Entre Margens

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A banda sonora de uma viagem literária


A playlist de junho permitiu-me duas coisas: conhecer artistas novos e reencontrar-me com músicos que já não escutava há algum tempo. E, em boa verdade, o primeiro grupo conseguiu reunir mais nomes.


manual de instruções, nuno markl
Manual de Instruções, Clarisse nunca disse ▫️ A certa altura da narrativa, Alberto afirma que as músicas instrumentais são melhores para criar (só não vos digo o quê, para não estragar a experiência). Enquanto pesquisava por um tema que servisse de banda sonora para a leitura, encontrei este e já não procurei mais. Ficamos só com a melodia, para que ninguém se distraia com as letras, começando «a cantá-las em vez de…».

terceiro andar sem elevador, susana moreira marques
Rosa à Janela, Baile Popular ▫️ Numa das crónicas, Susana Moreira Marques refere que consegue «listar várias canções de meninas e mulheres à janela» e eu lembrei-me deste tema dos Baile Popular, por causa dos versos «Lembro-me dela ao postigo/Tão mimosa/E agora põe-se à janela/os cabelos cor de trigo, não há rosa/não há rosa como ela». Creio que tanto a letra como a melodia e as memórias que recupera se adequam à narrativa.

da próxima vez, o fogo, james baldwin
Mary Don’t You Weep, Aretha Franklin ▫️ Estive em dúvida entre duas músicas, mas na reta final da leitura compreendi que só poderia optar por este tema: porque se tornou «um hino negro aquando do movimento dos Direitos Civis», sendo interpretado por várias artistas, desde 1915, e porque o autor finaliza a obra com essa referência, associando-a a uma profecia e justificando, desta forma, o título da obra.

os gestos, djaimilia pereira de almeida
Seventeen, Sharon Van Etten ▫️ O dezassete aparenta ter uma grande importância para a autora, tendo em conta a quantidade de vezes que aparece mencionado nos textos. Além disso, numa das partilhas iniciais aparece a referência a esta música, destacando os versos «Costumava ser livre, costumava ter dezassete». Portanto, pareceu-me a associação mais certeira.

divisão da alegria, raquel nobre guerra
Atmosphere, Joy Division ▫️ Uma das figuras mencionadas nas entrelinhas destes versos é Ian Curtis, cantor, compositor e poeta britânico. Além disso, foi vocalista e co-fundador dos Joy Division, uma das bandas mais influentes da história da música, cujo percurso chegou ao fim aquando do suicídio do vocalista. Assim, resolvi percorrer algum do reportório do grupo e acabei por sentir que este tema poderia ser um belo aliado, principalmente pelos versos «Endless talking/Life rebuilding».

a casa na serra, luís bigotte de almeida
Venham Mais 7, Eu.Clides ▫️ Lembrei-me de associar este tema por dois motivos: 1) o autor criou uma narrativa onde parece haver sempre espaço para mais uma personagem, para mais uma história; 2) uma das personagens chama-se Euclides. Em simultâneo, ao ler a letra, senti que espelha vários dos acontecimentos e das sensações que encontramos ao longo da leitura.

todos os amanhãs, mélissa da costa
Only You, The Platters ▫️ Este tema é um dos favoritos da protagonista, porque, segundo a própria, sempre teve «um fraquinho por canções de outro tempo». Não a conhecia, mas encaixa nesta leitura na perfeição, uma vez que me transportou para o amor de Amande, para a saudade, para a capacidade que o outro tem de nos retirar da escuridão e para aquele toque de magia que se foi sentindo em vários momentos da narrativa.

deriva, madalena sá fernandes
Tomara, Vinícius de Moraes, Marilia Medalha & Toquinho ▫️ Uma das memórias eternizadas neste livro junta a Madalena Sá Fernandes, a sua mãe e o tema em questão. Só por isso, já seria motivo suficiente para fazer esta associação, mas ainda acrescento outras camadas: a ligação da autora ao Brasil, o facto de a letra nos transportar para várias sensações, a saudade e esta noção de andarmos à deriva, mas sem perdermos a consciência das melhores coisas da vida.

