Entre Margens

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A banda sonora de uma viagem literária


A playlist literária de abril, só para não destoar do que tem sido habitual, é uma autêntica manta de retalhos: não tanto pelos estilos em si, mais pelos nomes que a integram, que são muito diferentes. Além disso, fiquei a conhecer artistas que não me eram familiares e isso é algo que aprecio bastante. Com um tom introspetivo e um pouco interventivo, também fui buscar associações a artistas que já têm aquele abraço a casa.


os crimes do verão de 1985, miguel d’alte
Space Age Love Song, A Flock of Seagulls ▫ Numa narrativa pautada por tanta escuridão, prefiro guardar uma das partes mais bonitas: a história de amor que vamos conhecendo em segundo plano. Por isso, e porque este tema marca uma das interações entre as personagens, numa passagem simples, mas que demonstra intimidade (e aquele conforto que só conseguimos perto de quem nos diz tanto), quis associar a música dos A Flock of Seagulls. Quando fui ler a letra, revi as personagens logo nos primeiros versos.

máquina de escrever sentimentos, inês meneses
The Pretty Girls, Ed Harcourt ▫ Na entrada 38, a autora recorda-se de um verso desta canção. Não a conhecia, mas só por essa amostra percebi que seria uma associação certeira: por um lado, Inês Meneses sente que lhe falta uma peça vital (e «uma peça pode ser tanto») e, por outro, esta obra é toda ela feita de várias peças, de vários assuntos e emoções. A restante letra foge por completo do que encontramos nestas páginas, mas «I'm a puzzle with a missing piece» descreve-a na perfeição.

devoção, patti smith
Dream Of Life, Patti Smith ▫️ A escrita é uma parte bastante significativa da vida da autora, portanto, achei que esta música se enquadrava no assunto da obra, tão voltada para a escrita e para o processo que a acompanha. Mesmo que Patti Smith tivesse outro destinatário no pensamento, os «I'm with you always/You're ever on my mind/In a light to last a whole life through/Each way I turn/the sense of you surrounds» poderiam muito bem referir-se à sua inspiração e a esta vontade quase obsessiva de estar sempre a escrever. E escrever não deixa de ser o seu sonho de vida.

véspera, carla madeira
Ferida Aberta, Paulo Novaes ▫️ Tive alguma dificuldade em pensar numa música que conseguisse ilustrar a energia desta obra, porque é muito específica, porque cruza pessoas e linhas narrativas distintas. No entanto, ficou a pairar a imagem que encontrei logo na primeira página: a de uma ferida aberta. E foi assim que me cruzei com o tema do Paulo Novaes, cuja letra também tem alguns versos que me remetem para esta história: «Pra esclarecer e esquecer o lado negro» e «Da minha dor/Maior amor/Saudade que doí».

vemo-nos em agosto, gabiel garcía márquez
Siboney, Orquesta Aragón & Omara Portuondo ▫️ Ana Magdalena deixou-se arrastar pela magia desta música e, honestamente, acho que podia muito bem ser a banda sonora de todas as suas viagens à ilha. Com um toque de sensualidade, de expectativa e de um amor aparentemente eterno, mas também fugaz, acho que lhe serve na perfeição.

regras de isolamento, djaimilia pereira de almeida
Grândola, Vila Morena, Zeca Afonso ▫️ A 25 de abril de 2020, esta música «ecoou pelo bairro». Tendo protagonizado um momento comovente, com vizinhos à janela, a estreitar a distância imposta pelo isolamento, pareceu-me a associação musical mais apropriada para embalar esta leitura.

merdas do amor, paulo rodrigues
Essa Saia, Bispo & Ivandro ▫️ A escolha desta música é da inteira responsabilidade do verso «mas sabes bem que essa saia curta não te favorece», em particular da palavra saia, que parece ter sido apropriada pela dupla. Não foi, mas a verdade é que quando a ouço sou logo transportada para o tema em questão. E adoro que, ao redescobrir a letra, contraste com a obra.

quando os rios se cruzam, rita da nova
La Notte, Arisa ▫️ A Rita criou uma playlist para QORSC, o que muito me entusiasmou, porque pude ser embalada ainda mais para o interior - e para a emoção - da narrativa. Ao escutá-la, percebi que a minha associação final seria esta, uma vez que, para além de ser uma canção italiana, é composta por versos que me recordam de passagens e personagens do livro, nomeadamente «Porque carrego uma dor que sobe, que sobe», «E quando chega a noite/E fico sozinha comigo/A cabeça sai para passear/Em busca dos seus porquês» e «A vida pode nos afastar/Mas o amor vai continuar». Além disso, mesmo que a intenção não tenha sido essa, a noite acaba por ser uma espécie de protagonista desta história.

