Entre Margens

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A banda sonora de uma viagem literária


Os livros de julho, de um modo geral, proporcionaram-me uma experiência de leitura mais emotiva, por serem histórias de luto, de descoberta, de despedida. Mesmo aqueles com um cunho mais irónico e, até, revolucionário no trato, tiveram apontamentos emocionais. E tentei que a playlist acompanhasse essa energia.


não me esqueças, alix garin
J'ai La Mémoire Qui Flanche, Jeanne Moreau ▫️ Uma das cenas mais bonitas (e comoventes) desta novela gráfica envolve a canção de Jeanne Moreau, que fiquei a conhecer graças ao livro. Por isso, e por ter versos que retratam bem a condição de uma das personagens, senti que não fazia sentido procurar por outra música. Há coisas que nos ligam eternamente às nossas pessoas.

um quarto em atenas, tatiana faia
Black In The Crowd, Tom Waits ▫️ Esta associação foi a mais direta possível, visto que, já na reta final do livro, me cruzei com os seguintes versos: «eu ainda escuto nos headphones azuis/que pesam uma tonelada contra as minhas orelhas/essa canção de tom waits black in the crowd». Inevitavelmente, fui ouvi-la e não só gostei da melodia, como achei que a aura de desamor e de contacto com a multidão se enquadrava com vários dos poemas da obra.

a menina invisível, rita cruz
Grito, Iolanda ▫️ Uma das protagonistas, a dado momento, sente que precisa de gritar para se fazer ver. E esta ideia do grito é repetida em pontos-chave da narrativa, por isso, ocorreu-me a canção que a Iolanda levou à Eurovisão. Ademais, quando ela canta «entrego-me aqui pouco a pouco», «quero largar o que me deixou ferida» e «ainda arde», senti que poderiam ser versos/frases ditas por esta menina invisível, que nunca largou a mão, que também quis perdoar e ser quem quisesse.

homem objeto, tati bernardi
Lilies Of The Valley, Jun Miyake ▫️ Tati Bernardi comprou «uma caixinha de som que funciona por bluetooth» e alguns amigos deram-lhe dicas «maravilhosas para ouvir no Spotify». Um dos nomes era Jun Miyake e eu acabei por ficar presa a este instrumental, assim que o escutei: porque consegue transmitir diferentes estados de alma com a(s) sua(s) melodia(s), tal como o livro da autora.

gato comum, joana estrela
Nuvem Negra, Capitão Fausto ▫️ É provável que este tema dos Capitão Fausto não esteja relacionado com o processo de luto (ou talvez seja, apenas não é um luto por morte), mas espelha a perda de alguma forma. Ademais, espelha a inevitabilidade de certas transições/situações. Portanto, quando ouço os versos «Eu disse a toda a gente/Que este dia nunca, nunca viria», «Ninguém escapa à sombra escura desta nuvem», «Resta saber o que acontece agora/Qual dos nossos sonhos vai ficar de fora?» ou «Onde eras tu, ninguém se vem sentar» consigo recordar passagens desta leitura, quase como se fossem fases pelas quais passamos. O Gato Manel não foi à procura do que mais amava, mas ficou perto. «E não nos vamos despedir».

três histórias de esquecimento, djaimilia pereira de almeida
Lembrança, Miguel Carmona ▫️ A musicalidade deste tema pareceu-me embalar bem os dois contos que li desta obra (no total, são três, mas já tinha lido um deles). Além disso, sendo o esquecimento um elemento transversal - e tão central - nas histórias em questão, senti que, apesar de tudo, há coisas impossíveis de serem esquecidas. Em algum momento, pelos mais variados motivos, acabaremos por recordar fragmentos passados, dores, traumas, vivências. Quando Miguel Carmona canta «Já sei prever a minha ausência», «Mas se regresso a mim/Volto a ficar aquém» e «Nada avança» consegui rever todos os protagonistas.

