DEZ ANOS // DEZ APRENDIZAGENS

Fotografia da minha autoria

«Estamos sempre a tempo de aprender lições valiosas na vida»

Uma década. O que parecia um cenário altamente abstrato é, agora, uma realidade muito mais próxima e sólida. Há quase dez anos na blogosfera [comemoro-os em plena noite de S. João], conto com uma bagagem de memórias especial. Muitas palavras. Muita partilha. Muita lealdade. E um crescimento indescritível. Nesta plataforma, conheci seres humanos extraordinários, reforcei uma das minhas maiores paixões, desafiei-me e fui apreendendo lições em distintas fases do percurso. É impossível integrar este mundo virtual sem identificar comportamentos que nos inspirem. E há dez aprendizagens que considero imprescindíveis.

A identidade não é negociável: Acredito que há espaço para todos, desde que se perpetue o respeito mútuo. Numa blogosfera em constante evolução, é natural que existam tópicos transversais e ideias que se complementem ou que se toquem em certos detalhes. Porque não somos os únicos a explorar conceitos que possam fugir da nossa zona de conforto ou que sejam um espelho da nossa personalidade. No entanto, tudo o que partilhamos não pode carecer de identidade. Somos muitos - e com tendência para sermos mais. E há imenso talento e criatividade por aqui, mas não podemos ser fotocópias. Temos, pelo contrário, de privilegiar as características que nos diferenciam. Evidenciá-las. E sermos inteiros, agindo em conformidade com quem somos. É isso que nos aproxima e que estabelece ligações de fidelidade.

Abraçar o compromisso: Independentemente da finalidade, quando criamos um blogue é fundamental compreendermos que estamos a assumir um compromisso, não só connosco, mas também com quem dedica um pouco do seu tempo a ler-nos. Isso não significa criar publicações diárias - caso não exista essa vontade -, nem manter uma presença quase ao segundo. Temos é que ser consistentes na nossa verdade. Na honestidade do nosso conteúdo. E priorizar o mínimo de dedicação. É uma gestão que exige trabalho para que o resultado seja pertinente e fiel ao conceito que pretendemos construir, mas não há maior gratificação que esta. Portanto, por mais divertido e descomplicado que seja ter um blogue - que é -, nunca se esqueçam que ao abrirem as portas de vossa casa não é justo deixá-la ao abandono. É tudo uma questão de saber cuidar.

Escrever, primeiro, para nós: Eu sei que ao publicar numa plataforma pública também o estou a fazer para os outros. A partir do momento em que disponibilizo conteúdo online, aquele texto já não é só meu. Ainda assim, continuo a defender que devemos escrever para nós. Isto é, escrever porque, de facto, nos identificamos com o tema e não porque queremos agradar. É fácil cair na tentação de desenvolver publicações sobre assuntos que estão na moda e que tenham maior visibilidade, mas questionem-se sempre se realmente vos interessam assim tanto. Um blogue não tem que revelar tudo sobre nós, mas não deixa de ser uma extensão da nossa personalidade, por isso, não se diminuam para caber nos gostos de alguém. Façam valer os vossos. Embora os temas abordados possam não interessar a todos, há sempre quem regresse, porque reconhece a paixão inerente às palavras.

O caminho nunca é em linha reta: Quando abraçamos um projeto durante um longo período de tempo, constatamos que as mudanças são inevitáveis. Porque crescemos, tornamo-nos mais conscientes, mais ponderados e mais seguros do que nos move. Em consequência deste processo de maturação, há linhas criativas das quais nos desenlaçamos e outras que fazemos questão de manter. E até a nossa predisposição se altera. Há temáticas que já não nos fazem tanto sentido, assim como há blogues com os quais deixamos de nos identificar - não tanto pela pessoa que o faz crescer, mas pelo conteúdo em si. E isso não é um problema, é uma etapa natural. Logo, não tenham medo de largar a mão - também já o fizeram convosco -, nem de priorizar o que vos satisfaz: quer a ler, quer a escrever. Claro que custa libertarmo-nos deste vínculo, ainda para mais quando estabelecemos alguma empatia, mas seria mais cruel - e menos cordial - insistir em algo que já não se adequa a nós. Acima de tudo, tem que haver honestidade.

