Sétima Arte | Millennium 2 & 3

Fotografia da minha autoria


«Não há inocentes. Há apenas diferentes graus de responsabilidade»



Os acasos são sempre curiosos. No início de novembro, cruzei-me com o trailer do quarto filme da Saga Millennium: A Rapariga Apanhada na Teia de Aranha. E, além de ter despoletado um desejo automático de o ir ver ao cinema, fez-me questionar acerca dos seus dois antecessores, uma vez que nunca tinha visto qualquer referência. Após uma breve pesquisa, compreendi que a Sony Pictures apenas adaptou, na versão americana, Os Homens que Odeiam as Mulheres. Por isso, A Rapariga que Sonhava com uma Lata de Gasolina e um Fósforo e A Rainha no Palácio das Correntes de Ar só estão disponíveis na sua versão original. Dias mais tarde, para meu deleite, vi que ambos foram transmitidos na RTP2.

Li a trilogia num ápice - e tenho o volume seguinte em espera. Portanto, assistir às respetivas adaptações cinematográficas é uma daquelas oportunidades imperdíveis, atendendo a que corresponde a um enredo que me conquistou em pleno. E, num sábado tranquilo e preguiçoso, fiz uma sessão de cinema caseira. Superada a estranheza inicial da língua e do elenco - porque assisti ao primeiro filme na variante Hollywood e senti que tinham encontrado os protagonistas perfeitos -, rapidamente me envolvi em toda a produção sueca. Embora já não tenha bem presentes alguns pormenores, pois a minha leitura remonta a 2015/2016, salvo erro, houve uma identificação clara, o que me faz acreditar que os filmes conseguiram transmitir a essência dos livros. Naturalmente, a narrativa permite-nos aprofundar e desvendar mais camadas, mas no grande ecrã não ficaram pontas soltas. O desenrolar dos acontecimentos é pertinente, percetível e fidedigno, aproximando-nos dos momentos de tensão e da história dos intervenientes, quase como se estivéssemos no contexto.

Blomkvist e Salander são duas personagens emblemáticas - ela, principalmente, porque é a imagem da história. Os caminhos do jornalista e da hacker sobrepõem-se de uma forma peculiar e acabarão por adquirir contornos complicados, culminando num afastamento. Porém, como a vida tem sempre reviravoltas surpreendentes, não ficarão muito tempo longe, ainda que não se reencontrem pelos motivos mais agradáveis. As suas personalidades são bastante distintas, mas é incrível como nada disso influência quando o perigo é iminente. Mesmo à distância - e sem estabelecerem qualquer tipo de contacto prévio -, sabem exatamente como atuar, apesar dos riscos, e quais são os passos prioritários. Salender é brilhante no que faz. O seu método de trabalho consegue ser inquietante, enervante e intenso, mas igualmente eficaz e intimidante. Blomkvist, por seu lado, é astuto. E joga com a profissão a seu favor. Podem pertencer a realidades opostas, mas ambos partilham uma elevada dose de loucura e de coragem. E só assim poderão chegar aos resultados que pretendem.

O enredo é complexo, cru e com um impacto visceral. Porque é marcado por mistério, ligações quebradas, crime, tráfico organizado, homicídio, rapto, tortura física e, sobretudo, psicológica e exploração sexual. Numa teia que cresce e que nos aprisiona, é notório o desrespeito pelo ser humano, a maldade, a conspiração e o poder de figuras influentes. Neste jogo de corrupção camuflada, não se olham a meios para atingir os fins. E, por essa razão, assistimos à impunibilidade do criminoso e à culpabilização da vítima. Além disso, há uma forte vontade - e necessidade - de vingança, o que proporcionará encontros assustadores, arriscados e sob uma constante ameaça. Numa verdadeira caça ao homem - ou será que devo dizer à mulher? -, existe uma dúvida transversal: quando não se pode confiar nas entidades competentes, como é suposto sentirmo-nos protegidos, seguros? Quando os valores são corrompidos, é complicado perceber com quem podemos contar; a quem podemos recorrer.