maus hábitos, alana s. portero
Holding Out For a Hero, Bonnie Tyler ▫️ A autora incluiu um QR Code que nos encaminha para a banda sonora do livro e eu fiz questão de acompanhar a leitura ao som da mesma. Para o nota literária, senti que fazia todo o sentido associar este tema: 1) por causa da passagem «(…) dançamos canções de Raffaella Carrà e de Bonnie Taylor no quarto e sabemos que, por tudo isso, nos espera uma vida complicada»; 2) pelos versos que se referem à divindade, aos desafios e à ideia de precisar de um herói. A travessia da protagonista foi bastante dura, mas ela esteve sempre disposta a lutar.

se eu fosse chão, nuno camarneiro
Gaspard de la Nuit, Maurice Ravel & Ivo Pogorelich ▫️Vera Brule, uma das personagens deste romance, conheceu Ravel em 1913 e isso, depois de contornos que não revelarei aqui para não comprometer a leitura, valeu-lhe uma folha com uma dedicatória e o título deste tema. Resolvi ouvi-lo e, uma vez que senti que a sua melodia tão plural encaixava na pluralidade de personalidades que vamos conhecendo no decorrer da leitura, achei que era uma boa combinação.

imortalidade, dana schwartz
Not About Angels, Birdy ▫️ A história não é apenas sobre Hazel e Jack, embora sejam uma parte muito relevante do enredo. Ao ler a letra desta música, senti que os descrevia na perfeição, mas que também conseguia associá-la a outras personagens, sobretudo quando Birdy canta «If your heart was full of love/Could you give it up?» ou «How unfair it's just our luck/Found something real/That's out of touch». Além disso, também senti que a própria melodia encaixava muito bem na energia da ação.

o meu pai voava, tânia ganho
Relax, Frankie Goes To Hollywood ▫️ Estive muito tentada a associar «Grândola, Vila Morena», porque o pai de Tânia Ganho louvava Zeca Afonso. No entanto, fiquei fascinada com a passagem em que autora descreve que ela e o irmão mais velho aproveitavam que o pai voltava ao hospital, depois da sesta, para porem Frankie Goes To Hollywood a tocar na aparelhagem: num misto de rebeldia e de respeito pelo tempo do progenitor - que antes tinha estado a ouvir outro tipo de artistas. Acho que no meio de dias dolorosos, são estas as memórias que nos dão alento.

o microscópio do professor salazar, luís bigotte de almeida
Escândalo, Diana Castro ▫️ O papel da mulher e a luta feminista são dois dos temas centrais desta obra, passada entre 1911 e 1946. E é incrível como, ao ler a letra de um tema lançado em junho de 2024, há tantas imagens que se cruzam, ainda que se abordem perspetivas distintas: no livro, o que é esperado, o recato; na canção, o escândalo de certas atitudes. Seja como for, o que ambas demonstram é a vontade de ver a mulher submissa, pouco pensante, apenas dedicada ao lar, porque não convém que tenha opiniões e se instrua.

vinil rubro, mário freitas & alice prestes
I've Got You Under My Skin, Frank Sinatra ▫️ A música, nesta novela gráfica, assume duplo sentido. Primeiro, porque a protagonista é DJ; segundo, porque é uma arte que impulsiona memórias. E, numa das cenas retratadas, o tema de Frank Sinatra leva-a ao expoente máximo da sua emoção, do seu sofrimento. Porque, de facto, há pessoas que nos marcam tanto que parecem uma parte de nós.

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Gatilhos: Alzheimer, Relações Disfuncionais


A memória fascina-me: por ser um conceito tão identificável e, em simultâneo, tão abstrato, tão intocável. Temos uma ideia daquilo que é e, todavia, parece que pode ser tanta coisa diferente. Há memórias que guardo com muito carinho e, depois, tenho a tendência para brincar com o facto de ter uma memória péssima. Mas, em momentos mais reflexivos, uma das questões que me preocupa é a sua perda. Não tanto de um ponto de vista pessoal, mas mais no sentido de compreender que os meus se começam a fragmentar. Como é que se gere quando as nossas pessoas já não sabem bem quem somos?


 a perda e tudo o que nos fica

Não Me Esqueças, que me comoveu logo no título e ainda mais quando percebi a sua pluralidade, alinhou-me com a travessia emotiva de Clémence, cuja avó sofre da doença de Alzheimer. Ao ver o seu quotidiano no lar, decide tirá-la de lá e levá-la «numa viagem em busca da hipotética casa da sua infância». Será isto uma fuga, um reencontro ou uma despedida? Ou poderá a decisão de Clémence albergar um pouco de cada uma dessas realidades?

