Entre Margens

Fotografia da minha autoria



«Bons momentos trazem boas lembranças»


A retrospetiva de final de ano foi escrita na Miss Pavlova, enquanto me deliciava com as panquecas berries e uma fatia de pavlova Red Velvet. Senti que era a melhor maneira de me despedir, por escrito, de 2023.

Gosto muito desta dinâmica de sair para escrever, de absorver mundo enquanto organizo pensamentos. Fi-lo pouco, ao longo dos meses, mas é algo que pretendo levar para 2024. Apesar de ter escrito mais por casa, comprometi-me a ir registando pequenas coisas que tornaram o meu mês maravilhoso. Dividi esses registos por semana e tentei que fosse uma anotação diária - numa espécie de journaling, mas de um ponto de vista menos criativo. Nem sempre cumpri, devo admitir, mas consegui ir repescando traços bonitos para guardar.

Este ano não começou da forma mais animadora e houve muitas alturas em que me senti impotente, sem saber como apaziguar a ansiedade, porque nunca queremos que os nossos lidem com fragilidades e questões de saúde mais delicadas, mas está tudo a ser resolvido com cuidado, vigilância e muito amor. Além disso, acho que 2023 gritou que eu tinha de encontrar estratégias para aceitar que há coisas que fogem do meu controlo, portanto, são as outras que carecem de maior atenção. Ainda estou a aprender. Ainda a errar, porém, a tentar.

Embarquei numa montanha russa de emoções, tive algumas crises de identidade, encontrei amparo nos livros e na poesia e, finalmente, quis correr o risco de sair da minha zona de conforto. Ainda não foi este ano que fiz a primeira tatuagem, mas enviei o meu manuscrito. Marquei presença em mais eventos culturais e recebi notícias que valeram o mundo inteiro (estão no pódio dos momentos do ano, contudo, como não me implicam apenas a mim, ficam resguardadas). Foram o lembrete perfeito de que os dias sombrios não duram eternamente.

2023 deu-me muitos motivos para celebrar e estas lembranças provam-no. Sempre que precisar de repor energias e de promover o autocuidado mental, regressarei a este texto, para me relembrar que há ocasiões em que a vida tem mesmo um travo doce de uma fatia de pavlova - ou o aroma inebriante das panquecas berries.


 nem a ponta do mindinho, inês aires pereira & raquel tillo (experiência completa)


Estava convencida que iria adorar e não me enganei. Aliás, fui mesmo surpreendida com o conceito: dividido em vários formatos, cresceram em palco, partilhando a pluralidade dos seus talentos e a cumplicidade que as caracteriza. Passei o espetáculo todo a rir, não só pela surrealidade das peripécias partilhas, mas também pela forma como as contaram - sem qualquer esforço para serem cómicas, porque esse registo é-lhes natural.

 terapia de casal, rita da nova & guilherme fonseca

      

A Rita da Nova e o Guilherme Fonseca regressaram ao Hard Club, desta vez para brilharem na sala 1, com o Terapia de Casal. Claro que não podia perder a oportunidade de os rever, por isso, na companhia da Sofia, marquei presença no espetáculo e sinto que conseguiram superar todas as expectativas - quem diria que o Farmville ainda era tendência em 2023! No final, conversei um bocadinho com ambos e foi maravilhoso.

 enviar o manuscrito
Ser escritora sempre foi um propósito, mas andei muito tempo perdida naquele que pretendia que fosse o meu caminho. Encontrei-o na poesia, construí o manuscrito - desde o conceito até aos versos -, concluí-o e, depois, deixei que o medo falasse mais alto. Foi uma jornada oscilante, com imensas dúvidas e a síndrome do impostor no auge, mas defini uma data e fui trabalhando nesse sentido. Assim, no Dia Mundial da Poesia, com o coração acelerado, enviei o meu livro para três editoras. Agora é continuar a respirar fundo e aguardar.

 lançamentos de livro
Ouvir os autores a falar sobre as suas histórias e o seu processo criativo/de escrita entusiasma-me, por isso, este ano, quis colmatar a minha falha neste género de eventos e estive presente em quatro sessões.
  • Rita da Nova a apresentar As Coisas Que Faltam: Não achei que fosse possível apaixonar-me mais por esta obra, mas enganei-me. E hei-de revisitá-la, sabendo que, mesmo que nos faltem muitas coisas, as palavras da Rita nunca nos deixarão desamparados;
  • Nelson Nunes a apresentar Enquanto Vamos Sobrevivendo a Esta Doença Fatal: É estranho dizê-lo desta forma, mas, no fim do evento, senti-me leve, porque foi uma partilha muito bonita, emotiva e cómica também, que estreitou laços. Independentemente da idade, da profissão, do estado em que estamos, há perceções sobre a morte que são transversais. Não estamos sozinhos. Debater isso talvez seja a melhor maneira de nos libertarmos do lado sombrio do tema, talvez seja a melhor maneira de compreendermos que, se não há alternativa, então vamos encarar isto de frente;
  • Hugo Gonçalves a apresentar Revolução: Nesta conversa, houve espaço para se falar sobre livros (os que está a ler e o próximo que está a pensar escrever), sobre como a Revolução é vista de tantas perspetivas e, claro, sobre apontamentos históricos que contextualizaram a narrativa, mas sem que o diálogo se tornasse maçador. O Hugo Gonçalves é um comunicador nato e ouvi-lo, de uma maneira tão eloquente, a encadear os seus pensamentos, as suas visões sobre o mundo e sobre o próprio estado do país só me deixou com ainda mais vontade de continuar a acompanhar o seu percurso literário;
  • Bruno Nogueira a apresentar Aqui Dentro Faz Muito Barulho: A sessão dividiu-se em três momentos chave: a apresentação do Bruno, o debate que surgiu em resposta às perguntas da plateia e a leitura de duas crónicas. Foi um momento extraordinário, com vários pontos de vista a serem explorados. No final, ficou uma certeza: ainda bem que continua a fazer muito barulho.

