Os Ses que nos Governam

Fotografia da minha autoria


«- E se eu cair?
- E se você voar?»



Os ses movem o mundo. Caso não o façam de um modo global, pelo menos, atuam numa vertente mais individual. É, primeiro, em nós que se manifestam esses sinais condicionantes. E, quando surgem, começam as dúvidas, as inquietações, os recuos. Na dose certa, até se podem revelar funcionais e um elo de segurança, porque nos permitem analisar aspetos cruciais com maior consciência. No entanto, a partir do momento que nos limitam, perdem qualquer essência de ponte que nos impulsiona para um caminho gratificante e de evolução significativa.

Quando cheguei aos 25 anos - uma idade tão propensa a reflexões -, senti-me a ponderar sobre a etapa em que me encontrava, quer a nível académico/profissional, quer a nível pessoal/emocional. Num percurso padronizado, teria concluído o meu curso três anos antes, já teria a carta, provavelmente, um emprego estável e, quem sabe, uma relação amorosa sólida. Atendendo a que nenhuma dessas conquistas se verificou - e, aos 26, continuam em aberto [menos o curso] -, há quase uma sensação de falha. E uma consequente procura pelos erros cometidos. E isso não é só desgastante, é também desnecessário. Porque existe uma certeza que nunca podemos perder: o nosso caminho não tem que ser uma repetição, muito menos uma cópia da restante sociedade. Os passos que damos têm que ser fruto da nossa vontade, da nossa predisposição, do nosso investimento e não de uma imposição, até porque não temos os mesmos propósitos, nem as mesmas metas. E é isso que nos distingue.

Eu sei que nem sempre é fácil gerir este combate interior, uma vez que existe uma pressão mais ou menos intencional para seguirmos a mesma direção. E é em alturas como estas, que nos provocam uma certa vulnerabilidade, que os ses adquirem contornos mais intensos, porque nos fazem duvidar das nossas decisões e, principalmente, das nossas competências. Mas chega de nos dizerem o que é suposto sermos em fases distintas da nossa vida, como se só existisse uma verdade, uma única resposta correta. Chega de assumir, por exemplo, que uma mulher - por ser mulher - tem o desejo de ser mãe, da mesma maneira que não é justo exigirem que um homem - por ser homem - seja uma fortaleza, como se fosse desprovido de sentimentos e não tivesse o direito de quebrar perante situações adversas. Chega de nos compartimentarem, de definirem a nossa jornada. E, acima de tudo, chega de compactuarmos com esta monopolização sobre a nossa existência.

Questionar o rumo que a nossa vida leva faz parte e é importante. Porém, é perentório que os ses que surgem dessa introspeção sejam um resultado de um bem particular, de uma clara reformulação de objetivos, de um renascer que se identifica mais com a pessoa que pretendemos ser. E nunca porque nos fizeram sentir que não é válido distanciarmo-nos da norma. Podemos - e, em parte, devemos - colocar as nossas escolhas em perspetiva, possibilitando que os ses do bem se manifestem. Mas por nós e não pelos outros - por mais complexo que possa ser quebrar a pressão de uma cultura enraizada, que proclama a individualidade e a diferença, mas que nos trata a  todos como se fossemos fotocópias. Houve um tempo em que pensei que o problema era meu, porque não atingi certos patamares no mesmo compasso de tempo, até que parei de me negligenciar e percebi que não tinha que o ter feito. A vida é minha e sou eu que marco o meu ritmo - ainda que, em alguns aspetos, dependa sempre de terceiros. E não há mal em abrandarmos o passo ou, então, em decidirmos que não queremos o mesmo para o nosso presente. Todavia, é um trabalho moroso, sobretudo, porque grande parte das nossas hesitações acontecem pela comparação, nomeadamente, com pessoas na mesma faixa etária que a nossa. Embora nos frustre não estarmos onde gostaríamos - ou onde achávamos que estaríamos -, não podemos permitir que nos façam duvidar do nosso valor, só pela simples razão de termos uma voz ativa, decidida, autónoma, que rompe com o marasmo de uma fila indiana.

Sigam a vossa estrada, ainda que sejam os únicos a palmilhar esse trilho. Porque não têm que encaixar as vossas pegadas nas dos demais. Têm, sim, que demarcá-las. Com firmeza. Com segurança. Acreditem, nunca estarão sozinhos. E mesmo que possam bater com a cabeça na parede, sabem que é uma experiência exclusiva. Inspirem-se. Libertem-se. E deixem que os ses sejam apenas uma curva no vosso caminho, nunca o trajeto completo.