A sensação de impotência é gritante, mas também o é o amor e a urgência de proporcionar tempo de qualidade a Marie-Louise. Mesmo que ela nunca se venha a lembrar, a protagonista criou novas recordações com a avó e serão essas a perdurar, até porque, nesta viagem, ficará com uma maior consciência de si, das suas falhas, do impacto daquilo que fica por dizer. É que «tarde demais chega mais depressa do que imaginamos» e sinto que tentará quebrar essa tendência.

«Talvez seja por isso que amo a arte e o teatro. Para ter a oportunidade de falar do que é íntimo, a coberto da ficção... Aprender mais sobre as próprias falhas, através das falhas dos outros. Saber que não estamos sós. E também que não somos únicos. Mas muita gente sabe isso... Mesmo quando fazemos de conta que estamos a contar a história dos outros, falamos é um pouco de nós, não é?»

A vida passa a ser outra coisa, quando a doença do Alzheimer bate à porta. Mas, como referiu Ana Bárbara Pedrosa, cabe a Clémence lembrar: não só porque ela sabe quem foi a avó, mas também porque ainda a tenta resgatar da nuvem que passou a habitar a sua cabeça. «Cada momento vivido é um adeus lento ao que se foi» e, embora duro, não deixa de ser maravilhoso ver como os papéis se inverteram, como é a neta que, agora, «guia a avó pela mão», ao mesmo tempo que embarca num processo de autodescoberta.

Esta novela gráfica, de Alix Garin, faz-nos sentir cada emoção, cada etapa, capa decisão. Foi, sem qualquer dúvida, uma das mais bonitas que já li: pelas temáticas que aborda, por nos consciencializar para uma batalha tão silenciosa e desgastante, pela sensibilidade e pelo humor que também floresce nas peripécias entre as duas. Não me esquecerei.


🎧 Música para acompanhar: J'ai La Mémoire Qui Flanche, Jeanne Moreau


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Gatilhos: Referência a Suicídio e Luto


Uma das memórias mais presentes que tenho da infância é das férias em Monte Real, mais concretamente na Residencial Colmeia (hoje, Hotel Colmeia). Esta tradição, chamemos-lhe assim, começou com os meus avós, depois os meus pais passaram a acompanhá-los e, quando nasci, segui-lhes as pisadas. Íamos em agosto, quase sempre na mesma altura, o que significava cruzar-me praticamente com os mesmos rostos, todos os anos. Depois desse período, seguíamos as nossas vidas sem termos novidades uns dos outros, mas, no ano seguinte, voltávamos a reconhecer-nos, à rotina e a percorrer os mesmos recantos, como se nunca tivéssemos saído daquele lugar, como se tivéssemos ficado em pausa. Esta noção de familiaridade sempre me fascinou e pareceu-me que ia recuperar uma imagem semelhante no livro de Nuno Camarneiro.


histórias do hotel palace

Se Eu Fosse Chão traz-nos histórias do Hotel Palace, que acolheu diplomatas, políticos, viúvos, recém-casados, crianças, atores, prostitutas, assassinos e até alguns fantasmas, durante três épocas distintas - 1928, 1956 e 2015. Neste estabelecimento, há um mundo de possibilidades, até porque todas estas personagens, para além de virem de meios diferentes, transportam bagagens plurais, onde cabem retratos de felicidade, de tristeza, de conspiração, de solidão, de finitude. Se num quarto podem coabitar histórias tão antagónicas, imaginem multiplicá-las por três pisos, com 17 quartos cada - embora um deles esteja fechado à chave, o que traz uma certa energia misteriosa.

O autor tem uma capacidade extraordinária para colocar portas sucessivas num ambiente fechado. Essa característica atraiu-me quando li Debaixo de Algum Céu e voltou a conquistar-me nesta obra. Ainda assim, tenho de confessar que me ficou a faltar algo: talvez porque estivesse à espera que os protagonistas se encontrassem de alguma forma, em algum momento da narrativa. Mas isso nunca chegou a acontecer. No fundo, parece que funciona como um ponto de partida para imaginarmos o futuro destas pessoas, para lhes criarmos um rumo/sentido e uma série de memórias novas.