amêndoas, won-pyung sohn
Feelings are Fatal, Mxmtoon ▫️ Yunjae nasceu com uma condição neurológica, de seu nome alexitimia, que o impede de identificar e expressar sentimentos. Ainda assim, à sua maneira, ele «que[ria] ser capaz» e «faria qualquer coisa» pelos seus, mesmo que nem sempre se aperceba disso. Quis, portanto, optar por um tema que evidenciasse vários sentimentos, porque acho que o protagonista foi quebrando uma barreira emocional e abrindo as portas que, inicialmente, pareciam fechadas dentro de si.

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Gatilhos: Luto, Drogas, Linguagem Explícita


O problema das expectativas é que nem sempre as conseguimos manter equilibradas. Como estava desejosa de regressar à escrita de Donna Tartt, e andava há imenso tempo à procura do único livro dela que me faltava ler, sinto que a experiência ficou um pouco condicionada por isso, porque criei outra imagem do enredo.


 dor, luto e vingança

O Pequeno Amigo leva-nos até Alexandria, no Mississípi, em pleno dia da mãe. Só que esta aparente data feliz fica marcada por um acontecimento trágico: Robin Cleve, de nove anos, é encontrado enforcado no quintal dos pais. O assassino permanece incógnito e, doze anos depois, Harriet, a irmã, e o seu amigo Hely unem esforços para descobrir quem matou Robin.

A premissa é excelente e vai buscar o traço sombrio que reconhecemos na autora. Além disso, a partir desta investigação informal, exploramos várias camadas e os próprios preconceitos tão enraizados na cidade que os viu nascer. Todavia, confesso, a narrativa seguiu um rumo que eu não esperava, o que acabou por me distanciar e, se calhar, contribuir para que não me relacionasse tanto com as estratégias e o sentido de missão das personagens.

«Correr podia levá-la para a frente, até podia levá-la a casa; mas não a podia levar para trás - nem dez minutos, nem dez horas, nem dez anos ou dias. E isso era duro, como diria Hely. Duro: uma vez que era para trás que ela queria ir, e o passado, o único lugar onde queria estar.»

Senti a narrativa oscilante e, por vezes, presa a planos secundários que, para mim, não acrescentaram assim tanta informação relevante. Por oposição, achei interessante o foco na vingança e no facto de esta ser, não tão raras vezes assim, um impulso para as nossas ações, como se mais nada importasse. Mas não foi tudo o que esperava, atendendo a que não contava que fosse esta a matriz.

Seja como for, O Pequeno Amigo é imprevisível, denso, taciturno e com personagens construídas ao detalhe. E esta talvez seja a maior força da obra.


🎧 Música para acompanhar: Bite The Hand, Julien Baker, Phoeb Bridgers & Lucy Dacus

📖 Outros livros lidos: O Pintassilgo | A História Secreta


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Gatilhos: Saúde Mental, Pensamentos Suicidas, Morte


A vontade de ler Elizabeth Strout era grande, antiga também, e uma combinação de fatores proporcionou-o. Ainda assim, mesmo querendo continuar a descobrir a obra da autora, confesso que este livro não correspondeu bem ao que estava a imaginar.


  um elemento comum

Olive Kitteridge leva-nos até Crosby, uma povoação costeira pacata, no Maine, onde todos conhecem a protagonista que empresta o nome ao livro. Aliás, «a temível professora de Matemática do liceu» parece ser o elemento comum entre os habitantes da vila, conhecendo os dramas e os segredos que os atormentam. Na companhia de Henry, o marido, veremos esta mulher a oscilar entre personagem principal e secundária ao longo destes contos.

Kitteridge é peculiar e acho que dificilmente a esquecerei pela sua personalidade inconstante: tão depressa consegue ser ácida, mordaz, indiferente, quase insensível a problemas alheios, como consegue ter comportamentos de quem, sem grandes manifestações, faz o máximo para que os outros estejam bem, confortáveis, seguros. Não sinto que nos cative de imediato, nem que seja fácil gostarmos dela, mas intriga-nos, até porque não sabemos qual será o próximo passo. Esta dicotomia fascinou-me, só que estava à espera de encontrar outra abordagem - acho que estava a idealizar uma presença mais determinante, influente, nas vidas de Crosby.

