Entre Margens

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As minhas leituras são planeadas com uma certa ordem, porque privilegio sempre os clubes/desafios que abracei, mas sem pensar no que poderão ter em comum. Não obstante, gosto muito quando consigo estabelecer elos entre histórias, porque é como se se estivessem a alinhar diferentes planos narrativos.

Inspirada por este pensamento aleatório, decidi ampliar o propósito das notas literárias. Assim, para além da componente musical (que também terá uma abordagem nova), partilharei as curiosidades que fui registando ao longo do mês, bem como a tbr para o seguinte.


a tbr de janeiro: expectativa
  • Perguntem a Sarah Gross, João Pinto Coelho
  • Onde Crescem os Limoeiros, Zoulfa Katouh
  • As Histórias Que Não Se Contam, Susana Piedade
  • O Que a Chama Iluminou, Afonso Cruz
  • A Cama Onde Elas se Deitam, Faridah Àbíké-Íyímídé
  • A Amiga Genial, Elena Ferrante
  • Mulheres Invisíveis, Caroline Criado Perez

a tbr de janeiro: realidade

Dos sete livros anteriores, li seis, porque Mulheres Invisíveis é para descobrir com calma, atendendo a que é de não ficção e inclui vários dados para assimilar. E ainda acrescentei:
  • O Que Escondemos na Luz, Lara Félix
  • Obra Reunida, Carla Madeira (o texto inédito, já que os romances tinha lido em separado)
  • As Outras Máquinas de Arquimedes, Joana Bértholo & João Dias

algumas curiosidades

Em janeiro, li:
  • 9 livros: 3 romances, 2 jovem adulto, 1 de não ficção, 1 policial/thriller, 2 de contos;
  • 7 autoras e 2 autores: 5 portugueses, 1 canadense, 1 italiano, 1 britânico e 1 brasileiro;
  • duas autoras pela primeira vez: Zoulfa Katouh e Lara Félix
  • pela segunda vez A Amiga Genial, de Elena Ferrante
Favoritos do mês:
  • Perguntem a Sarah Gross, João Pinto Coelho
  • Onde Crescem os Limoeiros, Zoulfa Katouh
  • O Que a Chama Iluminou, Afonso Cruz
Não consegui estabelecer um elo entre todas as histórias, mas há três que até parecem ser um complemento umas das outras. Ora reparem:
  • Layla e Salama, de Onde Crescem os Limoeiros, recordaram-me Esther e Sarah, de Perguntem a Sara Gross;
  • O cenário de guerra, desumanidade e destruição que encontrei no livro de João Pinto Coelho também o encontrei no livro de Zoulfa Katouh - sem esquecer que essas características são muito mais ampliadas no segundo;
  • Quando Afonso Cruz refere que tirou várias fotografias numa manifestação, mesmo que o alertassem para guardar a máquina, fez-me lembrar de Kenan e do seu trabalho para filmar/fotografar o que se passava na Síria.

vamos a contas?

Um dos propósitos que renovei foi o de continuar a ser consciente na hora de comprar livros. Por esse motivo, sem entrar em book buying ban, optei por listar obras que quero mesmo comprar este ano e ir fazendo uma gestão equilibrada dos gastos. Deste modo:
  • Comprei um livro físico, usufruindo de uma campanha de promoção da Bertrand: na compra do livro mais recente da Mafalda Santos, ofereciam o primeiro da autora. Além disso, como tinha dinheiro em cartão, achei que compensava pagar 11,74€ por dois exemplares;
  • Ativei subscrição no Kobo Plus, que me custou 6,99€. Li 4 eBooks, o que me fez poupar 76,28€ (para referência, usei o valor dos livros físicos na wook);
  • Comecei janeiro com 42€ na Apparte. Uma vez vez li 9 livros, adicionei 9€, partindo para fevereiro com 51€.

banda sonora

Nos últimos dois anos, procurei associar sempre um canção aos livros que fui lendo, compilando tudo numa playlist no Spotify. Em 2025, a abordagem será um pouco diferente, porque não terei essa playlist disponível, mas associarei mais temas a cada história.











tbr de fevereiro
  • Palavra do Senhor, Ana Bárbara Pedrosa
  • Melhor Não Contar, Tatiana Salem Levy
  • Uma Mulher Não é Um Homem, Etaf Rum
  • Enquanto Lisboa Arde, o Rio de Janeiro Pega Fogo, Hugo Gonçalves
  • História do Novo Nome, Elena Ferrante
  • Amar em Tempo de Pandemia, Edgar Martins Valente
  • Aquilo Que o Sono Esconde, Mafalda Santos

Fotografia da minha autoria



O ato de escolher um livro pela capa ainda levanta questões, no entanto, existem algumas que nos saltam logo à vista, quase ao ponto de as querermos expor. Isso aconteceu-me com a do livro de Zoulfa Katouh, cujo azulão combinado com o dourado do título ocupou um espaço considerável na minha memória. Aproveitando que foi a escolha de janeiro da Rita no Livra-te, pedi-o emprestado à Sofia e parti à aventura.


uma história sobre escolhas (ou a falta delas)

Onde Crescem os Limoeiros transporta-nos para a Síria, no início dos anos de 2010, quando o país está em plena revolução. A ecoar, para além do medo, temos os sucessivos pedidos de socorro, clemência e liberdade, porque o ambiente começa a revelar-se irrespirável. Aqueles que ficam não sabem a que custo, mas partir, apesar de tentador, pode não ser uma solução, já que há sempre um fator a pesar: ir parece significar virar costas ao país e a todos aqueles que continuam a resistir.