olive kitteridge, elizabeth strout
Hello, Young Lovers, Southside Players ▫️ O motivo desta combinação não é surpreendente: já na reta final do livro, há uma personagem que menciona o tema e, quando o fui ouvir, consegui imaginar-me sentada naquele banco de madeira a ver o rio. Crosby é uma pacata povoação costeira e a melodia serena, sinto, encaixa bem com a paisagem. E visto que cruza tantas vidas, com tantas palavras para serem partilhadas, preferi optar por um instrumental.

utopia, raquel varela & robson vilalba
Tanto Mar, Chico Buarque ▫️ O meu primeiro pensamento foi escolher uma música de Zeca Afonso, até porque uma das cenas mais bonitas deste livro, para mim, passa-se no Festival Vilar de Mouros. Todavia, acabei por seguir a indicação da contracapa, que refere este tema de Chico Buarque. E fez-me mais sentido assim, não só por representar a junção entre os autores (uma portuguesa e um brasileiro), mas também pela própria letra, que refere cravos, festa e a necessidade de continuarmos a navegar (que me parece uma boa metáfora para a luta que travamos diariamente).

ver no escuro, cláudia r. sampaio
Carro, Bárbara Bandeira & Dillaz ▫️ Uma das ideias que ficou a ecoar deste livro foi a sensação de estarmos e fazermos várias coisas pelos outros, mesmo quando eles não notam, não têm noção disso. E qual o melhor tema para o representar? O que junta a Bárbara Bandeira e o Dillaz, porque quando o rapper canta «por ti circulava às 20h na IC19 (…) Mas, querida, tu não tens a noção», facilmente encontro outras representações nos versos da Cláudia R. Sampaio. Embora o livro não se limite a este tema, quis destacá-lo pelo impacto que teve em mim.

o pequeno amigo, donna tartt
Bite The Hand, Julien Baker, Phoebe Bridgers & Lucy Dacus ▫️ Esta narrativa tem um tom ligeiramente sombrio, uma fatalidade iminente, um tom de vingança constante. Mas, depois, também fiquei presa à ideia do «eu não te posso ouvir, estás muito longe» e, sobretudo, «eu vou morder a mão que me alimenta», porque parece que há sempre uma ausência de valores, quando aquilo que se pretende descobrir fala mais alto.

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Gatilhos: Morte, Violência, Preconceitos; Linguagem Explícita


Leïla Slimani era um dos nomes que ecoava há mais tempo no meu imaginário literário. Por isso, aproveitei a Feira do Livro da Flâneur (que ocorreu em janeiro) para não adiar mais o encontro com a sua obra.


 um embalo sombrio

Canção Doce é apelidado de romance-reflexão, porque se foca na sociedade moderna através de uma família em específico. Nesta história, conhecemos Myriam, mãe de duas crianças, que pretende retomar a sua atividade profissional enquanto advogada. Apesar do pouco entusiasmo do marido, investem num minucioso processo de seleção de uma ama e é assim que Louise entra nas suas vidas - e as muda para sempre.

O início é cruel e aflitivo - pior se o leitor tiver filhos. Por esse motivo, sentimos urgência para compreender as motivações, para compreender que estado de delírio poderá ter despoletado aquele cenário atroz. Além disso, sentimos necessidade de avançar na narrativa com o intuito de traçarmos uma espécie de perfil psicológico dos envolvidos, já que parece tudo demasiado insano para ser consequência de uma realidade lúcida.

O que mais me fascinou neste livro foi a capacidade da autora para interligar o declínio familiar, a dependência emocional e todos os medos e disparidades que pautam a maternidade/paternidade (como o regresso da mulher ao trabalho após ser mãe, por exemplo, e a culpa que é sempre mais visível num dos elementos do casal). Por outro lado, também achei interessante o modo como explorou todas as áreas cinzentas que nos habitam, deixando claro que até as pessoas mais ternas são capazes de atos hediondos.

«Ria sozinha na rua, com a impressão de passar a perna ao mundo inteiro»

A transição entre o afeto e a crueldade é subtil, mas intensa. E faz-nos sentir desconfortáveis, uma vez que existe uma noção de perigo sempre à espreita. Nós sabemos, previamente, o final, mas nunca percebemos bem qual poderá ser o gatilho, o ponto em que desabrocha o sufoco. Ou poderá ser o acumular de várias circunstâncias? A admiração passa a negligência e é este deteriorar que marca o tom das interações e que estabelece um quadro sobre o amor, a educação, as relações de poder e a quantidade de preconceitos existentes entre classes. É como se, de repente, o cuidado viesse sempre anexado a um julgamento moral.