Há um quadro muito credível da condição humana nestas páginas, com a autora a partir de situações triviais para explorar a solidão, o preconceito, a ausência, o luto, a violência, a maternidade, as famílias disfuncionais, as inseguranças, o amor e a maneira como podemos condicionar as relações com os outros pelo modo como os tratamos. Cada uma destas peças do puzzle também é um alerta para Olive, porque vai reconsiderando aspetos da sua vida, redescobrindo-se.

«Chorar não teria chegado sequer aos calcanhares do que ela sentiu. Sentiu medo, sentada lá fora, na cadeira de armar. Medo de que o seu coração se contraísse e voltasse a fechar, como já acontecera, um punho desferido nas suas costas.»

Achei interessante o facto de não existir uma história propriamente dita, mas de irmos descobrindo diferentes retratos daquele lugar, daquelas pessoas. Olive, como referi antes, é a ponte entre todos e gostei que Strout se focasse no impacto que as nossas ações/decisões têm naqueles que nos rodeiam, bem como na noção de sermos todos falíveis, com questões pendentes e mágoas. Não sei se esta mulher se transformou, se se tornou mais benevolente, contudo, acho que deixou de ter medo de ser vulnerável e de exigir que os outros correspondam a uma certa imagem: porque, em algum momento, todos teremos incoerências.

A minha relação com Olive Kitteridge - personagem e livro - foi oscilante, mas a dada altura quis só sentar-me no banco de madeira, a observar a paisagem e a descobrir as histórias que a vila ainda terá para contar.


🎧 Música para acompanhar: Hello, Young Lovers, Southside Players


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Gatilhos: Referência a Aborto e Alcoolismo; Linguagem Gráfica e Explícita


A Clássica Editora desafiou-me a ler um livro do seu catálogo e eu aceitei o repto com todo o gosto. Deixando-me à vontade para escolher qualquer título, segui o percurso mais óbvio: aventurar-me num autor português, que talvez não descobrisse de outra maneira. E foi assim que fiquei a conhecer a escrita de Luís Bigotte de Almeida.


histórias dentro de histórias

A Casa na Serra é uma odisseia, uma vez que nos revela a história «de uma casa construída no meio das xaras, das giestas e dos barrocais de xisto e granito» e das «gentes que a habitaram». Todas estas pessoas, que se cruzam de alguma forma, seja pelos graus de parentesco, seja por circunstâncias mais ou menos felizes da vida, têm um vasto legado de memórias para partilhar e, naturalmente, segredos escondidos.

Sinto que parti para esta leitura com expectativas equilibradas e fui agradavelmente surpreendida: gostei muito da fluidez da escrita e da maneira como o autor foi construindo o enredo, transportando-nos para este ambiente que oscila entre os ares das aldeias e as convenções da cidade, entre a leveza de contactar com a natureza e a angústia de um passado marcado por um crime hediondo. E nós, enquanto leitores, vamos desvendando cada camada, como se estivéssemos a enfileirar matrioskas.

Esta história é muito portuguesa e tem uma identidade que se alinha com as minhas preferências, já que é daquelas que não tem personagens heroínas e reviravoltas excessivas. Pelo contrário, tem personagens que funcionam bem no seu todo, credíveis, imperfeitas e que poderíamos reconhecer na rua. É por esse motivo que nos impressionamos com «a vida difícil de Amílcar, Diamantino e Glorinha», que acompanhamos o Ti Fedrico, a Ti Casimira e os filhos «criados na serra», que nos divertimos com a chegada da «família à quinta da Ventosa, para umas férias na serra da Malcata» e com as brincadeiras dos miúdos, «que se juntavam para uns dias de felicidade», que avançamos com expectativa para o futuro de Amílcar e Euclides, que faziam do contrabando o seu rendimento, e que nos revoltamos com o grupo de três foragidos, que tanto caos trouxe àquele lugar e, em simultâneo, a uma das famílias.

