Entre Margens

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A banda sonora de uma viagem literária


A playlist literária deste mês, sem que tenha sido pensada nesse sentido, marca uma certa transição sensorial e acompanha a despedida dos tempos quentes para acolher a melancolia dos dias de outono. Se calhar, porque aquilo que une as leituras de setembro é o tom nostálgico - mesmo que, depois, sejam muito distintas na sua essência.


a malnascida, beatrice salvioni
Parlami d’Amore Mariù, Cesare Andrea Bixio, Ennio Neri & Marco Velocci ▫️ Uma das passagens mais bonitas deste livro, para mim, acontece aos primeiros acordes da música destacada (não necessariamente esta versão, mas não encontrei a que é referida nas notas), porque é feita de cumplicidade e leveza. Acho que houve laços que se estreitaram naquela dança, ao mesmo tempo que compreendemos que não precisamos de muita coisa para nos sentirmos felizes. Estar é o segredo, porque é na presença que conhecemos as pessoas - as nossas pessoas.

manhã, adília lopes
Manhã, Janeiro ▫️ Escolhi esta canção, em primeiro lugar, pelo título em comum e, em segundo, pelo facto de a letra retratar tantas coisas quotidianas e tantas observações, de um modo despojado, tal e qual como aquilo que encontrei no livro.

poesia, eugénio de andrade
Urgentemente, A garota não ▫️ A música foi escolhida ainda antes de iniciar a leitura, porque A garota não musicou um dos meus poemas favoritos de Eugénio de Andrade. Além disso, como sinto que os versos do poeta transmitem amor em diferentes formas e nos mostram a importância de permanecer, fazia todo o sentido optar por uma canção que demonstrasse isso.

o meu pé de laranja lima, josé mauro de vasconcelos
Canção da Árvore, Marcus Viana ▫️ Zezé criou um vínculo muito especial com um pé de laranja lima, a quem deu o nome de Xururuca, e a «voz da árvore» foi-lhe «falando ao coração», salvando-o em diversas ocasiões, porque foi colo e porto de abrigo. Por isso, pareceu-me uma boa associação, já que, para além do foco umbilical com a árvore, tem um tom que desperta o lado da imaginação, tantas vezes utilizado pelo protagonista para prosseguir.

weak, kachisou
Weak, Skunk Anansie ▫️ Procurei por uma canção com o mesmo título e reencontrei-me com esta dos Skunk Anansie. Uma vez que se foca em fragilidades individuais, na imagem negativa que, por vezes, temos de nós, nos pensamentos desagradáveis que se multiplicam e na solidão, percebi que não precisava de prolongar a procura, porque as histórias compiladas neste manga refletem tudo isso.

pintado com o pé, djaimilia pereira de almeida
Balancê, Sara Tavares ▫️ Lembrei-me desta música mais pela ideia de oscilar do que por encontrar pontos semelhantes entre as crónicas e a letra. É que Djaimilia vai balançando entre géneros, conferindo-lhes movimento. Nem sempre consigo manter-me equilibrada na dança, mas acho interessante que arrisque nessa mistura, deixando-se levar por uma voz tão própria.

os anos, annie ernaux
Mambo Italiano, Dario Moreno ▫️ Um dos textos do livro inclui um momento com este tema, ainda que não tenha uma participação tão ativa: é mais como uma nota de rodapé, mas que ajuda a compor o cenário descrito. Por esse motivo, quis tirá-lo do papel e embalar a leitura no seu ritmo.

cá dentro, isabel minhós martins, maria manuel pedrosa & madalena matoso
Córtex, Capitão Fausto, Orquestra Filarmonia das Beiras & Martim Sousa Tavares ▫️ Na página 51 do livro, perdoem-me o pequeno spoiler, é possível ler a seguinte frase: «No grupo dos metais, os trompetes parecem discutir com as tubas, enquanto os instrumentos de percussão (...) fazem uns estrondos de quando em quando... E, para além de tudo isso, o maestro ainda não chegou! O maestro é o córtex pré-frontal». Ao lê-la, foi como se uma lâmpada se acendesse, porque fui logo transportada para este instrumental. Pela referência ao córtex e pela plasticidade do nosso cérebro que combina tão bem com a pluralidade de uma orquestra (ainda para mais, quando se agregam diferentes artistas), só podia estabelecer esta parelha.

pessoas normais, sally rooney
I Really Love You, Stephen Rennicks ▫️ A Marianne e o Connell parecem ter o dom de conversar, mas deixar tanto por dizer. Aliás, acho que comunicam mais através de silêncios e de ausências, do que propriamente por palavras, ainda que existam coisas que só se sintam confortáveis a partilhar um com o outro. Nesta releitura, reforcei o porquê de ter adoro o livro e compreendi ainda melhor o vínculo que os une. É, de facto, amor, mesmo quando não sabem o que fazer com aquilo que sentem. Além disso, parece que funcionam melhor quando se relacionam em curtos períodos de tempo, porque, depois, é tudo demasiado intenso e confuso. Foi por todos estes motivos que escolhi o tema em questão.