Gostei muito da escrita e dos sinais que vão sendo partilhados pontualmente e nas entrelinhas, mas ficou a faltar-me algo. Canção Doce é perturbador, no entanto, estava à espera de encontrar uma profundidade maior entre episódios, que, de facto, justificasse o desfecho que nos é apresentado nas primeiras páginas.


🎧 Música para acompanhar: Beauty and The Beast Piano, The Bedtime Fairies


Disponibilidade: Wook (Livro | eBook) | Bertrand (Livro | eBook)

Nota: Esta publicação contém links de afiliada da Wook e da Bertrand

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Gatilhos: Morte, Segregação, Linguagem Explícita


A Revolução dos Cravos trouxe mudanças profundas, sendo uma delas a capacidade de sonhar com um mundo diferente, mais justo, mais seguro, mais democrático. E aquilo que, até então, parecia «incrível tornou-se quotidiano». Ainda assim, o pós-25 de abril, à semelhança do pré e do durante, não foi um espaço de felicidade plena: trouxe, igualmente, várias áreas cinzentas e a certeza de ser preciso continuar a lutar. É esta transição que encontramos no livro da Raquel Varela e do Robson Vilalba.


 cooperar e não competir

Utopia é narrado por José, um jovem da periferia de Lisboa, a viver em plena década 1960. Por isso, direta ou indiretamente, acaba por vivenciar os finais do Estado Novo, o impacto do embarque para a guerra de África, as cheias de 1967, a clandestinidade e o desabrochar para questões políticas e culturais. Nestes submundos que se interligam, vai moldando a sua personalidade e os valores que procura que o movam.

Gostei, particularmente, das ilustrações: a preto, semi esbatidas, que nos transportam não só para a noção de terem sido períodos conturbados, pouco lineares, mas também para a certeza de terem sido transversais a vários elementos da população. Portanto, é quase indiferente que se distinga um rosto ou um lugar em concreto, porque a narrativa foi semelhante a muitos outros. Saber isto também nos faz refletir sobre o sentido de comunidade e sobre a força de um coletivo unido pela mudança.

Neste livro, abordam-se várias questões, algumas nem sempre exploradas a fundo (o que compreendo, até pelo facto de ser uma novela gráfica), mas é impossível ignorar o cenário geral. Entre a lista de temas que mais me impactaram, encontro, sem qualquer dúvida, a mortalidade infantil e a saúde materna, porque são exemplos gritantes da precariedade do nosso país. Por outro lado, a segregação e as gestões familiares que ficam comprometidas por um suposto bem maior são um espelho das narrativas que se construíam para ludibriar, são um espelho do medo que era usado como gatilho.

«Numa revolução que traz grandes mudanças, alteram-se também os pilares sobre os quais assentam a sociedade e as instituições»

A opressão, claro, é um dialeto muito presente, mas achei interessante que se focasse o papel da música de intervenção - e uma das páginas mais bonitas, para mim, prende-se com o festival de Vilar de Mouros. O José é a figura principal da obra, porque é através dele que unimos cada uma das suas camadas, mas também temos Jaime e todos aqueles que «participaram em greves [e] manifestações», porque descobriram «necessidades que não sabiam que tinham». É com todos ele que acabamos, ainda, por pensar sobre radicalismo, desobediência, amizade, pertença e participação ativa.

Queria ter encontrado um livro mais vívido emocionalmente, porque sinto que algumas partes ficaram apenas pela apresentação de tópicos, no entanto, acho que há mensagens que ficam claras, tais como a vontade de viver em cooperação e não em concorrência, a sensação de existir sempre uma alternativa e a certeza de ser possível mudar a vida do país se nos formos transformando individualmente. Em simultâneo, é notório que nada é garantido e que há crises profundas que podem comprometer a emancipação. Não sei para onde vamos, mas continuo a acreditar que, por maiores que sejam as encruzilhadas que nos esperam, é possível não vivermos numa utopia.


🎧 Música para acompanhar: Tanto Mar, Chico Buarque


Disponibilidade: Wook | Bertrand

Nota: Esta publicação contém links de afiliada da Wook e da Bertrand

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«(...) viver em cooperação e não em concorrência»


Os meus cravos não são vermelhos, mas simbolizam abril: no legado, na essência, na esperança, na luta por uma liberdade que, conhecendo os limites do respeito, nunca poderá ser condicionada pela segregação, pela divisão, pela falácia. Nesta liberdade conquistada, valorizada, não pode haver espaço para o preconceito.

Os cravos que crescem na minha jarra de vidro não são vermelhos, mas fazem-me pensar, por um lado, na força coletiva e, por outro, na fragilidade que os envolve, no quanto um gesto simples os pode estilhaçar, quebrando a sororidade e a empatia que precisam de ser regadas para crescer e nunca arrancadas.