«- Eles vivem todos aqui em harmonia com a natureza!
- Bem, mas acabam por ser prisioneiros destas montanhas»

Por outro lado, compreendemos o quanto o cerco político, o ambiente de ditadura e a guerra têm peso no quotidiano da população, principalmente, quando somos confrontados com as reais prioridades daqueles que, supostamente, têm a missão de a defender. Mesmo que a revolta não seja sentida no plural, torna-se evidente que, para alguns, os valores morais são inexistentes e que a sobranceria é o dialeto oficial.

A Casa na Serra tem, ainda, um tom de vingança. Afinal, existe um sentido de justiça que pretende honrar aqueles que nos são queridos e que foram vítimas de terceiros. É em situações destas que se comprova que o ser humano é feito de muitas áreas cinzentas e que até as melhores pessoas são capazes de comportamentos reprováveis.


🎧 Música para acompanhar: Venham Mais 7, Eu.Clides

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Uma viagem literária para descobrirmos autores portugueses


A aventura segue para um novo mês. E, respeitando a dinâmica habitual, trago mais dois nomes nacionais: Rita Cruz, enquanto autora para descobrir, e Nuno Camarneiro, enquanto autor que já li e recomendo.


 rita cruz

Nasceu na Beira Alta e as palavras sempre foram uma presença constante na sua vida, assumindo diversas formas. Publicou o primeiro livro em 2021, é fisioterapeuta e já trabalhou em várias partes do mundo.

   


 nuno camarneiro

Natural da Figueira da Foz, licenciou-se em Engenharia Física e doutorou-se em Ciência Aplicada ao Património Cultural. Publicou o seu primeiro romance em 2011, tem contos publicados em revistas nacionais e estrangeiras, venceu o Prémio Leya, em 2012, e mantém o seu blogue Acordar um Dia ativo, desde 2009.

LI E RECOMENDO

   

   


📖 Opinião sobre Debaixo de Algum Céu, No Meu Peito Não Cabem Pássaros, O Que Veem as Estrelas e O Fogo Será a Tua Casa

Outras obras do autor
Se Eu Fosse Chão | Não Acordem os Pardais | A Casa das Perguntas


O Alma Lusitana tem grupo no Goodreads

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«Só não vou ser o que eu não quiser»


Os artistas terem de ser (ou mostrar) mais do que a sua arte é um pensamento que tem ecoado em mim: por um lado, porque ainda há muito esta ideia de que quem não aparece é esquecido - o que parece conquistar outra dimensão com a presença tão constante das redes sociais nas nossas vidas - e, por outro, porque existe uma grande vontade de compreendermos melhor o que os motiva durante o processo criativo.

Embora não o acompanhe desde o início do seu percurso, o Dillaz é um dos artistas com presença garantida nas minhas playlists e sinto que é a exceção na regra do «quem não aparece é esquecido», atendendo a que é bastante discreto e que dificilmente o vemos em entrevistas ou conteúdos paralelos à música. E isso sempre me fascinou, porque nota-se que o foco está todo na arte - e não tanto no espetáculo envolvente - e porque não é por isso que tem menos público - os concertos, por exemplo, comprovam-no. Contudo, reconheço, adorava que abrisse mais vezes a porta dos bastidores, porque é algo que nos aproxima ainda mais.

Sinto, por outro lado, que cobramos demasiado dos artistas: se eles não estão a criar, têm de aparecer na televisão, na rádio e/ou em podcasts para falarem do seu trabalho. Se lançaram uma música, um livro, uma série, já têm de estar a pensar na criação seguinte. Depois são os concertos e as apresentações que têm de ser marcadas quase de porta a porta. Por isso, adoro que se mantenha fiel à sua essência e que não ceda à pressão de estar em todo o lado. Acredito que esta postura também possa vir de um lugar de desconforto, porque não é por querer ser artista que tem de se sentir à vontade para aparecer publicamente em programas, mas não deixa de marcar uma posição. Fazê-lo no seu ritmo, quando lhe faz sentido, torna tudo mais especial.