 joão couto na fnac


Fui à Fnac do Gaia ouvir o João Couto e voltei a constatar o quanto é maravilhoso marcar presença nestes eventos. Por mim, teríamos um encontro anual por lá, porque adoro o ambiente intimista, já para não mencionar o talento óbvio do João. Ainda para mais, fomos presenteados com um tema novo - Quinze Minutos -, que está fabuloso (espero que esteja no próximo álbum). No fim, estivemos um bocado à conversa sobre a música, mas também sobre livros. E foi graças ao seu incentivo que comprei Lágrimas no Mercado.

 conhecer novas livrarias

      

      

No início do ano, partilhei uma lista de livrarias do Porto que pretendia conhecer. Quando comecei a alinhar ideias para celebrar o Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor, percebi que podia juntar o melhor de dois mundos, por isso, nos primeiros três sábados de abril, fiz um roteiro personalizado e abri o Passaporte Livrólico para ir descobrir a Livraria Aberta, a Livraria Térmita, a Livraria Flâneur e a Livraria Poetria. Para não me repetir, mas adiantando que adorei conhecer cada um dos espaços, podem ler sobre a viagem aqui. Por outro lado, turismo literário é algo que me fascina, por isso, estou sempre disponível para incluir livrarias no roteiro das férias (ou passeios soltos). Em agosto, tive a oportunidade de visitar a Rimas e Tabuadas, em Guimarães, sobre a qual vos falei nesta publicação, e a renovada Livraria Arquivo, em Leiria, da qual vos falei aqui.

 d'zrt encore (experiência completa)
Voltei, voltarei sempre que quiserem, porque esta tribo não se perde. Já conversei sobre isto com duas amigas, mas quero reforçar por escrito: tudo tem o seu momento e há bandas que fizeram todo o sentido numa determinada altura da nossa caminhada, mas depois amadurecemos e já não nos servem mais. Com os D'ZRT não sinto isso. Sinto, sim, que continuarão a fazer todo o sentido para quem cresceu com eles. E a prova disso foi o concerto ainda não ter começado, mas colocarem a «Querer Voltar» e ouvir todo o Super Book Arena a cantar em uníssono, com um sentimento extraordinário. Hei-de ter palavras para falar sobre este momento.

 concertos d' os quatro e meia
Corria o ano de 2014, quando me deparei com o tema P'ra Frente é Que é Lisboa, d' Os Quatro e Meia. Desde esse momento, percebi que escalariam para o topo das minhas preferências e não me enganei. Aliás, reforço essa certeza todas as vezes que os ouço e, ainda mais, quando os vejo a atuar ao vivo. Há uns tempos, fui surpreendida pela minha Gémea e pelo T., que compraram bilhetes para o concerto que dariam no Centro de Artes de Ovar. Para além da sala ser intimista, assistimos a um momento mágico. Eles são os reis disto tudo. Um mês depois, voltamos a vê-los, mas em Vila do Conde. Ninguém faz um baile como o deles.

 s. joão

      

Uma das minhas festas favoritas, sobretudo, por ser celebrada em família, com muita animação. Por questões profissionais, este ano, faltaram pessoas à mesa, mas teremos a oportunidade de festejar um S. João tardio. Tudo assume outro significado nesta altura e é maravilhoso viver a noite mais longa da(s) minha(s) cidade(s).

 feira do livro do porto (experiência completa aqui, aqui e aqui)
O meu evento favorito começou no final agosto. Na primeira visita, aproveitei para comprar a maior parte dos livros. Depois, fui mais vezes para assistir a algumas sessões. Sou mesmo feliz a passear pelos Jardins do Palácio de Cristal e, nesta altura, ainda mais. A edição deste ano deixou-me de coração cheio.

