STORYTELLER DICE // O VOO DO PÁSSARO
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Fotografia da minha autoria |
«Pássaros medrosos também voam»
O primeiro voo é assustador. Exige muita convicção. E uma certa dose de loucura, porque acreditamos que o lento e doce abrir de asas é natural e é o impulso necessário para levitar. Mas há sempre uma réstia de chão que nos aprisiona: pelo conforto. E porque o risco de cair é menor. Só que a vista também se torna menos apaixonante, sobretudo, para quem nasceu para conhecer o mundo de cima: entre o aconchego das nuvens ou naquela planície de céu aberto.
Escondido nos ramos da japoneira ou saltitando por entre os braços da laranjeira, o pássaro de peito amarelo encontrava coragem para se aventurar no terreno de predadores. E eu ficava a observá-lo, dentro de casa, de coração em suspenso, temendo o momento em que o levariam à força. Porém, aquela criatura frágil e terna não parecia intimidada com esse cenário. Pelo contrário, quase que sentia na sua atitude um esgar de desafio. E não pude ocultar o quanto essa possibilidade me divertia, pois conferia um sublime traço de justiça poética a esta postura de sobrevivência, a esta aparente ausência de medo. E de olhar compenetrado, vi-o partir e regressar vezes sem conta, prolongando, num arco perfeito, um rasto de adrenalina e de dever cumprido. Sempre com a mesma elegância. Sempre com a mesma esperança.
Absorta, compreendi finalmente a incoerência em que a minha vida se transformara. Com mais meios e, talvez, menos riscos, permiti que o receio me impedisse de voar para longe. Sabotei-me, quando apenas precisava de abrir a janela para deixar o sol entrar. É impressionante como o mundo pode ser nosso, mas preferimos esconder-nos debaixo das folhas do jardim ou no meio dos arbustos, dando voz à cobardia, em vez saltarmos a cancela. E ali estava ele, aquele pequeno ser que ainda agora aprendeu a planar, a ensinar-me que o perigo maior não está nas garras que nos podem prender, mas na escuridão que habita em nós. E como se me analisasse, senti a sua curiosidade a retribuir-me o olhar. Repousando de mais uma viagem, percebi que, mesmo amedrontado, seria impensável para ele estagnar. Não voltar a tentar. Ficar somente à espreita. Por isso, segui a confiança das suas asas.
Alisei as penas cor de sonho. E sem destino, desafiando a sorte, voei em liberdade. Porque a minha alma de forasteiro, presa dentro da gaiola que construí, partiu as grades. E eu renasci das cinzas.
O medo impede-nos tantas vezes de voar.....
ResponderEliminarIsabel Sá
Brilhos da Moda
Pois é! Temos que aprender a não o permitir
EliminarUm belo texto minha amiga, gostei do que li.
ResponderEliminarUm abraço e boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Fico contente, Francisco! Muito obrigada *-*
EliminarBoa semana
Temos tanto a aprender com a natureza minha querida :) Adorei o teu conto :) Acredita que diz mesmo muito :)
ResponderEliminarBeijinhos
Oh, se temos, minha querida! É uma aprendizagem inesgotável.
EliminarMuito obrigada *-*
Que bonito e interessante texto! Parabéns :))
ResponderEliminarBjos
Votos de uma óptima Terça - Feira.
Obrigada, Larissa :)
EliminarOs animais ensinam-nos tanto. Temos muito a aprender com eles. Infelizmente, o ser humano é feito de muitos medos; mas é quando os superamos que nos tornamos melhores pessoas.
ResponderEliminarBeijinho grande!
É incrível como sabem tão bem o que vale a pena! Fico fascinada com a astúcia e a sensibilidade deles *-*
EliminarSim, sem dúvida, concordo totalmente
Acho que devemos sempre tentar, pois o medo não nos pode impedir, parabéns pelo texto lindo que faz reflectir
ResponderEliminarBeijinhos
Novo post
Tem post novos todos os dias
Sinto que podemos desconstruir o medo, porque é sinal de que estamos a arriscar e a procurar evoluir. Portanto, essa sensação acaba por ser positiva para crescermos.
EliminarMuito obrigada, Sofia!
Absolutamente perfeito: história e fotografia.
ResponderEliminarA minha alma forasteira, que odeia gaiolas e zonas de conforto, abraça com carinho o passarinho:-*
EliminarTeresa,
O final da história da Andreia transportou-me as memórias para a voz da Conchita Wurtz :)
Muito obrigada, Ematejoca *-*
EliminarAlgo que disse que te ias identificar com este passarinho!
Que associação curiosa, Clara :)
EliminarUma associação fantástica, querida Clara.
