As minhas viagens de metro #67

Fotografia da minha autoria

«A vida é um caminho de sombras e luzes»

Tu tornaste-te sombra nos meus sonhos. Transformaste-te num mero reflexo desfocado, que não consigo acompanhar e, muito menos, clarificar. Essa tua ausência de luz retira-me a energia. Molda-me a vontade de perfurar as camadas que te revestem. E impede-me de ver, com clareza, os trilhos que piso. És tu que queres permanecer nessa escuridão, não eu. Mas insistes em desaparecer durante o dia, para vires atormentar as minhas noites de sossego. Até ao dia em que me cobri de luz e tu te tornaste mínimo na minha chama interminável.

Ofusquei-te com a minha segurança. O meu amor. E o meu traço vincado de bondade. Não suportaste e procuraste manter-me presa, porém, saí em liberdade. E neste jogo sem regras definidas, numa espécie de salve-se quem puder, eu desafio-te a derrubares-me. Porque preservo a convicção de que, um dia, ficarás para trás, preso ao chão onde insistes em manter a tua imagem. Por mais que demore, por mais que me desgaste, não deixarei que venças a minha sanidade. O teu olhar frio e calculista não terá o mínimo de poder sobre o meu coração-casa. Foste tu que preferiste permanecer nas trevas, mesmo quando te abri a porta do meu céu. Não me convides, eu não irei ficar.

Os meus sonhos sucedem-se, mas tu desapareces aos poucos, libertando a sobra que o meu reflexo desenha sem ti. Fui reduzindo a tua importância, até conseguir encaixotar as tuas memórias numa gaveta longínqua. E tu tornaste-te vago. E invisível na minha essência.

M, 11.03.2015