 10 anos de blogue
O blogue comemorou dez anos e eu senti que estava na altura de renascer, porque este espaço é tudo o que imaginei, mas o nome com que o abri já não me estava a servir. Portanto, fiz pequenas mudanças.

 todas as coisas maravilhosas, ivo canelas (experiência completa)


A primeira vez que ouvi falar sobre o monólogo escrito por Duncan Macmillan - Every Brilliant Thing - foi no podcast Ponto Final, Parágrafo. A forma apaixonada como o Ivo Canelas conversou sobre o texto deixou-me com imensa vontade de o ler, no entanto, visto que ainda não está traduzido, o encontro não se proporcionou. Quando percebi que o Ivo Canelas o iria representar, quis muito que a peça viesse ao Porto, porque 1) é um dos meus atores favoritos e 2) seria uma oportunidade única. Depois de quatro temporadas esgotadas em Lisboa, e de eu ter falhado as datas na Invicta, chegou o momento e não o desperdicei.

 não faz sentido, guilherme fonseca (experiência completa)


A vida é feita de muitas coisas sem sentido, a começar pelo facto de o Hard Club ser um espaço com uma curadoria musical qualificada, mas eu passar lá a vida a ver comédia. Já assisti a concertos (Diogo Piçarra e Mishlawi), mas os eventos humorísticos/de entretenimento estão em clara vantagem. Para não quebrar a tradição, regressei ao antigo Mercado Ferreira Borges para ver o espetáculo do Guilherme Fonseca. Naturalmente, não vou partilhar conteúdo específico, mas não posso deixar de referir o quanto adorei o texto, o seu encadeamento e o beat com que termina o espetáculo. Fez todo o sentido sair de casa a uma quarta-feira à noite, com risco de chuva, para ver o Guilherme a solo, algo que já queria há muito tempo.

cultivar a amizade
A Sofia fez anos e aproveitamos a ocasião para celebrar com sushi. Foi um momento descontraído, com a partilha de peripécias. A meio do mês, juntamo-nos para ir ver comédia ao Hard Club e, mais perto do final, regressamos à Miss Pavlova para provar a rabanada especial - já quero repetir, porque é deliciosa.

A minha Gémea também fez anos em novembro. Não estivemos juntas no dia, mas combinamos um jantar na semana seguinte. Sei que me repito, mas é impressionante como cada reencontro transmite a sensação de termos estado juntas umas horas antes. Há coisas que nunca mudam e isso deixa-me com o coração cheio.

 lançar um podcast (todos os detalhes aqui)


Há já algum tempo que estava com vontade de arriscar, de sair da minha zona de conforto e de apostar num formato que não é tão intuitivo para mim. Assim, todas as sextas-feiras, quero sentar-me e gravar episódios curtinhos a ler alguns poemas que já escrevi e que partilhei por aqui, no Entre Margens. Mas também quero ter o impulso de aproveitar estes momentos para tornar a escrita poética mais regular, partilhando versos novos.

uma nêspera no cu, bruno nogueira, filipe melo & nuno markl (experiência completa)

   

Uma Nêspera no Cu foi igual a si próprio: brilhante, com azares, muita javardice, angústias, música, telefonemas comprometedores e quase três horas a rir. Repetiria a experiência sem qualquer hesitação.



Que momentos marcaram o vosso ano?

Fotografia da minha autoria



«Não há problema que a leitura não possa solucionar»


Os meus planos literários nunca são demasiado ponderados, nem ambiciosos. Gosto de traçar objetivos, colmatar faltas em leituras inclusivas e definir alguns títulos para o ano em questão, mas nada que me condicione, que torne esta experiência obrigatória, porque também quero que seja pautada de surpresas.

Respeitando a lógica anterior, priorizei o Alma Lusitana e o Clube Leituras Descomplicadas (como partilhei aqui) e, depois, parti à descoberta. Além disso, comprometi-me a só comprar livros em três ocasiões específicas - aniversário, Feira do Livro do Porto e Natal. Embora tenha quebrado o pacto nos últimos dois meses, foi uma missão conseguida. Aliás, acho que a minha maior vitória foi diminuir a pilha que tinha por ler.

As duas caixas de madeira estavam completas e ainda me parece estranho, agora, vê-las tão vazias: restam-me dois exemplares e acho que isto nunca me tinha acontecido antes, porque também nunca tinha assumido este compromisso com tanta consciência. O meu objetivo não é ter a tbr a zero, apenas diminuir o tempo entre comprar e ler os livros, mas foi incrível sentir que 1) conseguia, se o quisesse; 2) finalmente, priorizei todas as histórias que estavam cá em casa à espera do seu momento. Entretanto, já comecei a prepará-las para 2024.

As palavras foram o meu alento em vários dias e viajei muito através das obras de autores que admiro e autores que li pela primeira vez. Nem todas as histórias foram incríveis, tive mesmo alguns erros de casting, no entanto, de um modo geral, foi um ano literário fabuloso, o que dificultou a tarefa de escolher favoritos.