É através de Salama, de 18 anos, a estudar Farmácia e a trabalhar num hospital de Homs, que temos uma visão aproximada do conflito, conhecendo os contornos horrendos de famílias destruídas, de vítimas altamente maltratadas, da desumanidade, de sonhos que ficam suspensos. Em simultâneo, como se já não fosse choque suficiente assistir a tudo na primeira fila, a jovem mulher procura reerguer-se de um luto profundo, tendo em conta que a guerra lhe levou os pais e o irmão. No meio de tanto sofrimento, resta-lhe a companhia da cunhada Layla, «que tanto quer proteger» e que acaba por ser a sua maior fonte de esperança.

«Não quero chorar sobre como vou acabar a adolescência com nada mais do que esperanças perdidas e o sono repleto de pesadelos. Quero sobreviver»

O enredo é gráfico e cinematográfico, portanto, senti-me muitas vezes a ser repescada para a ação, sendo impossível não estabelecer uma ponte com o que se está a passar, hoje, no mundo, onde assistimos a uma crise de refugiados fraturante, pessoas a largarem tudo o que conhecem para sobreviverem, direitos básicos a serem descartados, a mortes por negligência e a um tom de incerteza constante. Aliás, como mencionou a Rita no discord, estar a ler sobre esta guerra civil na Síria ou sobre o que se passa atualmente na Palestina é quase igual, porque existem inúmeros aspetos transversais.

Foi muito duro de acompanhar, por todos os inocentes que não tiveram escolha, por tudo o que não se controla e pelo cenário de caos. No entanto, também encontrei vários pontos de luz e acho que a autora conseguiu equilibrá-los muito bem, já que nem tudo é destruição. Às vezes não temos noção do nosso privilégio e esta história dá-nos outra perspetiva, permite-nos sair da nossa bolha e pensar no outro.

«- Despojaram-nos das nossas escolhas e, por isso, agarramo-nos ao que pode assegurar-nos a sobrevivência»

Adorei a construção das personagens, o ritmo, a forma como oscilamos entre o horror e a esperança e como pomos em causa os nossos valores por um bem maior, porque a narração é bastante credível. Ademais, sinto que esta história tem detalhes lindíssimos, que nos fazem encontrar salvação no meio da catástrofe. A maior fragilidade, para mim, talvez seja mesmo a componente romântica, porque interessou-me mais o elo que se sobrepõe nas entrelinhas.

Onde Crescem os Limoeiros desarmou-me em partes distintas, ao ponto de dar por mim a chorar em muitas delas, porque é uma história sobre pessoas e não sobre números, é sobre aqueles que permanecem no silêncio, esquecidos, a lutarem para sobreviver. E isso, muitas vezes, implica ir, apesar dos riscos, de não se saber o que se encontrará. Por isso, acho que este livro é, ainda, sobre o que pode crescer nos ambientes mais inóspitos, tal como os limoeiros que continuarão a crescer apesar de os tentarem destruir.


notas literárias
  • Gatilhos: Guerra, Linguagem Gráfica e Explícita
  • Lido entre: 5 e 7 de janeiro de 2025
  • Desafio: Clube do Livra-te
  • Formato de leitura: Físico
  • Género: Romance
  • Personagens favoritas: Layla e Salama
  • Pontos fortes: As temáticas que potenciam debate, os detalhes simbólicos e a construção de personagens
  • Banda sonora: Marjorie, Taylor Swift | Epiphany, Taylor Swift | Run For Your Life, The Fray | Wander, Dyathon | Horizons, Marika Takeuchi | Ya Lalali, Kawtar

Disponibilidade: Wook (Livro | eBook) | Bertrand (Livro | eBook)
Nota: Esta publicação contém links de afiliada da Wook e da Bertrand

Fotografia da minha autoria



é na lei da distração
da qual o meu dialeto é fluente
que encontro o que nem sabia querer
procurar para viver

não sei se esteve sempre ali, à espreita
à minha espera, do meu tempo condicionado
mas cheguei e pareceu-me estar a regressar
ao que se estende de mim
sem que nunca tivesse sido meu

acho que o silêncio sempre falou demasiado
alto, assertivo, para sustentar o riso
ou o choro ofegante
mesmo quando não o quis ouvir
ou simplesmente não soube
perdendo-me na divagação de um mundo alado
inexistente
uma cadeira vazia, testemunha da passagem
das horas que libertei de mim

talvez haja beleza no que não sei pronunciar
ainda que ande distraída
à procura
sem saber por onde seguir