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Gatilhos: Violência, Luto


A memória atraiçoa-me e não sei precisar a veracidade que se alia às memórias do passado. E começo com este pensamento, porque associo sempre o livro de José Mauro de Vasconcelos a Évora: será que numa das noites de verão da minha infância, sentada na Praça do Giraldo, ouvi falar sobre ele? Será que alguém interpretou um dos temas da novela baseada na obra homónima? Ou será que esta recordação foi construída pelo meu imaginário? Continuo sem respostas, apenas sei que já andava em dívida com esta história há anos.


 dor, violência e o poder da amizade

O Meu Pé de Laranja Lima permite-nos conhecer Zezé, um menino de seis anos sensível, inteligente, criativo e muito traquina. Proveniente de uma família carenciada e disfuncional, aprendeu cedo o que é estar em desvantagem e o quanto pode doer a tristeza. Quando muda de casa, descobre um pé de laranja lima, o Xururuxa, com quem trava uma amizade especial. E é neste mundo de fantasia que encontra uma forma de fugir da realidade tão dolorosa, almejando um pouco de paz.

A narrativa é simples, talvez por recuperar parte da inocência do protagonista, mas bastante melancólica, uma vez que há uma ausência de colo e de afeto familiar que nos despedaça. Por esse motivo, fui alternando entre uma certa leveza - conseguida pelo humor e ingenuidade do rapaz - e uma grande comoção, e sempre com uma vontade gritante de abraçar Zezé.

«- Nunca esse copo vai ficar vazio. Quando eu olhar para ele, vou sempre enxergar a flor mais linda do mundo. E vou pensar: quem me deu essa flor foi o meu melhor aluno. Está bem?»

O que lhe faltava em casa, procurou na rua. E, se calhar, as travessuras que fazia era uma maneira de preencher vazios, de silenciar o desgosto, o medo e a sensação de não ser amado. Se calhar, de outro modo não conheceria Manuel Valadares, o Portuga, que se revelou uma figura de referência, um suporte emocional e um rosto de ternura, de bondade. Ver os seus laços a estreitarem foi inspirador, até porque mostrou a Zezé o conceito de família e que não é suposto que as situações sejam resolvidas através de violência.

O Meu Pé de Laranja Lima apresenta-nos vidas duras, onde a pobreza mina relações familiares, sentimentos e a própria dignidade, porque é a lei da sobrevivência que dita as regras - e quem luta para ter o mínimo de condições de vida nem sempre consegue filtrar outras prioridades. E deixou-me a pensar, por um lado, em quantos «Zezés» existirão espalhados pelo mundo e, por outro, na quantidade de vezes que descarregamos as nossas frustrações em quem menos tem culpa. Com um excelente equilíbrio entre momentos de descontrolo, perda e incompreensão e atos de alegria e amor, este livro também mexe connosco pelo que não controlamos e por ser uma história autobiográfica.


🎧 Música para acompanhar: Canção da Árvore, Marcus Viana


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As caixas de madeira, a simular uma estante, com os livros por ler acabaram de ficar sem o último manuscrito de Djaimilia Pereira de Almeida. Este ano, comprometi-me a ler todas as obras que me faltavam da autora e, assim, concluí o desafio Ler Djaimilia.


diversidade, inseparabilidade e amadorismo

Pintado com o Pé é um título «roubado à legenda de um postal» e contém vários mundos dentro das suas páginas. Dividido em duas partes, a primeira reúne crónicas inéditas e outras que já tinham sido publicadas em jornais, revistas e/ou blogues; a segunda, por seu lado, compila dois ensaios: Inseparabilidade, numa versão reduzida da sua tese de doutoramento, e Amadores, que corresponde à sua dissertação de mestrado.

Dispersos, que é a porta de entrada para este exemplar tão plural, apresenta-nos textos escritos entre 2013 e 2019, permitindo-lhe deambular por temáticas que podem ir desde a influência dos nossos autores até às memórias que permanecem anónimas; temáticas que podem explorar a continuidade da vida, mesmo quando estamos em mudança, a diferença de oportunidades ou o impacto que temos nos outros. Confesso que gostei mais desta parte, porque está num registo que aprecio e porque senti Djaimilia mais objetiva nas ideias, reconhecendo melhor a sua voz. O seu tom metafórico, quase fabular, agrada-me, mas também reconheço que, por vezes, torna a narrativa mais demorada, talvez por não ser imediata a intenção. Aqui, vemos o oposto.