Os meus cravos não são vermelhos, mas persistem numa vivacidade que me faz acreditar que, por mais dura que seja a batalha, continuamos a não largar a mão de ninguém. Hoje, neste 25 de abril, nestes 50 anos de democracia que muito estimo, quis celebrar a data com sugestões que recordam o lugar de onde vimos, que nunca podemos dar por garantido, e que nos fazem refletir sobre a morada que queremos habitar.


 para ler

 utopia, raquel varela & robson vilalba
Utopia é narrado por José, um jovem da periferia de Lisboa, a viver em plena década 1960. Por isso, direta ou indiretamente, acaba por vivenciar os finais do Estado Novo, o impacto do embarque para a guerra de África, as cheias de 1967, a clandestinidade e o desabrochar para questões políticas e culturais. Nestes submundos que se interligam, vai moldando a sua personalidade e os valores que procura que o movam.

 revolução, hugo gonçalves
O que foi não volta a ser e isso fica claro nesta saga familiar. Ainda assim, a memória tem peso e embala-nos neste enredo, que é melancólico, trágico e cómico em simultâneo; que nos agarra da primeira à última página. Se o comecei em alvoroço, terminei-o quase no mesmo estado, porque o final desarma, comove. A Revolução não se fez só na rua, fez-se de dentro, no coração de cada um destes protagonistas que nos guardam e que alimentam um «labirinto de luz, sombras, crueldade e benevolência» (opinião completa aqui).

antes do 25 de abril: era proibido, antónio costa santos
«Já imaginou viver num país onde:

tem de possuir uma licença do Estado para usar um isqueiro?
uma mulher, para viajar, precisa de autorização escrita do marido?
as enfermeiras estão proibidas de casar?
as saias das raparigas são medidas à entrada da escola, pois não se podem ver os joelhos?
não pode ler o que lhe apetece, ouvir a música que quer, ou até dormitar num banco de jardim?

Já nos esquecemos, mas, há 50 anos, feitos agora em Abril de 2024, tudo isto era proibido em Portugal. Tudo isto e muito mais, como dar um beijo na boca em público, um acto exibicionista atentatório da moral, punido com coima e cabeça rapada. E para os namorados que, num banco de jardim, não tivessem as mãozinhas onde deviam, havia as seguintes multas».


 para ouvir

 retratos de abril
O Expresso tem um podcast muito especial nestes 50 anos da Revolução. Com episódios escritos por Lourenço Pereira Coutinho e narrados por Teresa Amaro Ribeiro, serão 25 os Retratos de Abril, que pretendem recuperar os «sons da época» e tentar «fixar aquele tempo histórico». Além disso, o objetivo passa não só por focar nos militares e políticos, mas também nos civis que se opuseram ao Estado Novo.

 #nãopodias
Neste podcast, Raquel Morão Lopes e Francisco Sena recordam-nos de um Portugal sem liberdade, ao mesmo tempo que refletem sobre os próximos 50 anos de democracia.

 clandestinos
Todas as quartas-feiras, temos acesso à história de alguém que mergulhou na clandestinidade e que recuperou a sua liberdade - e nome - com o 25 de abril.


 para ver

 mulheres na resistência
Minissérie documental de quatro episódios: «A história da resistência ao Estado Novo em Portugal nunca estará totalmente contada. Existiram uma multiplicidade de acontecimentos, de estórias individuais, pequenas/grandes lutas que o tempo se encarregou de ir apagando sem que os seus protagonistas tivessem deixado qualquer testemunho. De entre os acontecimentos esquecidos, grande parte estão ligados aos milhares de mulheres que, com a sua participação ativa, persistente e corajosa, deram um contributo decisivo para que a noite negra que o nosso país viveu chegasse finalmente ao fim depois de quase cinco décadas».

 e depois da revolução?
«Portugal hoje é muito diferente do que era há 50 anos. Quase cinco décadas depois, que mudanças profundas aconteceram no país? E que lições devemos retirar para melhorar o futuro? A Fundação Francisco Manuel dos Santos tem um extenso programa para refletir sobre o que mudou e o que é preciso garantir para melhorar a democracia nacional. No âmbito deste programa, a Fundação lança a primeira temporada de uma série de oito minidocumentários, dirigidos especialmente a jovens que já nasceram depois do 25 de Abril, sobre o que mudou no país desde então, que vão permitir pensar e construir o futuro coletivo».

 viva a democracia - 50 anos e o futuro
«Portugal celebra 50 anos de vida em democracia - um sistema político que mudou profundamente o nosso país. O documentário Viva a Democracia - 50 Anos e o Futuro convida-nos a uma viagem pelos avanços nos direitos civis, políticos e sociais das últimas décadas, mas também pelos desafios que persistem neste caminho inacabado. Liberdade, Igualdade, Escolha e Participação são os quatro princípios desta reflexão, construída a partir da análise de sete especialistas em diferentes áreas e do olhar de doze cidadãos. Nunca é demais repetir que Democracia representa liberdade, igualdade de oportunidades, justiça social e o futuro. Das conquistas aos desafios, como vemos hoje a nossa democracia e o que esperamos do amanhã?»