Fotografia da minha autoria



O reencontro com João Pinto Coelho não tardou, primeiro, porque fiquei fascinada com a sua escrita em Mãe, Doce Mar e, segundo, porque eu e a Sofia o incluímos num desafio literário: seis autores para 2025. Sendo totalmente franca convosco, embora seja apenas o segundo contacto, entrou para a minha lista de escritores favoritos.


um passado a apanhar todas as nossas fugas

Perguntem a Sarah Gross leva-nos até 1968, quando Kimberly Parker, «uma jovem professora de Literatura», concorre a uma vaga em St. Oswald’s, um colégio interno de elite, dirigido pela enigmática Sarah Gross. As vidas destas duas mulheres interligam-se não só graças ao contexto profissional, mas também aos fantasmas do passado. Em simultâneo, somos transportados para a cidade de Oshpitzin, a sessenta quilómetros de Cracóvia, que recebeu os primeiros judeus e viu a sua comunidade a aumentar. A felicidade foi dando lugar ao horror e, com a invasão da Polónia pela Alemanha nazi, transformou-se no «maior campo de extermínio da História», de seu nome Auschwitz.

Entrei nesta narrativa devagar, para me habituar ao ritmo e à alternância temporal, mas assim que me familiarizei com a dinâmica fui sugada para aqueles ambientes, para as partilhas das personagens, para o impacto dos seus sonhos, dos seus medos, das suas incertezas. E isso só foi possível porque a escrita do autor é cinematográfica, com a dose certa de detalhes, de emoção e, até, de humor. Há muita coisa a separar-me destas pessoas e, ainda assim, senti-me a caminhar ao lado de cada uma delas.

«Que sentimentos esconderia o silêncio que se seguiu?»

É curioso como o passado parece apanhar todas as nossas fugas, como nos tentamos resguardar e os nossos esforços parecem insuficientes. Na tentativa de encontrar paz, Kimberley mudou-se para longe de tudo o que conhecia, mas a verdade é que nunca se sentiu verdadeiramente livre. Sarah, por seu lado, sem que nunca nos revelasse a sua história, escudou-se da maneira mais inteligente para se proteger - a si e aos seus, como depois compreenderemos. E não consigo deixar de pensar como o futuro de ambas poderia ter sido tão diferente, caso a tragédia não se imiscuísse no caminho.

Pouco a pouco, João Pinto Coelho tirou-me o chão, porque há mestria no modo como traça cada fragmento, no modo como tece as várias camadas desta história e nos envolve nas suas reviravoltas surpreendentes. E, por esse motivo, dei por mim lavada em lágrimas em partes muito específicas, porque conseguiram ser espelho daquilo que o ser humano tem de pior e do que tem de melhor. Acho impossível ficarmos dormentes ao lermos este livro, porque nos desassossega, porque nos obriga a sair da nossa bolha de conforto e a questionar os valores que defendemos, o nosso propósito.

«É curiosa a maneira como certas recordações nos prendem aos lugares onde as vivemos, mesmo que estes não passem de um cenário tão neutro como papel de embrulho»

Creio que me cruzei com protagonistas que dificilmente esquecerei, porque, acima de tudo, o livro é sobre elas, sobre as suas histórias, sobre as suas dores, sobre a forma como resistiram às mais diversas circunstâncias. E sem que seja possível esquecer, também, este período histórico, fica evidente que não estamos perante mais um retrato dentro do tema: o autor trouxe uma perspetiva que parece estar em falta.

Perguntem a Sarah Gross tem tanto de triste como de belo, explora abusos, preconceitos e dinâmicas familiares/de amizade. E é arrebatador do início ao fim. Regressarei.


notas literárias
  • Gatilhos: Preconceito, Luto, Linguagem Explícita
  • Lido entre: 1 e 4 de janeiro de 2025
  • Desafio: 6 autores para 2025
  • Formato de leitura: Físico
  • Género: Policial/Thriller
  • Personagens favoritas: Miranda Pritchard e Sarah Gross
  • Pontos fortes: A escrita envolvente, o mistério e os diálogos
  • Banda sonora: Acácia, Luís Severo | Lembras-te de Mim?, Nena & Carolina de Deus | Piece Of My Heart, Janis Joplin | Lift Me Up, Ground Zero Academy Orchestra | No Body, No Crime, Taylor Swift & HAIM | Buongiorno Principessa, Nicola Piovani

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Fotografias da minha autoria



O lado bom de ter um roteiro gastronómico (um dos, sendo honesta) é a flexibilidade de irmos acrescentando novos espaços, mesmo quando não estamos a contar aumentar a lista - conscientes de que isso acontecerá sempre que algo nos chamar à atenção.