Nos anos anteriores, partilhei convosco a rubrica «12 meses, 12...», mas senti necessidade de reestruturar toda a dinâmica por causa dos livros: seria impensável, emocionalmente impossível, escolher só um livro por mês, quando houve meses com tantas narrativas memoráveis, transformadoras, que me arrebataram. Assim, a lista foi mudada quase até ao último segundo, mas eis os 17 livros que ficaram com todo o meu coração.


 as coisas que faltam, rita da nova (opinião completa)


É impressionante como nos pode pesar tanto o que não conhecemos e como há ciclos que, inconscientemente, tendemos a repetir. Mas, no meio de tudo o que sentimos estar em falta, vamos compreendendo o que nos pertence, qual é o nosso lugar. As Coisas Que Faltam é tudo o que nos representa.

 mar alto, caleb azumah nelson (opinião completa)


A narrativa parece uma dança lenta e sedutora, ora envolvente, ora esquiva, fazendo-nos rodopiar por uma série de questões que nos moldam na nossa humanidade, que nos obrigam a sair da nossa bolha e a compreender que nem todos sabemos o que é sair de casa a desconhecer como voltaremos, porque somos colocados num perfil único e correspondemos sempre «à descrição». Embora preferisse que os episódios de racismo tivessem outra contextualização e surgissem com outra fluidez, é interessante perceber como é que afetam o protagonista, como é que minam os elos que tenta criar; como é que o trauma é tão limitativo.

 m train, patti smith (opinião completa)


O mundo que habita nestas páginas é fascinante, mas aquilo que me atraiu foi a sua capacidade para escrever sobre tudo e coisa nenhuma com o mesmo nível de entusiasmo. Aliás, dentro da banalidade dos dias, é a maneira como descreve as mais diversas situações que eleva a experiência, porque ajuda a criar uma proximidade palpável, mesmo que saibamos que não. Por isso, achei esta viagem tão bonita e difícil de largar.

 na terra somos brevemente magníficos, ocean vuong (opinião completa)


A capacidade de transformar uma narrativa triste em algo belo é surpreendente, desarmante, porque nos orienta para outra camada interpretativa. Como é que um autor o consegue fazer com tanta subtileza, como se fossem partes indissociáveis? Talvez nunca o venha a descobrir, mas Ocean Vuong elevou a fasquia.

 a breve história da menina eterna, rute simões ribeiro (opinião completa)


Nesta obra, a autora convida-nos a pensar sobre finitude, sobre o modo como observamos o mundo e sobre a ingenuidade que nos habita. Dentro de um ambiente de quimera, que nos inquieta pelo que não é dito, A Breve História da Menina Eterna transborda de poesia e de simbolismo, porque estas páginas leem-se num sopro, mas ficam. Além disso, é impressionante como vemos a M a florescer - e como nós renascemos com ela.

 obras completas volume I, maria judite de carvalho (opinião completa)


Há, nestas páginas, uma solidão e uma tristeza partilhadas e é maravilhoso perceber que a literatura tem a capacidade de nos abraçar desta maneira. Além disso, mostra-nos que existe uma certa beleza na melancolia.

 ainda bem que a minha mãe morreu, jennette mccurdy (opinião completa)


Ainda Bem Que a Minha Mãe Morreu é um título que perturba por si só, no entanto, avançar nesta leitura é perceber que este detalhe é o que nos chocará em menor escala. Perdoem-me o spoiler e a aparente indelicadeza, mas ainda bem que o desfecho foi este, porque foi a maneira de Jennette respirar e renascer.

 três mulheres no beiral, susana piedade (opinião completa)


É extraordinário perceber como é que a cidade e as personagens se interligam, como é que as vidas de várias gerações ficam condicionadas por medos, por segredos, pela perda que tem tantos rostos e emoções. Há muitas sombras a interferir com as vivências desta família, mas também existe muito amor. E mesmo no meio da crueldade evidente, influenciada por interesses mesquinhos, percebe-se que, lá no fundo, existe um resto de dignidade, que só o amor pode reconhecer - ou procurar resgatar, para que não se repitam desgostos.

 a natureza da mordida, carla madeira


Há tanta perda nesta narrativa. Há dor, há sofrimento, há uma vulnerabilidade que só pode ser partilhada pela mágoa. No entanto, também há amor e braços que se amparam na queda, na loucura, na exasperação daquilo que não é compreendido. Eu acredito que é sempre preferível saber a verdade, por mais que dilacere, ao desconhecimento: assim, temos sempre formas de encerrar um capítulo, mesmo que demore. Não saber apenas prolonga a ferida. E é nesta dualidade de pensamentos que acompanhamos as protagonistas; é nesta dualidade que exploramos muitos mais temas e problemas de vidas comuns, que encontram uma forma de cruzarem os seus caminhos e de se reconhecerem, como se as suas vivências fossem um espelho: há tragédias que a vida sabe tornar transversais. Além disso, é um retrato que transborda poesia, que nos mostra como as relações de amizade são tão poderosas e como tudo pode desaparecer em segundos, porque estava tudo lá e nós não vimos. E estar, por vezes, pode ser a pior maneira de repararmos.

 mary john, ana pessoa (opinião completa)