«Um quarto fechado é sempre uma história por contar, enquanto não o abrirem, cada um há-de ter a sua»

Não obstante, creio que este livro também alimenta uma curiosidade partilhada: seja num hotel, num apartamento, em transportes públicos, sinto que acabamos por nos questionar sobre as vidas daquelas pessoas, de onde vêm, para onde vão, quais são os seus gostos, os seus sonhos, os seus medos. Não as conhecemos e o mais certo é que assim continuemos, por isso, idealizamos vários cenários, sem chegarmos a um consenso. Aqui, como «as paredes têm ouvidos e os espelhos já viram muitos rostos ao longos dos anos», conseguimos escutar as suas histórias e satisfazer esse vazio.

Se Eu Fosse Chão não me mudou a vida, mas não deixa de ser uma leitura agradável. Ademais, há uma sensação de proximidade, porque se foca na condição humana.


🎧 Música para acompanhar: Gaspard de la Nuit, Maurice Ravel & Ivo Pogorelich

📖 Outros livros lidos: Debaixo de Algum Céu | No Meu Peito Não Cabem Pássaros | O Que Veem as Estrelas | O Fogo Será a Tua Casa


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«Mas a vida levou o melhor que eu tinha em mim»


A voz da Elisa ecoou pela casa, num reencontro inesperado que não só veio desbloquear pensamentos, como também se alinhou com uma pergunta pendente: seremos mesmo leves ou teremos só medo de sentir?


 ser leve

Estava na minha rotina de segunda-feira, há umas semanas, a escutar Isso Não se Diz, quando o Bruno Nogueira começou a refletir sobre o que é ser leve - de espírito, de personalidade, de emoções. Honestamente, não tenho uma resposta concreta, mas creio que é uma imagem poética, porque transmite a sensação de ficarmos a pairar, como se fôssemos capazes de avançar sem grandes danos, sem grandes consequências.

Ser leve não me parece simples, atendendo a que quase nos obriga a não pensarmos sobre o que nos rodeia, mas há momentos em que isso se afigura como uma bênção, porque deixamos de ter uma noção profunda dos problemas e, em simultâneo, afligimo-nos menos. No fundo, como não perdemos tanto tempo a analisar o assunto de diferentes perspetivas, ele «passa como se fosse uma ventania» e acreditamos que está sempre tudo bem e que não é necessário prolongar qualquer tipo de dor, porque amanhã o sol voltará a nascer.

Por um lado, essa sensação parece idílica e, portanto, maravilhosa. Por outro, sinto-a apenas falaciosa. Porque, tal como o humorista realçou, quando nos tornamos pessoas pesadas (e em alguma ocasião isso acontecerá), transformamo-nos na soma de todas as vezes em que deixamos passar. E acho que, nesse instante, o confronto será pior, porque teremos de lidar com tudo ao mesmo tempo; teremos de equilibrar uma série de situações que vêm do passado para que as resolvamos, sem que alguma delas se/nos estilhace.

Houve uma fase da minha vida em que acreditei ser leve e que esse era o caminho: não por não ficar a pensar nas coisas, mas por achar que algumas não mereciam o meu tempo. E, efetivamente, há tópicos que não o merecem, porque não acrescentam. Mas precisamos de os sentir no momento em que os vivemos (ou num período próximo), para que também consigamos largar a mão. Portanto, não, não sei ser uma pessoa leve.


 ter medo de sentir

Ambicionar esta leveza nem sempre é um ato ponderado. Muitas vezes, é apenas uma estratégia inconsciente para nos resguardarmos. É que sentir leva-nos das nuvens ao abismo numa questão de segundos.

Queremos tanto sair desta travessia sem feridas expostas, que erguemos muros. Impedimo-nos de gerir o impacto de cada situação. Evitamos confrontos. Engolimos as lágrimas, os medos e tudo o que nos dilacera, porque assumimos que essa é a solução para ultrapassarmos os problemas. É como se o filme continuasse no ecrã, mas lhe fossemos diminuindo o som, para não incomodar e ser uma mera presença inconsequente.