na casa com o próprio

EPISÓDIO 1: O OBJETIVO
Tenho vivido n’ O Próprio desde que saiu (ou ele é que tem vivido em mim?) e foi com um enorme entusiasmo que vi o anúncio desta minissérie: não só porque é algo inédito, mas também porque será mais uma forma de mergulhar na energia do álbum. Na Casa com O Próprio terá sete episódios. Estava à espera que tivesse uma duração maior, mas ficamos com uma pequena ideia do que nos espera.



EPISÓDIO 2: NO SÍTIO DO COSTUME
O segundo episódio deixou-me a refletir sobre estas questões: 1) as coisas que se mantêm iguais, idênticas na essência, mesmo que se passem muitos anos (e este pensamento também pode ser aplicado a algumas pessoas); 2) a diferença que as palavras fazem, sendo impressionante como a troca de um termo por outro muda toda a energia de um verso/de uma música; 3) as nossas diferentes versões, a capacidade de evoluirmos e de irmos iniciando e encerrando ciclos durante esse processo. E essa dinâmica alcança-se consoante as aprendizagens que fazemos.

Em simultâneo, fiquei a pensar que ele tem uma equipa incrível, porque é visível o compromisso e o profissionalismo, mas também se nota o quanto se divertem juntos.



EPISÓDIO 3: O MEU JARDIM
O terceiro episódio mostrou-nos um traço ainda mais descontraído do Dillaz. Achei curiosa a necessidade, se é que o posso designar desta forma, de sentir pressão, como se fosse um elemento crucial para a produção artística (e, em parte, não deixa de o ser, porque mantém o foco no objetivo) e, por outro lado, fiquei a pensar na ideia de ser «um ator com caneta», porque as suas letras podem não ser autobiográficas e ter esta capacidade camaleónica de, por exemplo, cantar sobre despedidas, sobre perdas, quando não é algo que esteja a acontecer na sua vida é um exercício desafiante e fascinante, na mesma medida. É como se pudesse explorar diferentes identidades.



EPISÓDIO 4: CONCENTRADO
O quarto episódio começa com um apontamento sobre uma das minhas músicas favoritas do álbum, Direção Paris. Depois, mostra-nos a segunda protagonista desta minissérie, a comida, porque tratam-se muito bem - aconselho-vos a não verem os vídeos com fome. Brincadeira à parte, acho que Na Casa com O Próprio espelha duas coisas fundamentais: mais do que estarem sempre em processo criativo, é importante fomentarem o espírito de equipa, a comunicação, a intimidade. A competência de cada um deles não está em causa, mas acredito que este nível de entendimento, esta abertura para ouvir e debater conceitos só é possível quando se promovem interações desta natureza: porque se conhecem ainda melhor e isso acabará por se refletir no trabalho final. Além disso, como referiu o Roadie, Miguel Ideias, estão a conseguir reproduzir o ambiente que vivem na estrada, como se estivessem em digressão.



EPISÓDIO 5: TRABALHO DE EQUIPA
O quinto episódio foca-se num dos aspetos que considero mais importantes: o trabalho de equipa. E deixou-me a pensar em algumas notas: 1) a facilidade com que criamos, quando nos conseguimos inspirar/apoiar nas pessoas que nos rodeiam, porque a sua energia tem peso no processo; 2) a influência coletiva e o sentido de comunidade, porque nota-se que se preocupam uns com os outros (e não só de um ponto de vista profissional); 3) as dúvidas que surgem, mas que se desconstroem com outra fluidez, tendo em conta que trabalham no mesmo sentido; 4) a importância da comunicação, do saber ouvir, de não haver egos e de porem «em comum» - achei particular curiosidade a este «pôr em comum», porque, enquanto indivíduos, não deixam de ter visões singulares, não deixam de ter a sua identidade criativa, mas usam essa individualidade para o todo, para acrescentar ao bem maior; 5) a metamorfose do artista, ao compreender quando é o momento de abrir a porta a outros profissionais, o que ajuda a dar visibilidade, a influenciar a criatividade e a ter outras perspetivas.