Mary John é uma longa carta dirigida a Júlio Pirata, na qual Maria João, a protagonista, faz um balanço de tudo o que viveram juntos. O relato é melancólico, é engraçado, é comovente, por esse motivo, transforma-se numa viagem de reencontro, de despedida, de mudança e, inclusive, de catarse. Acho que a Andreia adolescente teria beneficiado de um livro assim, porque é um retrato verosímil do desnorte, da dificuldade que é construirmos a nossa identidade, do impacto que certas relações/pessoas têm na nossa vida.

o terceiro país, karina sainz borgo


O ambiente é de violência, guerrilha e de uma enorme tensão. Além disso, demonstra que a miséria humana pode ter várias camadas e vários rostos. Por outro lado, é um retrato impressionante da resistência e da lealdade entre duas mulheres carismáticas, que se recusam a desistir. Ainda que tenham motivos distintos, amparam-se na mesma luta, enfrentando os perigos de uma terra onde o conflito está sempre à espreita. Foi impossível largar esta leitura, não só pela história em si, mas também pelo modo como as personagens se relacionam. Há um traço muito real nos seus comportamentos, portanto, é fácil envolvermo-nos nas perdas, nos dilemas, na dança que as faz oscilar entre o bem e o mal, entre o certo e o errado.

 misericórdia, lídia jorge (opinião completa)


Misericórdia responde a um desejo da mãe da autora, que «tantas vezes lhe pediu que escrevesse um livro com este título», porque achava que «havia um desentendimento, no tratamento das pessoas, achava que as pessoas procuravam ser amadas, mas não as entendiam». No fundo, era a sua maneira de alertar para a necessidade de haver mais compaixão e de tratarmos o outro como se estivesse «na plenitude da vida».

 deixa-te de mentiras, philippe besson


Este livro não precisa de mais nenhuma palavra, tem a medida certa. É triste, é poético, é um testemunho honesto sobre perda e identidade - e todas as formas que ambas podem assumir. É sobre mentiras - as que contamos aos outros e a nós. E é a prova que, muitas vezes, não há falta de coragem, há desamparo. Há muitas coisas aqui que não são aquilo que deve ser o amor, há muitos aspetos que são gatilhos, mas comovi-me muito com o último capítulo, porque reflete o vazio e o desencontro. Quando não sabemos quem somos, impedimos que o outro entre na nossa vida, erguemos muros em vez de pontes e podemos acabar a construir relações tóxicas. Acho que o narrador sabia isso e preferiu ignorá-lo, talvez por ter visto algo que nos escapou a todos. Philippe foi mesmo feito para outras paragens, só isso o permitiria escrever com tanta sensibilidade.

 enquanto vamos sobrevivendo a esta doença fatal, nelson nunes (opinião completa)


Neste livro, construído de uma forma cuidada e intimista, transitamos entre o lado científico e o lado humano da morte, observámo-la a partir de inúmeras vozes, visões e emoções. Com testemunhos que emocionam, Enquanto Vamos Sobrevivendo a Esta Doença Fatal também nos aproxima: no medo, na fragilidade, nas dúvidas e no facto de precisarmos todos de gerir o processo de luto. O objetivo não é ser mórbido, muito menos diminuir a maneira como podemos encarar a morte: o grande objetivo desta obra é, antes, diminuir o choque e deixar-nos mais conscientes. Através de cada um dos testemunhos reunidos, vamos compreendendo que não estamos sozinhos, que é possível prosseguir e que sentir saudades talvez possa ser algo bom.

estendais, gisela casimiro (opinião completa)


As histórias vão-se estendendo como a roupa que prendemos no estendal, em dias solarengos. Enquanto esperamos que ela seque, existem novos detalhes à espreita, só temos de permanecer atentos. Com a desculpa «é só mais uma crónica», este livro foi lido num piscar de olhos, porque não o queria largar. Há muito amor, mas também há penumbra. Há nostalgia, vulnerabilidade e humor. E há verdade e o compromisso de ver o lado bonito dos dias. Escusado será dizer que, agora, quero ler tudo o que a Gisela Casimiro escrever.

olá, linda, ann napolitano


O livro de Ann Napolitano escalou muito rápido para a minha lista de favoritos: pelos contrastes familiares, por não complicar e, ainda assim, trazer temas um pouco complexos, por ter um contexto comovente (saber a origem do título desarmou-me por completo) e pela própria construção das personagens. Aquilo que a autora fez com esta história é absolutamente extraordinário! Quando cheguei ao fim, fiquei cheia de vontade de prolongar a narrativa, porque sinto que há ali um vínculo que merece continuação. Mesmo que não a tenha, Olá, Linda marcou por cada camada que vamos desconstruindo, como se fosse um novelo.

 aqui dentro faz muito barulho, bruno nogueira (opinião completa)


As palavras pesam, mas também têm o dom de nos deixarem mais leves. São impulso e são conforto. São uma forma de tornar os nossos pensamentos mais justos, mais lúcidos, mas também nos comovem. E é esta viagem dicotómica, tão bem entrelaçada, que encontramos nas crónicas do Bruno Nogueira.