Nunca agradaremos a todos: Este é, possivelmente, um dos maiores erros que podemos cometer, até porque estamos a relegar a nossa identidade para segundo plano. É maravilhoso perceber que há pessoas que compreendem e se identificam com a nossa mensagem, mas isso não acontecerá com todas. Além disso, haverá sempre alguém pronto a implicar e a distorcer o que escrevemos, da mesma maneira que algumas publicações despertarão mais interesse e afeição do que outras. Faz parte. E esta componente também é uma mais valia para aprendermos a não nos levarmos demasiado a sério. No final do dia, têm é que sentir que correspondem às vossas expectativas. Devem dar o devido crédito à opinião de terceiros - com limites saudáveis -, porque alargam-nos os horizontes do nosso conhecimento, mas não façam as coisas só com o intuito de agradar. Façam porque vos inspiram.

Criar sem medos: Quando comecei o meu primeiro blogue, foquei-me apenas em partilhar textos ficcionais. Anos mais tarde, senti necessidade de transitar para um projeto mais versátil, porque eu não sou uma só característica. E desde então que, respeitando os meus gostos, tenho-me desafiado a explorar formatos de escrita e temas distintos. Porque é algo que me apaixona. Sendo o blogue uma aposta pessoal, defendo que faz todo o sentido criarmos conteúdo que nos dê prazer, independentemente de ser uma constante ou de ser uma novidade. Naturalmente, vamos associando uma imagem à nossa plataforma, mas isso não significa que nos limitemos. Quem é que diz que, no nosso espaço, não podemos abordar temas antagónicos? Porque é que escrevendo, maioritariamente, sobre literatura não posso quebrar essa linha editorial e falar sobre futebol? Eu entendo que a presença de demasiados estímulos pode desorientar-nos e passar a ideia de que ainda não encontramos o registo certo. Contudo, só vamos descobrir o nosso caminho se experimentarmos várias rotas. E se há algo que sei é que somos feitos de infinitas gavetas. Por isso, criem sem receios.

Mais conteúdo, menos números: Sei que parece impossível desligarmo-nos da parte numérica, ainda para mais quando adquire tanta força diariamente, mas continuo a preocupar-me muito pouco. É gratificante receber mais comentários/partilhas/seguidores, porém, não é o que me motiva. O que me desarma é perceber que há pessoas a dedicarem-se de alma e coração aos seus textos. O que me emociona é o diálogo na caixa de comentários; é entrar na minha casa encantada e reconhecer os de sempre. Por muito que os números tenham peso, não permitam que se transformem em algo pouco saudável. Quando fechamos o computador, garanto, não é isso que importa, não é isso que nos marcará a memória.

Valorizem as pessoas: E, uma vez mais a interação. O melhor da blogosfera é mesmo esta parte humana, que nos aproxima apesar da distância física. Estimem quem chega. Abram as portas a novos inquilinos. Valorizem opiniões e sugestões. Convivam. Porque é esta magia que torna a nossa viagem mais bonita e especial. Acima dos números estarão sempre os rostos de quem faz parte desta família virtual. Imaginem, então, o aconchego que é, ao celebrar uma década na blogosfera, perceber que dialoguei e conheci pessoas muito diferentes, mas igualmente inspiradoras. Cresci com todas e não duvido que sou, também, melhor blogger por cada uma delas. Isso é impagável.

Não tenham pressa: Crescer demora, criar a nossa comunidade também. Mas não procurem apressar o processo. Desfrutem de cada passo e aproveitem todos os ensinamentos inerentes. A vossa jornada fica mais valorizada quando sabem respeitar o vosso ritmo. Além do mais, não façam as coisas com segundas intenções. Não se demorem onde nada vos acrescenta, mas também não brinquem com o tempo dos outros. Prefiram os passos sólidos à corrida. Porque numa plataforma que engloba tantas pessoas, só quem chega com os valores certos se mantém firme.

O retorno chega: O meu veio sempre através do carinho de quem me lê. Nas mensagens que fazem questão de deixar. Nas iniciativas que eu lanço e que aceitam quase de olhos fechados. No facto de olhar a lista de leitores e perceber que alguns já estão comigo desde o Parte do que sou. O meu retorno é este. E não podia estar mais grata. Porque estas pessoas veem-me crescer e não desistem de mim. Não sei bem o que fiz para as merecer - como canta Carolina Deslandes -, mas faço por cuidar delas de alma e coração abertos. A dedicação é, para mim, a estrada que nos permite chegar a bom porto. E para quem se entrega com verdade há sempre retorno. Sempre!

[Reflexão sugerida pela Carol Daixum - Pequena Jornalista]