No fundo, acho que fica claro que rodearmo-nos das pessoas certas é meio caminho para que o trabalho corra bem melhor. Não será sempre incrível, não será sempre isento de perguntas. Será preciso debater muito. Mas saberes, à partida, que estão todos alinhados para um objetivo comum e que estão comprometidos em nome da arte, facilita, porque não tens de acrescentar uma pressão extra ao processo criativo.



EPISÓDIO 6: DIREÇÃO PARIS (ACÚSTICO)
Tenho alguma dificuldade em fechar o meu pódio de favoritas d’ O Próprio, porque houve temas com os quais tive uma ligação imediata - Colãs, Alô - e outros cuja ligação foi crescendo - Vivo, Pé no Mar. Direção Paris encaixa no primeiro grupo, não só pela melodia, mas pela promessa de ficar, ainda que as coisas mudem; pela certeza de estarmos no mesmo sítio, por mais que a outra pessoa acredite que não. Portanto, ter um episódio dedicado a este tema encheu-me as medidas. Sobretudo, por nos presentear com a sua versão acústica. Tenho um particular fascínio por versões desta natureza, uma vez que sinto que nos conectam ao traço mais puro da canção: sem grandes extravagâncias, a mensagem está toda ali, numa via de comunicação muito mais direta. E que momento bonito que ficou! Termino todos os episódios a sentir que passaram demasiado rápido e este não foi exceção. Ficaria mais tempo a escutá-los.



EPISÓDIO 7: 2 DA MANHÃ
O Zeca começou por partilhar que achava que este novo álbum do Dillaz tem um bocado dos outros projetos e eu dei por mim a acenar em concordância. Depois de ter ouvido O Próprio repetidamente, durante vários dias, fui revisitar trabalhos antigos e achei curioso como certos temas se cruzam: seja por palavras específicas, seja pelas situações/imagens que exploram. Há sempre um toque de modernidade, de novidade, mas é interessante ver que também encontra uma maneira de regressar às origens.

Além disso, neste último episódio, gostei de ver a transição de uma ideia melódica para a sua concretização, percebendo o quanto encaixa bem naquele tema. Por fim, tenho de destacar a honestidade em relação à gestão de expectativas e aos métodos de trabalho. No fundo, são gente como a gente e, ainda que tentem ser produtivos, também encontram maneiras de procrastinar. Aceitava uma segunda temporada.

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A minha proximidade com Gabriel García Márquez não é muito íntima, porque ainda só li quatro livros da sua autoria. No entanto, excluindo um deles - A Hora Má: O Veneno da Madrugada -, senti sempre a genialidade e a magia das suas palavras. E sei que, lentamente, hei-de viajar pela sua obra toda. Com essa missão em mente, avancei para um inédito, publicado este ano (em março).


 a liberdade de viver

Vemo-nos em Agosto é a história de Ana Magdalena Bach, que, todos os anos, a 16 de agosto, «apanha o ferry que a leva até à ilha onde a mãe está enterrada para visitar o seu túmulo». Num casamento feliz há vinte e sete anos e com uma vida estável, este ritual revelou-se um motivo para explorar identidades diferentes.

A protagonista pode ser uma mulher comum, mas a maneira como Gabo a desenhou tornou-a memorável. E não podia estar mais de acordo com a Sofia, quando partilhou comigo que a fez lembrar da Eliete, de Dulce Maria Cardoso, porque têm ambas a singularidade de uma mulher que apenas quer viver e usufruir a sua liberdade. Além disso, demonstram que não é necessário existir um acontecimento doloroso para que haja a vontade de mudar algo em nós. Pode ser só aborrecimento, poder ser um desejo antigo, não importa muito a razão. O que importa é que nada pode continuar igual e, por isso, farão um investimento nesse sentido.