É claro que ninguém se quer sentir no lodo. Se pudéssemos escolher, embarcaríamos numa viagem tranquila, sem oscilações. Só que, embora vá constatar o óbvio, a nossa vida não é tecida de pontos altos: eles existem, mas vêm sempre acompanhados pelo seu avesso. Por esse motivo, não, não nos acho pessoas leves, acho, isso sim, que temos muito medo de sentir. Sobretudo, porque não queremos que os outros nos vejam vulneráveis, porque acreditamos que mostrar as nossas fragilidades é um convite para que nos diminuam ou para que nos vejam como alguém menos capaz. Outro cliché que encaixa bem aqui: não somos. Somos humanos. E humanos que sentem, mesmo quando não querem. E existe muita beleza neste processo.

Precisamos de aprender a abraçar o peso das nuvens, nem sempre passageiras, que cobrem o nosso céu. Se vai magoar? Vai. Mas, pelo menos, permitimos que doesse no tempo em que era suposto; pelo menos, não passamos à frente, deixando a porta entreaberta. Como é que é suposto sarar se impedimos a purga?

Precisamos de aprender a dar a mão ao medo que as nossas emoções escondem. Aí, talvez consigamos acolher a leveza: não aquela que nos alheia do mundo, mas aquela que renasce quando encerramos ciclos. 

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Gatilhos: Linguagem Explícita


O meu plano inicial, este mês, para o desafio Ler Djaimilia, era focar-me na versão autónoma d’ A Visão das Plantas. No entanto, estava a ter dificuldades com a encomenda e fiz uma troca, lendo na mesma o título pensado. Confuso? Já explico.


obra tríptica

Três Histórias de Esquecimento compila as novelas A Visão das Plantas, Maremoto (ambas com edições independentes) e Bruma (uma novela inédita). Na origem destas histórias temos a afirmação do filósofo Peter Geach: «Talvez um homem possa perder a sua última chance quando é novo, e depois viver até ser velho: viver contente e sentir-se em casa no mundo, mas aos olhos de Deus estar morto». Portanto, este tríptico concentra-se na noção de desperdício que influencia a vida dos três protagonistas.

É interessante perceber como três narrativas aparentemente distintas conseguem interligar-se no trato, na forma como estes homens encaram o passado e no facto de a escravidão, o tráfico de escravos e a Guerra Colonial continuarem a pesar no presente.

Celestino, Boa Morte e Bruma partilham uma série de tormentos: uns por serem causa de sofrimento, outros por sentirem as atrocidades cometidas. Em simultâneo, conseguem espelhar a culpa, a ausência de remorsos, a sensibilidade e a noção de liberdade, mesmo quando não se é livre. O ser humano não é só feito de bondade, poderá alguém responsável pela dor ser digno de um final de vida descansado?


a visão das plantas

O Capitão Celestino é uma personagem d’ Os Pescadores, de Raul Brandão. Quando o leu, Djaimilia Pereira de Almeida ficou com vontade de explorar a sua história, por isso, conheceremos melhor o homem que viveu como pirata, que foi traficante de escravos e que regressou a casa para morrer. Solitário e relativamente introspetivo, há algo que se torna evidente: o seu amor pelo jardim - motivo de cobiça na vizinhança.

«O vulto tocou nas rosas, admirou-as, palpando as pétalas com os dedos. Depois, sentou-se ao sol na cadeira e recostou-se. (...) Celestino deixou de querer saber se o espreitavam, se não lhe falavam»

Tendo em conta a idade da personagem e o facto de viver tão atormentado pelo passado, afinal, foi capaz dos comportamentos mais hediondos, a sequência narrativa pode tornar-se um pouco confusa, porque não é linear. Creio que a construção de Celestino é bastante credível, humana. E adorei que o tornasse antagónico: como é que alguém que fez coisas terríveis tem esta sensibilidade toda para cuidar das suas plantas e amá-las? Contudo, estava à espera de encontrar uma escrita um pouco mais acessível, com outra abordagem, para ser mais simples de acompanhar a evolução.


maremoto

Maremoto é uma história vulnerável, triste e poética, que nos inclui nas trivialidades do quotidiano, no mesmo compasso em que nos desarma através de pensamentos e observações de uma beleza singular. Levando-nos até Lisboa, ficamos a conhecer Boa Morte, um ex-combatente da guerra colonial e arrumador de carros na Rua António Maria Cardoso, e a sua amiga, que vive na Rua do Loreto, na paragem do 28. É ao tentar arrumar a sua vida que ele vai escrevendo cartas a uma filha que não conhece.