Que livros marcaram o vosso ano?

Fotografia da minha autoria



«O que faríamos sem cultura?»


A minha rotina de estudante culminava sempre da mesma maneira: sentada na cama a ver um episódio de uma série, porque era a minha estratégia para desligar. Hoje, já não estudo, mas gosto de encontrar estes paralelismos, até porque tive de me adaptar a rotinas novas e não queria abdicar de uma componente de lazer.

Já sabem que não sou a pessoa mais alinhada com a sétima arte, mas continuo a encontrar conforto nas séries e, cada vez mais, nos podcasts que acompanho. À semelhança de anos anteriores, consegui reunir um número simpático de projetos audiovisuais, por isso, deixo-vos com aqueles que marcaram o meu ano.


 o coração ainda bate, inês meneses
As crónicas da Inês Meneses, para o Público, tornaram-se ainda mais acessíveis. É mesmo um encanto ouvi-la, porque tem uma voz que nos serena, mesmo quando os temas se afiguram mais delicados - e é quase palpável o afeto no seu diálogo. Os episódios são curtos, mas estou a saboreá-los lentamente.

 love, simon (opinião completa)
O tom descontraído e cómico do enredo fascinou-me e fez com que toda a experiência de acompanhar a jornada de Simon fosse ainda mais especial, porque é evidente o seu desconforto, mas também o seu à vontade. Naturalmente, debate-se com alguns conflitos internos, mas não transforma a sua vida num drama.

 debaixo da língua, rui maria pêgo
Rui Maria Pêgo regressou a Portugal e à Rádio Comercial, abraçando o projeto Debaixo da Língua. Todas as semanas, tem encontro marcado com figuras de áreas distintas, para uma conversa franca e intimista.

 só se estraga uma estante, ana grifo & tomé ribeiro gomes
Descobri este podcast no discord do Livra-te e, deste então, entrou na lista de prioritários, porque rendi-me à dinâmica do casal de leitores que lhe dá voz. Ana Grifo e Tomé Ribeiro Gomes, todas as quintas-feiras, têm um episódio dividido em duas partes: na primeira, cada um fala sobre um livro à sua escolha, estabelecendo uma análise sobre o mesmo; na segunda, debatem um tema literário. Têm sido uma companhia agradável.

 isso não se diz, bruno nogueira
É um projeto da autoria do Bruno Nogueira e, só por isso, para mim, já valia o investimento, porque adoro ouvi-lo e perceber até onde é que podem escalar as suas dissertações. Um bocado na onda de Como é Que o Bicho Mexe, a conversa toca em várias frentes e é isso que entusiasma - também podem aparecer convidados.

 watch.tm, pedro teixeira da mota
Durante 300 semanas consecutivas, ouvimo-lo no Ask.tm, mas chegou o momento de elevar a experiência, associando-lhe uma versão com vídeo. Tem sido fantástico vê-lo e gosto que traga convidados.

 emília (opinião completa)
Achei mesmo interessante que explorasse a sensação de invisibilidade e de vulnerabilidade, que colocasse em discussão o medo de falhar, o limbo entre a tendência para nos conformarmos e a urgência da mudança e que mostrasse como é que a estrutura familiar consegue exercer tanta influência nas nossas decisões e na nossa autoestima. Em simultâneo, é curioso como vai deixando pontos de reflexão subtis, como o facto de estarmos tão fixos na perceção de que os outros são extraordinários em tudo, que nem percebemos que não são perfeitos, que também eles têm dificuldades e que, inclusive, podem invejar algo que sabemos fazer. No fundo, vamos compreendendo que a nossa observação é sempre condicionada por aquilo que queremos ver.

 three pines
Comecei a ver sem qualquer expectativa, mas agora conto os dias para que chegue a quarta-feira, só para assistir a mais um episódio duplo! Resumidamente, é uma série de mistério e thriller, que nos transporta para uma «aldeia aparentemente idílica». O protagonista, que vê coisas que mais ninguém vê, é o Inspetor Armand Gamache: ao investigar vários assassinatos, acabará por desvendar «segredos há muito enterrados».

 instinct
O Dr. Dylan Reinhart foi um agente da CIA, mas, atualmente, é professor universitário. Quando a detetive Lizzie Needham o interpela, para a ajudar a encontrar um assassino que usa o seu livro como orientação, Reinhart retoma funções e deixa de lado a sua vida pacata. Acho que o ponto chave desta série é a dinâmica entre esta dupla, fiquei rendida à relação que foram construindo e às questões abordadas em paralelo.