A Rita foi à Biblioteca Municipal Florbela Espanca, em Matosinhos, conversar sobre os seus livros - As Coisas Que Faltam e Quando os Rios se Cruzam - e, apesar de não ter um horário compatível para estar na sessão, foi a desculpa perfeita para um reencontro com ela e a Sofia, desta vez, no Genuino Italiano, um restaurante contemporâneo que, como o nome permite antever, privilegia o traço genuíno da cozinha italiana.

Começando pela sala, achei-a aconchegante, muito por causa dos tons creme e das linhas minimalistas. Uma vez que fomos jantar num dia de semana, creio que usufruímos de um ambiente ainda mais sereno, porque a tivemos quase só para nós. Além disso, fomos muito bem recebidas e o acompanhando durante a refeição foi sempre atento e cuidado. Adorei o pormenor de nos explicarem a carta e de nos deixarem à vontade para questões adicionais.


Para entrada, pedimos um trio de petiscos, em forma de bruschettas, numa viagem de sabores que nos leva do Norte ao Sul de Itália. Como prato principal, optei pelo Gnocchi Al Pesto, com pesto de manjericão, pinhões e parmesão, e uma limonada caseira. E só posso tecer elogios a estas iguarias, porque, desde a apresentação à confeção, estava tudo no ponto.

Fiquei com vontade de regressar e experimentar outras opções da carta, que tem espaço para os clássicos, mas que vai mudando para que se explorem especialidades de várias regiões.

Fotografia da minha autoria



O livro Para Onde Vão os Guarda-Chuvas é um dos meus favoritos do Afonso Cruz, por uma série de razões, a começar pelo facto de, para mim, espelhar a mestria com que o autor cria cenários efabulados, tornando-os credíveis, apetecíveis. E falo-vos deste título em concreto porque uma das suas obras mais recentes relaciona-se com ele.


urdir sombra e luz

O Pai Natal Não Vive no Polo Norte talvez seja uma das suas obras mais provocadoras, irónicas, porque o texto e as ilustrações estão em permanente contradição, levando-nos a considerar o que vemos, o que incentivamos, as narrativas que reproduzimos. Em simultâneo, alerta-nos para realidades antagónicas, como se pretendesse interligar a esperança e o descontentamento, como se nos quisesse mostrar que a vida necessita deste equilíbrio constante, para que consigamos manter-nos de pé, em movimento.

Perante uma mensagem que nos desconcerta, sobretudo pelo contraste entre os temas e os traços tão cheios de cor, que nos fazem acreditar num mundo extraordinário, somos confrontados por uma certa inversão de valores, pela hipocrisia que vai conquistando espaço, pelo consumismo exacerbado, pela superficialidade. Através de uma figura tão carismática como o Pai Natal, Afonso Cruz desassossega-nos, porque nos convida a iniciar um debate sério, cada vez mais urgente, sobre as festividades.

Se é verdade que a quadra natalícia é um espelho de amor, solidariedade, empatia e família, também é verdade que vamos observando uma adulteração da sua essência. E na procura de um Natal idílico, esquecemo-nos (ou preferimos não ver) que do outro lado do espelho encontramos desigualdades profundas, segundas intenções, vários tipos de poluição, trabalho infantil, oportunidades de negócio e uma infinidade de outras questões que não se coadunam com aquilo que deveria ser a sua celebração.

«Por vezes, abraça-as e dá-lhes palmadas nas costas, como nós fazemos quando vemos pessoas de quem temos saudades»

Incentivamos as crianças a acreditar, a imaginar, a não prescindir do encanto e, até, da inocência de prolongar a magia da utopia, mas a que custo? Estaremos a salvaguardar o seu futuro ao permiti-lo? Ou deveremos, antes, começar a alertá-las mais cedo para os efeitos das nossas ações? Como escreveu Joana Bértholo, no Posfácio, «uma das muitas coisas que me atraem nos seus livros é a forma que têm de urdir sombra e luz, levando-nos pela mão, pelo que na experiência humana há de inconcebível, intratável ou penoso, sem nos deixar perder de vista a beleza, a poesia e o espanto». Por isso, este conto não pretende plantar a semente da deceção, mas, pelo contrário, fazer-nos pensar e, talvez, compreender que há diferença entre sonhar e alimentar a ilusão.

Por outro lado, creio que esta obra é um exercício de imaginação extraordinário, repescando a identidade dos mitos, das lendas, das histórias que nos trazem algum alento e que passamos entre gerações, quase como se fossem um legado inquebrável.

O Pai Natal Não Vive no Polo Norte faz-nos pensar nas incongruências do ser humano, na quantidade de vezes que dizemos algo e fazemos precisamente o oposto. Num claro manifesto de consciencialização, não assume, ainda assim, um tom derrotista, antes pelo contrário, mostra-nos que apenas precisamos de redescobrir o «potencial mágico» sem colocar em causa a generosidade, o planeta e a dignidade das pessoas.