Apesar de todas as micro catástrofes que pautam o caminho do protagonista, há um cuidado com o outro que nunca é descurado. Em simultâneo, ao termos acesso à correspondência para a filha, fazendo-a presente nas mais diversas circunstâncias, percebemos o quanto a ama e o quanto lhe pesam as feridas e um passado sombrio, que ditou a ausência. Nesta história, marcada por uma escrita com uma certa musicalidade, a autora obriga-nos a olhar para aqueles que nos rodeiam e a reconhecer a diferença. Aliás, sacode-nos para que a abracemos e, sobretudo, para que compreendamos os pedidos de auxílio. Numa cidade que se reveste de tanta vida, é inconcebível que tantas pessoas permaneçam invisíveis, a viver do que a rua lhes dá.

«Já é tarde para chorar meus erros, foi tarde no instante em que os cometi»

Maremoto confronta-nos com vidas complexas, com o peso da solidão, com as marcas da marginalização, com o impacto da pertença que se manifesta de um modo unilateral. Mas, acima de tudo, mostra-nos que o amor é a bússola que norteia os nossos valores e tudo aquilo que trazemos de mais puro no lado esquerdo do peito.


bruma

Bruma é um duplo fantasioso do escudeiro negro que lia histórias ao pequeno Eça de Queiroz. Ávido leitor «da literatura de cordel» e dos «contos tristes das águas do mar», talvez seja, dos três homens desta obra, aquele que tem uma aura mais misteriosa.

«A floresta era ele. Indicava o caminho, alimentava desgraçados, fazia-lhes companhia, disfarçando com a máscara da solidão que sentiam. Sozinhos, errantes, esquecidos, restava-lhes como família o que traziam dentro, reserva que a floresta esvaziava com o tempo, enchendo-os com o seu ritmo, perigos, sombras e graças»

O que mais me fascinou nesta novela foi, sobretudo, a noção de liberdade, porque Bruma não era livre. Antes pelo contrário, era cativo, vivia submisso, levando-nos a refletir sobre a dignidade humana e, uma vez mais, sobre a invisibilidade e «a amnésia estrutural». Através desta personagem, Djaimilia Pereira de Almeida pretendia mostrar que uma pessoa submissa também pode permanecer livre no seu interior.


em resumo

Já tinha lido a versão independente de Maremoto, por isso, concentrei-me nos outros dois títulos - A Visão das Plantas e Bruma. Embora também tenha gostado de os descobrir, sinto que Maremoto é mais coeso, mais relacionável. Por outro lado, creio que a autora construiu três personagens com quem facilmente poderíamos conviver.

Três Histórias de Esquecimento mostra-nos nuances do mesmo problema, socorrendo-se da memória, do tempo e de estratégias para apaziguar o sofrimento e encontrar rumo.


🎧 Música para acompanhar: Lembrança, Miguel Carmona

📖 Outros livros lidos: Luanda, Lisboa, Paraíso | Esse Cabelo | Maremoto | Ferry | Toda a Ferida é Uma Beleza | Ajudar a Cair | Regras de Isolamento | O Que é Ser Uma Escritora Negra Hoje, de Acordo Comigo | Os Gestos


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Uma viagem literária para descobrirmos autores portugueses


As leituras de agosto são longas e leves. Ainda que não seja rigorosa nos títulos que seleciono para além dos desafios/clubes literários, porque continuo a ler de acordo com o meu estado de espírito, acabo por aproveitar o mês das férias para me dedicar aos livros maiores. Curiosamente, acho que os nomes que calharam em agosto, no Alma Lusitana, conseguem corresponder às características que mencionei no início. Assim, tenho Bruno M. Franco, enquanto autor para descobrir, e Ana Pessoa, enquanto autora que já li e recomendo.


 bruno m. franco

Nasceu em 1990, é licenciado em Radioterapia e trabalha no IPO de Lisboa, mas a escrita também ocupa uma grande parte da sua vida. A título de curiosidade, praticou natação de alta competição, de 2002 até 2016.