EliminarConfesso que nunca me ocorreria esta associação. Mas é também por isto que adoro a partilha via comentários :)
EliminarConcordo contigo!
EliminarMas entenderás melhor se te contar que eu sou uma "festivaleira" nata e confessa no que diz respeito ao Eurofestival. Quando em 2014 a Conchita ganhou com o fabuloso tema "Rise Like a Phoenix" e deu a vitória à Áustria, eu e a Teresa estávamos a torcer por ela! 😊
Assim é muito fácil compreender o motivo da associação! E, de facto, faz todo o sentido :)
EliminarTambém me junto ao grupo de festivaleiros
ResponderEliminarUma grande lição de vida!
Entendê-la... é mérito do aluno.
Parabéns por mais esta short story da qual não consegui desviar o olhar enquanto não cheguei ao fim.
Beijinhos sem fuligem
(^^)
Enche-me o coração ler isso. Muito obrigada!
EliminarAdoro as tuas fotos!
ResponderEliminarQuantas vezes não somos esse pequeno pássaro com medo de dar o salto.
Mas temos que o fazer...
Beijinhos.
Sandra C.
bluestrass.blogspot.com
Agradeço, Sandra :)
EliminarÉ mesmo crucial darmos esse salto, temos muito mais a ganhar
Fantástico, mais uma vez!
ResponderEliminar«(...) o perigo maior não está nas garras que nos podem prender, mas na escuridão que habita em nós.»
Há alturas em que é disto que precisamos, de observar o mundo à nossa volta e ganhar coragem para ir, para ser livre, para voar. Não é fácil, mas é possível. Ir com medo, mas com a coragem atrelada :)
Muito obrigada, minha querida *-*
EliminarAprender a parar e a observar é mesmo fundamental, porque, lá está, permite-nos encontrar inspiração e motivação para avançarmos. O medo fará sempre parte da nossa caminhada, não podemos é permitir que nos corte as asas
Que texto maravilhoso!!
ResponderEliminarSempre senti que o medo é a coisa que mais nos impede de voar. Mas não pode ser assim. Todos temos as nossas asas e temos de levantar voo correndo os riscos que forem necessários para alcançar aquilo que tanto queremos :)
Muito, muito obrigada, Cátia *-*
EliminarTemos que arranjar forças nesse medo para impulsionarmos o voo.
É isso mesmo!
O importante é "dar o salto" e não ligar ao medo :)
ResponderEliminarwww.amarcadamarta.pt
Não diria melhor, Marta. É mesmo isso :)
EliminarAdorei ler o texto! Por vezes ainda me assusta dar o salto.
ResponderEliminarBeijinhos
Muito obrigada, Amélia *-* acho que esse medo fará sempre parte da nossa jornada, mas, pensando bem, não deixa de ser algo positivo
EliminarO medo às vezes é o maior obstáculo que nos impede de podermos chegar mais além. Mas, também, às vezes é preciso termos medos. Para evitarmos certas aventuras que para as quais não estamos, minimamente, preparados. Para as poder realizar em segurança. O perigo está sempre e em todo lado à espreita dos mais aventureiros. Mais vale prevenir do que remediar! Acaba por cair nas garras da fera, o passarinho que sem estar preparado para voar, voa do ninho!
ResponderEliminarGostei do seu texto. Está muito bem escrito. parabéns Andreia. Boa noite e bons sonhos!
O medo chega a paralisar-nos e isso faz com que estagnemos. Cada vez mais acredito que o medo tem um traço bastante positivo, não só porque nos alerta para o perigo, mas também porque nos mostra que estamos a arriscar. E ninguém tem medo do que conhece. Só quando nos desafiamos é que sentimos esse frio na barriga. E é assim que crescemos.
EliminarMuito obrigada, Edumanes!
Excelente, como sempre.
ResponderEliminarTudo nos pesa para nos libertarmos, não conseguimos ter a sagacidade de uma ave.
Beijinho
Muito obrigada, Magui *-*
EliminarVerdade! Parece que nos sentimos confortáveis nesses pesos, porque nos mantêm perto do que conhecemos
E tornaste-te numa fénix. Lindo!
ResponderEliminarR: eu já andava para ler o livro há muito tempo, mas como ainda não estava traduzido para português ia adiando. Depois saiu o filme e eu disse que ia ler antes de ver, mas falhei xD e adorei o filme.
Muito, muito obrigada, minha querida *-*
EliminarTambém queria ter lido antes de ver o filme, mas inverti as voltas ahahah o filme está mesmo incrível!
Por vezes temos medo de voar girl, mas temos de ser mais fortes que ele :D
ResponderEliminarBeijinho *
https://w-m-mind.blogs.sapo.pt
Concordo totalmente contigo! Temos mesmo que ser mais fortes :)
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