🎧 Música para acompanhar: Prenda de Última Hora, João Couto

📖 Outros livros lidos: A Boneca de Kokoschka | Os Livros Que Devoraram o Meu Pai | O Pintor Debaixo do Lava-Loiças | Flores | Paz Traz Paz | O Macaco Bêbedo Foi à Ópera | Nem Todas as Baleias Voam | Princípio de Karenina | Vamos Comprar Um Poeta | Uma Dor Tão Desigual | Para Onde Vão os Guarda-Chuvas | O Vício dos Livros | Jesus Cristo Bebia Cerveja | Mar | O Livro do Ano | Sinopse de Amor e Guerra | Jalan Jalan | A Contradição Humana | As Reencarnações de Pitágoras | Arquivos de Dresner | Mil Anos de Esquecimento | Biblioteca de Brasov | A Recolha de Morel | A Flor e o Peixe | Deuses e Afins | Os Pássaros | O Cultivo de Flores de Plástico | Recolha de Alexandria | Leva-me ao Teu Líder | O Principezinho e a Mulher Mais Feia do Mundo | Assim, Mas Sem Ser Assim


Disponibilidade: Wook | Bertrand

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Fotografia da minha autoria


Gatilhos: Cenas Gráficas/Explícitas


O passado permanece à espreita, porque há sempre quem pretenda que a História se repita. É por esse motivo que nunca podemos dar certas conquistas por garantidas.

Pátria, filme de Bruno Gascon, mostra-nos «um país dominado por uma ditadura» e no qual se assiste ao crescimento de um grupo extremista «que domina as ruas». É neste cenário de violência e xenofobia que um homem será confrontado, colocando todos os que o rodeiam em perigo. No final, «terá apenas uma escolha: liberdade ou morte».

A realidade deste argumento apresenta-se como distópica, no entanto, reconhecemos o rosto da opressão, do medo, das várias formas de tortura em diferentes momentos, expressões e diálogos. Mesmo que os cenários assumam um certo exercício criativo, partem de capítulos dolorosos para a humanidade e permitem-nos refletir sobre como seria vivê-los na primeira pessoa. Numa altura em que contactamos com posições tão extremadas, que colocam em causa direitos básicos, é crucial debatê-las, compreender qual é a sua origem e aquilo que lhes dá força para que continuem a minar o presente.

Dividido em três capítulos - O Som do Medo, Os Filhos de Ninguém e A Balada de Um Homem Morto -, prendeu-me do início ao fim, sobretudo, por todas as áreas cinzentas. Assistimos a intenções antagónicas, mas a abordagem consegue ter elos transversais: de um lado, existe uma obsessão doentia, jogos de poder e uma vontade imensa de eliminar todos os que não estiverem pela mesma causa; do outro, há um desejo de vingança a ecoar, condições de vida precárias e uma necessidade constante de lutar pela sobrevivência. Comum aos dois, existe um sentimento de revolta muito grande.


É fácil identificarmos as motivações de cada grupo e discernirmos o que é certo e o que é errado, neste caso, mas não deixa de ser evidente que ambos respondem tendo em conta aquilo em que acreditam. Além disso, tornam-se muito claros os perigos de um regime totalitário - e os limites que se pretendem transpor para o fazer prevalecer. Neste sentido, correndo o risco de atingirmos um ponto sem retorno, contrapõe-se a questão: o que é que estaremos dispostos a fazer para impedirmos a sua evolução?

Este filme é, portanto, um alerta para uma realidade pouco distante. Por isso é que, embora consigamos identificar alguns símbolos e comportamentos, o realizador quis deixar as coordenadas vagas: não só para que possamos imaginar aquilo que podia preencher o que não nos conta, mas também para estarmos conscientes de que a História é cíclica e que há imensas maneiras de repetir o controlo, a vigia, a submissão.

Pátria conta-nos a história de um povo que aceitou tudo calado, mas que não permitiu que lhe fosse roubada a alma. E enquanto alguém não esquecer o que aconteceu, há esperança de que a luta continue. Por isso, isto nunca será o fim, é apenas o início.

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Gatilhos: Referência a Suicídio


A Arqueologia é a ciência que estuda as culturas e as sociedades antigas. Contudo, no seu livro de estreia, gentilmente cedido pela editora Miosótis, Pedro H. Fortunato concentrou-se nos vestígios que despertam uma «permanente consciência de existir».


íntimo, sem ser autobiográfico

Arqueulogia compila 120 textos, escritos ao longo de três anos. Embora não sejam autobiográficos, refletem as obsessões, os medos e as alegrias do autor, assim como as banalidades do quotidiano que, apesar de tudo, nos reservam vários pontos de debate.