Neste conjunto de textos, fiquei, ainda, presa a duas reflexões: uma sobre a vontade que temos de crescer rápido, de largar a infância para fazermos coisas de adultos, e outra que estabelece uma ponte entre a letra que se vai tornando ilegível e que se revela «um contraponto perfeito da maneira como a nossa cara vai envelhecendo». Porque a passagem do tempo torna-se curiosa na forma como se vai manifestando.

«(...) estamos presos a desconhecidos por laços que não nos lembramos de ter atado, e cuja revelação apenas esclarece o pouco que sabemos sobre a nossa vida vista de fora (e vista por dentro); estamos presos a pessoas cuja existência desconhecemos, por uma ligação a que apenas podemos fazer jus continuando a viver a vida de sempre»

Relativamente aos ensaios, em Inseparabilidade temos a autora a refutar o argumento de estar tudo pré-determinado, excluindo-nos da função de agentes. Será mesmo um caminho fechado ou haverá forma de separar a pessoa da aparente vida predestinada? Em Amadores, centra-se no impacto das nossas atitudes e no modo como o exercício de uma prática as torna pública, quase como se fosse uma mudança de voz percetível. Não senti que os ensaios fossem complicados de acompanhar, no entanto, pelo tom mais formal, mais técnico, pela sua génese, exigem uma predisposição diferente.

Pintado com o Pé é um retrato de causa-efeito entre quem somos e as circunstâncias que vivemos, porque nenhum desses pólos é indissociável, porque aquilo que vamos observando molda a nossa identidade e porque nos redescobrimos. Embora não me tenha relacionado por igual, acho que há um equilíbrio maior entre as duas partes - algo que nem sempre sinto nos livros de Djaimilia Pereira de Almeida, sobretudo, naqueles cujo género é difícil de classificar, por compilarem tantas abordagens. Há diferenças visíveis nestas duas secções, claro, mas também há pontos transversais.

🎧 Música para acompanhar: Balancê, Sara Tavares

📖 Outros livros lidos: Luanda, Lisboa, Paraíso | Esse Cabelo | Maremoto | Ferry | Toda a Ferida é Uma Beleza | Ajudar a Cair | Regras de Isolamento | O Que é Ser Uma Escritora Negra Hoje, de Acordo Comigo | Os Gestos | Três Histórias de Esquecimento | As Telefones


Disponibilidade: Wook | Bertrand

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Uma viagem literária para descobrirmos autores portugueses


O sorteio do Alma Lusitana quis que outubro se revestisse de poesia, talvez por ser um género literário que combina tão bem com o outono. Se sou suspeita nesta observação? Completamente! Desta forma, a proposta será ler Al Berto, enquanto autor para descobrir, e Francisca Camelo, enquanto autora que já li e recomendo.


 al berto

Natural de Coimbra, o poeta e editor exilou-se em Bruxelas, entre 1967 e 1975, dedicando-se ao estudo de Belas-Artes. Publicou o seu primeiro livro dois anos depois de regressar a Portugal e a sua atividade literária encontrou na poesia a sua expressão principal. Ganhou o prémio Pen Club de Poesia, em 1987, e, a título de curiosidade, Al Berto é o pseudónimo de Alberto Raposo Pidwell Tavares.

      

      

      

      


 francisca camelo

Natural do Porto, a poeta é co-fundadora d' A Bacana, uma «plataforma online de divulgação de literatura e arte», e tem poemas compilados em várias revistas - para além dos livros. De acordo com a própria, gosta de ouvir Chavelas Vargas, de halloumi e de comprar flores sozinha. Em paralelo com a escrita, organiza perfomances de Spoken Word e «conversas mensais com outros poetas, no seu projeto Sin.Cera».

      

      


O Alma Lusitana tem grupo no Goodreads

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Gatilhos: Referência a Morte, Abandono e Doença Oncológica


As adversidades moldam sempre a forma como nos observamos, visto que tendemos a diminuir quem somos e a assumir que não seremos capazes de enfrentar/solucionar determinado problema. Naturalmente, haverá períodos em que as nossas forças estarão em serviços mínimos, demorando mais tempo a sair desse abismo. Ainda assim, não significa que as nossas fragilidades sejam um motivo para desistirmos de lutar. E foi a partir desta base que Kachisou traçou a sua primeira banda desenhada.


 mensagens de motivação

Weak é uma coletânea de três histórias em formato manga: A Tua Força, Amigos e Medo. Comum a todas elas temos um retrato de força e de superação individual, e um alerta para a necessidade de acreditarmos em nós, já que esse «é o primeiro passo para tornarmos os [nossos] sonhos realidade». Atendendo a que optei pela edição deluxe (também existe a standard), ainda tive acesso a um manga exclusivo, Senta!, «múltiplos 4-koma, storyboards, notas do processo criativo e a uma entrevista à autora».