«resistimos, agora e sempre» ♥

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Uma viagem literária para descobrirmos autores portugueses


Maio é o mês do Alma Lusitana por excelência, visto que nos reserva o dia do autor português, data que impulsionou esta iniciativa: primeiro, como desafio, mais tarde, como viagem literária para continuarmos a ler escritores nacionais. Neste sentido, tenho mais dois nomes para propor: Mafalda Santos, enquanto autora para descobrir, e Rui Cardoso Martins, enquanto autor que já li e recomendo. Continuamos esta aventura?


 mafalda santos

Nasceu em Lisboa e a escrita esteve sempre muito presente na sua vida. Fez o curso de Interpretação e, depois, licenciou-se em Teatro/Encenação. Com um percurso centrado na componente artística, a sua atividade profissional divide-se pelo guionismo, pela encenação e pelo ensino. Em simultâneo, também é atriz.

      


 rui cardoso martins

Natural de Portalegre, é escritor, cronista e argumentista. Licenciou-se em Ciências da Comunicação, foi repórter do Público aquando da sua formação e tem vários livros traduzidos em diversas línguas. Além disso, também tem contos publicados em revistas portuguesas e internacionais.

LI E RECOMENDO

   

   

📖 Opinião sobre O Osso da Borboleta, Deixem Passar o Homem Invisível, Levante-se o Réu e Levante-se o Réu Outra Vez

Outras obras do autor
E Se Eu Gostasse Muito de Morrer | Se Fosse Fácil Era Para os Outros | Última Hora: Peça em Três Actos | Passagem Pelo Vazio e Outros Contos | Estômago Animal


O Alma Lusitana tem grupo no Goodreads

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«É isto um livro,/uma espécie de coração»


A premissa deste desafio para o Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor surgiu quando ouvi a conversa entre Valter Hugo Mãe e Rui Maria Pêgo, no Debaixo da Língua. A dado momento, o autor disse algo como «eu tenho para mim que passei por alguns livros como quem habitou alguns livros» e esta imagem ficou a ecoar.

Há histórias que, por tudo o que nos fazem sentir, se tornam numa espécie de extensão da nossa realidade. Por um lado, existem contextos tão credíveis e próximos que nós nos sentimos como uma personagem daquela narrativa, por outro, há enredos que não nos importaríamos de habitar por vários motivos: pelos cenários, pelas experiências, pelo colo, por serem asa, por terem personagens com quem não nos importaríamos de construir uma ligação. E todas essas razões seriam válidas para nos teletransportarmos.

Eu sei que na ponta da língua terei sempre como exemplos Os Livros Que Devoraram o Meu Pai (Afonso Cruz), O Pintassilgo (Donna Tartt), A Sombra do Vento (Carlos Ruiz Zafón), Pessoas Normais (Sally Rooney), Eliete (Dulce Maria Cardoso), O Bairro das Cruzes (Susana Amaro Velho), Capitães da Areia (Jorge Amado), A História de Roma (Joana Bértholo)... e a lista prosseguiria, porque ficaram com o meu coração, porque fizeram morada em mim e porque desejei que aquelas narrativas saíssem do papel. No entanto, para não ficar apenas presa aos títulos de sempre, fui olhar para a estante e ver quais os últimos livros que senti habitar.


 a casa holandesa, ann patchett
A Casa Holandesa é sobre reerguermo-nos dos destroços. É sobre os elos que não nos permitem sucumbir. E é sobre sermos capazes de avançar, mesmo que demore. Como cantaria a Capicua, «bora colar os caquinhos e fazer um Gaudí», porque esta obra é magistral, uma autêntica obra de arte, sem perder credibilidade. E tenho consciência que este livro continuará a crescer em mim. Terminei em lágrimas (opinião completa aqui).

 stoner, john williams
Stoner alberga muitas guerras internas e um novo fôlego. Acompanhando a vida de William desde a infância até à sua morte, esta obra reforçou a minha admiração por histórias sem personagens heroínas. Talvez não seja uma obra que mudará a minha vida, talvez nem me recorde dela pelo enredo em si, embora algumas passagens se tenham colado à minha pele, mas amadurecerá com o tempo. Além disso, houve vários momentos que me deixaram emotiva e a refletir sobre tudo o que poderia ter sido e não foi (opinião completa).