   

   


 ana pessoa

Nasceu em Lisboa e licenciou-se em Línguas e Literaturas Modernas (Estudos Portugueses e Alemães). Com 22 anos, foi fazer um estágio de seis meses na Alemanha, mas a estada prolongou-se até aos dias de hoje: «vive em Bruxelas desde 2007, onde trabalha como tradutora». A sua obra é mais vocacionada para um público infanto-juvenil, no entanto, acolhe-nos a todos. E tem expandido para o estrangeiro - prémios incluídos.

LI E RECOMENDO

      

   


📖 Opinião sobre Mar Negro, Mary John, Aqui é Um Bom Lugar, O Caderno Vermelho da Rapariga Karateca e Supergigante

Outras obras da autora
Eu Sou, Eu Sei | A Casa Senhorial | Assim ou Assado | Desvio | O Gnu e o Texugo - Cuidado Com o Vento | O Gnu e o Texugo - Está a Chover | A Luz é Grande | O Que é Isto? | Alguém | Por Exemplo, Uma Rosa


O Alma Lusitana tem grupo no Goodreads

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«e outras coisas sobre ser mulher»


Os livros de crónicas têm conquistado um espaço expressivo nas minhas leituras, porque me dão liberdade para deambular por vários tópicos - independentes ou não - e porque são o aliado perfeito para as horas de almoço. Se o tempo de concentração estiver mais curto, consigo ler na mesma e sem sentir que estou a comprometer o meu entendimento da história. E se há cronista que pretendo acompanhar é a Tati Bernardi.


 dos intestinos à tesão

Homem-Objeto foi publicado, originalmente, no Brasil em 2018. A edição que chegou a Portugal, em novembro de 2023, compila todos esses textos e ainda inclui algumas crónicas novas. Transversal a todas elas temos a sensação de serem o mais diversas possível, transitando da banalidade para a seriedade - e vice-versa.

É o segundo livro que leio de Tati Bernardi e reforço o pensamento com que fiquei no primeiro: é maravilhoso perdermo-nos na sua escrita e na forma como encara as mais variadas situações do seu quotidiano ou do mundo, no geral. E adoro que equilibre tão bem as suas partilhas, quase como se tudo fosse motivo de fascínio ou, pelo contrário, como se nada fosse assim tão importante para não caber num texto humorístico. E é, precisamente, através da inteligência do seu humor que aborda situações tão vitais para a sociedade e, em particular, para a mulher.

«Que nada nos defina, que nada nos sujeite, que a liberdade seja a nossa própria substância e que, com sorte, ele não me peça para ficar por cima hoje. Estou com preguiça»

Podemos ou não concordar com a visão/opinião descrita, no entanto, creio ser inegável a franqueza e o charme do seu sarcasmo. Por isso é que me ri muito com certos apontamentos e também me comovi. Talvez não na mesma medida, mas a riqueza desta obra passa, ainda, pela oportunidade de experienciarmos tantas emoções distintas.

Homem-Objeto desarma pela observação detalhada, pelas histórias peculiares e por conseguir ser verosímil, mesmo quando parece hiperbolizar a realidade. Na lista de crónicas favoritas destaco Nunca Amei Ninguém, Aleluia?, Vai Ter Que Ser na Marra?, Perdão, Rapazes, Só Quando o Bebê Der Certo, Pais Não Envelhecem e "Coisas" Está Entre as Coisas Mais Deliciosas do Mundo. O jeito, por vezes, abrutalhado de se expressar, sem recorrer a qualquer filtro, deixou-me com vontade de continuar mais tempo a lê-la - isso e a aventurar-me na escrita de crónicas.