Particularizando as narrativas:

A Tua Força apresenta-nos Joseph, um menino que quer ser pugilista como o seu ídolo, mas cuja estatura e idade parecem ser um entrave para a concretização desse objetivo. Esta história mostra-nos, portanto, que as nossas características não têm de nos limitar e que podem ser um impulso para trabalharmos com mais afinco, desenvolvendo outras competências. Além disso, faz uma chamada de atenção para o facto de nos esquecermos que as pessoas que admiramos não são perfeitas, que também elas travam indistintas lutas contra as suas inseguranças;

Amigos apresenta-nos Taiga, uma menina solitária que, na tentativa de encontrar entretenimento fora de casa, descobre o robô Rotty e tenta ajudá-lo a voltar a casa. Nesta história, para além de ser evidente o impacto da solidão e da amizade e a diferença que faz termos quem esteja ao nosso lado, também nos leva a refletir sobre abandono e sobre a facilidade com que descartamos coisas e pessoas;

Medo é um título que se explica a ele próprio, mostrando-nos como esta sensação consegue ser paralisante. Por outro lado, através da vivência do protagonista, reforça que também temos o poder de enfrentar esse medo - com ou sem ajuda, dependendo da situação e do estado em que nos encontrarmos;

Senta! é uma narrativa muito breve, mas que espelha a inveja e o espírito competitivo de algumas pessoas; a necessidade mesquinha de sermos superiores.

«A escolha do agora pode mudar muita coisa no teu futuro»

Foi a minha primeira experiência a ler manga e gostei bastante deste ponto de partida. Ademais, achei útil que trouxesse um aviso em relação à forma correta de lermos este estilo de banda desenhada. Por serem histórias curtas, é natural que alguns conflitos escalem rápido, pareçam quase precipitados, no entanto, a mensagem é clara.

Antes de concluir, permitam-me fazer uma nota sobre o traço da Kachisou, porque estou rendida. Não vou sequer tentar analisá-lo como se fosse conhecedora das técnicas que o envolvem, mas quero só destacar a sua expressividade, a delicadeza da linha que, depois, deixa a descoberto cada emoção, como se estivéssemos a ver imagens em movimento. Acho que a força da autora passa muito por este aspeto.

Sinto que Weak funciona, sem qualquer descrédito, como um discurso motivacional, embora não seja bem a sua essência, porque nos incentiva a sermos mais pacientes connosco. Fases complicadas fazem parte do processo, mesmo que ninguém as deseje, portanto, precisamos de algo (ou alguém) que nos relembre que não somos só os nossos problemas. Por isso, também acho que este livro é um excelente exercício de empatia.


🎧 Música para acompanhar: Weak, Skunk Anansie


📖 Outro livro lido: Quero Voar

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A minha paciência arrendou uma mansão, numa fase precoce da existência que carrego há trinta e dois anos. Por ser boa samaritana? Não creio. Mas também não me ocorre qualquer justificação que sustente o facto de ser paciente. Ou, vá, de já o ter sido mais.

Talvez seja um problema de idade, talvez seja daquelas mudanças que se aceitam com o tempo, sem pensarmos muito. Por outro lado, talvez seja o mítico saco a ficar cheio, essa entidade que não se manifesta fisicamente, mas que se mantém por perto, em diferentes ocasiões. Algum dia teria de ser, não é? É que na matéria da paciência, parece-me que ninguém escapa ao inevitável e caótico ato de transbordar.

Não sou muito expressiva nisso. Aliás, tenho ideia que a minha falaciosa calma leva a crer que continuo a ter paciência para dar, para vender e para repor stock. Só que tenho percebido, ultimamente, que vou amealhando irritações. Hansel e Gretel espalharam migalhas pelo caminho para saberem como regressar a casa, já eu vou colhendo lenha para me enervar. Se são tópicos fraturantes? Nem todos, admito, mas têm o dom de ficar a pairar nos meus pensamentos, sobretudo, naquela hora fabulosa entre o deitar a cabeça na almofada e o conseguir adormecer. É um sonho e, se calhar, até devia ser considerado desporto olímpico.

Numa rede vizinha, cheguei a partilhar, aos domingos, pequenas irritações. Julgando-me curada, abandonei o barco ao fim de várias partilhas. O problema das irritações é que, tal como as ervas daninhas, voltam a aparecer, portanto, enquanto adulta responsável que procuro ser, revolvi fazer o mais acertado: listar parte daquilo que me mexe com os nervos, sem qualquer ordem de preferência.