O lado policial é contagiante, bem como o seu caráter imprevisível. E as cenas são tão visuais, que dei por mim em suspenso, de respiração acelerada e completamente imóvel, à espera do momento seguinte, particularmente, na fase final. Apesar de haver a contínua sensação de que abraçamos uma corrida contra o tempo, pelas injustiças e pela maneira como o passado é usado para condicionar e enfraquecer o testemunho da vítima, também existe uma mensagem de esperança, porque Lisbeth tem uma rede de apoio disposta a tudo para provar que está no centro de um conluio. E no meio de um cenário tão negro, há fontes de luz que implicam salvação.

A minha vontade de progredir para o quarto filme - com adaptação americana - é enorme, mas também fiquei curiosa com o primeiro da versão original. E tenho pena que a Sony não tenha produzido o segundo e o terceiro, porque gostaria que a sequência não tivesse sido quebrada. Independentemente da variante em que se assista, a história tem valor por si só. E, preferências à parte, é uma saga - literária e cinematográfica - cheia de potencial e mestria.

Comentários

  1. O jornalista e escritor sueco Karl Stig-Erland Larsson, conhecido como Stieg Larsson, famoso pela trilogia policial Millennium que atingiu um sucesso mundial, mas que infelizmente ainda não li nada dele.
    Um abraço e continuação de uma boa semana.

    Andarilhar
    Dedais de Francisco e Idalisa
    O prazer dos livros

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    1. Há um escritor norueguês de que sou um fiel leitor e seguidor de seu nome Karl Ove Knausgård que aconselho vivamente a sua leitura.
      Um abraço.

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  2. Li todos, vi os filmes originais... e até hoje penso... como é que o mataram? Sim ao autor... Não fui ao livro da gaveta... não me pareceu original dele...

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  3. Li todos os livros e vi todos os filmes, com a expecção deste último e sou tão fá. Lembro-me que viciei no primeiro filme e, tal como tu, apaixonei-me pelos personagens. Depois, comecei a querer tudo da saga ahah!

    THE PINK ELEPHANT SHOE

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  4. as adaptações cinematográficas nórdicas são fantásticas :)

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  5. Depois deste teu review confesso que fiquei ainda mais interessada em ler esta saga :)
    Beijinhos
    https://matildeferreira.co.uk/

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  6. Olá:- Não li o livro nem vi o filme. Acredito que sejam obras primas.

    Um dia feliz

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  7. Ainda não li nenhum dos livros... mas tenho imensa curiosidade!

    https://checkinonline.blogspot.com/

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  8. Não conhecia nem o livro nem o filme, mas talvez tente ver o filme para ver se vou gostar ou não
    Beijinhos
    Novo post //Intagram
    Tem post novos todos os dias

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  9. Já vi parte do filme de: "Os homens que odeiam as mulheres" e gostei bastante. Os livros nunca li, mas obrigada pela sugestão que vai alongar a minha lista de leituras.

    Beijinho grande :)

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  10. eu sempre quis ler os livros dessa serie, eu já vi os filmes e adoro!

    www.tofucolorido.com.br
    www.facebook.com/blogtofucolorido

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  11. Deixaste-me curiosa para ver essa saga! :D
    beijinhos

    www.amarcadamarta.pt

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  12. Os filmes escandinavos são absolutamente fantásticos.
    O filme americano fraca reprodução.
    Os livros não li.

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  13. Já tive com esses livros na mão e ainda não cheguei a comprar... Beijinhos*

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  14. Que interessante saber os títulos dados aos livros aí em Portugal, "a rapariga...", nossas línguas são as mesmas, mas em certos casos há tantas diferenças, algumas engraçadas, inclusive, e pelo visto gostaste mesmo das obras. Beijo, Andreia.

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  15. Ofereceram-me o primeiro livro nos meus anos, confesso que demorou a conquistar-me, talvez tenha sido o início, porque depois cativou e li num ápice, só ainda não percebi como é que tenho os dois seguintes e estou sempre a deixar para trás!
    A minha mãe adora, já comprou o 4!
    E agora depois deste post fiquei ainda mais curiosa para ler e para ver. 😊

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  16. Nunca li, mas sei que saiu agora um filme dessa saga!!!

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  17. Parecem interessantes 😍 mas já sabes como sou com filmes e séries... raramente lhes toco 😶
    Beijinho 😘

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  18. Não li nenhum desses livros, mas estas reviews deixam-me muito curiosa. E guardei esta publicação nos favoritos para não me esquecer de ler e quem sabe ver, assim que puder :)

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