 deus na escuridão, valter hugo mãe
As ilhas contrastam a noção de proximidade com a noção de solidão, como se, longe de tudo o resto, coexistissemos numa grande vizinhança; como se, de repente, por entre rasgos de aproximação, a convivência se tornasse intrusiva, porque as fronteiras nem sempre são claras. Neste livro de Valter Hugo Mãe, deambulamos por esta ilha e por todas as ilhas que nos habitam. Numa narrativa tecida a poesia, com várias passagens que comovem, não vemos só uma ode ao amor materno, mas também ao papel do cuidador e à importância de cuidar. Assistimos a um vínculo familiar fortalecido a cada instante. Mas também ficamos a debater sobre até onde pode (ou deve) ir o nosso amor pelas nossas pessoas. Fui avançando lentamente, para desfrutar da melodia das suas palavras, para descobrir este lugar íngreme onde se exploram as diferenças, o medo, a culpa, a vergonha, a fé e, sobretudo, a lealdade.

 as primas, aurora venturini
As Primas tem uma cadência diferente, por vezes estranha, mas revelou-se uma experiência de leitura memorável. A autora teve a mestria de explorar temas delicados com um certo humor, sem que isso descredibilizasse o assunto. Antes pelo contrário, visto que estabelece uma ponte com os mecanismos de defesa que criamos para gerirmos tudo o que se passa à nossa volta, influenciando-nos (opinião completa).

 supergigante, ana pessoa
A história inverte-se e, desta vez, começamos pelo fim. Afinal, segundo o nosso protagonista, «o fim é o princípio de todas as coisas». Edgar - ou Rígel - está sempre a correr. Só não sei se corre para fugir ou para se encontrar - ou poderá ser ambos? Seja como for, corre e nós corremos com ele, procurando gerir inseguranças, medos, trivialidades e a imensidão do mundo. Além disso, ao corrermos ao seu lado, vamos perceber que há um ponto em que o dia mais triste da sua vida também será o mais feliz. E é nesta dualidade de sentimentos que ele se encontra, sempre em movimento, a tentar organizar as suas emoções e os seus pensamentos. O ritmo da narrativa vai oscilando, fazendo-nos sentir a urgência de chegar a algum lado e a necessidade de abrandar, como se recuperássemos o fôlego. Assim, recuperamos o caos da adolescência, os momentos de maior vulnerabilidade, «a dor que nos estraga por dentro» e os pequenos rasgos de esperança. No mesmo compasso, vemos um Supergigante a descobrir-se e, inevitavelmente, mesmo que já não partilhemos a mesma faixa etária, descobrimo-nos também.

 in memoriam, alice winn
In Memoriam é descrito como uma história de amor entre dois soldados durante a Primeira Guerra Mundial, no entanto, começa quando esse cenário ainda se afigura distante dos protagonistas. Em 1914, com dezassete anos, Henry Gaunt e Sidney Ellwood moravam num colégio interno inglês, protegidos da realidade. E, além de serem amigos, partilhavam um segredo comum, embora não o soubessem: estavam ambos apaixonados um pelo outro. Nesta batalha interior, é quando se alistam no exército que ocorre o verdadeiro teste (opinião).

 a ilha das árvores desaparecidas, elif shafak
As memórias e as feridas podem passar de geração em geração, mesmo quando se tenta manter o passado em silêncio, para que não se revele um fardo, para que não se perpetuem as mágoas. Mas há coisas que não desaparecem. Fiquei rendida a esta narrativa: pela forma como a história se desenrola, pela forma como a figueira é elo e raiz entre várias frentes (humanas, históricas e emocionais), pela forma como o tempo avança, mas a cultura, as crenças e os valores de cada lugar continuam a ter um peso significativo na nossa identidade. Além disso, comoveu-me a relação entre um pai e uma filha que, por vicissitudes da vida, se veem obrigados a descobrir quem são - sozinhos e na relação um com o outro. O cenário de guerra entre turcos e gregos não passa despercebido, nem podia, mas há muito amor nestas páginas. Não se romantiza o cenário de caos, mas também não se oculta o que a humanidade tem de melhor: que é a sua capacidade de olhar para lá das diferenças. Através de vários pontos de vista, e lugares, vamos compreendendo melhor o contexto. Este livro tem um equilíbrio maravilhoso e revelou-se uma história fabulosa sobre tradições e pertença.

