os reis disto tudo. Um mês depois, voltamos a vê-los, mas em Vila do Conde. Ninguém faz um baile como o deles.

 s. joão

      

Uma das minhas festas favoritas, sobretudo, por ser celebrada em família, com muita animação. Por questões profissionais, este ano, faltaram pessoas à mesa, mas teremos a oportunidade de festejar um S. João tardio. Tudo assume outro significado nesta altura e é maravilhoso viver a noite mais longa da(s) minha(s) cidade(s).

 feira do livro do porto (experiência completa aqui, aqui e aqui)
O meu evento favorito começou no final agosto. Na primeira visita, aproveitei para comprar a maior parte dos livros. Depois, fui mais vezes para assistir a algumas sessões. Sou mesmo feliz a passear pelos Jardins do Palácio de Cristal e, nesta altura, ainda mais. A edição deste ano deixou-me de coração cheio.

 10 anos de blogue
O blogue comemorou dez anos e eu senti que estava na altura de renascer, porque este espaço é tudo o que imaginei, mas o nome com que o abri já não me estava a servir. Portanto, fiz pequenas mudanças.

 todas as coisas maravilhosas, ivo canelas (experiência completa)


A primeira vez que ouvi falar sobre o monólogo escrito por Duncan Macmillan - Every Brilliant Thing - foi no podcast Ponto Final, Parágrafo. A forma apaixonada como o Ivo Canelas conversou sobre o texto deixou-me com imensa vontade de o ler, no entanto, visto que ainda não está traduzido, o encontro não se proporcionou. Quando percebi que o Ivo Canelas o iria representar, quis muito que a peça viesse ao Porto, porque 1) é um dos meus atores favoritos e 2) seria uma oportunidade única. Depois de quatro temporadas esgotadas em Lisboa, e de eu ter falhado as datas na Invicta, chegou o momento e não o desperdicei.

 não faz sentido, guilherme fonseca (experiência completa)


A vida é feita de muitas coisas sem sentido, a começar pelo facto de o Hard Club ser um espaço com uma curadoria musical qualificada, mas eu passar lá a vida a ver comédia. Já assisti a concertos (Diogo Piçarra e Mishlawi), mas os eventos humorísticos/de entretenimento estão em clara vantagem. Para não quebrar a tradição, regressei ao antigo Mercado Ferreira Borges para ver o espetáculo do Guilherme Fonseca. Naturalmente, não vou partilhar conteúdo específico, mas não posso deixar de referir o quanto adorei o texto, o seu encadeamento e o beat com que termina o espetáculo. Fez todo o sentido sair de casa a uma quarta-feira à noite, com risco de chuva, para ver o Guilherme a solo, algo que já queria há muito tempo.

cultivar a amizade
A Sofia fez anos e aproveitamos a ocasião para celebrar com sushi. Foi um momento descontraído, com a partilha de peripécias. A meio do mês, juntamo-nos para ir ver comédia ao Hard Club e, mais perto do final, regressamos à Miss Pavlova para provar a rabanada especial - já quero repetir, porque é deliciosa.

A minha Gémea também fez anos em novembro. Não estivemos juntas no dia, mas combinamos um jantar na semana seguinte. Sei que me repito, mas é impressionante como cada reencontro transmite a sensação de termos estado juntas umas horas antes. Há coisas que nunca mudam e isso deixa-me com o coração cheio.

 lançar um podcast (todos os detalhes aqui)


Há já algum tempo que estava com vontade de arriscar, de sair da minha zona de conforto e de apostar num formato que não é tão intuitivo para mim. Assim, todas as sextas-feiras, quero sentar-me e gravar episódios curtinhos a ler alguns poemas que já escrevi e que partilhei por aqui, no Entre Margens. Mas também quero ter o impulso de aproveitar estes momentos para tornar a escrita poética mais regular, partilhando versos novos.

uma nêspera no cu, bruno nogueira, filipe melo & nuno markl (experiência completa)

   

Uma Nêspera no Cu foi igual a si próprio: brilhante, com azares, muita javardice, angústias, música, telefonemas comprometedores e quase três horas a rir. Repetiria a experiência sem qualquer hesitação.



Que momentos marcaram o vosso ano?

Comentários

  1. Este ano foi atípico, o meu avô adoeceu em janeiro pelo que o resto do ano focou-se nele, praticamente não assisti a cultura. Mas espero que 2024 seja melhor.

    Feliz 2024, minha querida, que tudo o que mais desejares se concretize como mereces.

    Um grande grande beijinho. ♥️

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Lamento saber isso, minha querida. Espero que esteja a recuperar bem 💛

      Um excelente 2024, desejo-te o mesmo!

      Eliminar
  2. Andreia, estou muito agradecida por te ter tido na minha vida ao longo de 2023 e espero manter-te por muitos mais anos. Que 2024 esteja cheio de planos e conversas até depois da hora de fecho! 🫶✨


    daylight

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sofia, isso não se faz 😭
      Também estou muito grata por isso! Em 2024 cá estaremos para continuar todos esses planos e conversas (o contrato segue por e-mail ahahah)
      💜💜

      Eliminar
  3. Tantos momentos bons e inesqueciveis *.* Por aqui fomos ver o Sponge Bob e adoramos :) Gostei tanto da perfomance da Divina Del Campo :)

    ResponderEliminar
  4. Espero, de coração, que 2024 te surpreenda com ótimos momentos!

    ResponderEliminar

Enviar um comentário