Comentários

  1. muitas vezes deixamos as duvidas tomar nossa mente ao inves de tentar, devemos sempre superar nossos medos

    www.tofucolorido.com.br
    www.facebook.com/blogtofucolorido

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  2. Gostei do que li e eu tento seguir o meu caminho conforme as minhas convicções detesto "viajar" em manada.
    Gostei do novo visual do blogue.
    Um abraço e bom fim-de-semana.

    Andarilhar
    Dedais de Francisco e Idalisa
    O prazer dos livros

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  3. Os "ses" muitos vezes impedem-nos de seguir em frente...

    Isabel Sá
    Brilhos da Moda

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  4. Texto altamente inspirador e fantástico!! Tão verdade esta cansativa constante auto-análise que por vezes nos impede de tanta coisa... A imposição muitas vezes do que já nem existe!! Trabalhar e educar para ser melhor numa sociedade infelizmente doente, é o que sempre tento!!!

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  5. Este texto está incrível! Quantas vezes eu chorei por ter 26 anos e não estar no nível que a sociedade espera que eu esteja, mas notei como isso estava me fazendo mal muito mal e parei de me comparar. Ta tudo bem você ter a idade que tem e não ser igual todo mundo, ta tudo bem ♥

    Um beijo e Boas Festas 🎄 ♥
    Blog da Kitbox

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  6. Que lindo ficou o teu cantinho, adorei bastante, pois a tua partilha deu bastante para reflectir

    Beijinhos
    Novo post //Intagram
    Tem post novos todos os dias

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  7. Apesar de todos os -ses da vida, não devemos alterar a rota das nossas metas e objectivos.

    Excelente reflexão e parabéns pelo novo cabeçalho do blogue, gosto imenso.

    Boa Sexta-feira e bom fim-de-semana, querida!

    Beijinho grande!

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  8. Muito interessante, mesmo! Por vezes na nossa cabeça instalam-se muitos [ses] O que, por vezes nos impede de algo... Boa publicação!
    =)
    Bjinhos ...Bom fim-de-semana
    Por aqui com, Calçadas usadas e outras paradas...

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  9. Caros amigos leitores,

    convidamos-vos a ler o capítulo 3 do nosso conto escrito a várias mãos "Ecos de Mentes", que esta semana nos chegou pela mão da Carolina Lemos, interpretando a personagem Beatriz.

    Sempre com o mesmo carinho por vós,
    votos de excelente fim-de-semana!

    Saudações literárias!

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  10. Ai os ses! Quem me dera não tê-los sempre a divagar na minha mente. Em geral, penso muito. Chego a pensar já que é um defeito. Penso sobre tudo até ao fim da questão e depois termino por não fazer determinadas coisas ou ir em busca de sair da minha zona de conforto, porque lá está “e se me apegar? E se não der certo? E se eu me magoar?” e continua. Acredito que se pensássemos um pouco menos talvez fizéssemos mais coisas do que atualmente fizemos. Pessoalmente, tenho tentado que as coisas fluem. Saio da minha zona de conforto, ainda não sei lidar com uma quantidade absurda de coisas, mas ainda assim não recuo. Ao arriscar, fico sempre a ganhar, nem que seja uma lição. É isso que atualmente me importa e muito.

    Quanto ao que visionavas já ter, acho que à maneira que o tempo passa vamos deixando de nos pressionar tanto sobre isso. Acho que é muito também devido à sociedade. Somos nós que fazemos a nossa trajetória, que decidimos as coisas. Há o momento certo para tudo, ainda que tenhamos metas definidas e sonhos na nossa cabeça. Nem sempre será no tempo que queremos porque também há coisas que dependem de outras pessoas. Não há que sentir-se melhor ou pior devido a isso. Beijinho!!

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  11. So pude vir aqui agora mas ainda bum a tempo de te dizer que esta introspecção foi de encontro à minha maneira de pensar e ver as coisas. E sim os 25 são uma idade muito importante, atingimos a maturidade na sua plenitude, falo por experiência própria. Torná-lo-nos realmente adultos, mais responsáveis. Eu gostei mesmo muito dos meus 25 com todas as minhas dúvidas e certezas. aprendi tanto com eles e continuo a aprender:)
    PS: adorei a mudança no teu cantinho. Está tão bonita.
    Beijinhos
    https://matildeferreira.co.uk

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  12. Um texto que li está manhã, mas só agora tenho tempo de comentar.

    Gostei como sempre de ler as tuas reflexões sobre os *ses* que nos governam.

    Pensei, então, se eu tivesse regressado à cidade invicta... Só que eu não perco tempo a refletir os *ses*, porque quando tomo uma decisão, tomo logo a seguir a responsabilidade dessa decisão.