 vemo-nos em agosto, gabriel garcía márquez
As mudanças não precisam de vir de fora, nem precisam de ser expressivas, basta que comecem por dentro, de uma forma totalmente silenciosa. É o suficiente para que procuremos alternativas. Ana Magdalena Bach pode ser só uma mulher comum e, ainda assim, a forma como Gabo a desenhou tornou-a memorável. Não sei como é que esta história fluiria, caso a doença não se tivesse intrometido, mas da maneira como está parece-me perfeita: nada é justificado ao detalhe, não se perde tempo a analisar escolhas e comportamentos. É só a vida de uma mulher em movimento, a lidar com o seu luto, com a rotina, com o que conhece e com o que procura descobrir. Gosto como a tornou tão credível e como, através de um ritual, nos mostrou tantas camadas. E o final? Sublime! Viveria mais tempo dentro desta história, mas foi um privilégio lê-la assim.

 quando os rios se cruzam, rita da nova
Itália figura na minha lista de viagens de sonho, mas, admito, Turim não era um cenário prioritário. Descobri-lo através das descrições da personagem principal despertou esse interesse. E, para mim, sem diminuir tudo o resto, é um dos pontos chave da narrativa: porque, mesmo sem ter percorrido aquelas ruas, mesmo sem ter estado sentada no parque, mesmo sem ter entrado nos bares e feito parte das inúmeras saídas do grupo, senti-me lá; se fechasse os olhos, conseguiria ver as fachadas, as paredes, as casa, conseguira ouvi-los, abraça-los e partilhar a energia de cada noite. Quando um autor tem esta capacidade de encurtar distâncias, e de nos fazer sentir próximos de algo que não é a nossa realidade, sou sempre desarmada (opinião completa).

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Gatilhos: Manipulação, Linguagem Explícita


O ser humano é feito de inúmeras versões e é curioso como, dependendo dos lugares, das pessoas e das circunstâncias, vão sobressaindo aspetos distintos de cada uma delas. Talvez alguns estejam demasiado ancorados à sua identidade, ao ponto de nunca sucumbirem, talvez outros deles precisem de uma rutura, para que se reconheça. Mas nada nesta travessia é linear e o mais recente livro da Rita da Nova mostra-nos isso.


 sermos diferentes versões, em diferentes lugares

Quando os Rios se Cruzam tem muitas histórias dentro, como se a combinação de várias polaroids criasse um único quadro. Por um lado, temos a história de Leonor, que encontra em Erasmus o impulso perfeito para se libertar de uma mãe controladora e para encontrar «o balão de oxigénio» que lhe tem faltado. Por outro, temos a história da cidade onde se desenrola a ação, Turim, que descobrimos através dos passos e observações da protagonista. Além disso, temos a história de como estes pólos se interligam e de como aquilo que não conhecemos é capaz de despertar narrativas em nós que não nos eram familiares - mas que nos habitam.

Itália figura na minha lista de viagens de sonho, mas, admito, Turim não era um cenário prioritário. Descobri-lo através das descrições da personagem principal despertou esse interesse. E, para mim, sem diminuir tudo o resto, é um dos pontos chave da narrativa: porque, mesmo sem ter percorrido aquelas ruas, mesmo sem ter estado sentada no parque, mesmo sem ter entrado nos bares e feito parte das inúmeras saídas do grupo, senti-me lá; se fechasse os olhos, conseguiria ver as fachadas, as paredes, as casa, conseguira ouvi-los, abraça-los e partilhar a energia de cada noite. Quando um autor tem esta capacidade de encurtar distâncias, e de nos fazer sentir próximos de algo que não é a nossa realidade, sou sempre desarmada.

O tom é mais sombrio e nota-se que a Leonor tem muitas questões pendentes, até pelo próprio discurso que mantém: mais explicativo, como se tivesse necessidade de processar cada detalhe. Ademais, achei interessante que tentasse ser coerente na partilha, mas que nunca escondesse a sua vulnerabilidade e que nos deixasse sempre com a sensação de existir uma certa culpa a pairar, a queimar nas suas memórias.

«Bem sei que pode não parecer muito, mas, na altura, o sentimento de pertença enraizou-se pela primeira vez em Turim, foi a âncora de que precisava para começar a sentir que tinha chegado a casa»

Revi-me bastante na Leonor, sobretudo na ponderação, no facto de não querer incomodar e de não esperar que sejam os outros a cuidar dela (os motivos é que divergem, porque o passado pesa). Em simultâneo, fui sentindo na pele todos os conflitos que foi travando internamente e acredito que isso só foi possível porque, uma vez mais, a Rita construiu uma personagem muito credível. Eu sei que a Leonor pertence a estas páginas ficcionais, mas via-a facilmente a transpô-las, até porque a maneira como nos vai apresentando os factos, como brinca com as recordações, como nos deixa na dúvida, contribuem para esta sensação. E eu gosto mesmo de ler histórias que, não sendo de alguém em concreto, poderiam acontecer exatamente daquela maneira. E, aqui, não houve algo que considerasse impossível de sair do papel. 

