Entrelinhas #74

Fotografia da minha autoria


«Bem-vindos a um mundo de luxo que é também a casa de uma família especial»



O meu mês de julho terminou com uma leitura tranquila, leve e descomplicada. Depois de Um Longo Caminho para Casa [Entrelinhas #42], que me desarmou e colocou à prova o meu lado emocional, optei por regressar a Danielle Steel, mas selecionando uma obra com outro registo. O primeiro livro que li da autora marcou-me profundamente e entrou para a minha lista de favoritos. No entanto, tinha vontade de conhecer outras facetas da sua escrita.

Hotel Vendôme, como facilmente permite antever pelo título, centra-se na área da hotelaria, partilhando sonhos e uma perspetiva bastante familiar. Neste caso em concreto, vemos um estabelecimento a ganhar forma, mas a verdade é que podemos estender os ensinamentos da narrativa a toda a nossa vida, na medida em que devemos dedicar-nos de corpo e alma aos nossos objetivos. Se tivesse que destacar uma das suas principais mensagens, sem qualquer dúvida que seria o sentido de compromisso - no trabalho e nas relações afetivas.

Focando o cariz relacional, é impressionante o peso que o contacto humano tem no crescimento pessoal, ainda para mais quando somos confrontados com a exigente gestão de um hotel, não só no que diz respeito à sua componente de serviço, mas também no que se refere à proximidade, à comunicação, ao trato entre o dono, os funcionários e os clientes. E esta condição assume uma importância acrescida assim que a reputação do espaço se consolida, atraindo figuras influentes dos vários meios. Naturalmente, para que tal seja possível, tem que haver uma entrega profissional total, o que, consequentemente, desequilibra a balança e condiciona uma parte crucial: as ligações interpessoais. Apesar das adversidades e dos sucessivos desafios, acompanhamos um vínculo forte entre um pai e uma filha, que viveram sempre um para o outro, criando alguma dependência. Os episódios entre ambos são pautados por uma enorme ternura, mas também questionamos o lado saudável desta relação, porque, quando Heloise se torna uma jovem adulta, assistimos a uma mudança comportamental significativa, que culmina numa certa obsessão e intransigência para com Hugues [o pai].

Habituados a conviverem e a não dependerem de terceiros, não será fácil aceitar novos elementos neste ambiente familiar restrito. Em simultâneo, não deixa de ser confrangedor a indiferença materna, sobretudo, pela negligência tão precoce e radical. Os contrastes são abismais e angustiantes, alertando-nos para a desonestidade e para a falsidade de algumas pessoas, que se movem por mero interesse. Este enredo não tem um fundo verídico, mas consegue representar a essência corrompida de alguns seres humanos, cujas ações têm sempre segundas intenções. Em contrapartida, e para equilibrar, também nos mostra a luz bonita que habita no coração de determinadas personagens. Não há só maus, nem há só bons. Há pessoas que se regem por diferentes valores - ou falta deles - e na nossa jornada vamos cruzar-nos com inúmeros exemplos de cada.

Hotel Vendôme caracteriza, como mencionei anteriormente, o sonho, as escolhas, a importância da família e o amor. Além disso, evidencia a partilha, os [des]encontros, o desgosto, o abandono, a luta, a resiliência. Simboliza crescimento - externo e interno. E toca num aspeto fundamental: aprender a dividir a atenção, compreendendo que aqueles que fazem parte de nós - e dos nossos - ocupam um lugar muito próprio e que isso não significa que se ame mais uns do que outros. Ou, então, que não os estimemos. São amores distintos, que não se quantificam e que se podem interligar em perfeita harmonia, desde que exista respeito mutuo. Mas não deixa de ser irónico o facto de sermos mais duros com aqueles que sempre estiveram ao nosso lado e menos com aqueles que nos desiludem - talvez por já não esperarmos muito dos segundos. Independentemente disso, é preciso cuidar. E é necessário ter humildade suficiente para reconhecer os erros. Confesso que nem sempre compreendi as motivações e as reações dos protagonistas, contudo, tudo tem o seu fundamento, mesmo que não seja óbvio. Se, por um lado, temos uma filha com medo de ser abandonada, colocada em segundo plano, devido a uma relação amorosa [recuperando traumas passados], por outro, desconstruímos os receios de um pai que se reparte entre o emprego, a educação da filha e a vontade de refazer a sua vida. Apesar de não o demonstrarem, partilham a mesma preocupação: serem substituídos e perderem o elo que sempre os uniu.

Há uma passagem de testemunho e a certeza de que existem lugares que nos farão sentir sempre em casa. Porque são nossos. E por nunca os deixaremos para trás. E nesta história isso fica bastante claro. Embora não seja dotada de uma ação surpreendente - tendo alguma repetição e previsibilidade -, vale pelo aconchego. Pela evolução das personagens. Pela calma. Pela simbiose entre o luxo e o constante relembrar das origens. E pela convicção de que nós somos o que ambicionamos e fazemos acontecer.