    Beijinho 😘 desejando-te uma boa noite 🌃

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  13. Sempre com excelentes textos. Os “ses" por vezes vagueiam muito na minha mente, acabo por dar volta ao assunto fica resolvido.rsrs.
    Beijinhos

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  14. Adorei o teu texto revi me em algumas palavras :) concordo contigo os "s" são apenas curvas que temos de fazer. Adorei a nova cara do teu blog
    Rêtro Vintage Maggie | Facebook | Instagram

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  15. Como eu te entendo, percebi que ambas nos encontramos em situações parecidas e por vezes é muitos desgastante tentar perceber onde falhei por não estar "tão avançada na vida" isto é, com emprego estável, casada e com filhos como outras pessoas e como muitas pessoas pensam que são esses caminhos que temos de seguir mas na verdade não, nós não temos de seguir os caminhos que a maior parte segue ou que a sociedade considere os mais adequados.
    Beijinhos
    http://virginiaferreira91.blogspot.com

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  16. É exatamente isso, meu bem!!!
    Ohn, tão bom ler isso! Obrigado, obrigado. De coração :D

    Eu tinha um vício incomensurável de estar sempre com os ses na cabeça e na língua! Entretanto comecei a relativizar e, no fundo, a arriscar mais sem pensar nesses tais "ses".... o que aconteceu foi simples: mudou completamente a minha forma de ver a vida. Parece que, de certo modo, deixou de me limitar tanto :D

    NEW #DRESSTOIMPRESS POST | THE COATS FOR THE SEASON!
    InstagramFacebook Official PageMiguel Gouveia / Blog Pieces Of Me :D

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  17. Ter algumas certezas faz bem, é necessário, mas achar que se tem todas as certezas, como alguns acham, isso é o que limita-nos, afinal, as aprendizagens nascem das dúvidas, não é mesmo? Assim que expandimos a alma e nela fazemos caber mais mundo. Esses tipos de questionamentos são feitos por pessoas de todas as idades, chega um tempo em que eles começam a surgir com mais frequência, mas tu és ainda bastante jovem e tem muito, muito chão para trilhar, "se hace camino al andar". Belo texto, Andreia. Vou te deixar aqui uma sugestão de música, por algum motivo o teu texto me fez lembrar de uma música que talvez gostes, é de uma banda brasileira chamada "Francisco, el hombre", o título da música é "Triste, louca ou má", veja o clipe no YouTube quando puderes, talvez gostes. :)

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  18. Soube-me bem ler estas palavras. Neste momento, e apesar de estar bem, ainda sinto que falta qualquer coisa. E penso todos os dias no que teria e poderia fazer melhor para a alcançar. É uma luta constante e desgastante.

    PS: Gostei muito da nova imagem no cabeçalho do blog, Andreia!

    Beijinhos

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  19. «A vida é minha e sou eu que marco o meu ritmo - ainda que, em alguns aspetos, dependa sempre de terceiros. E não há mal em abrandarmos o passo (...)»... és linda, sabias? Identifiquei-me tanto com este teu texto. Cada palavra tua escrita aqui é aquilo que muitas vezes me apetece dizer em voz alta!

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  20. Sabes sempre como abordar os temas e mais uma vez lanças uma publicação com palavras tão sábias, mais umas vez estou de acordo contigo da primeira à última linha.
    Os "ses" fazem parte da nossa vida e, «na dose certa, até se podem revelar funcionais e um elo de segurança». É verdade que, por vezes, analisamos demais e analisamos tudo ao pormenor e de uma forma absolutamente exaustiva, sem percebermos que somos todos diferentes por algum motivo, sem percebermos que é por isso que o meu caminho não é igual ao de x, ainda que a sociedade me tente impingir isso.
    É normal que ao longo da estrada eu encontre buracos, é normal que eu tenha dúvidas na direção, mas não tenho ir por ali só porque é o que acontece mais vezes ou porque y foi. «Porque não têm que encaixar as vossas pegadas nas dos demais.»
    É isto, Andreia! De início ao fim. Poderia acrescentar mais alguma coisa, mas disseste tudo e esta publicação está inspiradora.

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  21. "Sigam a vossa estrada, ainda que sejam os únicos a palmilhar esse trilho. Porque não têm que encaixar as vossas pegadas nas dos demais." - é uma conclusão muito importante! Sinto muito do que escreveste, sinto que me pressionam a seguir certos caminhos e às vezes só quero berrar às pessoas que eu hei-de chegar onde tenho de chegar, mais tarde ou mais cedo.


    A Sofia World

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