  1. Não conseguir adormecer porque estou a criar cenários estapafúrdios, conversas que nunca verão a luz do dia e problemas que nem sequer existem;
  2. A quantidade absurda de vezes que ligam para campanhas promocionais (não quero, não estou interessada, não me chateiem vinte vezes ao dia);
  3. Falar por chamada (mandem mensagem. Pouca coisa é assim tão urgente para justificar ligar a alguém);
  4. A expressão «há sempre alguém pior» (onde é que isso reconforta?);
  5. No seguimento do ponto anterior, pessoas que insistem no «não chores, vá, já passou» (deixem choram, deixem sentir, temos tempos diferentes);
  6. Pessoas que insistem que os introvertidos têm de socializar mais (porque é que não podem ser os extrovertidos a socializar menos?);
  7. 20 anúncios por vídeo/entre músicas (sei que me estão a testar para aderir aos vossos pacotes premium-super-cenas, mas resistirei. A minha paciência tem limites, mas ainda não a esgotei);
  8. A primeira folha dos cadernos que vem sempre mais colada à capa (qual é a necessidade?);
  9. Pessoas que acham que só a sua opinião é válida (lamento, mas não é. E não é porque vocês não gostaram de algo que os outros é que não têm sentido crítico).

Ficarei por estas, porque já estou a sentir um ligeiro formigueiro onde deveria habitar a minha paciência, mas ela talvez esteja a abandonar - mesmo sem ter uma consulta às 17h. Qualquer coisa, regresso com uma parte dois. Como as coisas andam, as irritações serão os novos pãezinhos quentes.


▪ julho, 2024

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O nome de Adília Lopes andava a ecoar no meu imaginário há algum tempo, mas, por qualquer motivo que não sei definir, fui adiando esse encontro. E o mais curioso é que nas últimas edições da Feira do Livro do Porto, quando visitava a Flâneur, havia sempre um exemplar a despertar a minha atenção: só não sei se pelo título curto ou se pela capa que faz lembrar a cobertura de um bolo. Ou pela combinação de ambos. Seja como for, para me motivar a descobrir a sua escrita, adicionei-a ao Alma Lusitana.


uma aparente simplicidade

Manhã, como revelou numa entrevista, concentra-se no primeiro tempo da vida. Por isso, fazemos uma viagem até à sua infância, recuperando memórias de lugares que habita e que conhece como a palma da sua mão, de pessoas, de leituras, de episódios que não a deixaram triste, mas abismada. Como se de um álbum se tratasse, continua a travessia pela adolescência, pelos espaços que marcaram o seu crescimento, pelas referências literárias, pelas angústias, pelo aproveitamento escolar e pelo quotidiano.

Fiquei surpreendida com a facilidade com que este livro se lê: por um lado, porque são textos e versos curtos e, por outro, porque a forma como se expressa é acessível. Aliás, parece existir uma certa inocência nas palavras de Adília Lopes, que a despoja de formalidade, que a torna próxima e que a leva a assumir um tom mais confessional. Ainda assim, nesta aparente simplicidade, existe uma carga emocional muito rica.

«Chego à janela porque preciso de ar e de árvores. Ah, se não fosse esta velhinha janela onde me vou debruçar para ouvir a voz das cousas, eu não era a que sou»

Talvez não enquadrasse esta obra no género poético, porque, embora encontremos poemas, temos mais pensamentos soltos, quase como se estivéssemos perante um diário. Não obstante, talvez o propósito seja mesmo esse: desconstruir a imagem que temos da poesia, uma vez que a podemos encontrar nas mais distintas manifestações.

Manhã não se revelou uma leitura consensual, atendendo a que nem todas as entradas me marcaram. No entanto, fascinou-me a forma como conjuga trivialidades, como se torna leve e cómica com tão pouco e como «dá uma importância excessiva às coisas». Numa das partilhas, a poeta afirmou que continuava «a pensar como quando tinha 4» anos e eu acho isso extraordinário, porque demonstra que ainda preserva a capacidade de se deslumbrar e de observar o mundo com ingenuidade, sem receio do ridículo.


🎧 Música para acompanhar: Manhã, Janeiro


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Gatilhos: Sexismo


A Clássica Editora surpreendeu-me e enviou-me o mais recente livro do autor Luís Bigotte de Almeida. Depois de ter conhecido a sua escrita através d’ A Casa na Serra e de ter ficado agradavelmente surpreendida, decidi priorizar a sua nova obra literária.


o perigo do pensamento crítico

O Microscópio do Professor Salazar é um romance baseado em factos verídicos, durante o ambiente social e político da primeira metade do século XX, quer em Portugal, quer na Europa. A propósito do desaparecimento de um microscópio das instalações da Faculdade de Medicina do Porto, que pertence ao protagonista Abel Salazar, serão estabelecidas pontes entre várias perspetivas: ciência, arte, ocultismo e política.

