2018 | 12 Meses, 12 Álbuns

Fotografia da minha autoria

«A música descreve, detalhadamente, cada momento que você vive»

A minha alma alimenta-se de palavras. Escritas e cantadas. E é no meio de sonoridades singulares que encontra um espaço seguro para respirar. E para se transportar para ambientes não tão próximos da minha realidade. Ou, então, que a descrevem como se fossem um espelho. É impressionante o impacto que uma música pode ter em nós, porque tem o dom de nos ler. E há sempre um tema próprio para cada uma das etapas da nossa vida.

Sinto que esta é uma das artes que mais desperta o sentido de pertença e de comunidade, uma vez que expressa, na maioria das vezes, o que sentimos. Além disso, demonstra-nos que não estamos sozinhos. Por mais dramático e delicado que algum problema possa ser, ouvir um artista a partilhar uma experiência idêntica quase nos provoca uma catarse. Há um muro que quebra. O nosso peito fica mais leve. E a nossa jornada conquista um pouco mais de sentido. É por isso que defendo que não devemos desvalorizar qualquer expressão artística, porque nos sustenta e porque pode contribuir para a nossa cura.

A música - principalmente, portuguesa - é uma extensão da minha personalidade. Portanto, voltou a ser parte indispensável de mais um ano. Mantive-me na companhia dos de sempre - Rui Veloso, Os Aurora, Diogo Piçarra, Os Quatro e Meia, Mishlawi,... -, mas também me permiti abraçar novidades, que já fazem parte do meu coração. E a beleza deste processo intimo é que há lugar para todos, atendendo a que cada um tem o seu traço distintivo. Entre melodias familiares e outras que foram conquistando o seu merecido espaço, 2018 fica marcado por 12 álbuns que me enchem as medidas.

Janeiro: Lisboa // A versatilidade de um músico fascina-me. Ainda que o associemos a um estilo específico, é fantástico perceber que a sua visão musical apresenta horizontes amplos. E Richie Campbell, sinto, tem-se transformado ao longo da sua carreira, mas preservando a sua essência. Com Lisboa «regressa ao R&B e Dancehall". Apesar de ter lançado este trabalho em dezembro, de 2017, foi o álbum que mais ouvi no primeiro mês deste ano.

Fevereiro: Teu // O Paulo Sousa tem uma voz inacreditável. E um talento igualmente surpreendente. Fiquei a conhece-lo, há uns anos, através da sua participação no Factor X e mantive-me atenta ao seu percurso - dentro e fora do programa. Este ano, lançou o seu disco de estreia, que veio corroborar a imagem que tenho dele. Com letras inspiradoras e próximas, é fácil perdermo-nos a escutá-lo.

Março: Salto // O Fernando Daniel é um autêntico fenómeno! A sua voz arrepia e desarma-nos. Além disso, tem uma sensibilidade na escrita extraordinária. No terceiro mês do ano, surpreendeu o público com o seu primeiro álbum e o difícil é escolher uma música favorita, porque todas nos comovem de uma maneira única. O futuro só lhe poderá reservar conquistas grandiosas. E com este Salto tem tudo para voar.

Abril: Casa // Não é apenas o nome do disco que nos transmite uma agradável sensação de aconchego. Todas as canções que o compõem têm, efetivamente, um toque a casa. As letras falam-nos diretamente ao coração, porque a Carolina Deslandes tem uma forma mágica de se expressar. Num registo mais acústico, direto e carregado de amor, transmite-nos histórias puras e transversais. E, acredito, intemporais também. É um disco amadurecido, que espelha a sua transição enquanto artista. Arrisco-me a dizer que é um dos trabalhos do ano!

Maio: Carta Aberta // O vencedor da 6ª edição do Ídolos tem traçado um percurso interessante. Embora esteja, agora, a conquistar o seu espaço no panorama musical, tenho a certeza que será um dos nomes mais relevantes da cultura nacional, porque tem um registo versátil, mas bem definido. Paralelamente, e preservando o seu lado genuíno, não deixa de nos transportar para as suas maiores referências. Interprete, cantor e letrista, João Couto começou em força, cantando «a solidão, a fuga, o amor, o desamor, a rotina, as promessas» de uma forma muito pessoal. E contagiante.