Optei por ir descobrindo esta obra devagar (prova disso é que demorei mais de um mês para a concluir), mergulhando nos estímulos que recebemos das pessoas com quem nos cruzamos, nas experiências que nos despertam para perspetivas distintas, no que é contínuo e necessita de ser revisto, para que nunca se perca a vontade de questionar, de investigar, de descobrir. Não me consegui relacionar com os textos de igual forma, uma vez que houve ideias que gostaria de ter visto mais desenvolvidas, porém, achei curioso que o tempo funcionasse, por um lado, como protagonista e, por outro, como o elo que unifica todos os temas que foi explorando, que foi destacando.

«É que a esta hora a brisa traz-me à vista as memórias de todas as vidas que não vivi e a nostalgia das que não viverei»

Com um tom que oscila entre o racional e o absurdo, entre o louvor e o fatalismo, Arqueulogia remete-nos para o indivíduo, para aquilo que foi e poderia ter sido, para o lugar que ocupa no mundo, impulsionando-o a olhar para o que o rodeia e a verificar, a perguntar «para iluminar». Confesso que não foi uma leitura arrebatadora, por a ter sentido oscilante, ainda assim, considero que tem pensamentos muito interessantes.


🎧 Música para acompanhar: Incerteza, Homem ao Mar

Fotografia da minha autoria



O Porto dos meus sonhos é descoberto lentamente, a cada reencontro, quando deambulo pelas suas ruas e procuro descobrir novos detalhes, novos recantos, mesmo que pareça que já os conheço de cor. Mas não conheço, é apenas aquela falácia familiar por ter vivido a vida toda perto e por encontrar sempre oportunidades para atravessar a ponte e me perder por lá.

Tenho, ainda assim, falhas, alguns pontos turísticos por visitar, apesar de os manter numa lista prioritária. Por isso, um dos meus propósitos para 2025 é mudar a narrativa e conhecê-los.

Eis o mini roteiro turístico


palácio da bolsa

Fotografia retirada do site do Palácio da Bolsa

«O Palácio da Bolsa, sede e propriedade da Associação Comercial do Porto, é um edifício de estilo neoclássico, que começou a ser construído a 6 de Outubro de 1842 , data solene de colocação da primeira pedra, dado o encerramento da Casa da Bolsa do Comércio que obrigou os comerciantes portugueses a discutirem os seus negócios em pleno ar livre».


centro português de fotografia

Fotografia do site Férias em Portugal

«O Centro Português de Fotografia foi criado pelo Decreto-Lei n.º 160/97, publicado no Diário da República de 25 de junho de 1997, com sede no edifício da Ex-Cadeia e Tribunal da Relação do Porto, desafetado em 29 de abril de 1975. As salas de exposição do rés do chão foram utilizadas nesse mesmo ano, a partir de dezembro, mas o edifício só seria ocupado na sua totalidade pelo CPF em 2001, depois de restaurado a adaptado à sua nova função, pela equipa dos Arquitetos Eduardo Souto Moura e Humberto Vieira».


casa andresen / galeria da biodiversidade

Fotografia do site O Porto Encanta

O Jardim Botânico do Porto é um dos meus lugares favoritos na cidade. No entanto, nunca visitei a Casa Andresen por dentro: «Palacete histórico do século XIX (...) cuja construção teve início após 1875, por João de Silva Monteiro, emigrante regressado do Brasil. De 1895 até à década de 1930 foi casa dos avós de Sophia de Mello Breyner Andresen e Ruben A., tendo inspirado a obras destes dois escritores que ali passaram grande parte da sua infância. Após a sua aquisição pelo Estado em 1949, a Casa Andresen volta a abrir as suas portas em 1951 como Instituto de Botânica Dr. Gonçalo Sampaio. Posteriormente, e até 2008, a Casa acolheu também o Departamento de Botânica da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. Na sequência de uma profunda intervenção de requalificação com vista à sua conversão em espaço museológico, a Casa Andresen abre uma vez mais ao público em 2011, trazendo ao Porto a exposição "A Evolução de Darwin". Mas é a 30 de Junho de 2017 que, após mais uma intervenção de reabilitação, a casa abre definitivamente ao público, com a inauguração oficial da Galeria da Biodiversidade - Centro Ciência Viva, um dos pólos do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto».

Fotografia da minha autoria



Gatilhos: Luto, Linguagem Gráfica e Explícita


A tragédia não escolhe berços, nem a profundidade com que nos atinge, mas é capaz de fazer mossa, de deixar estilhaços que nos recordam sempre do passado. No seu mais recente livro, Susana Amaro Velho mostra-nos o impacto desse cenário sombrio.


um livro cheio de camadas surpreendentes

Descansos é um drama familiar que nos coloca na rota dos Alarcão. Consumidos pela dor de eventos traumáticos, pela culpa e pelo desgosto, veem os seus laços afetivos a ficarem cada vez mais frágeis, distanciando-os. Com a vergonha e a intransigência a assumirem uma voz firme, rapidamente compreenderemos que existem situações pendentes, demasiadas perguntas que ficaram sem resposta e silêncios esmagadores.