Devo confessor que o início do livro me pareceu um pouco deslocado - forçado, até -, mas depois compreendi o objetivo e acabei por desfrutar melhor da maneira como as diferentes peças se foram encaixando. E a verdade é que a realidade do país teve um peso considerável, por um lado, nos assuntos centrais e, por outro, na necessidade de se tornarem vocais: nas ações, nos diálogos e nos meios pelos quais as personagens se deslocavam. Dividido em três partes, o enredo desenrola-se de 1911 a 1931, de 1932 a 1933 e, por fim, de 1934 a 1946 - com o pano da ditadura a fazer-se notar na sociedade.

A dicotomia entre o Salazar bom e o Salazar mau é muito interessante, sobretudo, por estar tão vinculada aos valores de cada pessoa, à noção que cada um identifica da própria liberdade e à manipulação extrema, que pretende elevar uma certa filosofia de vida: essa é que é a correta. Tudo o que se distanciar é visto como uma afronta e, pior, como um ataque ao regime. O que é curioso é que, na figura do Salazar bom - o médico, professor, investigador e artista Abel Salazar -, compreendemos que mesmo aqueles que mantiveram uma posição política neutra tiveram um alvo associado.

«- Tenho receio de findar os meus dias sem tornar a ver os bosques, as flores e os verdes prados. Sinto uma saudade enorme da Vida!»

Neste livro, que nos confronta com um ambiente académico mesquinho, é fascinante (e não pelas melhores razões) como diferentes metodologias são motivo de polémica e de julgamentos por parte dos nossos pares. Este cenário deixou-me a pensar no quanto somos, ainda hoje, tão avessos à mudança e à diferença. Nunca partimos de uma postura de curiosidade, principalmente se acharmos que nos coloca em causa, partimos sempre com desconfiança e prontos para segregar em vez de acolher. E isso tanto se aplica ao ensino, como se aplica a outros assuntos vitais para o ser humano.

Em simultâneo, embarcamos numa cruzada em prol dos direitos da mulher no acesso à educação, nas questões laborais e em relação ao sufrágio eleitoral. Num meio que se agita politicamente, fica claro que ter pensamento crítico é uma arma perigosa.

O Microscópio do Professor Salazar acolhe personagens de outro livro do autor - Um Jantar com Alzheimer - e personalidades emblemáticas da história nacional. Com uma escrita apelativa, um dos aspetos que mais gostei de acompanhar nesta obra foi o combinar de áreas aparentemente antagónicas. Creio que isso corrobora que as pessoas são feitas de vários interesses e que nenhum deles precisa de se anular.


🎧 Música para acompanhar: Escândalo, Diana Castro

📖 Outro livro lido: A Casa na Serra


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Gatilhos: Violência, Família Disfuncionais; Linguagem Gráfica e Explícita


As capas da Alfaguara têm sempre algo de misterioso, ainda que mantenham a mesma identidade visual. Quando me cruzei com o livro de Beatrice Salvioni, houve qualquer coisa naquele rosto que me desconcertou, quase como se se tornasse imperativo conhecer a sua história. Não o fiz logo e ainda bem, porque foi uma das escolhas do Livra-te para setembro.


 o mal, a liberdade e uma amizade comovente

A Malnascida leva-te até Itália, no ano de 1936. Num país onde imperava uma ideologia fascista e o prenúncio de uma guerra promovida como motivo de orgulho, em Monza, particularmente, as atenções afunilavam para Maddalena, conhecida como a Malnascida, o grupo de amigos problemáticos e Francesca, uma menina de 13 anos impedida de se juntar a eles. A maneira como os caminhos se cruzaram e como nasceu uma amizade entre as duas raparigas desarmou-me por completo.

Embora não goste de comparar livros, tenho de confessar que estava com dois receios: por um lado, que existisse uma forte influência de Elena Ferrante (de quem não fiquei tão fã) e, por outro, que o início impactante ficasse desfasado do desenvolvimento (como senti em Canção Doce, de Leïla Slimani). Felizmente, descartei-os rápido, porque a autora tem uma voz própria e bordou a história com muito cuidado e atenção aos detalhes. Ademais, a construção das personagens faz com que queiramos manter-nos sempre por perto.

É sabido, desde a sinopse, que há uma tentativa de violação, portanto, sempre que nos era apresentado um novo homem deste bairro, o meu impulso era o de questionar se teria sido aquele. Houve um nome que, para mim, se tornou logo suspeito, mas adorei que a dúvida permanecesse até ao final. E acho que este exercício é mais uma prova da mestria de Beatrice Salvioni, que foi jogando com diferentes perspetivas e desenrolando o novelo na medida certa.

«Aproximei-me e peguei-lhe numa mão, ela apertou-a, levou-a à testa e manteve-a ali demoradamente, sem falar. Aquele era o género de dor que não se deixava dizer»

É impressionante como de um cenário sombrio nasce algo tão bonito, como duas crianças comunicam com esta franqueza e nos incitam a refletir sobe a importância de desafiarmos as convenções; é impressionante como, a partir das margens do rio Lambro, ficamos de coração em alvoroço porque há coisas que parecem não mudar: o machismo, a descredibilização da vítima, o governar pelo medo, as diferenças sociais e económicas e os estereótipos.