Não sei como é que esta história fluiria, caso a doença não se tivesse intrometido, mas parece-me perfeita como está: nada é justificado ao detalhe, não se perde tempo a analisar escolhas e comportamentos e o leitor tem margem para imaginar. Aqui, é só a vida de uma mulher em movimento, a lidar com o seu luto, com a rotina, com o que conhece e com o que procura descobrir, incluindo-nos sempre em cada passo. Gostei mesmo de ver que o autor a construiu tão credível e como, através do seu ritual, nos mostrou tantas camadas.

«Não obstante, foram-lhe necessários vários dias para tomar consciência de que as mudanças não eram o mundo, mas sim dela própria, que andara sempre pela vida sem a ver, e só nesse ano, ao regressar da ilha, começara a vê-la com os olhos do escarmento»

Enquanto mergulhava na obra, pensava no desperdício que seria se tivesse sido destruída, conforme o autor pediu. Entendo o propósito, afinal, não a conseguiu trabalhar como pretendia, mas não deixaria de ser triste: primeiro, porque este livro foi a sua forma de continuar a lutar contra a doença; segundo, porque espelha muito daquilo que acredito ser a escrita do Gabo: imaginativa, poética e com uma visão fabulosa acerca do mundo e do ser humano. Para os mais entendidos, talvez precisasse de um pouco mais de revisão, para mim, sinto que preserva o essencial e esta pureza que nos desarma.

E o final? Sublime! Porque é completamente diferente e porque nos deixa a porta aberta para sonharmos com a continuação. Viveria mais tempo dentro desta história, mas que privilégio que foi poder lê-la assim.

Vemo-nos em Agosto lê-se num sopro, mas leva-nos ao lado mais íntimo do medo, do desejo e da resistência. As mudanças não precisam de vir de fora, nem precisam de ser expressivas, basta que comecem por dentro, de um modo silencioso. É o suficiente para que procuremos alternativas. Ana Madgalena Bach fê-lo e embalou-nos nessa dança.


🎧 Música para acompanhar: Siboney, Orquesta Aragón & Omara Portuondo

📖 Outros livros lidos: Crónica de Uma Morte Anunciada | A Hora Má: O Veneno da Madrugada | Cem Anos de Solidão | O General no Seu Labirinto


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Gatilhos: Morte/Luto, Exibicionismo, Linguagem Explícita


A memorabilia «das mãos que nos dão a mão quando caímos» é uma imagem subtilmente desenvolvida no livro de Djaimilia Pereira de Almeida. Continuando a descobrir a sua obra, é fascinante ver como certos trejeitos guardam tantas histórias.


uma obra de bordados

Os Gestos é um livro cheio de fragmentos, cujo ponto comum são notas no regresso a casa. Assim, divide-se entre anotações, ficções curtas, ensaios, sinais, fixações, lembretes, bilhetes e apontamentos de leitura, ao mesmo tempo que estabelece uma ponte entre imaginação - e todas as suas camadas - e observações verídicas, quase como se a autora tivesse abraçado a escrita de um diário e nos permitisse lê-lo.

O seu teor híbrido mostra-nos não só a diversidade de temáticas, mas também a própria pluralidade de interesses de Djaimilia Pereira de Almeida, pensamento corroborado no final do livro, quando temos acesso às notas bibliográficas. Achei curioso que se referisse tantas vezes às colagens que fazemos em miúdos, porque foi assim que senti este livro: como uma colagem de vários apontamentos (mais ou menos pessoais), que nos permitem divagar pela sua vida e por comportamentos transversais ao ser humano. Através de movimentos e cheiros, deparamo-nos com uma reflexão prolongada sobre memórias, existência e a possibilidade de nos espantarmos, mesmo quando o (nosso) quotidiano parece uma inalterável sucessão de experiências.