 elemental
As personagens desta longa metragem vivem na cidade Elemento, «onde convivem habitantes de fogo, água, terra e ar». A protagonista é a Chispa, do elemento fogo, que acompanha os pais na procura por uma vida melhor, aprendendo, inclusive, a gerir o negócio da família, para continuar o legado. No entanto, ao conhecer Nilo, um elemento de água, começa a «desafiar as suas crenças em relação ao mundo onde vive». Esta animação conquistou-me por completo, porque, de um modo divertido, mas bastante credível, explora questões interessantes e de máxima importância: as diferenças, o respeito pelo outro, as dinâmicas familiares, a verdade que, por vezes, preferimos ocultar, e o dilema que é assumir os nossos sonhos, quando há perspetivas de futuro que parecem já ter sido definidas para nós - e porque nunca é fácil sentirmos que, ao escolhermos o nosso caminho, estamos a desiludir aqueles que fizeram tudo por nós. Aconselho para miúdos e graúdos.

 coisa que não edifica nem destrói, ricardo araújo pereira
A minha lista de podcasts está bem composta, mas Ricardo Araújo Pereira achou que precisava de uma atualização. Como não lhe podia fazer esta desfeita, é claro que Coisa Que Não Edifica Nem Destrói já pertence à minha biblioteca do Spotify. Não acho que seja um conteúdo para ouvirmos enquanto fazemos tarefas mais triviais, descontraídos, é um podcast para escutarmos com tempo e atenção redobrada.

 cubinho, ricardo maria, vitor sá & antónio azevedo coutinho
Comecei a maratonar Cubinho, em agosto. Até aqui, ouvia episódios soltos, mas resolvi aproveitar que a maior parte dos meus podcast entrou de férias para me pôr a par de tudo aquilo que o António Azevedo Coutinho, o Vitor Sá e o Ricardo Maria partilharam até ao momento. Agora já não dispenso as partilhas destes três.

 a vida é um autocarro vazio
Maria Judite de Carvalho está a ser uma das minhas maiores descobertas literárias. No passado dia 19 de setembro, na RTP2, foi exibido um documentário sobre a vida e obra da autora e, claro, tive de o ver, para saber mais sobre esta mulher tão silenciosa, mas com tanto a dizer sobre o mundo. Há um contraste entre a vida lá fora e a vida dentro do seu quarto. Ouvimos narrações dos seus textos e testemunhos de pessoas próximas, que partilharam memórias de Maria Judite de Carvalho e o impacto que os seus livros tiveram nas suas vidas. Além disso, fazemos uma viagem pela sua infância, marcada por perdas e um certo vazio afetivo. Sendo a morte um terceiro elemento, torna-se percetível que utilizou a escrita para preencher ausências.

 vai correr tudo bem, guilherme geirinhas
O humorista Guilherme Geirinhas lançou a sua série, Vai Correr Tudo Bem. Deixem-me só dizer uma coisa: temi que o projeto não saísse da gaveta, porque parece que passou uma vida desde que o Guilherme falou sobre ele. Não quero que isto seja lido em tom de crítica, porque cada artista tem o seu processo e detesto quando lhes cobram novidades. Portanto, acho que este parágrafo é mais uma manifestação de alívio, porque queria muito ver a série. Confesso que os dois primeiros episódios não corresponderam às expectativas, mas é evidente o crescimento desta série e os episódios seguintes conquistaram-me por completo. Que viagem!


Que filmes/séries/podcasts destacariam?
Mensagens mais recentes Mensagens antigas Página inicial

andreia morais

andreia morais

O meu peito pensa em verso. Escrevo a Portugalid[Arte]. E é provável que me encontrem sempre na companhia de um livro, de um caderno e de uma chávena de chá


o-email
asgavetasdaminhacasaencantada
@hotmail.com

portugalid[arte]