Deixo-vos, agora, com algumas citações:

«Era óbvio que a visita fora um fracasso. Hugues sentia-se triste pela filha e ansiava poder abraçá-la. Era profundamente amada e essencial na sua vida, e supérflua e irrelevante na da mãe» [p:47];

«Estava bem preparada. Planeava seduzir Hugues Martin e não ia deixar uma jovem precoce de doze anos meter-se no seu caminho» [p:74];

«Percebeu que a criança que fora desaparecera para sempre, e quem regressara era a mulher em que se transformava. Algures entre Paris, Bordéus e St. Tropez nascera uma borboleta» [p:92];

«- Como é que tive a sorte de finalmente te encontrar? - indagou, com toda a sinceridade.
- Sinto exatamente o mesmo. É como se tivesse desperdiçado todos os anos estúpidos antes de apareceres. - Beijou-o e ele sorriu-lhe» [p:132];

«- Se isso for o prenúncio de que vais ser a próxima noiva neste salão, isso faz com que sejas uma mulher muito perigosa com quem dançar» [p:235].



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Comentários

  1. Danielle Steel é uma autora muito conhecida e apreciada pelo mundo feminino alemão.
    Eu nunca li nada da autora americana, porque que sei que ela não escreve o género de literatura que eu gosto. Isto não quer dizer que eu só leia livros difíceis.

    No parapeito da janela da sala, encontrei esta manhã:
    Erste portugiesische Lesestücke | Primeiras Leituras
    Fiquei um pouco melindrada com o São Nicolau.

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  2. Uma escritora muito conceituada, fico com a sugestão deste livro.
    Um abraço e continuação de uma boa semana.

    Andarilhar
    Dedais de Francisco e Idalisa
    O prazer dos livros

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  3. Bom review como sempre apesar desta escritora nunca me ter cativado hehe mas os ingleses gostam muito dela :)
    Beijinhos
    https://matildeferreira.co.uk

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  4. Não li o livro, mas agradou-me o que acabei de ler no texto. Quem, afincadamente, faz o que gosta, sem se enfadar obtêm resultados positivos!

    Tenha um bom dia Andreia.

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  5. Tenho cada vez mais saudades de ter mais tempo para ler. Das coisas que mais adoro! Beijinhos*

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  6. Não li este livro, mas a autora é uma boa escritora.
    Andreia, continuação de boa semana.
    Beijo.

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  7. Já ouvi falar imenso da autora, mas nunca li nada. Se a memória não me falha acho que tenho um ou dois livros dela cá em casa, na biblioteca dos meus pais. Um dia destes vou arriscar ler.

    Beijinho grande!

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  8. Sempre que venho cá encontro mais uma novidade de um livro, mais um que não conhecia
    Beijinhos
    Novo post //Intagram
    Tem post novos todos os dias

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  9. Não conhecia a autora mais gostei do livro é sempre bom conhecer novos livros, bjs.

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  10. Sou tão, mas tão assim ahaha :D acho que é este espírito que puxa por isso :D
    sim, meu bem, é completamente compreensível :D

    Sou muito fã de Danielle Steel e, felizmente, já li alguns livros... este inclusive. De facto é uma obra que prende de início ao fim (não fosse eu adorar a escrita dela), e que mostra como tudo é tão volátil e que pode dar certo, mesmo começando do nada... e o facto de estar ligado à família e tudo o que a envolve, também mexeu um bocadinho comigo!
    O "Amigos para Sempre" também me marcou muito :D

    NEW OUTFIT POST | BORROWED CLOTHES!
    InstagramFacebook Official PageMiguel Gouveia / Blog Pieces Of Me :D

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  11. Nunca li nada desse autor, mas já tenho aqui um livro à espera!

    Bjxxx
    Ontem é só Memória | Facebook | Instagram

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  12. Já li e gostei muito! :D
    beijinhos

    www.amarcadamarta.pt

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  13. Já tinha ouvido falar da escrita várias vezes, mas nunca li nada escrito por ela!

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  14. Já ouvi falar dela, mas nunca li nada. Parece "cativante "
    Beijinho linda.

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  15. É verdade! ;)

    Parece ser um livro muito bom. Gosto quando a história é fictícia, mas que mesmo assim retrata coisas da realidade!

    Ótima sexta!

    Beijo! ^^

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  16. Opá acreditas que a minha mãe tem imensos livros dessa autora e eu ainda não li nenhum? Fiquei mesmo curiosa depois de dizeres que ficou um dos teus favoritos...

    R: relativamente às músicas... opá é que depois não te saem da cabeça ahahahah
    R2: quanto às superstições... foi muito engraçado ler os comentários do pessoal pois principalmente pessoal que vive em PT não repara que saindo da nossa cultura há certas coisas que fazemos que fazem parte do nosso dia a dia e só reparamos que as fazemos quando saimos precisamente da nossa cultura. ah e tal não sou supersticiosa mas se vê uma escada não passa por baixo xD foi engraçado por acaso.

    Beijinhos,
    O meu reino da noite
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  17. Nunca li nada dela, embora estejam sempre a dizer-me para o fazer. Talvez tenha de lhe dar uma oportunidade!


    A Sofia World

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