Laura, uma das protagonistas, regressa à vila que a viu crescer por causa do funeral da mãe, «com quem já não se relacionava há treze anos». Este reencontro desperta muitas emoções fortes, sendo notória, por um lado, a mágoa e, por outro, os fantasmas do passado a serem desenterrados devagar, no momento mais (in)oportuno. Ainda assim, parece-me que ela estava longe de imaginar todas as feridas que ficariam expostas.

O nome da vila nunca nos é relevado e, no entanto, creio que lhe construímos uma imagem, uma identidade que se reveste com os nossos costumes, o nosso dialeto. Embora não pertençamos ao mesmo lugar, nem partilhemos qualquer vínculo de memória, senti-me a voltar a um espaço que me é familiar, sobrepondo-me aos passos das personagens, até porque o enredo é construído a partir de diferentes perspetivas.

Já me tinha cruzado com a indicação de que este livro tem um início mais lento e acho que isso teve uma excelente influência na forma como me relacionei com o desenrolar da ação. Assim, preparada para ir saboreando as palavras, em vez de as devorar, senti-me a orbitar nestas histórias, quase como se me convidassem a sentar e me fossem explicando cada visão dos factos e o modo como se implicaram nos mesmos. Acredito que construir a narrativa com esta especificidade trouxe uma maior consistência às interações, até porque, enquanto leitora, fiquei com a sensação de que nada aqui é unilateral ou enviesado, partilhado apenas para nos confundir e desviar da verdade. As peças vão sendo encaixadas e nós vamos acompanhando todo o processo, sem pressa.

«Era esse tipo de pessoa, das que permanecem em silêncio, que guardam, que absorvem, para depois voltarem com a clareza de um sinal no rosto, de uma marca do sol, com o perfume de um cabelo na ponta dos dedos»

Um dos aspetos que mais me fascinou na obra, para além do cuidado e do espaço para que o texto amadurecesse, foi a capacidade que a autora teve de ir desvendado cada camada, fazendo-nos questionar sobre a pertinência de determinado tema ou, até, de certas personagens secundárias, para depois nos mostrar o quanto o seu testemunho era crucial para termos acesso ao cenário completo. Com esta abordagem, explorou a revolta, a tristeza, a impotência, o luto e a necessidade de abraçarmos a redenção.

Confesso, no entanto, que a minha única fragilidade com o livro se prende com o ritmo entre as duas partes centrais, atendendo a que gostava que houvesse um equilíbrio maior nessa transição, no escalar dos acontecimentos. Por outro lado, compreendo que isso possa ser fruto de uma tragédia que se alastra num ápice.

Esta história tira-nos o tapete, fragmenta-nos e faz-nos pensar na quantidade de vezes que permitimos que o rancor mine todas as nossas relações. Em simultâneo, mostra-nos que existem circunstâncias das quais não podemos escapar e que, por mais que o tempo apazigue as nossas dores, talvez nunca nos consigamos reerguer em pleno.

Descansos deixou-me em lágrimas, não só pela maneira como se uniram todas as pontas soltas e por nos transportar para um acontecimento devastador, mas também pelo significado do seu nome. Estava longe de o imaginar e impactou-me de uma forma que ainda não consigo definir. É por detalhes como este que cada vez mais me convenço que a Susana Amaro Velho é uma das vozes maiores da literatura nacional.


🎧 Música para acompanhar: Until The Hurting Is Gone, Billy Raffoul

📖 Outros livros lidos: O Bairro das Cruzes | Inquieta | As Últimas Linhas Destas Mãos | O Sono Delas


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Fotografia da minha autoria



A imagem da minha primeira máquina está nítida, mas sobre o momento em que tirei a primeira fotografia não posso dizer o mesmo. Acho que, lá no fundo, o meu fascínio por esta arte também foi uma tentativa de responder - ou contornar - o que vamos perdendo com o tempo: se for eternizando esses fragmentos, talvez eles não se esfumem no meio de tantos outros.

Habituei-me, então, a levar a câmara compacta para todo o lado, tal como confidenciei nesta publicação. Contudo, quando tive de a substituir e comprei uma DSLR, deixou de ser prático transportá-la todos os dias, mas ter o telemóvel por perto resolve parte da questão. Independentemente do recurso, tirar fotografias é uma constante da qual não abdico. 

Talvez exista um tom nostálgico a pesar (mais, até, do que o criativo), mas a verdade é que sou das que para inúmeras vezes durante um passeio para fotografar flores, portas, paisagens, a forma das nuvens, um arco-íris, animais num parque; sou das que regista os pratos de comida, mensagens escritas em escadas, parades cobertas de cor e bailes de rua. Por oposição, não sou das que gosta de estar do lado de lá da objetiva, mas convidem-me para estar atrás da câmara e eu fico com o dia feito. Eu sei que nada disto desacelera o tempo, sei que nada disto impede que as coisas terminem, nem que as pessoas partam, mas poderei sempre regressar.