Francesca e Maddalena são rosto e voz de tudo isto, cada uma à sua maneira. Adorei como se tornaram colo uma da outra, como cresceram em conjunto e como, sem perderem a inocência por completo, arranjaram maneira de encarar de frente a crueldade, as injustiças e a hipocrisia. E isso deixou-me a pensar em duas coisas: 1) a diferença que faz estarmos perto de quem não nos julga, de quem nos faz sentir seguros; 2) o quanto os rótulos são castradores, porque transmitem a falsa sensação de conhecermos o outro, não lhe dando qualquer hipótese de se defender.

A Malnascida revoltou-me e emocionou-me, porque tem uma série de detalhes memoráveis, que espelham que a vulnerabilidade não nos enfraquece e que há sempre quem saiba qual é o lugar certo da luta. Este livro só peca por ser curto, porque ficaria mais tempo nesta história, a acompanhar o estreitar de laços desta amizade que, para mim, é uma das mais bonitas que já li na ficção.


🎧 Música para acompanhar: Parlami d'Amore Mariù, Cesare Andrea Bixio, Ennio Neri & Marco Velocci


Disponibilidade: Wook (Livro | eBook) | Bertrand (Livro | eBook)

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A lengalenga «vem o vento do deserto, misturar o errado e o certo/vem o vento, sopra forte, não é ele que traz a morte» é pronunciada por um grupo de jovens, vestidos com trajes típicos de uma tradição pagã. Este momento mais não é do que um ritual de passagem «para aqueles que se vão tornar homens», perpetuando um comportamento de humilhação e de masculinidade tóxica, e uma perseguição gratuita às raparigas.

O momento é, aparentemente, inocente, integrando as festas da vila, mas há um dia em que algo não corre conforme o esperando: um dos elementos do grupo de 1995 tem um ataque de consciência e revolta-se contra aquela prática excessiva. O que se sucede deixará marcas profundas naquela vila do interior do país e em cada um dos envolvidos, mais concretamente em Laureano, a principal vítima desta insanidade.

O meu primeiro pensamento, enquanto assistia às cenas iniciais, foi para o quanto nos escudamos na tradição, aceitando determinados procedimentos que, muitas vezes, colocam em causa a integridade física e a dignidade de terceiros. Por consequência, fiquei incomodada com a apatia e, pior, com a banalização daquela situação, marcada por comportamentos de violência extrema. Neste ponto, também fiquei a questionar-me sobre aquelas que acredito serem algumas das questões do filme: o que é que justifica a agressividade? Estará o mal assim tão enraizado para não o combatermos?

As mazelas não foram esquecidas, nem podiam, e os traumas do passado acabam por regressar. 25 anos depois, o grupo reencontra-se e há, aqui, um vislumbre do quanto as vidas seguiram por caminhos tão distintos: enquanto Laureano subsiste de um modo precário, todos os outros têm empregos, famílias e um propósito. A ironia atroz deste destino inquieta, por um lado, porque demonstra a impunidade e, por outro, porque nos faz acreditar que a maldade compensa. Afinal, quais foram as consequências?


A calma do quotidiano não está isenta de um prenuncio de tragédia, como se aquela vila e aquelas pessoas ainda se estivessem a preparar para o pior. Cruzando várias realidades, parece que os ares de outrora chegam para um ajuste de contas, mas sem pressas, talvez para que as feridas reabram, talvez para que exista uma mudança.

Foi impossível ficar indiferente a este argumento, tão bem construído e com atores de luxo, porque é palpável o rancor, o luto, a mágoa e a impulsividade. Há jogos de poder que se repetem, quase como se fossem um legado geracional, uma passagem de testemunho, ainda que inconsciente. Além disso, é feito de alegorias que apenas acrescentam mais densidade à ação. Nunca nada é dito na totalidade: vai-se intuindo, vai-se descobrindo, camada a camada, nas expressões da comunidade, nos silêncios.

Filmado em Meimão, no concelho de Penamacor, o filme de Tiago Guedes faz um retrato muito credível e humano de uma população de um meio rural, no qual há marcas que o tempo não apaga. Sem querer ofuscar o restante elenco, permitam-se só fazer um destaque à interpretação de Albano Jerónimo (Laureano), que está sublime!

Restos do Vento mostra-nos que existem ciclos difíceis de quebrar, que a culpa nem sempre é sentida e que o sofrimento pode cegar. Oscilando entre a violência, o medo e o discernimento de saber o que é certo e o que é errado, creio que este filme também é sobre perdoar ou, então, sobre como podemos escolher a bondade, mesmo que nos tenham ferido de formas insanáveis. 25 anos depois, a história repetiu-se, no entanto, foi mais longe: se calhar, para provar que não saímos assim tão impunes. Se calhar, para provar que, em algum momento da vida, teremos de responder pelos nossos atos.