instagram | pinterest | goodreads | e-book | twitter

margens

  • ►  2025 (117)
    • ►  junho (12)
    • ►  maio (21)
    • ►  abril (22)
    • ►  março (21)
    • ►  fevereiro (19)
    • ►  janeiro (22)
  • ►  2024 (242)
    • ►  dezembro (24)
    • ►  novembro (17)
    • ►  outubro (17)
    • ►  setembro (18)
    • ►  agosto (12)
    • ►  julho (23)
    • ►  junho (20)
    • ►  maio (23)
    • ►  abril (22)
    • ►  março (21)
    • ►  fevereiro (21)
    • ►  janeiro (24)
  • ▼  2023 (261)
    • ▼  dezembro (23)
      • FAVORITOS DE 2023:OS MOMENTOS
      • FAVORITOS DE 2023:OS LIVROS
      • FAVORITOS DE 2023:FILMES, SÉRIES & PODCASTS
      • FAVORITOS DE 2023:AS PUBLICAÇÕES FAVORITAS
      • FAVORITOS DE 2023:AS MÚSICAS E OS ÁLBUNS
      • FAVORITOS DE 2023: FRAGMENTOS ALEATÓRIOS
      • UMA CASA A CÉU ABERTO
      • ALMA LUSITANA: OS AUTORES DE JANEIRO
      • GOODREADS: READING CHALLENGE 2023
      • LIVROS PEQUENOS, MENSAGENS GIGANTES (II)
      • UMA NÊSPERA NO CU
      • ALMA LUSITANA ◾ BAIÔA SEM DATA PARA MORRER, RUI CO...
      • ALMA LUSITANA: A EDIÇÃO DE 2024
      • ESTANTE CÁPSULA ◾ LEME, MADALENA SÁ FERNANDES
      • UMA SURPRESA CHAMADA ANA PESSOA[inclui uma reflexã...
      • ONDE PARECE CABER O MUNDO INTEIRO [livros de Valte...
      • CLUBE LEITURAS DESCOMPLICADAS ◾ ESCRITORES & AMORE...
      • ENTRE O VERSO E O SILÊNCIO
      • ESTANTE CÁPSULA ◾ O CULTIVO DE FLORES DE PLÁSTICO,...
      • O CULTO DOS NÚMEROS
      • ALMA LUSITANA ◾ CARONTE À ESPERA, CLÁUDIA ANDRADE
      • LISTA DE DESEJOS LIVRÓLICOS
      • LER DJAIMILIA
    • ►  novembro (22)
    • ►  outubro (22)
    • ►  setembro (21)
    • ►  agosto (16)
    • ►  julho (21)
    • ►  junho (22)
    • ►  maio (25)
    • ►  abril (23)
    • ►  março (24)
    • ►  fevereiro (20)
    • ►  janeiro (22)
  • ►  2022 (311)
    • ►  dezembro (23)
    • ►  novembro (22)
    • ►  outubro (21)
    • ►  setembro (22)
    • ►  agosto (17)
    • ►  julho (25)
    • ►  junho (30)
    • ►  maio (31)
    • ►  abril (30)
    • ►  março (31)
    • ►  fevereiro (28)
    • ►  janeiro (31)
  • ►  2021 (365)
    • ►  dezembro (31)
    • ►  novembro (30)
    • ►  outubro (31)
    • ►  setembro (30)
    • ►  agosto (31)
    • ►  julho (31)
    • ►  junho (30)
    • ►  maio (31)
    • ►  abril (30)
    • ►  março (31)
    • ►  fevereiro (28)
    • ►  janeiro (31)
  • ►  2020 (366)
    • ►  dezembro (31)
    • ►  novembro (30)
    • ►  outubro (31)
    • ►  setembro (30)
    • ►  agosto (31)
    • ►  julho (31)
    • ►  junho (30)
    • ►  maio (31)
    • ►  abril (30)
    • ►  março (31)
    • ►  fevereiro (29)
    • ►  janeiro (31)
  • ►  2019 (348)
    • ►  dezembro (31)
    • ►  novembro (30)
    • ►  outubro (29)
    • ►  setembro (30)
    • ►  agosto (16)
    • ►  julho (31)
    • ►  junho (30)
    • ►  maio (31)
    • ►  abril (30)
    • ►  março (31)
    • ►  fevereiro (28)
    • ►  janeiro (31)
  • ►  2018 (365)
    • ►  dezembro (31)
    • ►  novembro (30)
    • ►  outubro (31)
    • ►  setembro (30)
    • ►  agosto (31)
    • ►  julho (31)
    • ►  junho (30)
    • ►  maio (31)
    • ►  abril (30)
    • ►  março (31)
    • ►  fevereiro (28)
    • ►  janeiro (31)
  • ►  2017 (327)
    • ►  dezembro (30)
    • ►  novembro (29)
    • ►  outubro (31)
    • ►  setembro (30)
    • ►  agosto (17)
    • ►  julho (29)
    • ►  junho (30)
    • ►  maio (24)
    • ►  abril (28)
    • ►  março (31)
    • ►  fevereiro (28)
    • ►  janeiro (20)
  • ►  2016 (290)
    • ►  dezembro (21)
    • ►  novembro (23)
    • ►  outubro (27)
    • ►  setembro (29)
    • ►  agosto (16)
    • ►  julho (26)
    • ►  junho (11)
    • ►  maio (16)
    • ►  abril (30)
    • ►  março (31)
    • ►  fevereiro (29)
    • ►  janeiro (31)
  • ►  2015 (365)
    • ►  dezembro (31)
    • ►  novembro (30)
    • ►  outubro (31)
    • ►  setembro (30)
    • ►  agosto (31)
    • ►  julho (31)
    • ►  junho (30)
    • ►  maio (31)
    • ►  abril (30)
    • ►  março (31)
    • ►  fevereiro (28)
    • ►  janeiro (31)
  • ►  2014 (250)
    • ►  dezembro (31)
    • ►  novembro (30)
    • ►  outubro (28)
    • ►  setembro (23)
    • ►  agosto (13)
    • ►  julho (27)
    • ►  junho (24)
    • ►  maio (18)
    • ►  abril (16)
    • ►  março (14)
    • ►  fevereiro (11)
    • ►  janeiro (15)
  • ►  2013 (52)
    • ►  dezembro (13)
    • ►  novembro (10)
    • ►  outubro (9)
    • ►  setembro (11)
    • ►  agosto (9)
Com tecnologia do Blogger.

Copyright © Entre Margens. Designed by OddThemes