Fotografo para que tudo fique, mesmo que seja «em outra vida, em outro mundo». E, de fundo, já só ouço a voz de Bad Bunny, cujo álbum DeBí TiRAR MáS FOToS chegou na altura perfeita, embalando-me nesta convicção de que não existem fotografias a mais. Sendo franca, continuo a preferir uma galeria cheia, com registos desfocados, à sensação de arrependimento e vazio.


memórias analógicas

Parte do encanto de fotografar prende-se com a revelação. Numa era cada vez mais tecnológica, compreendemos que esse hábito não é tão comum, que tiramos fotografias indiscriminadamente, porque não temos de nos preocupar com a duração do rolo, e que já não somos revestidos por uma certa ansiedade antes de vermos o resultado. Por outro lado, temos outras vantagens nessa transição, atendendo a que há uma margem maior para o erro, para armazenar memórias e, inclusive, para evitarmos desperdícios, porque podemos escolher se queremos ou não revelar determinada fotografia. Como em tudo, vamos descobrir sempre prós e contras, o certo é que o primeiro cenário preserva uma aura mágica, talvez emocional.

Estou sempre a dizer que quero percorrer os meus álbuns digitais e construir físicos, pelo menos, de alguns passeios, para que, daqui a uns anos, possa repetir a experiência de os abrir e deliciar-me a recordar aqueles momentos. É extraordinário como parece que aqueles pedaços de papel têm som, cheiro e um conforto que não encontramos em mais parte alguma. Apesar de continuar a adiar essa concretização, este mês, revivi um pouco dessa dinâmica.

No meu aniversário, fui surpreendida com uma máquina fotográfica descartável, com o pretexto de a usar na minha viagem a Madrid, e senti-me a recuar no tempo. Não a gastei toda na capital espanhola, por isso, diverti-me a usá-la noutras ocasiões e estava muito curiosa para ver como é que as fotografias ficaram. Acho que não a soube usar muito bem, mas já só quero repetir a experiência, mesmo não tendo ficado com uma recordação em papel como esperava.

A vida, como canta Bad Bunny, «é uma festa que um dia acaba», mas estes registos farão sempre parte «da minha dança inesquecível». Deixo-vos com algumas das minhas memórias.









   

   

Fotografia da minha autoria



Gatilhos: Bullying, Saúde Mental, Homofobia, Violência; Linguagem Explícita


O Diogo Simões fez parte do Alma Lusitana, em 2023, no entanto, não voltei à sua obra. Enquanto explorava o catálogo do Kobo Plus, cruzei-me com o seu conto mais recente e adicionei-o à lista, acabando por fazer leitura conjunta com a Sofia.


tem potencial, mas faltou-me consistência

O Amigo conta-nos a história de Pedro: um jovem a descobrir a sua sexualidade e a sentir na pele o preconceito e a violência dos seus pares. Em simultâneo, o ambiente familiar é cada vez mais insuportável e o trabalho que desenvolve no digital torna-se mais um foco de pressão. Assoberbado com tudo, é quando Gonçalo entra na sua vida que se sente um pouco melhor. Mas será que este amigo é aquilo que promete ser?

A premissa é intrigante, até porque nos remete para questões atuais e sobre as quais precisamos de refletir abertamente - bullying, inteligência artificial, redes sociais -, mas acho que se perde na execução, porque há ideias que se repetem sem necessidade e situações que precisavam de outra contextualização, para não ficar a sensação de que foram escritas só para preencher uma espécie de quota. Sendo honesta, preferia que se tivesse focado em menos temas, aprofundando-os com cuidado e pertinência.

«Pensei que podia escolher esconder as coisas. Ignorar. Mas a dor não quer saber disso. Fica cá para sempre, à espera do dia, das circunstâncias, em que se vai manifestar»

Por outro lado, sinto que o texto precisava de uma revisão mais atenta, para eliminar frases mal construídas, pensamentos desorganizados e, para mim, sem grande lógica, tendo em conta o que aparecia descrito antes. Isso podia ajudar-nos a entender o desnorte do protagonista, mas acho que nos afastou das suas dores, dos seus dilemas.

O Amigo tem potencial, mas não resultou comigo, porque precisava que o autor unisse melhor todas as pontas deste novelo, tornando-o credível. A intenção é excelente e noto uma evolução na construção da narrativa, não obstante, falta uma abordagem um pouco mais madura, sobretudo, para que nos chegue toda a dependência emocional e o enredo não se perca em questões secundárias que camuflam a mensagem central.


🎧 Música para acompanhar: To Lost in You, Sugababes

📖 Outros livros lidos: O Que nos Magoa | Dislike

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andreia morais

andreia morais

O meu peito pensa em verso. Escrevo a Portugalid[Arte]. E é provável que me encontrem sempre na companhia de um livro, de um caderno e de uma chávena de chá


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