🎧 Música para acompanhar: Lilies Of The Valley, Jun Miyake

📖 Outros livros lidos: Você Nunca Mais Vai Ficar Sozinha


Disponibilidade: Wook | Bertrand

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«belo abismo»


o que se cura é o avesso
da pele, o que vem de dentro
o que se expele pelas ruínas de uma morada
sem lar

a casa cede e nós caímos
regeneramos
pedaço a pedaço
partes de alma enclausurada
num corpo que não nos pertence mais

o que se cura não se traduz
é um abismo vulnerável na beleza
talvez seja só um verso
perdido, a romper fachadas antigas
enquanto lá fora viajam andorinhas
quando já se foi a primavera

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Gatilhos: Violência, Doença Mental, Bullying


O silêncio, em determinadas ocasiões, é bastante ruidoso. Quando estamos em sofrimento, vulneráveis ou emotivos, ficamos tão assoberbados que seria mais fácil se pudéssemos deixar de sentir, se pudéssemos carregar num botão e entrar em pausa. Mas e se isso, em vez de ser algo momentâneo, fosse permanente? É o que vamos desvendar no livro de Won-Pyung Sohn.


 um monstro encontra outro monstro

Amêndoas conta-nos a história de Yunjae, que nasceu com uma condição neurológica, denominada alexitimia, que o impede de identificar e expressar sentimentos. Portanto, emoções como, por exemplo, o medo, a tristeza e a raiva são-lhe completamente desconhecidas, o que se revelará desafiante e limitativo, obrigando-o quase a fingir para se integrar.

O seu porto seguro divide-se entre a mãe e a avó, que unem esforços para o prepararem o melhor que conseguem, desenvolvendo estratégias que lhe permitam lidar com o mundo à sua volta. Só que no dia em que completa 16 anos, em plena véspera de Natal, um acontecimento atroz abala tudo o que conhece, ficando sozinho. Narrado na primeira pessoa, é curioso perceber como é que perante esta ausência emocional nós conseguimos sentir tanto.

Enquanto educadora de infância (de formação) e alguém que trabalha de perto com crianças e adolescentes, reconheço a importância de um diagnóstico célere, para que a forma de atuar seja o mais adequada possível. É natural existirem receios, sobretudo pela questão dos rótulos e por serem olhados como se não fossem mais do que aquela característica. Não obstante, esta identificação precoce (quando exequível) é a maneira mais direta de compreender, de reconhecer a diferença e de não permitir que seja um motivo de exclusão. Nesta parte, gostei que a família não omitisse as dificuldades, mas que também não procurasse culpados. Pelo contrário, concentrou-se no protagonista e construiu, em conjunto, ferramentas para o futuro, numa demonstração plena de amor.

«Nunca fui abandonado por ninguém. Mesmo que o meu cérebro fosse uma trapalhada, o que mantinha a minha alma inteira era o calor das mãos a segurar as minhas, dos dois lados»

Fiquei mesmo rendida à narrativa: pela delicadeza, por nos incluir em vários acontecimentos, ainda que possa não ser tão natural para nós, atendendo a que não partilhamos a patologia de Yunjae, por vermos o seu compromisso e todas as suas tentativas para não ficar isolado no seu mundo. Ele está a aprender e eu sinto que fui aprendendo com ele.

Não é segredo que sou fascinada por obras sem personagens heroínas e sendo esta tão focada no protagonista, e menos na história em si, achei maravilhoso acompanhar a sua evolução. Houve alguns aspetos que não me pareceram tão verosímeis, mas a criação do narrador está soberba, porque vemos a sua transição, vemo-lo despir uma pele mecanizada para florescer enquanto alguém que questiona e quer sentir. Isto não significa que tenha passado de um extremo ao outro: significa apenas que aquela sensação robótica começa a ceder e a abrir espaço para que se torne na pessoa que «nunca, jamais, imaginaria poder ser».

Amêndoas é a prova que a empatia e os laços de amizade podem mudar-nos por dentro. E que, por mais que existam coisas que fujam do nosso entendimento, aceitar também é uma demonstração de afeto, de estima, de amor. Não há monstros nesta história. Há mãos a amparar a alma inteira de Yunjae. E eu comovi-me muito ao perceber que algo em si se libertou para sempre.


🎧 Música para acompanhar: Feelings are Fatal, Mxmtoon


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andreia morais

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O meu peito pensa em verso. Escrevo a Portugalid[Arte]. E é provável que me encontrem sempre na companhia de um livro, de um caderno e de uma chávena de chá


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