Fotografia da minha autoria



Gatilhos: Drogas e Alcoolismo


A primeira vez que vi este livro assumi, erradamente, que o nome que aparecia na capa era de uma autora estrangeira, portanto, tentem imaginar o meu espanto quando, ao ler a biografia, percebi que é natural de Faro. Assim que terminei a leitura, achei este pensamento ainda mais irónico, porque construímos expectativas e assunções de tudo, mas as mesmas nem sempre estão corretas e a forma como as gerimos pode condicionar mais ou menos a nossa vida. E Kachisou também se foca nesta temática.


encontrar a sua voz

Quero Voar retrata a história de Kyle, um jovem proveniente de uma família religiosa, com um pai bastante autoritário, que se sente preso na sua própria vida. A sufocar e com uma série de dúvidas em relação ao futuro, é quando se reencontra com o seu amigo de infância, Jack, que acaba por ter momentos de lucidez e de libertação.

A imposição de um percurso sempre me fez confusão, se calhar por não ter crescido dentro desses moldes e por acreditar que devíamos ter a possibilidade de trilhar o nosso caminho, por mais que isso se distancie daquilo que idealizaram para nós. Trabalhando de perto com crianças e adolescentes, já contactei com essa realidade, já vi o assumir de uma área de estudos que não era a desejada só porque era o sonho dos pais. E por mais que consiga entender que, em vários casos, isso provém de um fundo bom, a verdade é que as consequências são muito mais prejudiciais do que benéficas.

Orientar é importante, mas acho que é imprescindível o saber ouvir. Mesmo que não se concorde com a escolha, é preciso dar espaço, porque é assim que aquele ser vai explorar, vai descobrir, vai errar. Acho que há muito medo por causa do fator erro, por existir a ideia de que isso é perder tempo. Eu não sou mãe, mas tenho um afilhado e aquilo que eu mais quero é que ele seja bem sucedido; quero que ele olhe para trás e sinta que deu os passos que mais se adequavam ao que ambicionava. Posso não os entender a todos, só que o meu papel aqui é apoiar, amparar a queda, cair com ele se for necessário, e nunca apontar o dedo, dizendo-lhe quando deve avançar ou recuar. Por mais confiante que eu esteja em relação às suas capacidades, por mais que sinta que existe uma estrada que lhe serve melhor, só ele é que conhece os seus objetivos e a que velocidade quer ir. Enquanto adulta, posso escutar as suas vontades e procurar encaminhá-lo, no entanto, não posso falar mais alto de que ele e privá-lo da sua voz.

«Apenas sei que estou a gritar de desespero, e por causa disso não consigo ouvir a dor do meu melhor amigo...»

O Kyle não teve essa abertura, essa margem, por isso sentia-se claustrofóbico. A sua vida toda foi passada a tentar corresponder a expectativas externas, para não desiludir o(s) pai(s). Isso revelou-se frustrante e desgastante, até porque, pelo meio, deixou de saber quem era. E esta história é sobre a sua tentativa para encontrar um sentido e o seu lugar no mundo. Em simultâneo, é um alerta para a facilidade e a rapidez com que, neste processo, nos podemos perder. Porque passamos tanto tempo a reprimir quem somos e o que queremos, que rapidamente perdemos a noção de todos os limites.

Em simultâneo, achei interessante que nos deixe a pensar sobre o que é ou não um pecado, sobre o impacto que a amizade tem na construção da nossa identidade e sobre a (in)capacidade de escutar a dor do outro, quando o nosso sofrimento é tão grande. Ainda assim, precisava que o texto fosse mais desenvolvido, para não parecer que acontece tudo de um modo abrupto e para sermos capazes de nos relacionarmos melhor com a angústia da personagem, sentindo as consequências das suas escolhas.

Quero Voar, reconheço, não tem a história mais original, porém, foca-se em problemas credíveis e transversais a muitos jovens (e, creio, adultos também). Não obstante, sinto que são mesmo as ilustrações da Kachisou que merecem todo o destaque, uma vez que o traço, a cor e a ausência de margem nos fazem sentir a tensão, o drama, os rasgos de esperança e o poder do final. De repente, é como se estivéssemos naquele lugar.


🎧 Música para acompanhar: Andorinhas, Ana Moura


Disponibilidade: Wook | Bertrand

Nota: Esta publicação contém links de afiliada da Wook e da Bertrand

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andreia morais

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O meu peito pensa em verso. Escrevo a Portugalid[Arte]. E é provável que me encontrem sempre na companhia de um livro, de um caderno e de uma chávena de chá


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