«Deixar que os livros me ajudem é parecido com deixar-me ajudar por outras pessoas. Incitam-me ao perdão. Chegam à minha vida para, de formas sempre novas, me ensinarem a perdoar-me. Cosem os anos uns aos outros como eu os coso. Não me julgam. Ensinam-me a não julgar os outros. O bordado que teço através deles é a vida pela qual respondo»

Por ser uma obra pouco linear, não me relacionei com todos os textos da mesma maneira, mas acho sempre fascinante o quanto a sua escrita consegue ser camaleónica e como me parece não se importar de correr riscos. A arte também é isso e, gostando mais ou gostando menos daquilo que apresenta ao leitor, nota-se que procura quebrar barreiras sem que a sua identidade se perca pelo caminho. Creio que este livro também consegue ser um bom exercício nesse sentido: na capacidade de continuar a procurar a sua voz, aquilo que a motiva, sem ficar presa a uma fórmula única.

Os Gestos é bordado com esmero, ainda que não seja «bordadeira nem o [seu] escritório casa de arranjos de costura». Porque Djaimilia Pereira de Almeida, através das palavras, vai explorando a noção de hospitalidade, estendendo a mão a quem vem de fora, fazendo por prolongar um espaço onde nos sintamos acolhidos, representados, quiçá validados. E moldando cada gesto, não deixa de criar memórias coletivas.


🎧 Música para acompanhar: Seventeen, Sharon Van Etten

📖 Outros livros lidos: Luanda, Lisboa, Paraíso | Esse Cabelo | Maremoto | Ferry | Toda a Ferida é Uma Beleza | Ajudar a Cair | Regras de Isolamento | O Que é Ser Uma Escritora Negra Hoje, de Acordo Comigo


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Gatilhos: Racismo, Linguagem Explícita


A primeira publicação deste livro remonta a 1963, «galvanizando toda a nação», sendo um dos primeiros a dar palco à luta do Movimento dos Direitos Civis. Mais de sessenta anos depois, seria expectável que a realidade fosse diferente, mas o testemunho de James Baldwin permanece tão atual como na altura, infelizmente.


 escrever para a humanidade

Da Próxima Vez, o Fogo é composto por dois textos: o primeiro, A Minha Masmorra Estremeceu, é uma carta para o seu sobrinho, escrita no centenário da abolição da escravatura nos Estados Unidos; o segundo, Aos Pés da Cruz, é um ensaio sobre a relação entre raça e religião. Transversal aos dois temos um tom intimista e amplamente honesto.

O que mais me fascina na escrita do autor é a sua capacidade de, sem qualquer filtro, nos transportar para aquela problemática. E, mesmo que existam culpados, nunca escrever de um lugar superior, até porque não acredita que responder na mesma moeda resolva alguma coisa - e isso fica bastante claro ao longo da leitura. Cruzei-me com um comentário que afirmava que o Baldwin «não escreve com moralidade, escreve para a humanidade» e eu sinto que não o poderiam ter descrito melhor.

«As pessoas não conseguem ver o que eu vejo quando olho para o rosto do teu pai, porque por detrás do rosto do teu pai no presente estão todos os rostos que foram dele»

O mundo está em chamas e o autor mostra-nos que um dos gatilhos prende-se com todo o tipo de discriminação - racial, sexual, de género e religiosa -, ao mesmo tempo que desmistifica que o «problema do negro» não é mais do que um problema do branco e da postura obsoleta de glorificar uma raça em detrimento de outra. Assim, apelando à consciência do leitor, reflete sobre diversos dilemas, partindo daquilo que viveu na pele.

Da Próxima Vez, o Fogo é um testemunho desconcertante sobre espiritualidade, sobre contradições políticas, sobre a hipocrisia que habita na Igreja e «no coração do país da liberdade», sobre invisibilidade e incompreensão. Em simultâneo, é uma partilha inspiradora sobre identidade, sobre não permitirmos que a vingança ganhe voz e sobre descobrirmos o nosso lugar no mundo.


🎧 Música para acompanhar: Mary Don't You Weep, Aretha Franklin

📖 Outros livros lidos: Se Esta Rua Falasse | Se o Disseres na Montanha | O Quarto de Giovanni


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andreia morais

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O meu peito pensa em verso. Escrevo a Portugalid[Arte]. E é provável que me encontrem sempre na companhia de um livro, de um caderno e de uma chávena de chá


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