Um dos pontos centrais desta história é a ideia de sermos quem quisermos num lugar onde ninguém nos conhece. E eu acho este exercício muito estimulante, porque, por um lado, traz entusiasmo e, por outro, uma espécie de impunidade, atendendo a que, independentemente do que possamos fazer, há um término à vista, um prazo de validade, portanto, podemos transformar-nos e sermos quem nunca fomos. Quem é que nos poderá julgar? Quem é que nos cobrará essa mudança comportamental? Em princípio, ninguém, uma vez que, para todos os efeitos, nada indica que não pudéssemos ser aquela pessoa. Leonor desfrutou dessa liberdade, sentiu a adrenalina de explorar novas identidades, mas também sofreu as consequências das suas decisões.

Quando os Rios se Cruzam, fazendo justiça ao nome, cruza vários elementos e houve um em particular que me fez oscilar: seria uma metáfora ou literal? Este jogo prendeu-me ainda mais à cidade, à protagonista, à travessia entre o passado e o presente. Sendo uma viagem permanente, deixou-me a pensar não só no impacto das amizades femininas (outra das minhas partes favoritas) e nos desafios que enfrentamos quando estamos longe do que conhecemos, mas também nesta possibilidade de descobrirmos coisas sobre nós que pareciam escondidas - será que uma decisão diferente nos impediria de as vermos? Há uma parte de quem somos que é fruto das escolhas que fazemos, mas há outras que dependem do que não controlamos. Num livro em que as dinâmicas familiares estão muito presentes, também fiquei a refletir se, ao procurarmos dar espaço a partes de nós mais silenciosas, nos conseguimos realmente libertar do que sempre esteve ali, agregado a quem julgamos ser.


🎧 Música para acompanhar: La Notte, Arisa

📖 Outros livros lidos: Terapia de Casal (com Guilherme Fonseca) | As Coisas Que Faltam


Disponibilidade: Wook (Livro | eBook) | Bertrand (Livro | eBook)

Nota: Esta publicação contém links de afiliada da Wook e da Bertrand

Fotografia da minha autoria



Gatilhos: Pandemia


Os ecos da pandemia continuam bastante audíveis e deixaram marcas distintas em todos nós. Se, por um lado, ainda pode custar ler livros sobre o tema, por outro, acho interessante compreender o impacto, acho interessante perceber como é que as pessoas se foram gerindo e, no fundo, reinventando, diminuindo a distância inevitável.


não estamos sozinhos

Regras de Isolamento combina as palavras de Djaimilia Pereira de Almeida com as fotografias de Humberto Brito, para nos mostrar a dinâmica de um casal fechado em casa durante o estado de emergência. Neste livro, que combina pensamentos, pequenos ensaios, crónicas e contos, torna-se evidente que não estamos apenas perante um diário do confinamento: estamos perante uma reflexão existencial.

Foi curioso perceber como o período de quarentena proporcionou debates internos sobre convicções, sobre detalhes, sobre convivências e sobre a própria fragilidade do ser humano. Vivemos tempos confusos e até o ato de fumar à janela sem se ver a cara do vizinho, por exemplo, se revestiu de estranheza. Escrito «na barca do presente», a autora procurou encontrar em todas estas manifestações algo distópicas, mas vividas na pele, o que nos ajuda a viver, a superar o medo, a angústia e a incerteza do amanhã.

«Talvez precisemos de uma vida inteira para perceber o que nos ajuda. Ou a pergunta de Robert Adams não seja acerca da vida, mas acerca daquilo que levamos connosco: uma pergunta sobre o nosso fim, sobre a ousadia da morte - sobre este tempo e não sobre o tempo que nos coube»

Há, de facto, uma certa transversalidade nestas partilhas e isso aproxima-nos: não só em relação ao assunto da obra, mas também a várias outras problemáticas que afetam a nossa liberdade. Por isso é que achei o conto «O Sonho de Cinita» tão valioso, porque parece confrontar diferentes estados de espírito, de lucidez e de segurança.

Talvez precisemos de uma vida inteira para descobrirmos quem nos estende a mão, mas Regras do Isolamento deixa-nos com a certeza de não estarmos sozinhos.


🎧 Música para acompanhar: Grândola, Vila Morena, Zeca Afonso

📖 Outros livros lidos: Luanda, Lisboa, Paraíso | Esse Cabelo | Maremoto | Ferry | Toda a Ferida é Uma Beleza | Ajudar a Cair


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Nota: Esta publicação contém links de afiliada da Wook e da Bertrand

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andreia morais

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O meu peito pensa em verso. Escrevo a Portugalid[Arte]. E é provável que me encontrem sempre na companhia de um livro, de um caderno e de uma chávena de chá


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