Junho: Frag.men.tos // Descobrir artistas que me revolucionem por dentro pode não ser um processo simples, mas Janeiro conquistou-me ao primeiro acorde. Tem um timbre cheio, que conforta. Além do mais, irradia uma energia tão boa, que é complicado não nos deixarmos levar pelas mensagens que nos conta a cantar. Original, versátil e talentoso, presenteou-nos com o seu disco de estreia, que preserva o mundo lá dentro, mas que transmite a certeza de que é muito seu. Estes fragmentos chegaram no meu tempo certo e marcaram-me para sempre.

Julho: Maro Vol. I, Maro Vol. II, Maro Vol. III // Maro foi a descoberta mais brilhante do meu ano. A sua voz quente, mas leve, envolve-nos num abraço apertado. E sinto que as suas músicas têm o dom de nos acalmarem, de nos despirem de preconceitos e de nos levarem numa viagem de paz. Ao ouvi-la, parece que levito. Porque ela é extraordinária. E os volumes que tem partilhado comprovam isso mesmo - além de nos fazerem acompanhar fases distintas da sua vida, ao mesmo tempo que vamos conhecendo um pouco mais da sua essência.

Agosto: O Tempo é Agora // Até convidarem o Diogo Piçarra para uma colaboração, confesso, nunca tinha ouvido falar das Anavitória. Mas, assim que as escutei, rendi-me. Têm músicas lindas e um talento gigante. E a harmonia das suas interpretações é admirável. Há uma diferença considerável do primeiro para o segundo álbum, porque exploraram novas sonoridades e, consequentemente, apresentaram um produto mais maduro. O Tempo é Agora está incrível. E conquista-me mais um pouco sempre que paro a redescobri-lo.

Setembro: Lobos // Foi, uma vez mais, graças ao Diogo Piçarra que fiquei a conhecer um artista, até então, desconhecido para mim. Jão lançou o seu primeiro álbum e fiquei surpreendida com o seu talento. A definição do próprio músico sobre este trabalho não podia ser mais clara. E partilha tudo o que senti ao transitar entre faixas: «É cheio de altos e baixos no sentido de emoções, tanto nas músicas mais dançantes, como nas baladas. Dá para dançar e chorar ao mesmo tempo. Ele é muito confessional». É fabuloso!

Outubro: Suncity // Estou completamente apaixonada pelo timbre, pelo estilo musical e pela expressividade de Khalid. Seja em nome próprio ou em colaboração com outros artistas, o seu traço é contagiante. É um caso sério de talento, por isso, Suncity peca por ter poucas músicas, mas são todas viciantes. Claro que esta crítica nunca poderia ser negativa, é, apenas, a minha maneira de reforçar que o poderia ouvir uma vida inteira sem me cansar, porque é mesmo maravilhoso. É um génio em ascensão - e, talvez, o mundo seja pequeno para a sua mestria.

Novembro: Maus Êxitos // Os D'Alva ocupam um lugar cativo no meu coração. Este duo é extremamente consciente do mundo que o rodeia e não se coíbe de dar voz às causas que defende. Num registo mais interventivo, mas sem perder o lado leve e descomplicado, tão caractetístico de Alex D'Alva Teixeira e Ben Monteiro, demonstram toda a sua versatilidade neste disco. E as suas canções provocam-nos uma análise quase visceral. Sem qualquer dúvida, Maus Êxitos marca uma posição. E uma transição necessária e inteligente.

Dezembro: Mundu Nôbu // Há artistas que, para mim, mereciam um maior destaque no panorama musical, porque são dotados de uma qualidade magnífica. E um dos casos mais evidentes é Dino Santiago. Tem uma energia boa e reconfortante, que nos transporta para ritmos quentes e dançáveis. Juntando «funaná, morna, batuku e afro-house», o seu trabalho mais recente é «transnacional», mas com um claro sentido de casa. Sinto que existem álbuns que nos fazem querer viver dentro deles, como é o caso deste. Porque é «consciente das estruturas fundadoras da música cabo-verdiana, ao mesmo tempo que expõe o futuro que poderemos vislumbrar com o aproximar das tradições à música eletrónica de apelo global».

Quais os álbuns que marcaram o vosso ano?